O CAMINHO DE HARMONY Lora Leigh (2024)

O CAMINHO DE HARMONY / Lora Leigh

O CAMINHO DE HARMONY Lora Leigh (1)

Quando as Castas conhecem à paixão da carne, não podem evitar ficar excitados...

Harmony Lancaster pertence à Casta de Leão, criada para ser uma guerreira com ânsia de assassinar. Mas o caminho pelo qual ela procura justiça fora da lei a faz ser uma responsabilidade para sua própria classe. Além disso, ela também possui a informação que eles necessitam sobre a existência do primeiro Leão... que retém os apreciados segredos do desejo.

Para salvar sua vida, Harmony é emparelhada com o xerife Lance Jacobs, que tenta tirar a assassina de seu interior, enquanto protege a doce mulher que ele deseja possuir. Mas o perigoso líder de um culto, empenhado em destruir às Castas, poderia mudar para sempre a forma em que Lance vê Harmony...

O CAMINHO DE HARMONY Lora Leigh (2)

Harmony Lancaster ligou a televisão enquanto tirava a toalha úmida do cabelo. Longos fios molhados, negros, marrons e de um ensolarado loiro caíram por seus ombros enquanto recolhia seu jogo de manicure e se apoiava na cama para assistir a conferência de imprensa.

O bom Reverendo Henry Richard Alonzo, cabeça de uma das maiores e mais firmes sociedades supremacistas da nação, estava outra vez declarando ao tribunal e soltando tolices. Se só aqueles a quem ele pregava fossem conscientes de quem, e o que, ele era realmente em todas as partes. Filho e neto dos membros da mais alta elite do Conselho de Genética. Um homem cuja família tinha ajudado a criar aos monstros contra os quais agora pregava. Sim, as Castas podiam ser chamadas de monstros.

Um sorriso cínico se formou em seus lábios: Bem, talvez em seu caso.

Voltar para os Estados Unidos não tinha sido uma decisão fácil de tomar, sobretudo a esta zona. Mas o trabalho para o qual ela tinha vindo o requeria: o resgate da filha seqüestrada de um rico industrial. A menina tinha sido extraordinariamente valente durante o resgate. Fazia o trabalho muito mais fácil, no que se referia a tirá-la da choça onde estava sendo retida.

Quanto aos seqüestradores, nunca seriam encontrados. Harmony tinha se assegurado disso.

— A criação das Castas é uma abominação da ordem natural e da lei da humanidade — declarava Alonzo racionalmente, embora seus olhos azuis brilhassem com ardor fanático. — Permitir-lhes correr soltos, se reproduzir e viver como os humanos é o engano mais inadmissível que podemos cometer. Eles não foram criados por nosso grande e poderoso Deus. Foram criados pelo homem. São as bestas que nos marcarão com sua corrupção. É isto o que realmente queremos? Tentar nossa perdição no inferno?

— Ah, dá um tempo — resmungou ela, dirigindo sua atenção à conferência de imprensa enquanto passava, lentamente, uma lixa sobre suas curtas unhas, observando a arrogância que enchia a enrugada cara de Alonzo.

Que idade teria ele agora? Sessenta e cinco, setenta? Não deveria estar morto já? O homem era uma peste, uma praga para a sociedade, e se desse um passo em falso, só um pouquinho, então ela seria feliz eliminando-o. Mas até que encontrasse sangue em suas mãos, não havia uma maldita coisa que pudesse fazer.

Se o Gabinete de Decisão das Castas não fosse mais cuidadoso, então Alonzo conseguiria destruí-los finalmente. Ele estava ganhando impulso e poder. Os uma vez fragmentados grupos supremacistas estavam agora se reunindo paulatinamente com ele, criando uma única entidade que poderia tornar, com o tempo, o sentimento mundial contra as Castas.

Guerra de raças. Estas faziam parte do mundo há tanto tempo como existia a humanidade, de uma forma ou outra. Estavam ganhando ímpeto com a aparição da população de Castas. Às vezes, Harmony se perguntava por que Calam Lyons, o líder das Castas Felinas, tinha tomado a decisão de fazer pública sua existência. Sim, as Castas eram livres. Não estavam mais morrendo em algum laboratório e não estavam encarcerados. Agora eram caçados e insultados, e o mundo estava se dividindo lentamente outra vez. Desta vez, pela diferença de espécies, em vez de raças.

As Castas eram humanas? Infelizmente, no que a Harmony se referia, não eram. A humanidade era arrancada de suas almas nos cinco primeiros anos de suas vidas. E agora Alonzo ameaçava o frágil equilíbrio que o Gabinete dirigente das Castas tentava levar àqueles que lutavam para recuperar sua humanidade.

Isto é, se Alonzo não morresse primeiro. Sua riqueza e ardor eram as forças impulsoras por trás da rapidamente organizada Sociedade de Pureza de Sangue. E aquilo fedia. Porque seu assassinato requereria muito trabalho, e isto realmente cravaria sua consciência um pouco. É obvio, não a incomodaria muito não fosse pelo fato de que outro fanático tomaria seu lugar em seguida. Havia sempre outros monstros lá fora, esperando para substituir aos que caíam.

— Senhor Alonzo, os cientistas de cada nação declararam as Castas como humanos — indicou uma repórter. Uma senhora muito agradável, e defensora dos direitos das Castas. — Neste ponto, não é um pouco tarde para pensar em encarcerá-los outra vez? Não são animais.

— Isso é exatamente o que são — espetou H.R. Alonzo. — São animais, e nossas mulheres se reproduzem com eles, criando mais animais. Antes que desapareçam, a pureza de nossa genética dada por Deus, a criação de nosso Deus onipotente, será corrompida por eles. Nossos filhos serão animais. Este é o mundo dentro do qual queremos viver?

— Queremos um mundo sem discriminação racial. — A repórter sorriu brandamente. — O que você sugere é o pior cenário possível para tal discriminação. Se permitirmos suas opiniões, o que vai parar a violência também contra outras raças?

Alonzo baixou a vista de sua bancada à repórter, enquanto as câmaras de televisão foram dele para ela. Harmony se sentou, cruzando suas pernas na cama enquanto olhava à repórter. Ela vestia seda e pérolas, uma declaração muito sossegada de poder. Harmony gostou disso.

— Você levaria seu cão para a cama, minha querida? — zombou ele. — Ou seu gato?

A sobrancelha da repórter se levantou.

— Nem meu cão nem meu gato caminham sobre duas pernas, fala minha língua, ou come com um garfo, senhor Alonzo. Tampouco seu sangue é compatível com o meu. Perdoe-me se discordar com sua visão aqui, e digo que anda como um humano, conversa como um humano, e sangra como um humano, então minha conjectura é que é humano. — Seus atraentes traços estavam ruborizados com ira enquanto seus olhos cinza se estreitavam no bom reverendo com desaprovação.

— E minha conjectura é que você não tem nem idéia dos elementos adicionais desse sangue do qual você fala tanto, minha querida — zombou ele. — Faça sua investigação e depois venha falar comigo sobre a diferença entre humanos e animais.

A repórter abriu a boca para responder, só para ser deixada de lado quando Alonzo se dirigiu a outro repórter. Harmony sacudiu sua cabeça quando ele com cuidado manipulou o resto da conferência de imprensa.

Alonzo estava determinado a levar um projeto de lei ante o Congresso, que limitasse com severidade os direitos que as Castas desfrutavam agora. Se continuasse como estava começando, havia muitas possibilidades de que pudesse fazê-lo.

Harmony apertou os lábios ante o pensamento, enquanto voltava o olhar a suas unhas e ao cuidadoso processo que repararia qualquer ruptura que tivesse nas pontas. De repente, entrecerrou os olhos, balançando a cabeça para a porta quando um aroma estranho capturou seu sensível nariz.

Um aroma de Casta.

Harmony rodou brandamente da cama, tirando sua faca debaixo de seu travesseiro enquanto engatinhava ao lado da porta e se esmagava contra a parede. Se Jonas estivesse aí, entraria rápido. A porta voaria aberta e chegaria antes de aparecer com sua arma. Não esperaria que ela saísse um momento atrás dele.

Não tinha nenhuma intenção de lutar contra seu próprio irmão. Mas não seria capturada, não agora, não por um delito que tinha todo o direito de cometer. Seu nome apelido era Morte por uma razão. Não seria tomada facilmente.

Se esticando em preparação, inalou, tentando determinar quantos a estavam esperando ali fora. Reconheceu o aroma de Jonas; não estava ali, mas um de seus homens sim. Reconheceria o aroma de Mercury Warrant em qualquer lugar; ele era tão Casta, que isto literalmente emanava dele. E era possível que mascarasse a qualquer outro Casta que estivesse com ele.

Não havia dúvida de que estava atrás dela. Podia senti-lo. Infernos, sentira-os rastreando-a durante semanas. Obviamente, estava ficando mole; de outra maneira, nunca teriam conseguido encontrá-la tão facilmente.

Deus, não queria fazer isto. Não queria lutar contra sua própria Casta. Mas enquanto a porta se abriu de repente para dentro, Harmony deixou de lado sua relutância e lutou para escapar. Desta vez, Jonas não estava brincando. Encontrara um modo de apanhá-la, e tinha enviado ao melhor. E as probabilidades eram as piores para ela.

Santuário, Virginia.

Seis horas mais tarde.

Jonas olhou enquanto a pequena e magra forma da Casta fêmea era literalmente arrastada para dentro do edifício de contenção, com sua única cela e sala de interrogatório. Os três Castas que a arrastavam ao edifício de cimento se mostravam pior pela roupa. As faces machucadas, os lábios partidos e o sangue danificavam seus traços selvagens; o mais poderoso dos três, Mercury Warrant, tinha um torniquete preso fortemente em sua coxa, em cima da ferida de faca que tinha recebido. A manga do uniforme negro de Rule estava rasgada e molhada pelo sangue. Lawe levaria outra cicatriz em seu rosto, ao longo do queixo.

Harmony estava amarrada na pequena cadeira metálica ao lado de uma raiada mesa de madeira, as algemas de seus pulsos e tornozelos presas a um anel metálico no chão. Estava amarrada e confinada. Vestida com roupa de baixo fina: um boxer cinza e uma camiseta combinando, não mostrava nenhuma reação ao frio, ou às contusões e arranhões que cobriam seus ombros e braços.

Sua respiração era lenta e fácil, seu comportamento totalmente relaxado enquanto seu estranho cabelo raiado de negro cobria seu rosto e escondia sua expressão. Que mais veria ele se pudesse olhar fixamente naqueles incríveis olhos? Tinha ela reforçado sua capacidade única de se esconder ali também?

Harmony tinha crescido como uma assassina durante anos, mas também como uma lutadora. O autocontrole, vinte anos de treinamento militar e uma feroz determinação de viver e se vingar, tinham-na feito um produto procurado com avidez no mercado do assassinato.

Contemplou o arquivo que descansava na prateleira de monitor diante dele. Estava repleto com provas de matanças, observações e relatórios psiquiátricos.

Aceitara seu primeiro trabalho apenas um ano depois de sua fuga dos laboratórios, dez anos antes; tornou-se mais competente e mortal com os anos. Também se aprimorara na camuflagem. Havia um número indeterminável de pessoas por trás da mulher chamada Morte. Não só devido a sua reputação de ser a melhor, mas também à informação que pegara no dia que fugiu dos laboratórios, e a informação que tinha roubado após.

Seus lábios se curvaram com diversão enquanto o respeito aumentava dentro dele. Ela deixara atrás as projeções que os cientistas fizeram quanto a seu talento, sua capacidade de se transformar no assassino perfeito.

Observou enquanto a porta da cela de confinamento se abria e a cientista da Casta na instalação médica entrava no quarto, levando o contêiner médico de plástico que guardava seringas de injeção e frascos para as amostras que necessitaria.

— Harmony, meu nome é Ely. — A voz de Elyiana Morrey era suave, pormenorizada. — Você não está em nenhum perigo aqui.

Não houve nenhuma resposta.

— Necessito umas poucas amostras de sangue e um pouco de saliva. Isto não tomará muito tempo e prometo que não doerá.

Jonas tinha a sensação de que para Harmony importava uma merda. Quando Merc se moveu mais perto para proteger à cientista, que parou ao lado de Harmony, levantando seu braço à mesa.

Harmony continuou relaxada, quieta, enquanto Ely atava a correia de borracha ao redor da parte superior de seu braço e se movia para verificar as veias. Jonas viu os músculos no braço de Harmony se flexionar, logo se esticar. A ação evitaria eficazmente que a agulha encontrasse as veias sob a pele. A habilidade que as Castas tinham aprendido nos laboratórios, controlar seus músculos, tinha sido desenvolvida só para este fim. O olhar de Ely estava preocupado quando elevou a vista à câmara, encontrando o de Jonas.

— Diga a ela que vai ser sedada se não cooperar — ordenou Jonas com frieza.

O olhar de Ely se fechou com desaprovação, enquanto sua ordem atravessava a conexão auricular que estava vestida.

— Faça-o, Ely. Agora não é momento de discutir.

Os lábios de Ely se apertaram.

— Harmony, me ordenaram sedá-la se não cooperar. Por favor, não me obrigue a fazer isso.

Jonas quase sorriu abertamente ante a compaixão de Ely. Harmony cortaria sua garganta, sem um pensamento, se fosse o que necessitasse para escapar.

Mas Harmony relaxou e não traiu nem um estremecimento quando a agulha encontrou sua veia. Dois frascos depois, Ely tirou uma esponja de algodão do contêiner.

— Abra a boca, agora necessito uma amostra de saliva.

Harmony ficou imóvel

Jonas suspirou.

— Merc, puxe para trás a cabeça dela, e a forçou a abrir a boca.

Harmony não ia facilitar para ninguém.

Quando Merc lhe puxou a cabeça para trás, com sua poderosa mão se afiançando em sua mandíbula, Jonas viu seu rosto. Ele se inclinou para frente, os olhos se centrando na delicada estrutura óssea, os grandes olhos rasgados com pestanas negras como a fuligem, o vislumbre da raiva verde acesa em seus olhos.

Ely pegou a esponja rapidamente, umedeceu-a e depois se moveu para trás da mesa, enquanto Merc liberava a moça.

O sangue e as amostras de saliva eram imperativos. Para que seu plano funcionasse, ele tinha que demonstrar a suspeita que seus sentidos tinham recolhido, e se certificar de que Harmony não tinha se emparelhado ainda. Isso realmente poderia atrapalhar seus planos.

A única forma, nesse ponto, de neutralizar Harmony era matá-la. Matá-la não daria a Jonas ou ao Gabinete dirigente das Castas as respostas ou a informação que necessitavam. Matá-la destruiria sua alma, mas sabia que Harmony nunca confiaria nele agora. Ela era mais dura, muito cautelosa e muito consciente de quão facilmente poderia ser traída.

Primeiro, tinha que debilitá-la, tinha que encontrar uma vulnerabilidade nela.

Se suas suspeitas fossem corretas, aquela vulnerabilidade estava se pavoneando ao redor de Broken Butte, Novo México, com toda a arrogância e o controle de um homem cômodo no domínio que construíra.

Ante aquele pensamento, os lábios de Jonas se curvaram em um sorriso satisfeito enquanto ficava em pé e se movia para a entrada do escritório, e além da cela de interrogatório. Antes de deixar a sala, recolheu a escova que estava no escritório, verificou as cerdas contra sua palma e assentiu com brevidade.

Tinham se passado muitos anos desde que a acalmara escovando seu cabelo. Perguntou-se se ela era ainda suscetível àquelas poucas memórias boas que os laboratórios tinham contido. Tinham sido poucos e isolados, mas apesar dos anos que passaram separados, ele era ainda seu irmão. Não só da mesma espécie, mas também da mesma mãe.

A mãe que ela tinha matado.

Broken Butte, Novo o México

Duas semanas mais tarde

Estava sendo observada. Harmony entrou com seu Jipe esportivo no estacionamento do pequeno e descuidado bar de Broken Butte e considerou suas opções.

Sua chegada ao Departamento do Xerife estava programada pela manhã, ou senão... O “senão” de Jonas, é obvio. Então, que demônios fazia ali quando deveria estar no hotel revisando aqueles arquivos colocados dentro de sua mala?

Porque se aborrecia. Estava aborrecida, agitada e condenadamente zangada consigo mesma para permitir que acontecesse. A combinação de emoções era deprimente, e Harmony não se deprimia bem. Necessitava só um pouco de diversão. Só o suficiente para talvez animar um pouco a noite. Nada muito pesado. Uma taça e talvez uma boa briga.

Seus olhos se entrecerraram na entrada do bar. Com um pouco de sorte, sua escolta decidiria entrar para se assegurar de que ela estava ali. Se não o identificasse, então teria que caçá-lo. E precisamente agora não tinha tempo para ir à caça.

Não, Harmony Lancaster, uma vez conhecida como Morte, teria que interpretar o papel de boa garota durante seis meses inteiros.

O que significava nenhuma caçada. Nenhuma matança não autorizada. Fez uma careta ante isso, enquanto lançava sua bolsa sobre seu ombro e fechava de repente a porta do Jipe.

Morte, uma boa garota. Agora aí tinha uma contradição. Só o pensamento era o suficiente para deixar um gosto ácido em sua boca. Este era um dos motivos pelos quais estava entrando neste pequeno e sórdido bar em vez de investigar seu próximo adversário: o bom xerife de Broken Butte.

Abrindo caminho pelas velhas portas de estilo saloon, fez uma pausa na entrada, o olhar esquadrinhando a coleção de jeans que a observavam fixamente.

Enquanto deslizava sobre um tamborete vazio do balcão, Harmony deixou que seus olhos fizessem uma varredura sobre os bailarinos no distante fundo do ambiente.

— O que posso fazer por você, carinho? — Girou ante a voz masculina do garçom.

Alto, gordo e calvo, com um sorriso amistoso, recordou-lhe ao garçom em seu bar de motoqueiros favorito de Chicago. Talvez o Novo México não estivesse tão afastado da civilização como provavelmente Jonas poderia enviá-la, depois de tudo.

— Uísque.

— Gole ou copo? — perguntou ele.

— Copo, nada de gelo.

— Aqui está, doçura. — Assentiu.

Recolhendo a bebida, voltou-se de costas para o balcão e outra vez contemplou o ambiente.

Que demônios a convencera de que poderia voltar para os Estados Unidos? Por mais importante que fosse o trabalho?

As crianças eram sua fraqueza. A súplica tinha vindo de um antigo cliente, ajudar um amigo a localizar sua filha seqüestrada. Uma menina de não mais de cinco anos, com grandes olhos marrons e um sorriso travesso. Harmony ficara louca ao aceitar. Sabia que Jonas estivera espreitando-a durante quase seis meses. Nunca deveria ter voltado. Porque sabia o que ele queria dela, como sabia que ele esperava que falhasse nesta oportunidade que lhe dera para evitar a Lei da Casta.

Sacudiu a cabeça ante a idéia. Seu irmão tinha envelhecido mais do que deveria ter feito nos últimos dez anos. A amargura, a fria e dura determinação em seus olhos só tinham aumentado.

Como nela, seu acento francês se evaporou totalmente desde sua fuga dos laboratórios, e seu inglês era fluido e impecável. Tinham sido treinados para se integrar, sem importar onde os enviassem.

Enquanto levantava a bebida a seus lábios e ignorava as olhadas francamente sexuais que recebia, captou um movimento na entrada pela extremidade de seu olho. Girando a cabeça, Harmony olhou com apreciação quando a forma plenamente masculina entrou com passos largos no bar.

Bem, duvidava muitíssimo que esta fosse sua escolta, embora não teria o menor inconveniente em que no final o fosse. Ao menos 1,90 de macho fornido e musculoso se moveram com graça preguiçosa e despreocupada.

Estava vestido com jeans e uma camisa de dril de algodão azul escuro, que enfatizava os contornos pesadamente bronzeados de seu rosto. Seus traços eram duros, com maçãs do rosto altas, um lábio inferior sensualmente cheio e olhos de um profundo azul marinho que brilhavam com reprimida diversão quando encontrou seu olhar. Estava examinando-a tão atentamente como ela o avaliava. E era evidente que, como ela, gostou do que viu.

Tinha sido tão plenamente consciente de um homem, no passado? Este macho realmente gritava sexualidade, do vulto naqueles jeans, à ampla e musculosa amplitude de seus ombros. Ombros amplos e largos, cabelo liso e negro fluindo ao redor dos arrogantes traços de seu rosto, os suavizando o bastante para fazê-lo parecer acessível.

Harmony tinha admitido há muito tempo que não era necessariamente um ser sexual, apesar de que geneticamente era mais parecida com um animal. Mas este homem fazia que o felino dentro dela se elevasse e rugisse.

Podia sentir uma estranha receptividade fluindo por suas veias, alcançando o ponto máximo em seus mamilos e nas dobras subitamente sensíveis de seu sexo.

— Hey, Lance, companheiro. Já era hora de que viesse nos ver. — Atrás dela, o garçom gritou uma saudação enquanto o vaqueiro se dirigia ao tamborete junto a ela. — Cerveja?

— Cerveja está bem, Stan — respondeu Lance com um lento arrastar de palavras, que fez com que um tremor descesse pela coluna de Harmony.

Adorou aquela voz. Era tão suave e escura como seu uísque.

Girando o tamborete, Harmony encontrou o olhar do garçom enquanto deslizava seu copo para diante para outra dose.

— Ponha para a senhora também, Stan.

Harmony quase perdeu a oferta, seus sentidos de repente cheios com o aroma de tormentas de meia-noite e noites escuras de deserto. O aroma do macho ao seu lado. Forte. Puro. Não, este não era sua escolta, mas durante um momento pôde imaginá-lo atrás dela, com suas mãos dando forma a seu traseiro antes de se deslizar contra ela, separando suas coxas.

— Obrigado. — Aspirou profundamente quando girou a cabeça, mantendo o ligeiro sorriso, escondendo as presas agudas nas comissuras de sua boca.

Os seus eram menores que a maioria das Castas, e raramente eram notados como o que eram, mas mostrá-los não era algo que fizesse freqüentemente.

— Bem-vinda. — O sorriso ligeiramente torcido que lhe ofereceu fez algo no fundo de seu estômago. Este revoou. Demônios, nunca em toda sua vida, tivera nada dentro ou fora de seu corpo que sacudisse toda sua vida.

— Meu nome é Harmony. — Estendeu sua mão, inclinando a cabeça para conseguir uma melhor vista de seu rosto.

— Lance. — Saudou com a cabeça, estendendo a mão, a grande e calosa palma engolindo seus dedos.

A sensação da carne dele contra a sua assustou-a. Podia sentir sua mão se sensibilizando, os dedos formigando. O calor, diferente de tudo que conhecesse, fluiu de um simples apertão de mãos, do corpo dele ao dela.

Os olhos de Harmony se arregalaram enquanto os dele se estreitavam, um pequeno cenho franziu sua sobrancelha enquanto ele jogava uma olhada a suas mãos unidas. Ele tinha sentido? Aquela mudança de calor e de consciência?

— Bem, foi bastante estranho. — Seu sorriso era ainda preguiçoso, mas seu olhar se afiou com a consciência sensual.

— Foi? — Harmony pigarreou enquanto afastava do rosto os longos fios de seu cabelo recém tingido. Gostava do suave tom avermelhado escuro da cor. Dava uma ênfase acrescentada a seus olhos verde pálido e a suas sobrancelhas escuras.

A camuflagem era uma aquisição agradável. Seu cabelo naturalmente mesclado era um presente mortal para sua genética de Casta. A mescla de negros, marrons e âmbar dourado teria sido notada imediatamente.

— Nunca a vi por aqui. Está visitando parentes? — perguntou ele.

— Realmente não. — Ela sacudiu sua cabeça enquanto se voltava para ele. — Somente estou de passagem.

Desejava-o. Embora de algum jeito tivesse a sensação de que não serviria a seu propósito permitir a este homem saber que ela estaria aqui muito tempo.

— Isso é mal. — A pena brilhou no ar entre eles.

— Sim, é. — Harmony inalou profundamente, segura de que poderia ficar viciada em seu aroma se não fosse extremamente cuidadosa.

— Então está aqui só por esta noite? — Ele recolheu a garrafa gelada de cerveja enquanto expressava a pergunta, seu olhar obscurecido e a intenção de seduzir clara.

— Só esta noite. — Harmony assentiu devagar.

— Sozinha?

Ela vacilou enquanto encontrava seu olhar.

— Estava.

Observou como ele deixava a cerveja no balcão, sem afastar seus olhos dos dela, mantendo-a cativa com um profundo fogo azul.

— Eu poderia ser perigoso — murmurou ele então, sua voz descendeu se aproximando do sussurro, enquanto os olhos paqueravam com ela desavergonhadamente. — Um espreitador. Um assassino da tocha. Uma vez que você partisse daqui comigo, estaria em minhas garras.

— Ou você poderia estar nas minhas — sussurrou ela por sua vez, brincalhona.

— Me consideraria afortunado.

Harmony sossegou a risada que se elevava em sua garganta ante o escandaloso comentário. A risada não era algo ao que estivesse acostumada, entretanto este homem parecia lhe inspirar uns momentos após conhecê-lo.

Baixando a cabeça, Harmony lutou por esconder o sorriso que tremia em seus lábios enquanto levantava o copo uma vez mais e tomava um fortalecedor gole de sua bebida.

— Dúvidas? — perguntou ele.

Harmony levantou a cabeça, engolindo com força enquanto pensava em lutar contra a atração. Talvez durante um segundo.

— Raramente tenho dúvidas — assegurou ela, finalmente. — E você?

— Raramente. — A confiança masculina se estendeu por sua expressão. — Você gostaria de dançar?

— Eu adoraria fazê-lo. — Terminou sua bebida antes de reunir coragem e pousar sua mão na dele.

Lance pegou a mão da jovem, outra vez sentindo a onda de sensações que viajava de sua palma a dela. Não tivera nenhuma intenção de entrar no bar esta noite. A reunião de amanhã com Jonas Wyatt, o diretor do Escritório de Assuntos das Castas, requereria toda a paciência que pudesse reunir. O que significava monopolizar todo o descanso que pudesse esta noite.

Em vez disso, quanto mais perto estava do Stan’s Last Rest, o bar nos subúrbios do povoado, mais imperativas foram as advertências sussurradas no ar ao seu redor. Não tinham gritado nem gemido, e nelas ele não tinha ouvido segredos, como seu avô fazia freqüentemente. Mas ouviu a reclamação. Exatamente como ouviu a chamada feminina ressoando através de sua alma.

O momento no qual atravessou a porta soube que estava ali por ela. Seus olhos se tocaram e o sussurro de reclamação se aliviou.

Conduzindo-a à pista de dança, Lance a atraiu dentro de seus braços, sentindo as mãos apoiadas contra seus ombros enquanto ela mantinha a distância suficiente entre eles para que a inchada longitude de seu membro doesse, decepcionada.

Quis sentir seu arrebatamento contra ele. Mas nem tanto na pista de dança como em sua cama. Nua, suarenta e se arqueando para seu corpo quando a conduzisse ao org*smo.

— Só de passagem, não é? — perguntou ele finalmente, enquanto seus dedos se moviam sobre os quadris dela, se aproximando mais à pequena tira de pele nua entre as calças e o top. Se não estava errado, tinha vislumbrado um pequeno anel em seu umbigo quando ela se levantou do tamborete do balcão.

— Só por esta noite. — Ele observou o movimento de seus lábios, as suaves curvas rosadas úmidas e convidativas.

— A noite se esfuma rápido. — Percorreu suas costas com a mão, sentindo o pequeno tremor de sua resposta.

Ele olhou enquanto ela engolia sem eco, uma momentânea confusão iluminou o verde pálido de seus olhos, a suave língua umedecendo seus lábios. Não estava nervosa, mas aquele fio de vulnerabilidade em seu olhar o rasgou.

— Sim — respondeu ela finalmente. — A noite se esfuma rápido. O que deveríamos fazer a respeito? — Não estava brincado de ser tímida nem paquerava. As palavras eram um desafio, um que fez com que os músculos de seu abdômen se esticassem de antecipação.

— Veio com amigos?

— Não tenho amigos.

A estranha resposta o fez entrecerrar seus olhos, estudando-a por debaixo das pestanas. Por alguma razão, tinha a sensação de que ela não se referia só àquele lugar.

— Então, está pronta para partir? — As pontas de seus dedos se apertaram contra a blusa dela, sentindo os músculos de suas costas enquanto aquele pequeno tremor se estendia por eles outra vez.

— Estou preparada. — A resignação encheu seu tom e sua expressão.

Outra vez aquele estranho, triste e pequeno gemido sussurrado chegou a seus ouvidos enquanto o ar ao redor deles se fazia pesado pela excitação. A dela e a dele. Ela estava lutando contra a força de sua resposta a ele, se mantendo cautelosamente longe dele, recusando-se a relaxar em seu abraço enquanto seus olhos percorriam rapidamente o lugar.

Vergonha? Era como se ela não estivesse completamente segura de que quisesse que outros soubessem de sua fraqueza e excitação.

Lance esperou até que seu olhar voltasse para ele, antes de falar outra vez.

— Minha casa está só a uns minutos daqui. Está pronta para ir? — perguntou brandamente, sabendo que isto ia passar, e maldito se não o esperasse com ânsia.

Pegou sua mão e a tirou da pista de dança quando a música fez uma pausa.

— Poderia me seguir, ou poderia te trazer aqui de volta pela manhã para pegar seu veículo — sugeriu ele quando saíram do bar.

— Poderíamos pegar meu Jipe? — deteve seus passos, contemplando fixamente a escuridão ao redor deles. — Odiaria ter que rebocá-lo.

Estava segura de que seu novo chefe estaria encantado de ter que recolher o veículo de seu ajudante do depósito, se fosse rebocado. Preferiria não começar esta curta relação de trabalho com o pé esquerdo. Os próximos seis meses iam ser bastante difíceis, tal como eram.

— Me parece bem. — Ele assentiu atentamente enquanto ela tirava suas chaves do interior da bolsa que levava no ombro, e as passava para ele.

— O Jipe azul. — Moveu a cabeça para o amplo Wrangler esportivo do outro lado do solar.

Mantendo a mão dela na sua, conduziu-a através do estacionamento. Abriu a porta do passageiro para ela, deixando ela se mover entre a porta e o assento antes de lhe agarrar o quadril com uma mão e a girasse para ele.

Sentiu sua tensão, como se ela ainda não estivesse completamente segura do que fazia. Era óbvio que abandonar um bar com um desconhecido não era um acontecimento comum para ela.

— Está segura? — Ele baixou sua cabeça até que seus lábios estiveram a milímetros das suaves curvas dela, seu aroma se envolvendo ao redor dele, o aroma de madressilva e um matiz de trevo se introduzindo em seus sentidos.

— Nenhuma dúvida.

A respiração dela era agora agitada, seus lábios se separaram quando Lance permitiu que suas mãos se movessem pela cintura nua e sentissem a carne incrivelmente suave abaixo delas.

A tentação daqueles lábios era muito para negá-la. Ele baixou a cabeça enquanto as mãos dela revoavam contra seu peito, o tato delas atravessando o tecido de sua camisa enquanto ele lutava por refrear em seu desejo.

Só um beijo, prometeu a si mesmo enquanto roçava os lábios com os seus. Era o xerife; não podia ser pego beijocando em público. Mas um beijo certamente não o prejudicaria.

Ou isso pensou. Até que os lábios dela se separaram em um pequeno e suave ofego, e sua língua tocou a dele. O sutil gosto de madressilva era mais forte ali, doce e limpo enquanto este cevava sua fome.

Lance sentiu como as mãos dela subiam por seu peito, se deslocando para seu pescoço, depois se enterraram em seu cabelo enquanto um suave gemido vibrava contra seus lábios. Ele a beijou com suave avidez, se recordando a cada segundo que isto não poderia seguir adiante. Podia beijá-la. Só um aperitivo antes do prato principal.

Quando seus lábios se moveram sobre os dela, descobriu que sua fome por ela aumentava, ultrapassando seu sentido comum e seu controle. Suas mãos se deslizaram por debaixo do top, acariciando a carne acetinada até que se encheram dos firmes montículos que eram seus seios. E quando ela se arqueou para ele, seu suave grito foi amortecido por seus lábios que o devoraram sem mais.

Sua língua empurrava contra a dela, entrelaçada com ela, a atraiu a seus lábios e a chupou em sua própria boca enquanto ela se arqueava contra ele.

O gosto dela era como o sexo quente e necessitado. Como uma tentadora feita para a luxúria, forjada para a resistência e o prazer. E se ele não era muito, muito cuidadoso ia terminar por fodê-la ali mesmo, no estacionamento.

— Aqui estamos nos metendo em problemas. — Suas mãos se deslizaram dos seios ao seu traseiro, agarrando as ajustadas curvas e movendo-a contra ele enquanto seus lábios se arrastavam sobre a mandíbula dela para o pescoço.

Lance beliscou a fragrante pele ali, enquanto sentia as quentes curvas cobertas por tecido de seu sexo montando sua coxa. Ela estava ofegando sem fôlego, ruborizada, e um suave orvalho de transpiração cobrindo sua pele.

— Isto não é normal. — A voz dela soava aturdida, espessa pela necessidade enquanto ele deslizava os lábios e a língua sobre seu pescoço, se dirigindo para o vale de seus seios e a carne suave que sabia que encontraria ali.

Era mais suave que qualquer outra mulher que houvesse já tivesse tocado. Mais doce. Mais quente. E estava a um segundo de rasgar seus jeans para abri-los, subi-la ao assento e fodê-la como um louco.

— Estou seguro de que é. — Lance lambeu a umidade entre seus seios, provando a madressilva ali também.

Maldição, estava desenvolvendo uma inclinação pela madressilva. Se tão somente o gosto não fosse tão sutil. Então poderia encher seus sentidos e saciar sua necessidade dele.

Flexionou os dedos nas curvas do traseiro dela enquanto a ajudava a montá-lo; juraria que podia sentir o calor úmido de seu sexo o abrasando através da braguilha seus jeans.

— Tem um gosto tão doce como o verão — grunhiu ele. Os lábios dela estavam em sua testa, se apertando contra ele com indecisão, provocando uma pausa neste desespero frenético por provar tanto dela como fosse possível, e lhe devolvendo um pingo de controle.

Seus lábios o tocaram com sentimento. Ele pôde senti-lo na suave brisa que se envolvia ao redor deles, o sussurro de confusão e de sonhos perdidos no ar em seu ouvido.

Como se ela nunca houvesse tocado voluntariamente antes.

— Shhhh — o suave cantarolar de Lance sussurrou sobre os sentidos alterados de Harmony, enquanto levantava a cabeça da curva de seus seios. Baixou-lhe a camisa, a distração do toque das mãos dele em seus seios aliviava a excitação que ameaçava afligi-la.

Ela levantou o olhar para ele, aturdida, enquanto suas mãos afastavam o cabelo das acaloradas bochechas, antes que ele colocasse um suave beijo em seus lábios.

— Vou com você — sussurrou ele.

Movendo as mãos a seus quadris, levantou-a do assento antes de recolher sua bolsa do pavimento para lhe dar.

Tinha perdido seu único amparo quando ele a abraçou? Sua bolsa continha uma faca e a pequena pistola que levava quando não podia levar postas suas armas. Nunca o deixava fora do alcance de sua mão, a menos que fosse absolutamente necessário. E nunca, jamais, o deixara cair.

Estremeceu enquanto a porta lateral do condutor se abria e ele entrava. Podia cheirá-lo, uma mescla embriagadora da noite e as estações se combinando com seu aroma.

— Pronta? — Sua voz era grave, o tom áspero de um macho primitivo sexualmente excitado e preparado para reclamar a uma fêmea.

Ela levantou a cabeça, inalando profundamente quando seu olhar se encontrou com o dele.

— Estou pronta — sussurrou.

Estava muito mais que pronta. Seu corpo estava gritando por ele agora. Seus sentidos estavam confusos e sua mente transtornada. Não podia pensar em nada mais do que seu toque, se abarrotar dele e saciar a fome que bramava em sua carne.

Tinha passado de uma forma de viver de não se preocupar nunca de maneira nenhuma se estava sob um homem, a estar de repente desesperada por senti-lo a cobrindo.

Lance arrancou o veículo e o tirou do estacionamento enquanto Harmony mantinha sua treinada visão periférica no pequeno espelho do lado de sua porta. Não pôde ver nenhuma prova de que estivessem sendo seguidos, mas sua nuca formigava pela sensação.

Infelizmente, seu instinto de sobrevivência foi esmagado no momento em que a mão de Lance se moveu da mudança de marchas para levantar a sua do regaço.

— Suas mãos são suaves. — Sua voz era um pouco instável; sua luxúria se elevava enquanto lhe colocava a mão na mudança de marchas, cobrindo-a com a sua enquanto conduzia.

— Obrigado. — Ela tinha aprendido a paquerar menos de um ano depois de sua fuga dos laboratórios. Conhecia os jogos de palavras, as agudas réplicas sociais que mantinham aos homens a distância. Mas nada disso lhe vinha à mente agora.

Tudo o que sabia era o pulsar de seu coração na rigidez de seus mamilos, no inchado broto de seu cl*tóris e sua faminta vagin*. Estava tão molhada que podia sentir seus próprios sucos umedecendo a seda da tanga e o roçar das dobras inchadas de seu sexo ultra-suave contra o jeans que tinha posto.

O polegar dele acariciava o seu, a pele ligeiramente calejada excitando as sensíveis terminações nervosas enquanto Harmony lutava por manter sua respiração.

— Esta é sua primeira vez em Broken Butte? — Sua voz era tranqüila nos limites do veículo.

Harmony se remexeu no assento, engolindo com força enquanto franzia o cenho ante o estranho sabor doce que enchia sua boca. Queria o sabor dele. A rica essência terrosa do vento e da terra contra sua língua.

— Sim. — Aspirou profundamente, fechando seus olhos brevemente em um esforço por manter seu controle.

Nunca estivera tão na beira. Não se sentia totalmente ela mesma, e era condenadamente aterrador. Nunca estivera fora de controle. Processava a informação rapidamente e suas decisões eram as que sabia que tinham valor.

Esta fome não tinha nenhum valor, não tinha sentido. A completamente ilógica necessidade que a rasgava estava lançando sua mente e seu corpo ao caos.

Nunca dera muita consideração a seu estado como fêmea, até este momento. Agora, podia sentir a debilitante excitação, o pulso da carne se derretendo entre as coxas, uma fome por se render e ser possuída.

— Está a muito tempo aqui? — O polegar desenhou círculos na beira de sua mão, acariciando e massageando enquanto ela se voltava lentamente para ele.

Ela só necessitava um pouco mais. Sua respiração era pesada, laboriosa enquanto ele punha a luz de alerta e girava na estrada para um caminho de cascalho. Se estendia diante deles, interminável, e o atormentador desejo que enchia seus sentidos não estava encontrando alívio.

— Não — sussurrou em resposta, o olhar se centrando em seus lábios. — Me beije outra vez, Lance.

A careta dele foi tensa e dolorida.

— Se a beijar outra vez, não vou chegar em casa antes de te ter debaixo de mim.

— Não me importa. — Realmente não se importava. Tudo o que importava era seu beijo e seu toque.

A mão dele apertou a sua brevemente, antes que lhe levantasse os dedos e os pusesse de volta em seu regaço.

— Quase estamos em casa. — Sua voz era tão forçada e tensa como ela se sentia. — Só um minuto ou dois, amor.

Ele se remexeu em seu assento, obviamente esperando aliviar a pressão de seu jeans sobre sua ereção. Ela podia cheirar sua fome se envolvendo ao redor dela.

Harmony fechou os olhos, lutando para se conter, por esperar, só uns minutos mais. Seus aturdidos sentidos estavam reclamando, esta estranha e desconhecida excitação era tão imperativa que cada centímetro de sua pele doía por seu toque.

E ardia. Sentia-se como se estivesse em meio de uma febre, ruborizada, tão sensível que o ar dentro do Jipe parecia muito pesado para respirá-lo.

— Deus, o aspecto de seu rosto. — Sua voz soou tensa enquanto o Jipe acelerava. — Está me matando.

Ela abriu os olhos, apoiando a cabeça no encosto enquanto o olhava com olhos sonolentos.

— O que pareço?

— Faminta — sussurrou ele. — Tão excitada e faminta que me faz desejar te ver saciada.

Ela poderia ser saciada?

— Te quero agora — disse ela brandamente. — E isto me aterroriza um pouco — reconheceu ela, com um irônico sorriso.

A vida tinha que significar algo para você para que temesse as conseqüências de suas ações. Sua própria vida nunca tinha lhe importado muito além de cumprir suas responsabilidades para outros. Até agora.

Agora viver significava prazer. Significava o toque dele, seu beijo, uma aventura de sensações que nunca tinha imaginado que encontraria.

— Aí está, a casa. — Ele cabeceou para diante quando os faróis encontraram o impreciso perfil de um rancho de um só andar. O desajeitado desenho parecia relaxado e cômodo, a luz de pórtico banhava o frente da casa com um brilho atraente e suave.

Lance colocou o Jipe até pará-lo ao lado do caminho de cimento que conduzia ao alpendre. Tirando as chaves da ignição, girou para sua convidada e a contemplou silenciosamente.

Os olhos verdes pálidos dela o olharam fixamente atrás de suas pálpebras sonolentamente baixadas enquanto o rubor de suas bochechas e as inchadas curvas de seus lábios certificavam sua excitação.

Ele mesmo estava agonizando. Seu pênis parecia uma cunha de ferro em suas calças, quente e palpitante ante a necessidade de se sepultar dentro dela. Sua língua ansiava prová-la. Só o sabor dela poderia ser tão excitante. Estava atormentado pela lembrança disso... a sutil doçura e a insinuação de calor.

— Está preparada?

Ela assentiu em resposta, a expressão sombria enquanto ele abria sua porta para sair do veículo. Mas fez uma pausa. Só uma amostra. Estavam perto o bastante da casa. Certamente poderia manter o controle tempo suficiente para prová-la uma vez mais.

Deixou-a se adiantar a ele pela calçada, seu olhar baixando à curva e o balanço de suas nádegas, suas mãos picaram para agarrá-las, apertá-las e sustentá-las fortemente enquanto palpitava dentro dela.

Fez uma careta ante a crescente luxúria que atormentava seu escroto. Estavam tão apertados como seu pênis, torturado e dolorido por se liberar. Tinha acreditado que a desejava antes daquele beijo, mas depois de que seus lábios tocaram os dela, a fome só se incrementou. Estava crescendo rapidamente, inclusive agora.

— Aqui vamos. — Ele deixou a mão repousar em seu quadril quando abriu a porta trilho e tirou as chaves do bolso. Grunhiu ante o apertão do tecido contra sua ereção, mas conseguiu tirar o chaveiro.

Abriu a porta e entrou, explorando o interior rapidamente, seus sentidos recolhendo cada matiz da casa enquanto contemplava a habitação.

— Tem uma casa formosa. — Ela entrou no saguão, a voz baixa. A suave luz do teto criava um delicado halo ao redor da sedosa massa do cabelo avermelhado escuro que caía lustroso sobre seu rosto.

— Faminta?

Ela sacudiu a cabeça negando, e ele sentiu que seus músculos se esticavam mais. Se possível fosse, seu pênis ficou mais duro.

— Bebida?

— Não, obrigado. — Os braços penduravam aos lados como se estivessem relaxados, mas ele podia sentir a tensão que a enchia.

Esticando a mão convidativamente, ele olhou enquanto ela estendia a sua para ele sem vacilar. Seus dedos finos se curvaram nos seus, quentes. Aceitando. Complacentes.

Ele não pôde menos que sorrir, amando essa pequena luz de perplexa curiosidade que enchia seu olhar cada vez que ele o fazia. Como se ninguém lhe tivesse sorrido antes.

— Quarto? — perguntou ele então.

Ela inclinou sua cabeça, encarando-o fixamente enquanto respirava devagar e profundamente. Ele viu o rubor se fazer mais profundo em suas bochechas, viu o interesse que obscureceu seus olhos.

Sua língua apareceu, deslizando sobre os lábios no primeiro sinal verdadeiro de nervos que tinha visto nela.

— O quarto. — Sua voz era rouca, vibrando com o desejo.

Quando ele entrou no quarto, as luzes automáticas diminuíram, uma iluminação baixa e tênue que sombreava o quarto e mantinha a atmosfera íntima que ele desfrutava.

Fechou a porta atrás deles, voltando-se para ela, não dando nenhum tempo para verbalizar o que fosse que ela ia dizer. Não queria objeções, não poderia suportar ouvir sua vacilação. Queria-a suave e doce contra ele outra vez, com sua língua lambendo sobre a sua como um gatinho, o sabor dela, aquele sabor de madressilva selvagem e trevo afligindo seus sentidos como o tinham feito antes.

Pousou os lábios contra os dela enquanto lutava por conter sua luxúria. Suas mãos a atraíram, encaixando as finas curvas em seu corpo mais alto, seus braços se cruzaram nas costas dela enquanto bebia a goles de seus lábios, profundamente, embriagadores beijos que só serviram para inflamar mais a necessidade.

Era magra sob suas mãos, menor e mais delicada do que parecia. Mas podia sentir a força nela.

Pequenas unhas agudas cravaram através de sua camisa enquanto seus dedos se apertavam contra ele. Um áspero gemido saiu dele enquanto as coxas dela se moviam contra as suas, os firmes planos de seu abdômen amorteciam a furiosa longitude de seu pênis. Inclinando os lábios sobre os dela, ele introduziu a língua em sua boca, procurando essa suave umidade dela e o elixir de paixão que parecia encher a boca dela.

Maldição, ela tinha um gosto bom. A língua entrelaçada com a sua, derramando doce mel em seus sentidos, o sabor queimando através de sua mente como um afrodisíaco.

— Venha aqui. — Suas mãos embalaram o traseiro dela. Totalmente curvado e firme... seus dedos apertados nele enquanto a levantava contra ele, gemendo enquanto as pernas dela se curvavam ao redor de seus quadris e com a suave almofada de seu sexo amortecendo sua ereção.

— Parece fogo. — Ele beliscou seus lábios enquanto a levava a cama, colocando-a embaixo dele. — Tão doce e quente que poderia ficar louco por você.

Estava ficando louco por ela. Seus dedos foram à camisa dela, agarrando-a com estupidez, enquanto a tirava pela cabeça, revelando seu sutiã e seus pesados seios, antes de afastá-la a um lado.

Nenhuma mulher o tinha afetado jamais como esta, o fizera se queimar, fazia que cada célula de seu corpo doesse e pulsasse por seu toque e por seu sabor. Era tão condenadamente feminina, tão suave e quente, e entretanto tão firme e resistente que teve que apertar os dentes para não uivar por sua necessidade dela.

E ela o olhou, as mãos caindo aos lados, o verde mar de seus olhos ardendo com paixão e confusão.

Tirou-lhe os sapatos, as funcionais meias 3/4 brancas. Seus pés eram finos, delicados, o arco alto e as pequenas unhas pintadas dos dedos dos pés tão doces que ele fez uma careta ante a vista.

Não havia nada como uma mulher... brandamente perfumada, ligeiramente maquiada, com todos seus truques de maquiagem e confiante engenhosidade para virar um homem pelo avesso. Elas eram fracas, entretanto a mais firme força na face da terra. E esta mulher se faria rapidamente seu mundo. Sentia isso. Sabia com cada fibra de seu ser.

Ela tinha posto só a maquiagem indispensável, o suficiente para realçar em vez de cobrir, mas foi o tom escarlate daquelas pequenas unhas dos dedos do pé o que o empurraram sobre a borda. Ela mimava aqueles pés. Cuidava deles. Eram suaves como a seda, perfeitamente recortados e pedicurados, e brilhavam de beleza.

Ele levantou um, olhando-a enquanto colocava o arco contra sua áspera bochecha, sentindo o toque de seda enquanto os dedos do pé dela se curvavam e a surpresa iluminava seus olhos.

Girou a cabeça, baixando-a, depois beliscando na curva do dedo gordo de seu pé antes de lambê-lo com suma suavidade.

Os olhos dela flamejaram, assombrados e algo parecido ao temor os encheu.

— Tem pés bonitos. — Massageou-o durante um momento antes de liberá-la.

Ela tragou, abriu os lábios para falar, logo mordeu a curva inferior enquanto os dedos dele se moviam a seu jeans. O botão e o zíper se liberaram rapidamente. Seus quadris se levantaram quando baixou o tecido sobre eles, deslizando-a para baixo por suas coxas, os dedos tocando a suave pele de cetim enquanto a malha deixava livres suas pernas.

Ela se elevou para ele então, as mãos se sacudindo e um pequeno, quase imperceptível gemido em seus lábios.

— Ainda não — ele empurrou suas mãos para trás, na cama. — Espere, neném. Deixe-me te tocar. Se puser essas pequenas e quentes mãos em mim, vou perder o controle e te foder até que nenhum de nós tenha força para se preocupar de carícias. Só permanece aí. Só um pouco.

— Preciso te tocar. — As palavras saíram rasgadas dela, embora fizesse o que ele pedia, os dedos se fechando em punhos enquanto os levava em sua cabeça.

— E necessito que me toque — confessou ele, lutando para limpar a neblina de luxúria em sua mente. — Só que não agora.

Inclinou-se para trás, seus olhos repassaram o aspecto dela. O frágil encaixe de seu sutiã que não fazia nada para esconder os tensos mamilos. O plano e bronzeado abdômen e a delicada seda branca de sua tanga; a malha estava úmida o bastante para perfilar as suaves curvas de seu sexo.

Respirou. Uma áspera exalação ante o conhecimento de que sob a frágil seda se estendia a pele nua. Seus doces sucos tinham molhado o tecido só o bastante para ver que nenhum cacho feminino danificava as deliciosas curvas.

— Se barbeia? — Ele atirou longe suas botas, incapaz de afastar o olhar da úmida seda.

— Não. Cera. — Ela pareceu incômoda.

Ele elevou a vista, dirigindo-lhe um sorriso de aprovação quando a última bota caiu ao chão. Tirou a camisa por sua cabeça, sem se incomodar pelos botões, logo se arrancou o cinturão antes de abrir os colchetes dos jeans. O pênis o estava matando. Estava mais duro e quente do que podia recordar ter estado alguma vez em sua vida.

— Vou comer essa bonita boceta — sussurrou enquanto tirava os jeans e a roupa de baixo em um econômico movimento. — Vou separar suas pernas e me abarrotar de você. Com certeza, esse gosto de madressilva está ali também. Eu gosto de madressilva, Harmony. Realmente, eu gosto.

Envolveu os dedos ao redor de sua ereção, os olhos voltando para os dela, um tenso sorriso curvando seus lábios ante o erótico rubor que cobria a cara e o pescoço dela. Os lábios dela estavam separados, brilhantes pela umidade de sua língua. Seus olhos estavam muito abertos, as pupilas dilatadas e cheias de estupefata fome.

Ele mesmo deveria estar impressionado. Nunca estivera tão condenadamente quente, tão endurecido por uma mulher em toda sua vida. Alcançou a mesinha, tirando uma camisinha da gaveta e rasgando rapidamente o envoltório. Se não o fizesse agora, não teria bastante sentido para fazê-lo mais tarde.

Estendeu-lhe a mão então, o círculo de látex agarrado ligeiramente entre os dedos.

Ele não podia se obrigar a pronunciar as palavras. Se falasse, ia assustar de morte a ambos com o grunhido animal de sua garganta.

Ela olhou a camisinha.

— Estou protegida. E estou limpa — disse ela.

O membro se sacudiu ante o som suave de sua voz, o conhecimento de que poderia se afundar nela, nu e senti-la tocando-o e se abrigando a seu redor.

Ele sacudiu a cabeça.

— Ninguém pode estar seguro, neném. Vamos. Toque-me agora.

A diversão piscou em seu olhar, algum oculto conhecimento que ele esperava poder se lembrar de aprofundar mais. Então ela estava se levantando, se sentando ante ele, e seu rosto se nivelou com a forçada longitude de seu pênis.

Ela pegou a camisinha de seus dedos, mas quando a mão dele caiu em seu ombro, não foi com aquilo que ela cobriu a cabeça de sua ereção. Sua língua era abrasadora pelo calor, como veludo áspero, golpeando sobre a crista protuberante.

— Harmony... — A mão dele se moveu a seu cabelo. — Neném. Isto poderia não ser uma boa idéia. — Seu autocontrole estava esticado ao limite.

— Hmm — ela cantarolou ao redor da sensível carne, enquanto seus lábios se abriam e a boca se afundava sobre ele, extraindo um gemido estrangulado da garganta dele enquanto seus dedos se apertavam no cabelo dela.

Sua língua era uma chicotada de prazer tão erótico, tão faminto que ele estava se esforçando por se conter, por evitar perder o controle e seu sêmen entre aqueles acolhedores lábios.

Mas não podia evitar se mover contra ela, olhar sua dura carne se deslizar pelos lábios dela antes de retroceder, se afundando dentro dela até que soube que não podia ir mais longe. E ainda assim ela levantou o olhar para ele, os olhos enlouquecidos pela luxúria e o corpo se estremecendo por ela. Os tremores sacudiam seus dedos enquanto estes se moviam sobre o eixo de seu pênis, a outra mão embalando os apertados sacos, os dedos passando através do pêlo que crescia ali.

E tudo o que ele podia fazer era olhar. Olhar e empurrar dentro de sua boca, lento e fácil, os dentes apertados, tensos, enquanto lutava para conter a liberação que chispava na base de sua coluna.

— Basta. — Ele se retirou, os dedos lhe sustentaram a cabeça enquanto ela lutava para segui-lo, os lábios brilhantes, inchados pela posse deles.

— Quero mais — sussurrou ela, enquanto ele desenroscava seus dedos da carne palpitante. — Me deixe te tocar, Lance. Só desta vez.

— Logo. Ainda não, neném.

Empurrou-a de costas na cama, seguindo-a, e quando seus lábios cobriram os dela, o gosto doce nela encheu seus sentidos outra vez e ele se esqueceu do controle.

Os dedos dele se afundaram em seu cabelo, sustentando sua cabeça imóvel enquanto ele deixava que seus lábios a devorassem. Atormentou-lhe a língua, a sugou, puxões lentos e suaves que pareceram intensificar o gosto que ansiava.

Estava morrendo por ela, suplicando. Estava ficando viciado.

Harmony lutou. Era uma batalha perdida, mas de todas as formas lutou para manter controle o suficiente para estar alerta, estar em guarda. Algo não estava bem aqui, não era completamente normal. Desde o momento em que ela tinha apanhado sua visão esta noite, soubera que sua fascinação por ele era muito forte. Muito intensa.

Mas isto, esta luxúria, era uma loucura. Rasgava sua matriz, se afundava em seu sexo e fazia que seus sucos se derramassem de sua trêmula vagin*. A fez agarrá-lo, os lábios se abrindo sob os dele quando tirou seu sutiã, deixando só a tanga. E isto só durante o longo tempo que levou para suas mãos irem aos quadris dela e arrancá-la.

— Maldição, está quente — Ele gemeu quando ela gritou. Os dedos dele estavam se deslizando pela molhada fenda entre suas coxas, o polegar roçava sobre seu cl*tóris, rodeando-o com resultados devastadores enquanto os lábios se moviam para baixo por seu pescoço, se dirigindo para as curvas de seus seios.

O prazer era agonizante. Harmony nunca tinha conhecido sensações tão extremas, tão brutais que não pudesse enfocar seus sentidos em outra parte ao mesmo tempo. Ela nunca tinha conhecido nada exceto o terror que pudesse pegar despreparados corpo, coração e alma de um só golpe. Até agora.

As mãos de Lance a tocaram, a acariciaram, estendendo o ardor, criando uma tormenta de fogo de êxtase que queimou qualquer outro pensamento e qualquer outro instinto.

A necessidade de se emparelhar se fez imperativa. Sentir seu corpo se movendo sobre ela, dentro dela, tomando-a e possuindo-a...

— Me foda! — mal conteve o grunhido enquanto os lábios e a língua dele se moviam a um mamilo dolorosamente erguido e altamente sensível.

Ele riu entre dentes, um som baixo de satisfação enquanto seu dedo se movia dos contornos úmidos de seu sexo para agarrar seu quadril, sustentando-a no lugar enquanto ela se arqueava contra ele.

— Logo — sussurrou ele. — Relaxe, neném. Vamos ver quão quente pode ficar.

Ela não podia se imaginar mais quente. Não podia imaginar sobreviver se seu corpo chegasse a ser um sopro mais sensível.

— Não pode ficar mais quente — ofegou ela, não reconhecendo já a si mesma ou a seu próprio corpo, enquanto os dentes dele arranhavam seu mamilo, extraindo um desigual grito de sua garganta. Se ficasse mais quente, não havia modo de que pudesse sobreviver. Nenhum modo em que pudesse se afastar dele sem ser afetada.

— É obvio que pode — cantarolou ele, sua voz era rouca e áspera. Deu ao mamilo um suave beliscão.

Encarou-a fixamente, vendo o sexual e sensual animal se inclinando sobre ela, e quis gritar pela injustiça disso.

Uma noite. Só uma noite.

Suas mãos estavam enredadas no cabelo dele, e ela não podia recordar tê-las movido da cama. Mas sentiu os grossos cabelos entre os dedos e o calor esquentando as sensíveis almofadas.

— Te necessito agora — ela estava se sacudindo, tremendo com aquela necessidade, mas não podia controlar o impulso de tocá-lo. Uma mão caiu de seu cabelo para seu rosto, os dedos se moveram sobre os duros planos e ângulos, deslizando tentativamente sobre seus lábios.

Beliscou-lhe o polegar, agarrou-o entre seus dentes retos e brancos enquanto sua língua golpeava sobre ele com o faminto calor.

— Poderíamos brincar mais tarde — sussurrou ofegante, ardendo, sentindo a longitude grossa de seu pênis em sua coxa enquanto seu sexo chorava de necessidade por ele.

— Brincaremos mais tarde também. — Seus dedos se abrigaram ao redor do pulso dela, baixando a seu ombro enquanto sua cabeça baixava, sua língua se arrastava para baixo pelo meio de seu estômago em um rápido curso à atormentada carne entre suas coxas.

Lançou-lhe uma olhada com cada beijo em seu estremecido ventre, os olhos cintilando com calor, risada e fome. Uma selvagem e vibrante fome ressoou e aumentou dentro dela até que pôde sentir as chamas a alcançando.

— Lance... — O som de seu próprio grito a impressionou... rouco, debruado pelo desespero quando sua cabeça se aproximou das empapadas curvas de seu sexo. — Não posso suportar... por favor...

Ela estava na beira de um precipício que a aterrorizava. Nunca tinha ido tão alto, nunca tinha conhecido tal prazer. Recuperar o controle, por destroçada que estivesse, se fazia imperativo.

— Só um pouquinho mais, neném. Só quero uma pequena amostra. Isso é tudo... Só se deite e deixa-o sentir bem. Prometo te fazer se sentir bem. — Seu diabólico sorriso foi seguido de um sopro de ar sobre o violentamente sensível e inchado cl*tóris.

A escuridão a cobriu então. Os olhos fechados, a força drenada até que não pôde fazer nada mais que responder. Arqueou-se para ele, um aturdido grito abandonou sua garganta enquanto a língua dele se introduzia para torturá-la e atormentar seu sexo trêmulo.

— Boa garota. — Grunhiu ele enquanto suas coxas caíam mais separadas. — Me deixe mostrar quão bom pode ser, neném.

Bom? Isto era mais que bom. Era uma tortura.

Sua língua era uma ardente chicotada de prazer, riscando seu caminho devagar pela estreita fenda enquanto seus dedos separavam os lábios cheios.

— Tão doce e nu. — Grunhiu ele. — Adoro seu sexo nu, Harmony. Amo sentir toda sua sedosa pele, molhada, quente e se esticando para mim.

Ela se esticou mais forte. A língua dele lambeu cada dobra, fazendo cócegas ao redor de seu cl*tóris, deslizando para baixo, rodeando a trêmula abertura de sua vagin* e logo começando outra vez.

Ofegando e lutando por respirar, Harmony sentiu suas mãos agarrarem o cabelo dele, as unhas se afundarem em seu couro cabeludo enquanto lutava por mantê-lo quieto, por encontrar a liberação que se abatia justo fora de alcance.

Sua língua era diabólica e imperiosa. Procurava, exigia, e extraía dela um prazer que excedia qualquer do que ela tivesse sentido. Enviou relâmpagos se estrelando por seu sistema. Gigantescas ondas de sensação golpearam através de sua mente, fazendo-a se sacudir, se estremecer e ressoar seus gritos ao redor dela quando perdeu o controle.

Quando os lábios dele se moveram para trás, para seu cl*tóris, um duro dedo masculino provou a entrada de seu sexo, se introduziu, tocou e acariciou, enviando espasmos que correram pelo coração de sua matriz.

— Lance... — Seu grito foi estrangulado. — Por Deus. Por favor...

Outro dedo se uniu ao primeiro. Os lábios cobriram o broto inchado de seu cl*tóris, atraindo-o a sua boca, a língua vibrou sobre ele como chamas de luxúria enquanto ela se sentia voar mais alto. Mais alto.

A sensação rompeu através dela. Rasgou-se em seu sistema nervoso, despedaçou sua alma. O org*smo golpeou, esticou seu corpo, e a enviou correndo para um calor e brilhantismo tão extremos, tão intensos que se perdeu dentro.

O duro grunhido de Lance encheu sua cabeça quando se moveu para cobri-la, as coxas separando as suas, a grande e grossa cabeça de seu pênis separando as dobras de seu sexo.

— Me olhe.

Olhá-lo? Ela teve problemas para abrir os olhos, encontrar sentido aos violentos tremores que se estendiam por ela. O que viu não fez nada para restaurar seu controle ou equilíbrio. Seus olhos eram tão azuis, um profundo e impossivelmente brilhante azul, seus traços tensos, grosseiramente, os lábios inchados enquanto ele afastava a vista dela e punha uma camisinha em sua mão.

— Agora. — Ele se sacudiu direito, o grosso e pulsante esculpo de seu pênis se angulando longe de seu corpo, apontando para ela, palpitando com a mesma fome furiosa e desesperada que se levantava por sua boceta.

Os olhos dela se moveram devagar, a contra gosto, para sua palma e para a camisinha que ele tinha colocado ali.

— Coloque.

Ela piscou ante o som gutural de sua voz.

— Não necessita...

— Agora! — Suas mãos agarraram as coxas, seus olhos flamejando nela.

Ela tragou fortemente, seus dedos se sacudindo, tremendo, enquanto ela se movia para fazer o que ele tinha pedido tão rapidamente como lhe era possível. Ela o necessitava; seu sexo ardia e doía. Sua língua palpitava. Cada uma de suas células ardia em demanda.

Seus dedos tremiam tanto que mal podia colocar o disco sobre a avultada e úmida cabeça.

— Não posso. — Escorregava, se movia e deslizava. Ela não podia fazer que seus dedos trabalhassem.

— Ponha a maldita coisa, Harmony. — Seu corpo se sacudia e se estremecia.

— Que se foda. — Lançou a camisinha, levantou os quadris até a inchada cabeça pressionada contra a entrada de seu sexo. — Me foda. Já disse, não necessita ao filho de put...

A invasão... não poderia ser chamada nada mais, um empalamento, uma penetração que rompeu através dela, a estirou e a destruiu.

Harmony se ouviu gritando o nome dele. Suas pernas se envolveram ao redor dos quadris dele que se inundavam, seus lábios se abriram para os dele, sua língua batalhou contra a dele no momento em que se tocaram.

Ela estava cheia até seu limite, o prazer dilacerador girava, sobrecarregando seus sentidos até que nada nem ninguém importava, o mundo se dissolveu até que nada existiu, exceto Lance. Seu toque. Seu beijo, sentindo os furadores golpes de seu membro se impulsionando dentro de seu sexo enquanto sua língua enchia a boca dele, o gosto de mel selvagem e a especiarias, um afrodisíaco que aumentava cada sensação e a enviava rapidamente ao êxtase.

Seu corpo se sacudiu violentamente enquanto o seguinte org*smo arrasava através dela. Resistiu, se estremeceu, lutando por gritar, mas só um gemido surgiu quando ele afastou seus lábios dos seus. Um estrangulado grito masculino encheu então o ar, seguido rapidamente da mais estranha e aterradora sensação que ela jamais tinha conhecido.

Lançou um grito ante a sensação de seu sêmen se precipitando por ela, se infiltrando nos poros da trêmula carne, aliviando a luxúria ardente, penetrando em sua matriz.

Sentiu. Sentiu cada ardente pulso do sêmen enchê-la, trocá-la e completá-la justo antes que os dentes dela se afundassem em seu ombro e ela provasse seu sangue. E naquele momento sentiu sua própria derrota.

Lance estava enfurecido. Na manhã seguinte, andava de um lado a outro pelo escritório, franzindo o cenho, seu corpo queimando enquanto o pênis palpitava em seu jeans, e a mordida em seu ombro queimava de necessidade.

Filha de puta. Uma Casta de merda. Deu-se conta do que era ela no momento em que aqueles pequenos dentes agudos perfuraram sua carne. Tinha visto o sinal no ombro de sua prima Megan, quase um ano antes. Colocada ali por seu companheiro, Braden Arness.

— Não posso encontrar ninguém que concorde com sua descrição na base de dados, Lance — grunhiu Braden, com irritação.

— Olhe, maldição, sei que ela é uma Casta — sussurrou Lance. — Tem que estar nela.

— Lance, estive procurando nestes malditos arquivos durante uma hora. Ela não está aqui. De que demônios vem isto?

Lance respirou com força.

— A fêmea me mordeu ontem à noite, Braden — grunhiu ele finalmente. — Encontrei-a no bar e a levei para casa.

— Fez sexo com ela, e ela te mordeu? — a voz de Braden era cuidadosamente suave. — Qual me disse que era seu nome?

— Harmony. Não me deu um sobrenome. Cabelo avermelhado, olhos verdes pálidos, ao redor de um e setenta e três.

— Alguma tatuagem ou sinais distintivos? — perguntou Braden.

Lance franziu o cenho. Mal recordava uma pequena tatuagem.

— Em seu ombro direito, não posso estar seguro, mas acredito que era uma foice.

O silêncio encheu a linha enquanto o ar ao redor dele sussurrava em advertência.

— Está seguro disto? Uma foice.

— Uma foice vermelha, de não mais que quatro centímetros de comprimento. A vi justo antes que ela colocasse sua camiseta. Quando girou com a puta arma em sua mão, me esqueci disso.

Ela havia sustentado uma arma contra ele. Uma pequena, de cano recortado embora inquestionavelmente poderosa e militar Beretta. E aquelas nenéns pegavam duro, apesar de seu tamanho.

— Maldição. Isso é mal. — A voz de Braden era de repente mais profunda; o grunhido animal de sua herança de Casta só se mostrava em momentos de cólera ou tensão.

— A parte da Casta ou a parte da foice? — perguntou Lance. — Tem que ser um pouco mais claro aqui, Braden. Minha mente não está trabalhando exatamente na sua velocidade normal.

E sabia por que. Sabia, e isso o enfurecia. Que Deus a ajudasse se colocasse as mãos nela outra vez. A primeira coisa que ia fazer era surrar aquele bonito traseiro, por fugir. A segunda coisa que faria era fode-la até que não tivesse força para fugir outra vez.

— Segundo meus arquivos, a Casta com esse sinal é um mal elemento com o que não quer se mesclar. A chamamos por seu nome de laboratório, porque ela nunca escolheu outro que soubéssemos. Seu nome é Morte, Lance. Está sendo procurada não só pelo Escritório de Assuntos de Casta, mas também por várias agências do governo, para perguntar sobre os assassinatos de pedófilos suspeitos, assim como de suspeitos de serem cientistas do Conselho. Se Morte se emparelhou com você, primo, então está fodido.

A mulher em seus braços não tinha sido nenhuma assassina.

— Tem que haver algum engano.

— Nenhum engano — disse Braden em negativa. — Nenhuma outra Casta se atreveria a levar posto aquele sinal. Morte é uma fêmea possessiva. Ela é uma assassina classe A, com a pontuação acrescentada por ser especialista em facas. Morte não sente, Lance. E como diabos poderia ter se emparelhado com ela não tem sentido.

Porque cada caso de calor de emparelhamento que tinha ocorrido na sociedade das Castas tinha comprometido emoção. Em seu conhecimento, não houvera um emparelhamento que não fosse um casal não só física, mas também psicológica e emocional também. Lance sabia pelas poucas explicações que Megan lhe dera quanto a sua relação com Braden.

— Então há um engano — chiou Lance. — Há ali alguma descrição desta “Morte”?

— Ah sim — Braden suspirou. — A descrição de seu cabelo estava me despistando. Seu cabelo é da cor da juba de um verdadeiro leão, em vez de só parecê-lo. Cor de olhos, verde pálido. Altura um e setenta e três, idade vinte e cinco. Escapou dos laboratórios com quinze anos, depois de matar a cada cientista da instalação. Incluindo sua própria mãe.

O ar começou a assobiar em seu ouvido.

— Há uma nota de que uma operação, saiu faz umas semanas, um avistamento suspeito, mas nenhuma atualização.

— Me consiga seu arquivo. Quero o expediente completo, e veja o que mais pode averiguar. Tenho o dia livre, e vou procurá-la eu mesmo.

— Uau, pare por aí, homem — protestou Braden furiosamente. — Não ouviu o que te disse? Esta mulher é um dos assassinos mais letais em nossas filas. Caça coiotes por diversão, Lance. E os mata. O eliminará se pensar inclusive que vai estar perto.

— Segundo você, o calor de emparelhamento vai em ambos os sentidos, certo? — recordou-lhe Lance.

— Pelo que sei. Segundo todos os informes que o Escritório colocou em uma lista de pares emparelhados, isto é sempre uma via de duplo sentido.

— Então ela não está provavelmente em melhor forma da que eu estou — indicou Lance.

Braden suspirou.

— Se o emparelhamento for em ambos os sentidos, ela estará provavelmente em pior forma — grunhiu ele. — Sim, Lance. Embora esta seja uma hipótese infernal. Pelo que estou vendo aqui na base de dados, esta mulher não tem alma. Você poderia estar simplesmente nadando no inferno por você mesmo.

— Apenas não. — Lance passou os dedos pelo cabelo, fazendo uma careta ante a lembrança de seu rosto, seus olhos, antes que partisse. — Isto a tem também, Braden. Apostaria minha vida nisso.

— Que é exatamente o que está apostando — exalou Braden bruscamente. — Me dê uma hora. Espere-me e sairei contigo. Necessitará reservas nisto, Lance, e não quero Megan em nenhuma parte perto dela. Ainda não se recolocou da busca que fizemos dela.

— Que busca? — Lance apertou seus dentes ante aquela informação.

— Depois de deixar o Santuário no ano passado, nossa primeira missão era localizar a Morte. Pensamos que estávamos nos aproximando, então simplesmente desapareceu.

— Onde está Megan? — Ela o diria. Não esconderia a informação que sabia que ele necessitaria.

— Megan voou de volta ao Santuário esta manhã, para recolher a uma das novas garotas que estamos treinando aqui no rancho. Não estará de volta até manhã.

Bom, não era simplesmente perfeita a cronometragem?

Lance olhou fixamente o parque, contemplando como a brisa balançava as árvores, o baixo gemido psíquico que escutava cochichando ao redor, uma advertência e uma súplica.

— Sairei em uma hora — disse suspirando bruscamente. — Venha aqui, se for comigo. Não tenho todo o dia.

Porque se não conseguisse Harmony embaixo dele outra vez, ia explodir com a luxúria que o arrasava.

— Estou recolhendo tudo agora. O verei em uma hora. — A linha se desconectou enquanto Lance arrancava o comunicador telefônico de seu ouvido e o atirava na escrivaninha.

Justo o que necessitava, franziu o cenho. H. R. Alonzo, um dos opositores mais virulentos das Castas, estava protestando na prefeitura sobre as Castas que treinavam no rancho de Megan, e os membros da Sociedade de Pureza do Sangue estavam se agrupando. Os jornalistas estavam acampados nos hotéis, e a situação estava rapidamente aumentando de uma dor de cabeça a um problema.

Seguro como o inferno que não necessitava esta complicação acrescentada. E no momento em que pusesse as mãos em cima de Harmony outra vez, tinha a intenção de fazer seu desgosto patente. Em uma variedade de formas. Todas elas garantiam fazê-la gozar.

Harmony estava pronta quando Jonas e a advogada das Castas chegaram, tarde, em seu quarto do hotel naquela manhã. Não tinha dormido, e a maquiagem não cobria os resultados. E estava dolorida. Fisicamente agonizante de dor pela excitação que crescia dentro dela.

Desde quando realmente doía a falta de uma transa?

Vestida com o uniforme de suave algodão negro de uma Casta Enforcer, ajustou seu cinturão cartucheira nos quadris e se assegurou que sua arma estava comodamente embainhada. Sua faca estava presa a sua outra coxa, e apertada no tornozelo de sua bota direita havia uma segunda adaga. Embora a roupa a estivesse deixando louca.

O roçar do material contra sua pele era uma irritação a qual se perguntou se sobreviveria. Estava quente. Sentia como se estivesse queimando viva de dentro para fora.

Sua matriz chispava pela necessidade; seu sexo estava tão molhado que tinha abandonado a tentativa de conter os sucos escorregadios que a mantinham pronta para a penetração, e só agradeceu a Deus que isto não se filtrasse por sua roupa.

Quando abriu a porta para Jonas, evitou seus olhos e caminhou pelo corredor, fechando de repente a porta atrás dela. A seu lado, J. R. "Jess" Warden, a advogada do Escritório, olhou-a com um indício de surpresa em seus olhos.

— Vamos terminar com isso — resmungou ela, enquanto começava a ir para o corredor. — Já informou a seu xerife de com quem está lidando?

— Dormiu bem ontem à noite, Harmony? — Sua voz era insultante quando finalmente começou a andar para ela, suas fossas nasais se dilataram enquanto os olhos dela se estreitavam nele.

Bastardo. Ele sabia. Algo que estivesse mal com ela, ele poderia cheirá-la.

— Dormi bem, Jonas — ronronou de modo ameaçador enquanto jogava uma olhada para Jess, então de novo a ele. — E você?

Os lábios dele se torceram, embora a satisfação estivesse firmemente contida em seu lugar.

— Dormi perfeitamente bem. — Ele se moveu devagar diante dela. — Você parece agitada esta manhã. Algo vai mal?

Esteve tentada a grunhir, mas reteve o impulso.

— Só sua psicose normal de Casta — replicou desdenhosamente, repetindo o perfil do psicólogo que Jonas tinha pedido antes que ela partisse para Broken Butte.

Como se sua afeição por derramar sangue tivesse algo a ver com sua genética. As vidas que ela tinha tomado depois da fuga nunca pesavam em sua consciência. Os monstros que tinha eliminado eram uma enfermidade. O mundo estava melhor sem eles.

Não, eram as vidas que ela tinha tomado antes de sua fuga as que rondavam seus pesadelos. Eram aquelas as que deixavam-na ofegante, com uma súplica em seus lábios enquanto lutava por evitar os horrores que a visitavam. Harmony não estava ainda viva porque amasse a vida. Nem estava ainda aqui pela vingança. Vivia porque sabia que o inferno a esperava depois da morte.

Entrando no elevador atrás de Jonas, Harmony girou para confrontar as portas, ignorando as olhadas que seu irmão lhe lançava. Jonas Wyatt, eles o chamavam. Ela o chamara de Alfa Um. O líder do pequeno contingente de Castas de Leão nos Laboratórios franceses, onde tinham sido criados.

Embora ele fosse mais jovem que vários das outras Castas ali, sua força e domínio natural tinham assegurado sua contínua ascensão dentro das filas. Tinha sido criado como um reprodutor para umas poucas fêmeas especialmente criadas, uma última tentativa de ver se poderiam criar ao soldado que estavam procurando, por outros meios. Em troca, Jonas tinha crescido para se sobressair em áreas que a cientista principal, Madame LaRue, nunca tinha esperado.

Enganoso, poderoso, completamente lógico e insensível, Jonas tomara o controle dos outros machos desde o momento em que tinha alcançado sua maturidade. Manipulava-os, dirigia-os e sempre conseguia o melhor deles.

Harmony olhou para o teto com paciência.

— O xerife Jacobs será seu representante — Jonas a informou enquanto as portas se abriam e saíam para o vestíbulo, a advogada se arrastava atrás deles. — Viverá em sua casa, sob sua direção durante o tempo em que estiver aqui. Fará um relatório ao Escritório uma vez por semana de seu progresso. É um indivíduo bastante responsável. Estou seguro de que não terei que me preocupar com ele.

Harmony manteve seu passo estável enquanto se movia junto com ele, moderando sua opinião às ordens.

Não tinha nem idéia de qual era o jogo de Jonas, ou como esperava obter seus objetivos colocando-a nesta pequena armadilha turística, mas estava segura de que o entenderia. A única coisa que sabia, era que não estava nem perto de entregar a única coisa atrás da qual ela suspeitava que ele ia: a informação sobre o primeiro Leão que tinha escondido, o primeiro Casta criado e ainda vivo... a informação que tinha roubado quando escapou dos laboratórios.

— Está me escutando, Harmony? — perguntou ele finalmente, enquanto caminhavam pelo ensolarado pátio na entrada do hotel e ele deslizou seus óculos escuros sobre seus olhos.

— Te ouvi, Jonas. — Sorriu-lhe em resposta com frieza, se recordando, energicamente, que não podia matá-lo. Bem, ela poderia. Seria uma luta, mas tecnicamente, poderia se arrumar. Mas estava bastante segura de que fazê-lo não estava em seus melhores interesses no momento.

Ele sorriu, mostrando suas dominantes presas ameaçadoramente. O drama simplesmente parecia ir da mão com as Castas estes dias. Ela rememorou um tempo quando guardavam suas opiniões para si mesmos e só matavam. Algo como o que ela fazia. A questão ameaçadora só pareceu inútil para ela.

— Penso que vai gostar do Xerife Jacobs. — Ele finalmente cabeceou para o tribunal e o Departamento do Xerife, do outro lado do pequeno parque para o qual foram cruzando a rua. — Várias das fêmeas das Castas o consideram bastante atraente.

Harmony mal reprimiu seu estremecimento, ou o gemido que desejava transpassar seus lábios enquanto seguia o ritmo dele. Andar era torturante. Atroz. As dobras inchadas de seu sexo raspavam contra suas calcinhas de seda enquanto o broto inchado de seu cl*tóris exigia alívio.

Tinha tentado a masturbação. Por seu próprio risco. Só aumentara a excitação em vez de diminuí-la.

Enquanto cruzavam o parque, Harmony lutava para esmagar sua crescente agitação. Jonas mantinha um passo estável, inclusive enquanto sua voz zumbia em tom monótono. Os "como sim" e "como não" agir e reagir como um agente suplente. Como se ela não soubesse nada, além de matar.

— Aqui estamos. — Caminharam pela passagem que conduzia à entrada do Departamento do Xerife. O edifício era de um andar, com altas e amplas janelas e um encanto de Velho Oeste que ela apreciou.

A porta se abriu de repente enquanto Jonas se afastava e a deixava entrar na frente dele. Jogou um olhar suspeito ao movimento, só para receber um sorriso zombador em troca.

— Segue reto. — Disse ele assinalando para vestíbulo ao outro lado da área de recepção, enquanto levantava a mão ao sargento da recepção. — Seu escritório está ao final do vestíbulo.

Harmony tomou um profundo fôlego enquanto rezava para manter a paciência, só para se estremecer e fugir do alcance de Jonas quando a mão dele se moveu a suas costas.

— Tudo bem? — Ele levantou as sobrancelhas enquanto seus olhos prateados brilhavam com diversão.

Não, não estava bem, pensou ela; e de repente, sentiu o início do medo instalar-se o fundo de seu estômago. Algo estava horrivelmente equivocado. A sensação da mão dele, inclusive com sua roupa como amortecedor, deixara-a quase fisicamente doente. Inclusive agora, sua pele estava pegajosa enquanto uma fria queimadura começava a crescer sob a pele.

— Vamos acabar com isto de uma vez. — Um tremor correu para baixo por sua coluna, quando se moveu pelo vestíbulo.

Jonas planejava algo, e ela sabia. Podia sentir a advertência se esticando em seu estômago, a sensação de perigo se assentando ao redor de seus ombros enquanto se aproximavam do final do vestíbulo.

Então seu aroma a golpeou. Meia-noite e tormentas. Terra, fresca e primitiva, puxando por ela, lhe recordando de forma contundente a atormentadora necessidade que aumentava dentro dela.

Seus passos se desaceleraram.

— Segue se movendo, Harmony. — A voz de Jonas estava ordenando, não tolerando negativas enquanto ela sentia cada terminação nervosa de seu corpo se reanimando pela consciência.

Lance.

— Qual é seu nome? — sussurrou ela, se movendo a um ritmo constante mais perto da porta, consciente de que não havia nenhuma saída.

Passar por Jonas seria impossível.

Parou a vários palmos da porta, o aroma do homem de dentro acendendo sua luxúria a uma altura chamejante. Quase poderia sentir seu toque, enquanto o ar se fazia pesado ao seu redor. Suas mãos amplas e calosas, seus lábios, firmes e quentes.

— Lance.

Sua resposta a fez fechar os olhos enquanto a certeza se elevava dentro dela. Girou devagar, olhando ao Jonas enquanto ele encontrava seu olhar com frieza.

— O que fez comigo? — sussurrou ela, sabendo, segura de que de algum jeito, que Jonas sabia o que estava lhe passando e por que.

As análises de sangue, as provas de saliva, os perfis psicológicos... tinham sido feitos por uma razão. Para isto. Sabia. Não tinha sobrevivido no mundo durante os últimos dez anos em sua profissão sem aprender quando confiar em seus próprios instintos.

— Vamos só dizer que assegurei minhas apostas — comentou ele, enquanto a rodeava e chamava imperiosamente à porta. — Pode me agradecer mais tarde.

Harmony girou enquanto a porta se abria de repente e o aroma de dura e pura luxúria masculina a afligia. Sentiu que seus joelhos se debilitavam e seu útero se contraía dolorosamente, enquanto olhava aos surpreendidos, depois suspicazes olhos azul meia-noite.

O olhar de Lance se separou do seu para olhar fixamente atrás dela, e o cenho se fez mais profundo enquanto a cólera acendia seus traços.

— Que demônios você faz aqui? — espetou ao Jonas um segundo antes de agarrar o braço de Harmony e atraí-la para dentro do escritório.

Em qualquer outro momento, o fato de que alguém tentasse fechar de repente a porta na cara de Jonas teria sido engraçado. Poderia até ter respeitado a tentativa, se não estivesse a ponto do org*smo pela sensação da mão dele se envolvendo ao redor de seu braço.

Enquanto Jonas caminhava dentro do escritório, ela se sacudiu para longe de Lance, só para girar e se confrontar a outra figura ainda mais desalentadora.

Braden Arness. Marido da empática, Megan Arness. Eles a tinham rastreado pela França no ano passado, e quase a alcançaram.

Retrocedeu, sua mão foi à pistola presa em sua coxa enquanto se movia atrás, longe o bastante para manter aos três homens em sua linha de visão.

Aquilo não era uma coisa boa.

— Você. Permaneça quieta e tire a mão dessa condenada pistola. — Lance a apontou com seu dedo furiosamente, o selvagem domínio de sua voz fazendo com que os olhos dela se abrissem de par em par.

— E você pode ir ao inferno, fora de meu escritório. — Girou ao redor enquanto Jonas fechava a porta atrás dele. — Você e essa sua advogada tubarão. Tive muitos de seus jogos no ano passado, Jonas.

Jess Warden sorriu, a curva de seus lábios tinha uma triste diversão, como se suas palavras fossem mais um elogio que um insulto. Mas seus olhos ficaram em Lance. Suaves olhos cinza que sustentavam uma tênue luz de interesse e luxúria. Infernos, Harmony podia cheirar a luxúria da outra fêmea e isso só a deixava ainda mais de saco cheio.

— Se eu partir, Harmony vai comigo. — Jonas deu de ombros relaxadamente, enquanto metia as mãos nas calças e se balançava para trás em seus calcanhares.

A mão de Harmony se apertou ao redor da culatra de sua arma. Ela conhecia aquela voz, assim como sabia quão perigoso Jonas podia ser quando a usava.

Deus, ele era tão manipulador. Inclusive Harmony compreendeu que as emoções e a luxúria que flamejavam por Lance eram uma combinação perigosa naquele momento. Independentemente de que infernos se passava, aquilo tinha enviado tanta testosterona correndo por seu corpo que podia cheirá-lo... escuro, masculino e altamente inflamável.

— Para trás, Jonas — grunhiu ela, o cabelo em sua nuca se arrepiando quando o olhar dele oscilou para ela.

Ela podia ouvir os pequenos grunhidos furiosos se elevarem em sua garganta. Não tinha nem idéia do que os causava ou de onde vinham. Tudo o que sabia era que apesar da ameaça que Jonas representava para ela pessoalmente, não o permitiria se chocar contra Lance.

Era consciente da postura cuidadosa e cautelosa de Braden enquanto a olhava, mas manteve os olhos em Jonas. O outro Enforcer tentaria pará-la, mas não antes que fizesse algum dano. Dano suficiente para, talvez, afastar sua mente de Lance.

— Realmente quer voltar para o Santuário, Harmony? — Jess perguntou então, a voz fria enquanto olhava entre Jonas e Harmony.

Harmony contemplou Jonas com fria agressividade, não fazendo caso do tom seco da outra mulher.

— Ele não me levará de volta. — Sacudiu a cabeça firmemente. — Não agora. Não preparou este pequeno exercício à toa.

Jonas riu entre dentes, sua expressão era em parte aprovação, em parte calculista quando voltou-se para Lance.

— Ela aprendeu bem, apesar de seu tempo longe dos laboratórios matando pequenos criminosos. Muito mal que não se ateve só à matança dos soldados do Conselho e aos Coiotes enviados atrás dela. Poderia tê-los apanhado para me impedir de ir detrás dele.

Sim. Certo. Ela realmente acreditava.

Lance não falou, mas Harmony tinha a sensação de que ele era tanto ou mais perigoso por isso. Podia senti-lo, como um sussurro sinistro no ar a seu redor.

Braden falou então.

— Jonas, está forçando os limites outra vez. Vou assumir que esta é Morte. — Ele saudou Harmony com a cabeça. — Lance estava bastante seguro sobre a tatuagem que levava em seu ombro, e não há nenhuma dúvida de que ela é o pequeno gato que o mordeu.

Jonas jogou uma olhada para ela e levantou sua sobrancelha em tom zombador.

— Deveria ter sabido que ela não seguiria as ordens e iria diretamente a seu quarto do hotel, até que eu pudesse chegar aqui. — Deu de ombros com negligência quando voltou-se para Lance.

Jess caminhou para frente naquele momento.

— Enviamos por fax os papéis, durante a noite passada. Seus superiores em Santa Fé aprovaram sua representação de uma Casta Enforcer dentro de seu departamento. Como sabe...

— Ela fica comigo. Assinarei os papéis mais tarde. Agora, maldita seja, saiam de meu escritório.

Harmony se enrijeceu ante a baixa e primitiva vibração da voz de Lance.

O sorriso de Jonas era um desafio, quando Jess girou e olhou para Lance com surpresa.

— Talvez eu devesse levar isso.

— Lance, pare! — Antes que Lance pudesse se mover, Harmony saltou entre os dois homens. O prazer extasiado se levantou por seu corpo quando suas mãos agarraram os músculos duros da parte superior dos braços de Lance e o empurrou para trás, tentando impedi-lo de se precipitar para Jonas, como ele obviamente tentava.

— Saia de meu caminho. — O aroma de sua fúria estava no ar ao redor, apesar da suavidade de suas mãos enquanto ele agarrava seus braços.

— Esta não é a maneira — grunhiu ela, lutando para ficar de pé entre ele e Jonas, enquanto lutava para afastá-la. — Deixe-o ir. Diverte-se e brinca com você. Está tentando te chatear. Deixe-o ir.

— Primeiro tratarei com ele, então me entenderei com você. — Seus olhos azuis arderam quando baixou o olhar para ela.

— Lance, vai sobre isto pelo caminho incorreto — Braden arrastou as palavras. — Ora, homem, você recorda quão beligerante estava Megan no ano passado. Pare e pense.

— E como deveria dirigi-lo, Braden? — questionou Jonas então. — Esqueceu tão rapidamente que é um empregado do Escritório?

— Não esqueci nada, Jonas. — A diversão de Braden era muito evidente e muito real. — Mas também sei quem é seu chefe. Não queremos falar sobre isso, não é?

Os olhos de Jonas se estreitaram um segundo antes de seus lábios se curvarem com zombadora aprovação.

— Está aprendendo — assentiu repentinamente a Braden, enquanto Lance colocava as costas dela contra seu peito e as mãos agarravam seus braços firmemente.

— Infernos, saiam daqui. — Mal podia falar pela necessidade que se estendia por ela.

— Não ainda — disse Lance. — Está esquecendo algo.

— E é? — Jonas inclinou sua cabeça com curiosidade.

— Os tratamentos hormonais — espetou ele. — Sei o que se passa aqui, Jonas. Não tente me enrolar.

Os olhos de Jonas se estreitaram em Braden.

— É ilegal dar essa informação, Braden.

Braden deu de ombros.

— Não lhe disse nenhuma palavra. Talvez o vento o tenha feito.

O vento?

Os lábios de Jonas se apertaram pela irritação, antes que voltasse seu olhar para Lance.

— Não esperava exatamente isto — mentiu brandamente. Harmony sabia que ele estava mentindo. — Terei que me colocar em contato com o Santuário, e conseguir que Ely tenha tempo para vir de avião. Poderiam ser uns poucos dias.

— Você, seu filho da puta. Vai deixá-la sofrer as conseqüências disto. — Pura e assombrada fúria coloria a voz de Lance, enquanto Harmony lutava para entender exatamente do que eles falavam. — Você sabe o que acontecerá.

— Penso que ela será uma mãe encantadora — cantarolou Jonas enquanto girava o trinco e abria a porta. — Talvez isto a domará um pouco. Se for afortunada. Está preparada, Jess?

— Necessitamos os papéis... — protestou Jess outra vez.

— Pode mandá-los por fax para meu escritório. — Segurou a porta aberta para ela e a advogada o seguiu enquanto o dizia, mas Harmony tinha a sensação de que ela não era nem de longe tão submissa como estava fingindo.

Antes que alguém pudesse responder algo mais, a porta se fechou atrás deles e Harmony girou para Lance lentamente. Não tinha perdido o tiro de despedida de Jonas, não. Embora isto não tivesse sentido. Uma Casta feminina não podia conceber. Estava provado.

Infernos, eles o tinham tentado durante anos nos laboratórios, sem êxito. Mas, além disso, tampouco tinha ouvido do estranho calor sexual que a atacava.

— Do que ele está falando? — Sentiu-se aturdida e desequilibrada. Não queria mais que engatinhar lentamente pelo corpo dele e suplicar que a possuísse, mas o medo repentino de que Jonas tivesse encontrado a vingança perfeita contra ela, a mantinha parada. — As fêmeas de Casta não podem conceber.

— Sob as circunstâncias apropriadas, podem. — Lance fez uma careta.

— Quais circunstâncias? — Podia sentir uma ameaça de pânico começar a aumentar dentro dela. Como se as emoções que formavam redemoinhos grosseiramente dentro dela não fossem o bastante. Esta era uma preocupação que não necessitava.

Ele girou para ela devagar, cruzando seus braços sobre o peito e encarando-a com luxúria quente e mal contida.

— Calor de emparelhamento. Emparelhamos-nos ontem à noite, Harmony. Não só transamos. Se você continuar sem a terapia hormonal que as Castas produziram, então conceberá. E com a maior probabilidade, com rapidez. Por que penso que Jonas sabia disso?

As análises de sangue e de saliva... era o único modo de que soubesse. Harmony olhou a Lance com surpresa, antes de girar devagar para Braden.

— Não pode ser verdade. — Ela o olhou, desesperada por seu acordo.

Braden suspirou bruscamente.

— É verdade. Com certeza, as glândulas sob sua língua estão inchadas agora, e quentes. Dentro de vinte e quatro horas, a excitação será tão intensa que se fará fisicamente dolorosa. O útero começa a se convulsionar, tremendo, enquanto os hormônios a atacam, e suas terminações nervosas ficam tão sensíveis que uma fêmea literalmente pode sentir o ar ao redor delas. Megan o descreve como mil TPMs. A única coisa que o alivia é o sêmen masculino. O sêmen de um companheiro. O toque de qualquer outro macho é extremamente doloroso. Tanto que é insuportável.

Não estava mentindo. Harmony podia cheirar uma mentira tão facilmente como podia cheirar a luxúria de Lance.

Moveu-se, insegura, para uma cadeira próxima antes de se sentar pesadamente e passar os dedos por seu cabelo com frustração.

— Há uma cura? — Olhou para Braden em busca de resposta. — Essa história da terapia hormonal.

Ele sacudiu sua cabeça devagar.

— Não há cura. A terapia hormonal simplesmente alivia os piores sintomas e acautela a concepção.

Ela girou para Lance.

— Não posso conceber. — O pensamento era horroroso. Nenhum filho seu sobreviveria àqueles que tentavam apanhá-la, matá-la. — Você não sabe quem eu sou, Lance. Você não sabe o que sou. — O medo se apossou de sua mente, se derramando por sua alma.

Sentiu a emoção, até agora desconhecida, explodir dentro de seu ser até que não soube nada salvo a horrorosa revelação do que aconteceria a qualquer filho dela.

— Jonas. Tem que pará-lo. — Ficou em pé de um salto, tropeçando antes de conseguir se endireitar e se apressar para a porta.

— Harmony, espere. Não pode ir atrás dele. — Lance a agarrou pela cintura, freando-a enquanto ela lutava contra ele, ásperos grunhidos saíam de seus lábios. — Harmony, maldita seja. Ele se foi. Sabe que se foi.

— Não! — gritou ela, golpeando-o enquanto se liberava dele. — Não. Não pode ter ido. Tem que dar um jeito nisso.

Encarou-a fixamente, seu olhar cheio de dor enquanto seu peito se elevava e caía com a respiração. Ela estava se rompendo por dentro. Ele podia senti-lo. Em toda sua vida, nunca tinha conhecido uma dor tão intensa, tão cegadora como o que flagelava sua mente agora. Um filho. Não podia ter um filho, porque nunca poderia mantê-lo a salvo.

— Você não sabe o que sou, Lance. — Os estremecimentos fustigavam seu corpo enquanto o olhava com horror.

Estaria maldita. Jonas encontrara finalmente um modo de destruí-la. Lentamente. Dolorosamente. Deveria tê-lo matado quando teve a oportunidade, dez anos atrás.

Era seu irmão. Seu irmão de sangue. Tinham compartilhado a mãe que ela tinha matado. E agora, ele veria seu filho destruído. Um filho que nunca estivera destinada a ter.

— Não posso fazê-lo — sussurrou ela miseravelmente. — Deixe-me ir, Lance. Partirei. Não me importa o que ele faça...

— Ele terá que matá-la, Lance.

— Cale-se! — Ele voltou-se para Braden, notando instantaneamente que se colocou contra a porta. Não havia escapatória ali.

— Se destruir-se, destrói a seu companheiro, Harmony — espetou Braden, seus olhos dourados estreitados nela. — Vi sua necessidade de permanecer entre ele e Jonas. Temia por ele. Estava determinada a protegê-lo. Fuja dele, e o condenará à mesma agonia que você sofrerá também. Não está nisto sozinha.

— Sempre estou sozinha — grunhiu ela. — Eles me chamam Morte por uma razão...

— E se já tiver concebido? — Lance perguntou tranquilamente então. — Me negaria o direito de ajudar a proteger a meu filho? E confie em mim, Harmony, posso proteger tanto a minha companheira como a meu filho.

Sinceramente acreditava que poderia. Harmony sentiu o duro soluço que apertou seu peito quando o desespero a encheu.

— Nenhuma força nesta terra pode proteger a um filho meu — zombou ela. — Você não entende. Não sabe quantas vidas tomei, o sangue que derramei ou os monstros que nos atacariam. Não há nenhum modo de salvar a qualquer um de nós agora.

Lance olhou os traços cheios dor que o olhavam. O medo enchia os olhos de uma mulher cujo histórico dizia que não conhecia temor algum. Não, não era medo, era absoluto terror, e destruía a alma dele.

O ar estava carregado com sua dor, gemendo em seu ouvido como um grito distante, cheio de tortura. Harmony estava atormentada. Podia ver em sua expressão e em suas lágrimas. Em sua confusão enquanto limpava a umidade.

A necessidade de protegê-la, de tranqüilizá-la, elevou-se dentro dele como uma onda gigante. Era mais que só uma necessidade; era um impulso, uma resposta instintiva à dor que a rasgava.

O pensamento de um filho, e de uma mulher que o complementassem, não podia causar pena. E proteger a essa mulher e esse filho seria seu foco principal.

— Braden, pode se colocar em contato com Ely, sem que Jonas saiba? — Lance manteve seus olhos em Harmony enquanto falava.

— Seria bastante fácil — respondeu Braden.

— Traga-a aqui para as provas que Harmony necessita. Quero essa terapia hormonal. Traga-a aqui, e rápido.

— A cientista de Jonas? — A pergunta de Harmony fez que seu olhar voltasse para ela.

— Ela é a cientista das Castas — corrigiu Lance. — Encabeça o departamento que trabalha nos fenômenos de emparelhamento.

— Ela pegou amostras de sangue e saliva enquanto eu estava no Santuário...

— Você não esteve no Santuário — grunhiu Braden. — Consegui seu arquivo esta manhã, Harmony. Jonas teria tido que te registrar para entrar.

Lance olhou, enquanto a brincadeira amarga torcia os lábios dela.

— É um agradável e pequeno sistema de celas subterrâneo que têm debaixo do principal edifício de detenção — disse ela brandamente, o sarcasmo aumentando o leve acento francês que ele não tinha notado na noite anterior. — Eu estive lá durante duas semanas, Braden, enquanto sua Ely me pinçava e cravava. Fui deslocada de noite e posta em um heli-jato em Carlsbad. Verifique com sua preciosa Ely, e veja se ela pode dizer a verdade um pouco melhor do que Jonas pode.

Lance olhou fixamente para Braden, vendo a surpresa quando Harmony descreveu as celas.

— Merda. Ele vai conseguir se matar a este passo. — Braden passou os dedos pelo indomável cabelo enquanto os olhava em reconhecimento. — Contatarei com Ely no momento em que chegar em casa. Quero uma linha completamente segura para isto. Jonas sem dúvida tem interferência, tanto como a linha de sua casa. Verifique a casa e este escritório em busca de micros enquanto está nisso.

— Fiz isso quando entrei a primeira vez — espetou Lance. — Não vi nada suspeito neste escritório, Braden.

Branden assentiu firmemente, seu olhar tocando Harmony com compaixão enquanto ela envolvia os braços ao redor do peito, e andava para a janela através da sala.

— Você é irmã dele — declarou Braden finalmente. — A mesma que matou sua mãe. Por que te dá uma possibilidade para se redimir?

Lance a observou enquanto ela girava, o corpo tenso pelas óbvias conseqüências da forçada excitação que a rasgava.

— Terá que perguntar a ele. — Seus dentes estavam expostos pela cólera. — Segundo Jonas, daria a qualquer outra Casta esta mesma oportunidade. — Seus lábios se torceram com ironia. — A oferta de redenção era uma brincadeira. Ele sabia que isto aconteceria, de algum jeito, ele sabia; conhecia a reação que provocaria o fato de estar com Lance. Sabia, e o usou. Encontrou o modo perfeito de me destruir.

Braden blasfemou enquanto Lance sentia uma aniquiladora raiva ressoar dentro dele. Que Deus ajudasse Jonas se colocasse as mãos nele, em qualquer momento.

— Podemos apresentar uma demanda com o Gabinete Dirigente das Castas? — Ele girou para Braden outra vez. — Eles poderiam atá-lo.

— Faça-o, e revelará o paradeiro de Morte a qualquer espião que ainda esteja infiltrado nos segredos do Santuário — suspirou. — Neste momento, isto expõe mais um perigo que uma solução. Até que o calor diminua, ela é muito vulnerável, Lance. Se outro macho tocá-la, a debilitará. Agora, Morte é tão vulnerável como qualquer bebê. As mudanças e modificações hormonais derrubam as defesas, físicas e mentais. Ela não sobreviveria.

— Não deixarei que isto aconteça! — A raiva e o medo na voz dela partiram sua alma.

Lance girou sobre seus calcanhares, se equilibrando para ela quando a viu se encolher. O calor de emparelhamento estava aumentando nela, a expressão distorcida pela dor enquanto, a mão se apertava em seu estômago e seu rosto empalidecia.

Pegou-a nos braços, sepultando a cara no cabelo dela, lhe cantarolando e levantando-a contra o peito enquanto se voltava para Braden.

— Contate Ely — grunhiu com voz rouca. — Agora.

Braden assentiu e abandonou o escritório. A porta se fechou de repente atrás dele, sussurrou e se bloqueou, mantendo-os seguros dentro do escritório.

— Sente-se. — Lance a depositou na cadeira enquanto ia a grandes passos a sua mesa e golpeava o intercomunicador.

— Lenny, não estou disponível até que eu o informe de outra coisa — disse ao sargento. — Entendeu?

— Entendi — grunhiu ele. — Vi que o condenado Jonas saía a grandes passos daqui, sorrindo como mofa. Cubro suas costas, Xerife. Ninguém o incomodará.

Não era nenhum segredo que depois de uma das visitas surpresa de Jonas, Lance normalmente desaparecia durante horas para fortalecer sua paciência.

Desconectando a conexão, voltou-se para Harmony. Ela estava caminhando agora, a cabeça baixa e o cabelo castanho avermelhado lhe cobrindo a face enquanto lutava contra os óbvios efeitos do calor de emparelhamento.

Estava matando a ele também. Suas bolas estavam preparadas, tão condenadamente apertadas que jurava que iam explodir. Seu membro era como aço vivo atrás da braguilha de seu jeans e pressionava dolorosamente contra o zíper.

Solucionar isto ia ser impossível, até que as necessidades físicas mais prementes fossem atendidas. Ou seja, inclinando-a e fodendo-a além de suas lágrimas e sua fome, até que ambos pudessem estar de pé respirando sem a agonia de necessidade que os torturava.

Entretanto, que Deus ajudasse a ambos se ela soltasse um daqueles pequenos rugidos animais quando gozasse. Se ela o fizesse, o departamento inteiro saberia que ele estava passando suas horas de serviço fodendo até o inferno com um pequeno gato.

— Harmony, encontraremos um modo de ajeitar isso. — Exalou bruscamente enquanto se movia para ela. — Até então, neném, antes que possamos abandonar este escritório, temos que nos encarregar desta excitação. Está matando a ambos.

A cabeça dela se levantou, a expressão em branco pela comoção.

— Não. — Ela sacudiu sua cabeça energicamente. — Não podemos correr esse risco, Lance. Sabe que não podemos.

Apertou a mão contra a parte inferior do estômago quando ela aspirou bruscamente.

— Não temos opção — cuspiu ele. — Não posso pensar pela lembrança do sabor de seu beijo. Está me matando. Você pode ter o controle para resistir, mas eu não.

Ela sacudiu a cabeça outra vez enquanto ele se movia para o armário situado a um lado do escritório. Abrindo as portas, tirou uma mordaça de bola nova de seu envoltório de celofane e voltou-se para ela.

Os olhos dela se abriram de par em par quando caíram no dispositivo, e ele sorriu com picardia.

— Um pequeno presente de uma de minhas depravadas primas. Pensou que deveria guardá-lo aqui, se por acaso desejasse brincar no trabalho.

Gostou do pequeno cenho franzido que pregou a sobrancelha dela, a luz tênue do ciúme em seus olhos. Sim, gostou muito. Ele entrou no banheiro ao lado do gabinete e rapidamente limpou o dispositivo de borracha antes de secá-lo e voltar de novo para o escritório.

— Está louco se acha que vou te deixar me amordaçar — rugiu ela.

— Preferiria que meus homens a ouçam gritar? — Ele arqueou a sobrancelha com curiosidade. — Não me importa, mas você terá que trabalhar aqui uma vez que o controlemos, neném.

— Não.

— Poderia te algemar também. — Tirou as algemas metálicas do armário e as fez tilintar para ela.

Sua respiração se deteve e a mão se apertou mais forte em seu estômago.

— Ah, você gosta da idéia disso, não é verdade, neném? — cantarolou, enquanto o olhar dela se fazia mais quente, mais faminto...

Ah sim, poderia chegar a apreciar esta merda do emparelhamento. Tinha a sensação de que Harmony nunca teria se deixado ir o bastante para permitir a ele tanto controle sobre ela em outras circunstâncias. Tinha lido seu arquivo; tinha visto a arma em que ela mesma se convertera. A arma que estava se erodindo rapidamente sob as necessidades da mulher.

— Assim, gatinha. — Moveu-se atrás dela, puxando lentamente um pequeno pulso para suas costas antes de capturar o outro e colocar as algemas neles.

Ela estremeceu ante o som, se sacudindo no abraço dele enquanto um pequeno gemido saía de sua garganta.

— Sabe o que esta mordaça vai te fazer? — Ele se inclinou perto de seu ouvido enquanto a movia para o banheiro escuro. — Vai apanhar todo esse doce afrodisíaco que se derrama de sua língua dentro de sua boca. Vai fluir em seu corpo como lava e te colocar mais quente que o inferno.

Ele a fez se deter ante o pequeno lavabo.

— Isto não é uma boa idéia — sussurrou ela bruscamente, enquanto levantava o olhar para ele. — Não faça isso, Lance. Não posso lutar contra você. Não é justo quando não posso me defender.

— Mas, neném, isto não é uma batalha. — Ele baixou a cabeça até que os lábios pudessem tocar os dela. — Venha agora, me dê esse doce sabor. Deixe-me tão louco como você está.

Harmony tentou lutar, resistir. Mas como resistir ao que não pode se entender? Uma fraqueza por um homem que não tinha sentido. Ela tentou se assegurar que isto era coisa do calor de emparelhamento que ele e Braden tinham explicado antes. Mas uma parte dela entendia melhor. Sabia que até sem o calor, lutar contra ele teria sido uma batalha que poderia não ganhar.

Assim, quando os lábios dele tocaram os seus, seus sentidos arderam e sua vontade se desintegrou. Seus lábios se separaram ante a incrível suavidade do toque dele, o golpe de sua língua, os sorvos que ele tirava de seu beijo. Os pequenos beijos, mais curtos a faziam se elevar para ele, necessitando mais enquanto as algemas apertavam atrás de suas costas.

Por que tinha sido tão louca para deixá-lo atá-la? Precisava tocá-lo.

— Relaxe — sussurrou ele contra seus lábios, enquanto ela se esforçava por se aproximar mais. — Está tudo bem, neném. Vou ter todo seu doce beijo em só um minuto.

Outro gole de seus lábios, os dele colocados contra os seus, a língua lambendo sobre seus lábios até que a sua o seguiu. Então ele a tinha. Antes que ela adivinhasse sua intenção, ele atraiu sua língua a sua boca, seus lábios se fecharam nela enquanto a beijava mais profundamente, com mais dureza, amamentando o doce gosto do hormônio de suas diminutas glândulas.

O prazer era indescritível. Harmony se roçou contra ele, lutando para aliviar a dor em seus mamilos, nas saturadas dobras de seu sexo. Ela estava ardendo e queimando, mais quente a cada segundo.

— Deus, esse teu sabor — sussurrou ele. — Venha aqui, vamos amordaçar esses seus doces gritos. Sou um homem malditamente possessivo. Esses pequenos gritos são só para os meus ouvidos.

Ele deslizou a pequena bola de borracha em seu lugar antes de assegurar os extremos. Ela estava algemada e amordaçada, indefesa ante ele. Morte nunca estivera indefesa. Mas não era Morte a que estava ante ele, compreendeu. Esta era Harmony. A mulher que nunca tinha sido uma mulher.

— Ah, isto é bonito. — Seu sorriso era tenso, duro, enquanto suas mãos tiravam a ajustada camisa de suas calças e de sobre seus seios. — Mas, neném, isto é uma obra de arte.

O broche dianteiro de seu sutiã foi desenganchado, as taças retrocederam para revelar as tensas pontas de seus seios. O grito que rasgou sua garganta, quando os lábios dele cobriram um sensível pico, teria alertado ao edifício do que estava passando. A mordaça a silenciou com eficácia, mas nada poderia parar o incrível prazer que se derramou por ela.

Lábios e dentes mordiscaram em um sensível bico antes que sua língua se frisasse sobre ele e o fizesse entrar nas profundidades quentes de sua boca. Firmes e quentes carícias a enviaram correndo para uma borda que teria sido aterradora para ela se tivesse ficado suficiente sentido para considerá-lo.

Seus olhos se fecharam enquanto ela lutava por manter suas pernas firmes, por agüentar o atormentador prazer que se estendia. Era tão bom. Mais que bom.

Tentou gritar seu nome, suplicar mais quando ele tomou seu tempo, se movendo de mamilo a mamilo enquanto suas mãos apalpavam seus seios, os deixava cair, massageando as curvas inchadas. O roçar de sua língua sobre as pontas violentamente sensíveis enviou ardentes arcos de sensação, se derramando em sua matriz já torturada enquanto se arqueava mais perto, procurando alívio.

A perna de Lance escorregou entre suas coxas, o duro músculo coberto de algodão apertava tensamente contra seu sexo enquanto começava a movê-la sobre ele.

Os gritos entrecortados dela eram animais e desesperados.

— Tão bonitos, pequenos e duros mamilos — beijou cada um antes de puxar o suave tecido de suas calças. A cômoda cinta de sua cintura baixou, se deslizando sob o amplo cinturão negro preso em seus quadris.

Ele não se incomodou em liberar a cartucheira, ou sua arma. Os deixou enquanto trabalhava na cintura de suas calças, baixando-as até que despiu suas coxas. Harmony levantou o olhar para ele com surpresa quando se endireitou e começou a soltar suas calças.

— Estive tão duro desde que você partiu ontem à noite, que poderia cravar pregos nas vias da ferrovia — grunhiu ele quando liberou a furiosa longitude de sua ereção, empurrando seu jeans e cuecas para baixo. — Tudo em que podia pensar era em te foder, Harmony. Em te amarrar na minha cama e te fazer gritar para mim. Em te fazer rogar por mim.

Ela gemeu enquanto a girava, um braço envolvendo sua cintura para apoiá-la enquanto se movia atrás dela, separando seus pés mais amplamente. Harmony olhou o espelho, observando-a na débil luz que chegava do escritório. Seu membro se meteu contra as dobras desesperadamente molhadas entre suas coxas, antes que ele fizesse uma pausa.

O calor a chamuscou, a sensação da pesada crista separando as dobras cheias de suco e enviando crepitantes arcos de sensações correndo de sua vagin* a seu inchado cl*tóris.

— Lembro quão apertada que é. — Ele fez uma careta, sua expressão ficando mais intensa pela luxúria. Seus olhos estavam entreabertos, os lábios inchados, sensualmente cheios. — Tão apertada que me perguntei se morreria de prazer antes que pudesse gozar.

Seus quadris se moveram, a crista grossa a separando, trabalhando dentro dela, estirando a malha sensível além de seus limites enquanto ela gritava atrás da mordaça.

— Assim, neném — cantarolou ele, sua mão livre enganchada no cinturão de couro que ainda lhe rodeava os quadris. — Lá vou eu. Vamos ver quanto pode tomar. Pode tomar, gatinha?

Harmony ficou nas pontas dos pés quando ele começou a acariciar dentro dela, retrocedendo, empurrando mais profundo, empalando-a, centímetro atrás de tenso centímetro do grosso membro penetrando-a.

Era uma agonia. Era mais prazer do que ela podia suportar. Empurrou para trás, lutando por mais, saboreando a dor do prazer que gritava por suas terminações nervosas. Os escorregadios sucos de sua resposta aliviaram o caminho dele, mas nada poderia aliviar as extremamente ajustadas das profundidades de sua vagin*. Pouco usada, raramente excitada, sua carne estava compensando agora os anos que estivera sem o toque de Lance.

— Mais, neném. — Ele se deslizou mais profundamente. — Deus, sua boceta é tão doce. Tão molhada e apertada. Eu poderia te foder assim para sempre, Harmony.

Ele se retirou, a dura longitude de sua ereção quase se deslizando dela antes que fizesse uma pausa.

— Me olhe, neném. Abre os olhos.

Ela lutou para se obrigar a abrir os olhos. Ele era uma fraqueza. Jurou a si mesma que nunca se permitiria ser fraca, mas se os Coiotes atacassem naquele momento, só teriam que matá-la, porque não tinha a vontade para se afastar de Lance.

— Quero te ver quando tomar. Quero ver quanto você gosta, já que não posso ouvir. Você gosta disto, neném?

Um duro e rápido empurrão o enviou às profundidades dela. Chamuscando, o êxtase candente se derramou por ela enquanto sentia sua carne lutar para se estirar, para acomodar a longitude e a largura que a penetrava. A escuridão se estendeu sobre seu olhar, embora seus olhos permanecessem abertos, dirigidos ao espelho, lutando para se concentrar.

— Diabos, sim, neném. Move seus quadris assim.

Ela estava movendo os quadris? Estava. Podia sentir agora, se retorcendo contra ele em pequenos círculos apertados que o acariciavam dentro dela, fazendo que seu sexo se frisasse do prazer.

— Assim, neném, toma meu pênis bem assim. Segue assim, e vou te dar exatamente o que necessita para refrescar esses fogos até que te ponha em minha cama.

Ele se moveu então, um lento retrocesso e retorno, empurrando dentro dela, acariciando as violentamente sensíveis terminações nervosas e a lançando mais profundamente nos arcos prateados do prazer se precipitando através dela.

Harmony estava se perdendo. Podia senti-lo ocorrer, as capas de defesa que tinha construído entre ela e o mundo estavam se derrubando sob sua posse. Nada no mundo importava, exceto isto. Este homem, seu toque, sua fome, seu pênis a enchendo até que estivesse segura de que não poderia tomar mais.

Então tomou mais.

Ele a fodeu como um homem tomando posse, uma reclamação. Uma mão em seu cinturão, a estirando sobre sua dura longitude, montando-a mais profundo, mais duro, com cada golpe enquanto ela começava a se esticar.

— Sim, neném, me rodeie assim. Trabalha meu pênis com essa doce boceta. Aí vai, amor. — Sua voz era pesada, aturdida, cheia de prazer, como o infundiam os afligidos gritos que saíam de sua mordaça.

O ritmo duro e estável começou a se acelerar então. Atrás dela, a respiração de Lance se fez desigual, pesada, enchendo o quarto com o aroma de poder e luxúria enquanto ele começava a tomá-la com duros e fortes golpes. Ele empurrou dentro dela, sustentando-a firme por seu próprio cinturão enquanto ela sentia que o mundo se dissolvia a seu redor

Ela estava tremendo. Se sacudindo. Não podia manter suas pernas estáveis, não podia lutar contra o vórtice que formava redemoinhos em seu interior. Emoção. Sensação. Chocaram e queimaram em sua mente e em seu corpo, e estava perdida neles.

Quando o org*smo a golpeou, a destruiu. Sentiu suas pernas se debilitarem, suas costas se arqueando violentamente quando se esforçou por gritar mais à frente do ardente e vertiginoso prazer. Se estendeu através dela como violentos raios, detonando em sua matriz, convulsionando seu corpo enquanto sentia a Lance se esticar atrás dela.

Um segundo mais tarde, ele se inclinou sobre ela, apertando os dentes em seu ombro, mordendo-a como ela o mordera, enquanto o primeiro pulso de sêmen começava a encher sua gulosa vagin*. Duros e desesperados pulsos de ardente calor que se disparavam à entrada de sua matriz, chamuscada pelo agudo prazer e a lançou em outra desesperada e paralisante liberação.

Ela era só sensação. Estremecendo em seus braços, se retorcendo em sua sujeição, com os espasmos que a lançavam mais alto, logo explorou em uma candente neblina de êxtase.

Harmony estava perdida. Morte não existia. Só havia isto. Este prazer cegador e a pura sensação, emoção e desespero que voavam por sua alma. Uma remota parte dela reconheceu que os escudos tinham caído, as defesas nas que tinha acreditado durante toda sua vida, eram pó. E Harmony, a anterior e a atual, se derrubou sem forças contra o braço que a sustentava firmemente, e se deu ao que a natureza tinha destinado desde o começo. A seu companheiro.

Harmony era incapaz de colocar inclusive sua própria roupa. Lance a ajudou a se vestir, seu toque suave depois de soltá-la das algemas e a mordaça da boca.

Ela evitou seus olhos, baixando a cabeça enquanto os tremores sacudiam seu corpo. Esta não era a mulher chamada Morte. A mulher que tremia sob seu toque não era a assassina descrita no arquivo que Braden lhe dera.

Lance a levou até o sofá do escritório, então colocou a roupa, foi a passos largos até sua mesa e agarrou o comunicador. Colocando-o em seu ouvido, teclou o enlace interior do escritório e esperou até que Lenny o agarrasse.

— Blanchard. — A voz de Lenny soou tranqüila quando respondeu à chamada.

— Lenny, vou escapar pela entrada traseira para ir para casa. Estarei lá se surgir algo importante.

— Ok, Xerife. Tudo está bastante tranqüilo no momento — respondeu Lenny. — Mas Alonzo esteve dançando pela cidade outra vez, tentando provocar problemas.

Lance fez uma careta. H. R. Alonzo tinha sido um espinho cravado em seu flanco desde o dia em que Megan tinha aberto seu lar, como centro de reinserção para as Castas selecionadas para a Indução à Aplicação da Lei Nacional.

Os seis homens e mulheres estavam passando o ano na casa de Megan, aprendendo manobras táticas e situações de comando de vários membros da família que trabalhavam na aplicação da lei. Havia muitos deles.

— Vigia-o e me avise se a situação começar a se esquentar.

Lance girou enquanto Harmony relaxava no sofá, seus olhos estavam fechados. Seu rosto estava contraído e pálido, o esgotamento marcava seus traços enquanto se enroscava sobre si mesma.

— Ok, Xerife. Veremos-nos pela manhã — disse Lenny arrastando as palavras. — E não o culpo, tratar com o tal Wyatt me esgotaria também.

Lance fez uma careta. Jonas já era conhecido em Broken Butte. E não se gostava muito dele.

— Então vou. Mantenha contato. — Lance cortou a comunicação antes de exalar cansadamente e de sufocar seu próprio bocejo.

Não pregara o olho toda a noite depois que Harmony o deixara. Infernos, estava no escritório antes do amanhecer procurando informação sobre ela. Cruzou a passos largos a sala e se ajoelhou ante o sofá, retirou com suavidade o cabelo que tinha caído sobre a cara dela.

— Tenho que partir — sussurrou ela, seus olhos lutando por se abrir enquanto ele a olhava.

Sua pequena gata estava desequilibrada e sacudida. O emparelhamento a jogara a uma realidade com a qual estava mal preparada para tratar.

— Vamos, a levarei para casa e para a cama, neném. — Ajudou-a a se sentar, antes de pô-la de pé. — Não terá muito descanso antes que isto volte a começar.

Envolveu o braço ao redor da cintura enquanto a conduzia do escritório até a porta traseira. Deslizando a chave eletrônica por sua ranhura, esperou o estalo da fechadura antes de abrir a porta e se mover rapidamente para a saída.

Seu Raider estava estacionado diante da porta, de modo que pô-la no assento do passageiro levou a cabo sem problemas. Ela desabou no cômodo assento, os olhos sonolentos e o corpo quase sem ossos.

Lance permitiu que uma careta curvasse seus lábios enquanto a segurava, pressionando um beijo no topo de sua cabeça.

— Adiante, dorme a sesta neném, te despertarei quando chegarmos a casa.

Retirou-lhe o cabelo da cara, os dedos se atrasando contra a pele incrivelmente suave de sua bochecha enquanto ela levantava o olhar para ele. O esgotamento marcava seu rosto, deixando seus olhos frágeis. Quanto tempo tinha se passado da última vez que tinha dormido?

— Tenho alguém me rastreando — sussurrou ela.

Ele franziu o cenho para ela antes de explorar o estacionamento, compreendendo imediatamente de que estava falando.

— O identificou?

Ela sacudiu sua cabeça devagar.

— Estou fraca — disse então, a angústia enchendo seus olhos. — Não posso ser fraca, Lance.

— Está bem, neném, eu te cubro. Você descansa, manterei um olho em sua escolta.

Ela sacudiu a cabeça, drogada pelo esgotamento que a superava.

— Não posso ser fraca — sua voz era torpe. — Não posso ser...

Entre um segundo e o seguinte estava dormindo. Lance suspirou enquanto fechava a porta brandamente antes de se dirigir ao lado do condutor. Depois de fechar sua porta, colocou a rádio conectando a linha de Lenny.

— Lenny, estou colocando protocolos de segurança no caminho para casa — disse ao sargento enquanto ativava os escudos de energia ao redor do veículo. — Rastreia o GPS para ver se tenho uma cauda pelo caminho.

— Se colocou em problemas, Xerife? — A voz de Lenny estava preocupada.

— Não sei ainda. Olhe para ver se pode descobrir algo suspeito do GPS público e me faça sabê-lo.

Os protocolos do GPS eram requeridos em todos os veículos, embora pudessem ser desconectados legalmente em muitas áreas. Ele não tinha grandes esperanças de que Lenny encontrasse algo, mas valia a pena se arriscar.

— Tenho-lhe, Xerife — respondeu Lenny. — O avisarei se descobrir algo.

Saiu do estacionamento, em direção à avenida central enquanto se dirigia para casa. Lance abriu seu guichê, e pela primeira vez em sua vida, deliberadamente abriu sua mente aos sussurros que fluíam no vento.

Um mundo de segredos, de dor, felicidade e medos podia ser ouvido no vento, seu avô o havia dito uma vez. Escutava-se de perto, então o vento traria o que necessitava, mas só se quisesse ouvir o que isso tinha a dizer.

Ele nunca antes quisera. Lance tinha lutado contra os segredos do vento e contra sua posição de criança escolhido. Tinha acreditado que poderia viver sem isso, e possivelmente poderia, mas sabia que o amparo de Harmony era mais importante que sua relutância em seguir algo tão invisível como o ar ao redor dele.

Enquanto conduzia, deixou o vento golpear ao seu redor, frisando ao redor de seu corpo e o de Harmony, antes de descobrir o sussurro em seu ouvido. Não havia nenhuma palavra, havia sussurros do grito dela, mas ele tinha ouvido aquilo antes. Atrás do grito, entretanto, estava o segredo que procurava, o sussurro do engano. E a advertência.

Estava sendo observado. Lenny não o tinha captado no GPS, o que significava que o controle não estava captando a escolta, mas os ventos sussurravam esse conhecimento.

Fez uma careta ante os ilusórios sussurros. Não havia nenhuma resposta, e isso era em parte o que o tinha conduzido à relutância durante anos. Não havia respostas, nenhuma prova, nada a que se agarrar para dar o que necessitava para solucionar aos problemas que enfrentava.

Era um xerife. Tratava com fatos e com provas. Um sussurro de perigo, ou um grito desigual que só ele podia ouvir, e uma forte intuição não eram suficientes para deter um homem. Não eram suficientes raciocínios para apertar o gatilho.

Tinha aprendido isso anos antes em Chicago, trabalhando com a mais avançada equipe da SWAT. Seu campo centrado em um suspeito, tinha ignorado a ordem de apertar o gatilho. Tinha lutado contra os ventos que sussurravam em seu ouvido e tirado o dedo do gatilho. Segundos mais tarde, uma mãe e seu filho ainda não nascido estavam mortos. Alguém vítima de um bastardo terrorista determinado a eliminar a tantos inocentes como fosse possível.

E agora os ventos estavam em seu ouvido outra vez, um sutil grito de horror, dor e advertência. E naqueles ventos, ouviu o nome de Harmony.

Dando uma olhada nela, suspirou pesadamente. Estava caída contra a porta, relaxada, quase inconsciente pelo esgotamento. A profundidade de seu cansaço não era causada somente pelo calor. Ela estivera correndo sozinha pela coragem e a absoluta vontade durante muito tempo.

Dormia alguma vez?

Ouviu a resposta no vento. Ela corria, lutava, e até em sonhos estava em guarda. Até agora.

Estava fraca, tinha sussurrado. Incapaz de lutar, e estava assustada com aquela fraqueza.

Enquanto conduzia até a beira de cidade e se dirigia para casa, Lance sabia que o amparo de Harmony significaria mais que simplesmente protegê-la de qualquer perigo que agora os seguisse. Significaria protegê-la dela mesma. Porque Harmony tentaria fugir. Uma vez que despertasse, uma vez que o calor se acalmasse, o medo a separaria dele, sem importar seu desejo de ficar.

Esta era a razão pela qual Jonas a trouxera?

Lance franziu o cenho ante o pensamento, se perguntando como diabos o outro homem poderia ter sabido que haveria uma possibilidade deste acontecimento.

Então sentiu o cacho de vento ao redor de seu braço, um sussurrante golpe que o recordou das provas de sangue e saliva que a cientista das Castas, Elyiana, tinha tirado dele no ano anterior, depois que Braden tinha trabalhado na polícia. Segundo ela e Jonas, requeria a qualquer policial que trabalhasse estreitamente com as Castas.

Isto era um estratagema. Ele sentiu, escutou a afirmação sussurrada em seu ouvido. Jonas estivera planejando isto durante um tempo, mas por quê?

Ali não havia nenhuma resposta. Só o grito confuso e quebrado, um gemido de agonia profundamente ancorado em sua alma que fez que seu coração se esticasse e seu espírito doesse. Esta era a dor de Harmony.

“É melhor que durma enquanto dura isto...”

“Exausta. Que eu saiba não dormiu em duas semanas...”

“Maldição, ninguém dorme durante vinte e quatro horas...”

As vozes deslizaram através do subconsciente de Harmony enquanto sentia crescer uma queimadura fria em certas partes de seu corpo. Suas coxas. Braços. Ao longo de seu pescoço. Sua língua. O que era estranho como o inferno.

Parecia como se um fogo gelado estivesse crescendo sob a pele naquelas partes. Tirava-a lentamente do pesado sonho no qual estava encerrada, forçando-a a voltar para a realidade, apesar da óbvia relutância de seu corpo a despertar.

Mas estava começando a ser irritante. Aquele frio queimava. Irritava o suficiente para fazê-la franzir o cenho e obrigá-la a abrir os olhos.

Seu olhar se concentrou na cientista das Castas, Elyiana Morrey, e em Lance. Lance parecia desgostado. Ely, curiosa.

Olhou fixamente ao redor do quarto de Lance.

— Já era hora de que despertasse — espetou Lance. — Não tem que usar o banheiro ou algo assim?

A incongruente pergunta a fez piscar para ele.

— Por que estou aqui? — girou o olhar à cientista. — Por que você está aqui?

Os lábios de Ely se crisparam.

— Estou aqui porque Jonas me ordenou que não estivesse aqui. — A presunçosa satisfação de sua expressão colocou um cenho franzido na cara de Harmony.

— Por que você está aqui? — perguntou outra vez.

— Ela está aqui para começar com os tratamentos hormonais que você necessita para impedir a concepção — Lance respondeu finalmente pela doutora. — Ficou quando não despertou durante seu exame.

Os dedos de Harmony curvaram-se ao redor da manta que havia a seu lado.

— Me examinou enquanto dormia? — E não se dera conta? Não o tinha sentido?

Tragou com dificuldade enquanto olhava para Lance. Ele a estava encarando com olhos atormentados e uma expressão dura pela preocupação.

— Era mais fácil para você dessa forma — respondeu Ely. — Os exames são muito dolorosos depois do início do calor do emparelhamento. Desta forma, não sofreu.

— Teria ficado bem. — Não podia recordar nenhum sonho. Olhou para Lance outra vez, mas não podia dizer por sua expressão se tinha falado ou não em sonhos.

— De uma forma ou de outra, os exames estão completas. — Ely deu de ombros. — Parece estar em boa forma, além de um pouco de anemia que ainda está padecendo. Não esteve tomando as vitaminas que te dei, verdade?

— Claro que o fiz. — Sim. Claro.

Ely suspirou.

— Encontrei a cartela em sua bolsa, Harmony. Você nem tocou nela. Mas não se preocupe, a terapia hormonal ajeitará isso.

Moveu-se para a bolsa negra que estava aberta na penteadeira, no extremo do quarto.

— Uma destas, uma vez ao dia, durante este primeiro mês. Os hormônios de emparelhamento se mostram em concentrações altas em seu sangue e fluidos. — Ela levantou o frasco de pílulas onde Harmony as pudesse ver, antes de retornar para perto da cama. — Esteve com injeções durante as últimas vinte e quatro horas, o que provavelmente explica por que o calor te permitiu dormir. Estas acautelarão a concepção e lhe permitirão funcionar através dos sintomas mais debilitantes. Embora a ocultação de outra Casta ainda seja impossível.

Harmony olhou como a doutora punha o frasco de pílulas ao lado da cama.

— O que é o calor de emparelhamento? — perguntou então. — Por que acontece isso?

Ely jogou uma olhada a Lance, como se necessitasse sua permissão para responder.

— Não foi ele que perguntou isso. — Harmony tentou inserir força em sua voz, mas se sentia tão forte como um macarrão molhado naquele momento.

Os lábios de Ely se crisparam.

— Recorda a Jonas quando usa esse tom. E não é um elogio.

— Não tomei isso como as pessoas — grunhiu Harmony. — Me responda.

— É uma vinculação. — Ely meteu as mãos nos bolsos da jaqueta branca de laboratório enquanto baixava o olhar para ela. — É o modo que a natureza tem de assegurar que permaneça com o macho que escolheu para você. Isso foi o que fomos capazes de entender, trata-se de uma reação emocional e apoiada nos Feromonios. Ainda estamos trabalhamos nisso. — Deu de ombros outra vez enquanto um sorriso arrependido curvava seus lábios. — Não há nenhuma cura, e nenhum modo de evitá-lo.

Isso era o que Harmony já tinha ouvido.

— Preciso me levantar. — Estava nua sob as mantas.

Lançou uma olhada para Lance enquanto ele se movia pelo quarto e pegava sua bata de seda.

— Peguei sua roupa no hotel. E suas armas. — Ele voltou-se para ela com o cenho franzido. — Sabe que a metade do que leva é ilegal?

Ela o olhou fixamente, em silêncio.

Lance exalou pesadamente.

— Aqui está sua bata. Está forte o bastante para se levantar sozinha?

Ela pegou o objeto de seda de sua mão.

— Saia. — Não se incomodou em expressá-lo como uma petição.

Seu olhar se estreitou nela.

— Ely fica — ordenou ele enquanto se dirigia para a porta. — Verei o que preparo para jantarmos juntos.

Harmony afastou as mantas de seu corpo nu e balançou suas pernas sobre o lado da cama, antes de lutar com sua bata.

— Me tocou com suas mãos? — perguntou à doutora com frieza.

— Usava luvas. — Ely cruzou os braços sobre o peito enquanto baixava o olhar para ela.

— Encontre luvas melhores — espetou Harmony. — Minha pele está queimando onde me tocou.

— Queima?

— Uma fria e profunda queimadura. Coxas, braços, pescoço e língua.

— Ninguém nunca mencionou uma queimadura. Dor, mas nenhuma queimadura.

— Aconteceu também quando Jonas tocou minhas costas, depois da primeira noite com Lance. É extremamente incômodo.

— O que significa doloroso como o inferno — grunhiu Ely. — Você é uma das Castas mais teimosas que já encontrei. Sente alguma vez a dor, Harmony?

— Não, se posso evitá-lo. Necessito uma ducha. Onde está minha bolsa de viagem?

— Quer dizer as loções de boutique? — Ely riu. — Lance não podia pronunciar a metade dos nomes desses frascos. Bela coleção tem aí.

— Onde está? — Ela não estava de humor para falar.

Ely suspirou pesadamente enquanto se movia ao armário e tirava a grande bolsa de viagem das profundidades.

— Pode falar comigo, Harmony. Não sou sua inimiga.

— Alguém que não é um amigo é um inimigo. — Harmony a olhou diretamente aos olhos. — E não tenho nenhum amigo.

— Bem, isto me põe em meu lugar. — Ely levou a bolsa ao banheiro, deixando-a em um suporte antes de girar e entrar de novo no quarto. — Ali está. Pode chegar até o banheiro?

— Posso andar. — Ou morreria tentando.

Estava fraca. Espantosamente fraca. Suas pernas tremeram quando receberam seu peso, mas a sustentaram. No momento, era tudo o que importava.

— Harmony, tenho que partir esta noite — anunciou Ely enquanto Harmony caminhava pelo chão.

— Adeus. — Que demônios queria que lhe dissesse? A doutora tinha ajudado a mantê-la cativa durante duas semanas, e ajudara a tirar seu sangue, o suficiente para preencher outro corpo humano.

— Não pode fugir dele, Harmony — replicou Ely quando Harmony alcançou a entrada. — Os tratamentos hormonais só trabalham se fizer sexo com regularidade com seu companheiro. Se você partir, o engano seria fatal

Harmony inclinou a cabeça, olhando seus pés enquanto apertava os dentes com fúria.

— Jonas sabia o que estava fazendo, não é? — sussurrou ela. — Estava planejando isso.

— Não posso confirmar isso. — A voz de Ely se esfriou, assegurando a Harmony que Jonas, de fato, sabia exatamente o que estava fazendo.

— É um jogo perigoso o que está jogando, Doutora. — Voltou a cabeça, olhando à outra mulher amargamente. — Não serei a única a morrer se der errado. Prometo isso.

— Quem a vingará, Harmony? — perguntou Ely. — A mesma pessoa que tirou seu traseiro do fogo antes. Li o arquivo de Jonas sobre você, e é totalmente diferente do que há na base de dados da Casta.

— Como já disse, não quererá se ver apanhada nisto. — Harmony sorriu apertadamente. — Se ele não tivesse jogado a seu pequeno jogo, se somente tivesse deixado de tentar me reincorporar à sociedade Casta, todos estaríamos seguros. Mas isto... — agitou a mão para seu corpo — Isto só trocou as apostas. Se eu for eliminada, acredite-me, Jonas não escapará ileso. E nem você, tampouco.

— Como ela está? — Lance perguntou a Ely, enquanto vigiava a panela onde tinha vertido a sopa de frango, deixando-a ferver a fogo lento tal e como sua tia tinha indicado.

Ela entrou lentamente na cozinha, com as mãos metidas nos bolsos da jaqueta de laboratório, os ombros encurvados.

— Está assustada, mas o oculta bem. — Deu de ombros, a expressão preocupada. — Tem uns sintomas que ninguém tinha mencionado, até agora. Uma queimadura fria onde a toquei enquanto a examinava mas, além disso e de estar um pouco fraca, parece estar bem.

Lance assentiu antes de se voltar de novo para a sopa, olhando como o lento cacho do vapor começava a se formar na superfície.

— Jonas ligou outra vez — disse ele. — Diz que te necessita de volta nos laboratórios.

— Estou surpreendida de que esperasse tanto tempo. — Sua expressão era sardônica quando o olhou. — Neste ponto, fiz tudo o que posso por sua companheira. Não conceberá, e tinha expressamente proibido acrescentar esse hormônio em particular a seus tratamentos. Por alguma razão, ele acredita que a concepção assegurará que ela fique contigo.

— Você discorda? — Encarou-a fixamente.

— Meu único objetivo é seu período de sobrevivência. Sua primeira prioridade é seu amparo e o aumento da vinculação entre vocês — informou-o asperamente. — Me escute, Lance, se ela fugir, por qualquer razão, então a perderá para sempre. Continuará no registro das Castas como um desertor. Matar a primeira vista. Não podemos permitir isso.

— E por que se preocupa? — Lance olhou a jovem doutora, viu a compaixão em seus olhos, mas sentiu que havia algo mais. Não era completamente desinteressada em seu desejo de ajudar Harmony.

— Porque Jonas está tão determinado a sair-se com a sua. — Sorriu em tom zombador. — O que é suficiente para mim.

— E quando não fora suficiente? — perguntou ele bruscamente.

— Então, me entenderei com Jonas. — Deu de ombros outra vez. — Mas tenho que partir agora. Não quero lhe dar uma razão para pedir mais provas dela com outro cientista. É melhor que nunca saiba de minha mentira.

— Braden a levará de volta para casa. — Ele assentiu em vez de perguntar de novo. — Jonas enviou o heli-jato?

— Lance, não pude reforçar o hormônio como poderia tê-lo feito se ela estivesse nos laboratórios. Necessita um ajuste mais preciso, que não pode ser levado a cabo enquanto Jonas jogar seu jogo. O que lhe dei ajudará; não estará completamente indefesa frente à excitação, mas ainda será severa. Sinto muito.

— Se encarregou do problema mais premente. — Suspirou. — Ela não conceberá. Não vou roubar essa opção dela.

— Obviamente estou de acordo com você. — Sacudiu sua cabeça cansadamente. — Partirei agora. Se assegure de que ela tome muitos líquidos, mas nada de cafeína. E repouso. Nesse momento, necessita disso mais que tudo.

Deus, poderia agüentar outro daqueles profundos sonos? Ela tinha gritado enquanto sonhava. Rios de lágrimas enquanto pedia ao Alfa Um, Jonas, que a ajudasse. Que a salvasse. Suplicava por seu perdão.

Ela tinha dormido vinte e quatro horas. Rasgada entre lágrimas silenciosas e batalhas de pesadelo, Harmony tinha enfrentado a demônios contra os quais Lance tinha sido incapaz de lutar por ela. Só tinha sido capaz de abraçá-la, cantarolando. Às vezes, parecia que isso a aliviava um pouco; em outras, só tinha parecido assustá-la mais.

Quando Ely deixou a casa, Lance foi ao seu quarto e cruzou rapidamente até a pequena caixa forte escondida atrás de seu armário. Ali, tirou o pequeno detector eletrônico de microfones que Braden havia trazido essa manhã.

Vinte minutos mais tarde, encontrou dois dispositivos de escuta em seu quarto, e três mais em toda a casa. Enquanto contemplava os pequenos dispositivos, sacudiu a cabeça, resignado. Apesar de toda sua ajuda, Ely obviamente estivera ali por seus próprios motivos, possivelmente até da parte de Jonas. Armazenou-os na caixa forte junto com o detector e foi ao banheiro.

— Harmony? — Bateu na porta antes de abri-la.

Estava deitada de costas na grande banheira, o cabelo recolhido em uma toalha e uma expressão ditosa em seu rosto, enquanto a água fazia espuma a seu redor.

— Cômoda? — Ele sorriu quando os olhos dela se abriram, dando-lhe uma olhada.

— Parta, e poderia te deixar viver — replicou ela, sonolenta.

— Tenho um pouco de sopa caseira no forno. Estará pronta quando acabar. — Ele fez uma pausa. — Quando terminará?

Ela girou os olhos.

— Quando me vir entrando na cozinha. Agora vá embora. Preciso me recuperar. — Fechou os olhos outra vez e se enrodilhou na banheira.

— E eu aqui pensando que os gatos não gostavam da água — comentou ele, deixando de conter sua diversão.

— Este gato gosta. Agora vá. — Não se incomodou nem em lhe jogar uma olhada.

Lance riu entre dentes antes de sair do banheiro e voltar à cozinha. Quando ela conseguisse se recuperar, estava seguro de que teria ao gato montês de volta. Embora no momento, enquanto estivesse fraca, a pressionaria até obter uma vantagem.

Faltava muito pouco tempo para fazer com que Harmony Lancaster, aliás Morte, se apaixonasse.

O que tinha feito?

Harmony se sentou na água depois que Lance saiu, levantando os joelhos até que pôde descansar a testa contra elas, lutando pelo controle.

Tinha dormido durante vinte e quatro horas, tão profundamente que não se dera conta de que tinha sido examinada. Não havia duvida em sua mente de que tinha sonhado. Mas com o que tinha sonhado?

Fechou os olhos e tragou a bílis que ameaçava sair de sua garganta. Sabia o que fazia quando dormia tão profundamente, quando o esgotamento finalmente a alcançava e o corpo anulava seu controle. Gritava e implorava. O medo enchia sua voz e o horror sussurrava fora de seus lábios. Sabia, porque antes sempre tinha despertado com o som, com a lembrança dos pesadelos que a atormentavam.

Só rezou para não ter revelado seus segredos.

Deus, teria que encontrar uma saída para isto. Tinha que haver um modo de derrotar esta necessidade, de parar a fome que a devorava e de escapar desta situação. Nada de bom poderia resultar disso. Só podia terminar em morte. Sua morte.

Mas para partir, tinha que se afastar de Lance. Levantou a cabeça, os olhos ainda fechados, e aspirou o aroma dele. A casa estava impregnada com seu aroma. Forte e masculino, cheio de uma poderosa sensação de calor que ela não sabia que necessitava.

Mas enquanto estava ali sentada em sua banheira, com a água quente formando redemoinhos a seu redor, compreendeu o que era que a tinha atraído para ele naquela primeira noite. Aquela sensação de calor, do calor de seu corpo fluindo da mão dele à sua, formando redemoinhos dentro de sua alma e criando um laço que não tinha sentido.

Não podia fazê-lo. Conteve suas lágrimas, advertindo que os escudos que tinha usado para se proteger, com os quais mantinha suas emoções frias e insensíveis, tinham desaparecido. Agora era vulnerável e não tinha nem idéia de como lidar com isso. Infernos, não sabia sequer como tinha acontecido.

O homem não tinha nem idéia do que ela era. Ele não podia. Se soubesse, tê-la-ia insultado, como obviamente Jonas fazia.

Seis meses. Suspirou cansadamente enquanto se inclinava para trás e olhava ao teto, um franzido cenho puxava sua sobrancelha. Só tinha que suportar por seis meses, isto era tudo. E então, este assunto do calor, fosse o que fosse, certamente se dissiparia. Podia encontrar um modo de controlá-lo e de se afastar quando precisasse fazê-lo.

Ely disse que dera o tratamento hormonal para acautelar a concepção, e não mentira sobre isto. Harmony poderia cheirar uma mentira a uma milha de distância. Podia lê-lo até em Jonas; a doutora não a estivera enganando.

Bem. Endireitou seus ombros. Seis meses. Poderia fazê-lo. Seria livre, então. Livre de Jonas e de Lance.

Ignorou a espetada de pena ante o pensamento de estar livre de Lance. Não era emoção, assegurou-se; era a idéia de perder algo que nunca tivera e sobre o que sempre se perguntara. O calor. O prazer ante o toque. Isso era do que sentiria falta.

Não ao homem. Nunca ao homem.

Fechou as torneiras, puxou o plugue para esvaziar a água da banheira e ficou de pé com cuidado. Ainda estava fraca, mas melhoraria logo. A inatividade e a carência de alimento causaram isso, não era nada sério.

Tirando a toalha da cabeça, soltou o cabelo, e se moveu para o suporte onde estava a nécessaire. A voz de Ely tinha contido algum desdém quando se referiu às loções que guardava. Loção, produtos de cabelo, maquiagem, óleo e os utensílios necessários para manter cada centímetro de seu corpo limpo, suave e delicadamente perfumado.

Não como estivera naquele primeiro ano de sua fuga. Sua pele estava seca e escamosa, a sujeira dos laboratórios permanecendo nela, atraindo-a a cada Coiote enviado para procurá-la. Rastreá-la então tinha sido fácil. Faminta, vivendo por pura força de vontade e dos restos de comida que podia roubar, Morte estivera perto de sucumbir à sua própria maldição.

Nunca mais.

Uma hora mais tarde, sacudiu seu cabelo seco ao redor dos ombros, sentindo os grossos e sedosos fios acariciando sua suave pele de cetim. Brilhava com vida enquanto o sutil aroma de suas loções mescladas com o aroma de Lance se partiu em seu corpo.

Ela já não era o animal sujo e fraco que tinha saído das bocas-de-lobo e se arrastou ao mundo dos vivos. Ela era Morte quando matava. Uma escura sombra de vingança. Como mulher, ela era Harmony. Serena. Relaxada. E sobreviveria a isto.

Talvez.

A única vantagem da terapia hormonal era a prevenção da concepção, pensou Harmony, enquanto a noite caía totalmente sobre a casa de Lance. Porque com certeza que não ajudava com a excitação.

Bem, a dor não estava ali. Ela podia sentir como em seu interior aumentava a fome, sem as candentes chamas explodindo na dolorosa consciência da necessidade. Mas estava dolorida. Estava molhada. E não desejava nada mais que lamber Lance da cabeça aos pés.

Sentando-se na sala de estar, Harmony tentou manter sua atenção no telejornal na televisão de tela plana que pendurava na parede em frente a eles. Sentada com as pernas cruzadas em uma das amplas e cômodas cadeiras, enquanto trabalhava em suas unhas, podia ver Lance pela extremidade do olho.

Estava sentado com os ombros caídos para trás, no canto do sofá. Um travesseiro grande descansava atrás de suas costas e sustentava o controle remoto com firmeza em uma de suas mãos.

A posição dava a Harmony a vantagem de seguir cada dura linha muscular de seu corpo. As longas e poderosas pernas estavam embainhadas nos jeans que não faziam nada para esconder o absolutamente delicioso músculo de debaixo. Moveu-se um pouco, se ajeitando mais comodamente, atraindo a atenção dela para suas coxas enquanto se moviam. E não tinha o menor problema em deixar seus olhos vagar por aquela área, porque manter seu olhar separado do duro vulto entre elas era condenadamente impossível.

Estava duro. Sua ereção parecia uma grossa cunha sob seu jeans, estirada para a parte baixa de seu estômago. Arrastou o olhar de volta à televisão, mas o encanto de moço bonito do jornalista não tinha nada a ver com o aspecto de tipo duro e terrestre que Lance projetava.

Em alguns segundos seus olhos trocaram de direção outra vez, retornando à tentação do corpo estendido com abandono no sofá.

Parecia meio adormecido. Olhos sonolentos, relaxado. Não ameaçador. Era difícil acreditar que este era o homem ao qual tinha permitido algemá-la e amordaçá-la. O homem que lhe deixara o cinturão posto, as calças ao redor das coxas e a fodera até alturas vertiginosas.

Sua vagin* se apertou com a lembrança. Podia sentir a umidade crescendo entre suas coxas enquanto seus mamilos começavam a pressionar mais forte contra a camisa folgada que estava vestida combinando com uma calça de pijama de amplas pernas das calças.

Se ficasse muito mais tempo ali sentada, ia terminar por engatinhar sobre seu corpo como o gato que ele dizia que era. E Deus, não é que não se sentisse bem. Acariciá-lo ao longo de seu corpo, lambendo cada delicioso centímetro de masculina pele como queria.

— Funciona?

Sua voz a sacudiu do sonho, fazendo que seus olhos se abrissem de repente enquanto sacudia a cabeça ao redor para contemplá-lo mais a fundo.

— O que? — Sabia ele que o encarava? Faminta dele?

— A terapia hormonal. — Ele levantou a mão, ainda agarrando o controle remoto, e o agitou para ela. — Funciona?

A necessidade de prová-lo a matava.

— Está funcionando bem. — Assentiu antes de esquivar seu rosto e afastar o olhar dele.

Baixou a cabeça e se concentrou em polir as unhas.

— Hmm. — O baixo e grave murmúrio fez seus olhos se levantarem enquanto se centravam nele.

— O que significa isso?

Esperou outro daqueles sorrisos perversos, ou ao menos um olhar acalorado. Em troca, estava encarando-a com um leve cenho franzido, a expressão muito séria.

— É uma mulher forte — disse ele finalmente com suavidade. — Megan disse que o calor é impossível de ignorar, inclusive com os hormônios.

— O que quer que te diga, Lance? — Ela tragou com força. — Esta não é uma situação cômoda para mim.

— Por quê? Estava cômoda o bastante naquela noite no bar, para vir para casa comigo. O que mudou, Harmony?

— Um encontro de uma só noite...

— Tem muitos desses, não é? — perguntou ele com suavidade.

— Não. — Sacudiu a cabeça, a confusão se derramando por ela. Onde infernos estava seu autocontrole, sua capacidade de colocar um homem em seu lugar com nada mais que um olhar?

Encarou-o fixamente, o aroma dele se envolvendo a seu redor, afetando a seus sentidos de uma forma que lançou seu sistema nervoso ao caos. A consciência nervosa chispou ao longo de suas terminações nervosas enquanto sua respiração começava a ficar áspera e a excitação começava a crescer.

— Então, por que deveria ser diferente agora? — perguntou ele.

— Naquele momento, você não era uma fraqueza — resmungou ela, ficando em pé enquanto cruzava os braços sobre os seios e caminhava para a entrada. — É uma fraqueza agora.

Ele não se moveu; só ficou ali.

— Escapando, Harmony? — perguntou como se ela tivesse a intenção de fazer isto.

— Esta conversa é inútil.

— Não pode escapar de si mesma para sempre. Já não está cansada de correr?

Harmony voltou-se para ele, sabendo que não estava escondendo o efeito que sua acusação tinha nela.

— Se ocultar é o único modo de sobreviver — sussurrou ela. — Acha que Jonas era a única pessoa que me buscava durante os últimos dez anos, Lance? Ou o único em se aproximar? Finalmente, meus inimigos me encontrarão. Quando o fizerem, golpearão onde sou fraca.

— A química não te liga a outra pessoa, Harmony. A emoção te liga.

Ela o olhou fixamente, com surpresa. Emoção?

— Não tenho emoções — grunhiu ela. — A menos que conte a vingança.

— Então não tem nenhuma fraqueza. — Ele deu de ombros. — Seus inimigos não podem usá-la por que não se preocupa com nada.

Contemplou-o, pressionando os lábios enquanto apertava seus dentes ante as palavras furiosas que ameaçam sair deles.

— Um encontro de uma só noite não te faz uma amante, querida. — Seu sorriso era ligeiramente sardônico.

— Então deveria me converter só em sua pequena companheira de cama e esquecer o perigo? — ela cuspiu.

Uma sobrancelha se arqueou devagar.

— Não estava pedindo sexo a você, Harmony. Estava tentando te conhecer. Estava te apontando quão obstinada e voluntariosa que é. Não tentando averiguar quão fácil cairia em minha cama.

— Tive que ser obstinada. Forte — ela espetou. — Teria morrido durante o primeiro ano em que escapei se não fosse.

O ano em que Dane Vanderale a encontrara, quebrada, quase morta. Ele a tinha salvado, como a tinha salvado muitas vezes após.

— Sim, havia algumas notas em seu arquivo a respeito daquele primeiro ano. — Ele assentiu como se a informação fosse de conhecimento geral. — Os Coiotes enviados atrás de você informaram que foi ferida gravemente. Teriam-na apanhado se não tivessem sido distraídos por uma desconhecida equipe de homens.

Um dos Coiotes devia ter sobrevivido. Tinha esperado tê-los eliminado. Havia dois, desumanos e sanguinários.

— Não sei nada sobre isso. — Sacudiu a cabeça firmemente. — Só sei que escapei. Era tudo o que me importava.

— Tinha quinze anos, estava ferida gravemente e só — indicou ele. — Entretanto sobreviveu.

— Aonde quer chegar?

Harmony olhou para Lance, agora cautelosamente. Estava procurando informação, o que significava que sabia algo. Algo mais do que seu arquivo tinha proporcionado.

Recordava bem a luta entre aqueles dois Coiotes. Correndo somente por puro nervo, faminta, esgotada, quase a tinham apanhado. Em troca, escapou quando duas figuras sombreadas tinham saltado à luta.

As feridas de faca que tinha recebido teriam sido fatais uma vez que a infecção e a febre chegassem. As feridas foram muito profundas, e seu corpo muito fraco para lutar. Teria morrido se Dane não a tivesse encontrado.

Ele era o filho de um industrial africano, um rebelde e um homem que seguia suas próprias regras. Naquela época, ele estivera rastreando a uma Casta de Coiote que fora enviado para matar a um amigo dele, um jovem que sabia mais do que deveria saber. Sua morte não tinha sido fácil. E tampouco tinha sido a do Coiote, depois que Dane o alcançara.

O sigilo de seu trabalho era imperativo para que ele pudesse ter êxito em seu objetivo de ajudar às Castas a destruir o Conselho de Genética. Se em algum momento se averiguasse que o herdeiro das Empresas de Vanderale não era mais que um vigilante, poderia destruir tudo o que sua família tinha. Este era um segredo que Harmony tinha jurado levar para a tumba.

— Como escapou, Harmony? — Ficou ali, fazendo a pergunta como se obter a resposta fosse questão de tempo. Não estava exigindo respostas, não a estava interrogando. Estava perguntando.

— Tive ajuda — sussurrou ela. — Dois homens ouviram a luta. Fugi enquanto eles distraíam aos Coiotes.

— Por que os Coiotes disseram que eles não tinham um aroma? — Um ligeiro cenho franzido enrugava suas sobrancelhas. — Os informes do interrogatório indicavam que os Coiotes juravam que não havia nenhum aroma de identificação. Cada um tem um aroma, nas Castas?

— Sim. — Ela assentiu devagar. — Cada um tem um aroma.

— É único, ou pode ser disfarçado por perfumes e tudo isso?

— É único — respondeu ela com cuidado, observando-o cautelosamente.

Ela sabia aonde chegaria com isto, e estava indefesa para evitar.

— Então, por que os dois homens que salvaram seu traseiro não tinham nenhum aroma? — Ele franziu o cenho enquanto punha o controle remoto no chão e se arranhava, de forma ausente, na dura e musculosa carne de seu abdômen.

O movimento levantou sua camiseta, mostrando a dura e escura pele antes de permitir que sua mão descansasse ali. Harmony lutou para poder conseguir suficiente oxigênio para fazer que seu cérebro funcionasse outra vez.

Merda, era uma assassina de sangue-frio, não sua gatinha sexual. Mas neste momento, a gatinha sexual estava definitivamente se apresentando.

— Não estou segura. — Realmente não entendia o processo, assim tecnicamente não mentia, não é?

— Mas tem uma idéia?

Harmony o olhou fixamente, com receio.

— Por que todas estas perguntas? O que isso tem a ver com o fato de que um companheiro é uma fraqueza e que não quero brincar de gatinha sexual com você?

— Gatinha sexual? — Então uma maliciosa diversão iluminou seus olhos. — Não tinha pensado nisso, mas eu gosto da idéia. Eu gosto muito.

— Não está sendo sensato. — Ela levantou a mão para deter as palavras antes que saíssem de seus lábios. — Esta miríade de pequenos temas seus não vão bem juntos, Lance.

— Ouça, você começou com a coisa da gatinha sexual, não eu. Só me resultou te interessar, isso é tudo. Diga-me. — Logo suas sobrancelhas se levantaram e baixaram provocativamente. — Como faz uma Casta de gatinha sexual?

— Com garras? — sugeriu ela com irritação.

Os lábios dele se apertaram enquanto os olhos brilhavam com brincalhona luxúria.

— Eu gosto das garras — sussurrou ele enquanto levantava a mão para esfregar distraidamente o ombro e a zona ao lado do pescoço. A zona exata onde ela o tinha mordido. — Poderia vir aqui e me mostrar como se faz.

Realmente fez um movimento para ir até ele. Harmony olhou a seus pés com alarme quando deu aquele primeiro passo; então parou e o fulminou com um olhar furioso.

E gemeu.

Sem intenção, sem compreender o som que saía de seu peito, ela realmente gemeu. Nunca tinha gemido em sua vida. Não o felino e crescente grunhido que agora saía de sua boca.

Contemplou Lance com consternação.

— Segue com isso e me fará gozar. — Sua voz tinha baixado, enrouquecendo com a excitação enquanto seus olhos brilhavam com fome quente.

— Está louco.

— Tão fodidamente excitado que estou a ponto de gozar em meu jeans só escutando seu gemido. — Grunhiu com irritação. — A loucura está provavelmente mais perto do que pensa.

A dor de sua excitação antes que a doutora tivesse começado os tratamentos hormonais tinha sido horrível. Ele sofria também? Franziu o cenho, inalando o aroma do quarto mais profundamente do que se permitiu antes dessa conversa.

O aroma da excitação masculina era embriagador e espesso. Impregnou seus sentidos, se precipitou por seu cérebro, e acelerou o batimento de seu coração à velocidade de um trovão enquanto sentia que sua boca se enchia outra vez daquele gosto estranhamente doce.

— Dói? — sussurrou ela, temendo a resposta. Sabendo a resposta.

— Não, neném, isto não dói. — Lance suspirou pesadamente. — Isto só é fodidamente irritante.

E estava mentindo. Por que estava ele mentindo, quando dizendo a verdade podia obrigá-la a lhe dar o que ele queria? Poderia ter bancado facilmente ao macho dolorido e tê-la em sua cama há horas.

— Então por que não se está movendo? — perguntou a ele. — Está nessa mesma posição a mais de uma hora. Sente-se.

Ela podia ver sua ereção perfilada pelos jeans, apertando com força contra o tecido.

— Acredito que ficarei aqui convexo um momento mais. — Ele riu entre dentes. — Mencionei que mesmo estou um pouco cansado?

Ele não tinha dormido em dois dias, não o bastante, de fato. A vigiara, protegendo-a quando ela não podia se proteger.

Harmony lambeu seus lábios nervosamente.

— Quando me feriram, os homens que rechaçaram aos Coiotes me encontraram uma semana mais tarde. Estava muito doente.

O olhar dele se cravou nela.

— Eles tinham sabido além sobre os Coiotes. Caçavam a eles; não estava segura de por que. — Não o soubera então, embora soubesse agora. — Cuidaram de mim até recuperar a saúde e me protegeram. Nunca me disseram exatamente por que não tinham nenhum aroma. Mas às vezes, se estou em problemas, sabem, e aparecem.

— Jonas sabe sobre eles?

— A informação contida na base de dados da Casta sobre mim não é tudo o que o Conselho tinha — revelou ela. — Não sei por que Jonas escondeu os arquivos das poucas vezes que os Coiotes realmente conseguiram me capturar, mas aqueles informes não estão ali. Porque os informes revelam que cada vez que era capturada, os mesmos dois homens me resgatavam.

— Quem eram eles?

Ela afastou o olhar durante um segundo antes de se voltar para ele.

— Não posso te revelar seus nomes, Lance. Suas vidas...

Ele levantou a mão.

— Não quero nomes. Por que a vigiam, Harmony? O que querem? O que Jonas quer?

Ela sacudiu a cabeça, as sobrancelhas franzidas.

— Jonas me quer morta, Lance. Mas não pode me matar sem me dar uma possibilidade de redenção primeiro. Mas não se equivoque, ele me odeia.

— Por quê?

Ela inalou dolorosamente ante a pergunta.

— Matei sua mãe. A única pessoa naqueles laboratórios que se preocupava um pouco pelo Jonas, além de mim. E eu não podia mostrar quanto me preocupava, ou sofria por isso. Madame LaRue era muito possessiva com sua criação pessoal. Quanto a por que os outros me ajudam, isso beneficia a ambos. Eles me ajudam, eu os ajudo. É bastante com que eles tenham estado ali.

— Então, por que me diz tudo isto agora? — perguntou ele, em vez de seguir adiante, procurando a informação.

— Você me protegeu enquanto eu dormia — sussurrou ela. — Não tinha que fazê-lo. Merece saber o que enfrenta.

— Você é minha mulher, Harmony — murmurou ele. — Sempre protejo o que é meu.

Ela sacudiu a cabeça lentamente.

— Não posso te pertencer, Lance. Jamais. Em seis meses, quando isto terminar e tenha me redimido segundo a Lei da Casta, então partirei. Se puder conseguir evitar que meus inimigos me encontrem durante tanto tempo. Não posso permitir que me tome como sua mulher, mais do que eu posso te reclamar como meu. Fazendo isso, só obterá que ambos morramos.

— Quanto mais tempo pode lutar sozinha? Quanto tempo mais, Harmony, antes que Morte se renda porque não pode acabar com todos os monstros, ou salvar a todos as crianças? — perguntou enquanto ela se movia para longe dele.

— Por que está fazendo isto? — Esta era a pergunta contra a qual ela tinha lutado durante muito tempo. — Por que não pode só me deixar ir, Lance?

— Venha aqui. — Sua voz se suavizou.

— O que?

Ele levantou sua mão, dobrando os dedos em um gesto para ele mesmo.

— Venha aqui — repetiu ele.

Moveu-se para ele devagar, hesitando. Ele não sabia o que a fazia estar muito perto dele, quanto a fazia desejar. Isto crescia dentro dela como uma besta faminta, rasgando sua alma com uma necessidade que tinha contido toda sua vida.

— O que? — perguntou ela outra vez enquanto fazia uma pausa ante o sofá.

— Me toque, Harmony.

— Eu já disse...

— Eu não disse que transe comigo, maldita seja, eu disse que me toque — grunhiu ele. — Aqui. — Ele golpeou seu peito. — Só me toque.

Ela se inclinou e colocou a palma em seu peito.

Calor. Harmony sentiu que a fraqueza a alagava enquanto ficava de joelhos ao lado do sofá, sentindo o incrível calor do corpo dele se metendo no seu. O fenômeno era diferente de tudo o que ela jamais conhecera com outra pessoa. Havia tocado outros, não era uma virgem, mas nunca tinha experimentado isto.

— Isto é o porquê, Harmony. — Retirou o cabelo de seu rosto com ternura, o polegar acariciando a bochecha enquanto ela o olhava fixamente nos olhos. — Sente como meu corpo se entrega. Nunca fiz isto antes. Como se minha alma soubesse o que necessita, como se meu corpo soubesse, e se desse desinteressadamente. Por isso não posso me afastar. É pelo que a reclamo como minha, mesmo sabendo que não é o que quer. Porque esse vínculo já está aí. Estava aí quando entrei no estacionamento daquele bar, quando tudo o que eu queria fazer era ir para casa. Estava aí no segundo em que meus olhos encontraram os seus, minha pele tocou a tua. Escape se tiver que fazê-lo, mas ao menos seja consciente do que está escapando, neném.

Pareceu tão sincero. Seus olhos se obscureceram, a expressão retraída em linhas de preocupação e interesse. Como se ela o preocupasse.

— Por quê? — Não pôde evitar que a pergunta atravessasse seus lábios enquanto o calor do corpo dele se vertia por sua palma. — Por que se preocupa, Lance? Eu mato...

Ele negou com a cabeça lentamente.

— O que a menina foi obrigada a fazer não é sua culpa — sussurrou ele. — O que a mulher fez para sobreviver, e logo para fazer vingança, pode ser perdoado. É para onde vai a partir deste ponto o que importa. Aprender a diferença entre o que é justo e o que é justiça pode significar a diferença entre sua liberdade ou sua própria morte. Mas o que está entre nós vai além da vida ou da morte.

— Isto é uma reação química — sussurrou ela, tentando afastar sua mão.

A mão dele agarrou a sua, obrigando-a a se aplanar contra seu peito outra vez enquanto seu olhar ficava feroz.

— Quantas relações de uma só noite você teve, Harmony? A quantos homens recolheu em bares e passou a noite transando?

— Pare!

— Me responda. Ou eu deveria responder por você? Nenhuma. — Sua voz a açoitou enquanto sua cólera, luxúria e necessidade pareciam pairar no ar que a rodeava. — Você nunca fez isso antes. Por quê?

— Não é seu assunto.

— Por que, Harmony? — Sua voz se elevou, apanhando-a no lugar com tanta eficácia como sua mão apanhava ao contrário a seu peito. O braço tinha baixado do travesseiro atrás dele enquanto sua mão livre apanhava seu outro pulso, mantendo-a quieta. — Me responda.

— Não quis fazê-lo.

— A verdade, maldita seja!

— Porque seu toque não importava. — Ela se separou dele então, a lembrança de sua primeira noite com um homem, um homem no qual ela confiava, açoitando em seu cérebro.

Obrigou-se a fazer isso, se forçou a uma intimidade que sabia que não queria. Dane era seu amigo; a ajudara, lhe dera um lugar seguro para se esconder. Seu toque não tinha posto doente, mas tampouco a tinha esquentado e atraído.

— Então meu toque importou. — Não havia satisfação em sua voz enquanto o via ficar em pé. — Exatamente como seu toque me importa, Harmony. Você me importa. Se ocultar não vai ajudar a você, ou a mim. Se seus inimigos averiguarem que estava aqui, embora tenha partido há uma semana ou dois anos, me encontrarão.

Harmony o encarou fixamente, sua respiração se fez áspera enquanto o medo começava a correr por sua mente. Ele tinha razão. Isto não importaria; os Coiotes e os soldados do Conselho que ainda a espreitavam não se preocupariam. Lutariam pelo prazer de fazê-lo.

— Fuja agora, Harmony. — Agitou a mão para a porta enquanto ela se voltava para ele. — Aí está a puta porta. Pensa que isto vai fazer alguma diferença?

— Por que está fazendo isto? — gritou desesperadamente, seus punhos se apertando aos lados. — Por que não pode deixar como está? Deixar-me ir?

— Porque você me pertence, maldição! — gritou, a voz furiosa, os azuis olhos ardiam. — Minha, por Deus, tanto como pertenço a você. Negue. Segue adiante, Harmony, me olhe nos olhos e negue.

— De onde tira essas idéias loucas? — gritou ela, passando as mãos pelo cabelo enquanto a frustração começava a se estender por ela. Frustração e cólera. — Por que faz isto?

— Você quer saber por quê? Por quê? — grunhiu ele. — Tente isto, Harmony.

Antes que ela pudesse lutar contra ele, seus braços estavam ao redor dela; uma mão abraçou sua cabeça, outra se curvou ao redor de suas costas enquanto sua cabeça baixava. Seus lábios, quentes e possessivos, cobriram os dela enquanto a língua varria possessivamente sua boca.

As glândulas ao longo da parte oculta de sua língua flamejaram de vida, derramando o doce gosto da excitação. Levantando os braços, ela os entrelaçou ao redor do pescoço dele, tão desesperada por estar perto dele como ele de atraí-la para si. O desejo correu por seu sistema nervoso enquanto suas objeções, seus medos, eram arrastados.

Lance a devorou, tomou seu beijo e deu em troca um prazer que nunca deveria ser tão intenso, tão aceso com uma simples carícia.

As línguas batalharam, combateram, enquanto os gemidos começavam a encher o silêncio do quarto. Harmony se roçou contra ele, sentindo sua ereção roçar a parte inferior de seu estômago, abastecendo de combustível o calor que aumentava em sua vagin*.

Isto era perfeito. Seu beijo era perfeito. Seus lábios emparelhados com os seus, sua língua acariciava a sua em uma carícia muito quente para negá-la. Como se cada célula de seu corpo, cada fôlego, cada toque fosse criado só para ela. Em cada ponto que seus corpos se tocavam, seu calor se afundava nela, a esquentava, a ligava.

— Não. Maldição. Não a possuirei assim.

Antes que Harmony pudesse protestar, Lance rompeu o beijo e a afastou com cuidado dele. Suas mãos atravessaram seu cabelo enquanto a expressão se esticava com o esforço de manter o controle.

— O que? O que fiz? — Harmony sacudiu a cabeça com confusão.

— Não farei esta escolha por você — grunhiu ele, gesticulando dolorosamente. — Não pegarei nada de você pela força, Harmony. Se me quiser agora, então tem que vir para mim.

Lance sacudiu a cabeça, a frustração era evidente em seu rosto enquanto apoiava as mãos em nos quadris, inclinou a cabeça e a sacudiu devagar. Quando a levantou de novo, um sorriso sardônico cruzava seus lábios.

— Vou me deitar, neném. — Suspirou. — Necessito um pouco de repouso. Temos que ir trabalhar amanhã pela manhã. Te vejo de manhã.

Ele se inclinou para baixo, beijou sua bochecha brandamente e então se afastou. Harmony o contemplou com surpresa quando se foi.

Sua mão se levantou para sua bochecha enquanto se voltava e contemplava a entrada pela qual ele tinha desaparecido. Por que tinha feito isso? Poderia tê-la tido. Ele estava obviamente dolorido, faminto, por que se afastar quando poderia ter o que o aliviaria?

Deus, ele não tinha sentido.

Grunhiu de frustração e fez uma careta ante o som animal. Maldição, agora estava começando a soar como Jonas.

— Homens! — Entrou pisando forte na cozinha, segura de que tinha visto sorvete em algum lugar naquele enorme congelador que ele guardava na despensa. Uma irritação assim definitivamente pedia sorvete.

Ele estava tentando protegê-la.

Várias horas mais tarde Harmony estava de pé em frente à porta aberta do quarto, olhando para o quarto e vendo como Lance dormia. As mantas tinham sido chutadas longe de seu corpo comprido e musculoso, a luz fraca do vestíbulo sombreando sua forma.

Nada poderia escurecer a ereção se elevando entre suas coxas.

Harmony inalou devagar enquanto enfiava a colher no pote de sorvete de castanha-do-pará do qual tinha tentado se afastar. Levou o doce gelado aos lábios. Aliviava o inchaço das glândulas sob sua língua, detinha o hormônio que desejava se derramar delas, mas não fazia nada para aliviar sua excitação.

Enquanto caminhava pela casa durante horas, assegurou-se que devia estar imaginando coisas. Ela protegia aos outros; não estava acostumada a ser protegida.

Lambeu a colher enquanto Lance se remexia na cama, as pernas se separando, os dedos de uma mão se curvando ao redor da largura de seu pênis durante um segundo antes que um gemido de frustração deixasse seus lábios. A mão caiu sobre a cama.

A colher se enfiou na caixa outra vez, levando outra colherada de doçura a seus lábios. Deixou que o sabor do sorvete se derretesse em sua boca enquanto o olhava. Tão saboroso como era o sorvete, sabia que não era nada comparado com o gosto do homem que tentava dormir durante sua excitação.

Seus lábios se torceram em um sorriso. Havia uma coisa que ela poderia fazer por ele. Recordava uma ocasião, vários anos atrás, quando tinha assistido um filme muito... travesso. Só por curiosidade. O filme implicava a uma fêmea vampírica, um macho excitado e gelado.

Lance era muito sexual. Uma criatura sexual com a experiência necessária para agradar a qualquer fêmea. Sua própria experiência era pouca, mas sabia que ele desfrutava de seu toque. Desfrutaria ele do sorvete?

Lambeu os lábios enquanto se movia, colocando a colher no sorvete outra vez enquanto colocava os joelhos na cama e ficava em posição.

Lance despertou alagado de prazer. Um prazer frio, sensual e delicioso que tinha seu saco apertado e seu corpo se elevando, enquanto as mãos se esticavam para sustentar o prazer no lugar e o impedir de se retirar.

— Quieto. Ou vou parar. — A voz de Harmony era suave como a seda, escura e excitada.

Ele olhou enquanto a boca dela se elevava da dolorosa longitude de sua ereção. Ela levantou um pote do sorvete da cama, inundou a colher nele e levou uma boa porção aos lábios. Lance se esticou, olhando, esperando. A cabeça dela desceu enquanto uma mão agarrava a base do pênis e o colocava entre seus lábios. Depois se transbordou sobre ele.

— Oh maldição! — Seus quadris se arquearam sobre a cama quando ela começou a amamentar sua carne com ambiciosa fome.

A fria nata se estendeu sobre seu pênis, enviando um amontoado de sensações geladas a atacar sua reaquecida carne. Sua língua vibrou sobre a carne violentamente excitada, acariciando e mimando enquanto a boca chupava a torcida cabeça.

Lance apertou os dedos no lençol debaixo dele, seus quadris se arquearam, a cabeça se apertou contra o colchão enquanto gelo e chamas lutavam, arrancando um torturado gemido de sua garganta, sentindo o suor que começava a banhar seu corpo.

Filho da puta, isto estava bom. Tão fodidamente bom que se perguntou se sobreviveria. Lutou para ficar imóvel, para manter suas mãos de lados e deixar Harmony escolher. Oh diabos, se ela não se apressasse e decidia lhe permitir gozar, então ia sofrer um enfarte.

— Harmony. — Maldição, ele estava ofegando. — Neném. Infernos. — Estava atormentando-o outra vez. Sua língua lambeu ao redor da inchada cabeça antes de sugá-lo profundamente em sua boca, a língua trabalhando na parte oculta como uma chama de seda.

Ela gemeu ao redor da inchada crista. A vibração do som quase enviou foguetes explodindo em seu cérebro. Calafrios correram por cada vértebra de sua coluna e esticaram cada músculo de seu corpo.

Ele piscou, tentando clarear a visão enquanto sentia o pênis inchando. Merda, como se não estivesse o bastante inchado. As mãos dela estavam acariciando o eixo, da base até onde cobriam seus lábios, acima e abaixo, enquanto chupava, lambia e logo gemia outra vez.

E ele explodiu.

O grunhido que se derramou de sua garganta o impressionou, como fez o delicioso êxtase que começou a correr por seu saco, sua medula, e golpeou seu crânio com ressoante força. Um segundo mais tarde, a sensação de seu sêmen explodindo na boca dela enviou sua mente ao caos absoluto.

Seus quadris se arquearam enquanto jorro atrás de jorro de sêmen se derramava na boca dela, aliviando só o pior da fome que agarrava seu ventre. Aquilo aplacou um pouco a fome, embora fizesse pouco para aliviar a rigidez de sua ereção.

— Espero que saiba que demônios acaba de fazer. — Ele gemeu enquanto suas mãos se estendiam para ela, agarrando-a pelos braços e deitando-a de costas na cama.

Elevou-se sobre ela, os joelhos lhe estendendo as coxas enquanto ela levantava os olhos para ele com um olhar sedutor e acalorado. Maldição, era sexy. Seus olhos eram ligeiramente rasgados, o brilhante verde cintilando para ele enquanto baixava o olhar para ela. Seus inchados seios estavam coroados por endurecidos mamilos de cereja. Doces, doces mamilos.

Baixou a cabeça, atraindo um a sua boca enquanto um grito se derramava da garganta dela e ele colocava a cabeça de seu pênis entre as deliciosas dobras de úmida e suave carne.

— Oh sim — resmungou ele em seu peito antes de lamber o mamilo outra vez. — Ah, isto está bom.

Pressionou, avançado devagar, lutando para respirar enquanto sentia que os incrivelmente ajustados músculos de sua vagin* agarrando seu pênis. Doce piedade, era tão apertada que era tudo o que ele podia fazer para sobreviver ao prazer.

Parecia como se estivesse tomando a uma virgem. Cada vez. Movendo seu membro lentamente dentro dela, sentindo como o espremia e ouvindo seus pequenos e sobressaltados gritos de prazer.

— Harmony... neném. — Suas mãos se moveram aos quadris dela, sustentando-a imóvel enquanto se arqueava embaixo dele. — Fique quieta, neném. Deixe-me ser suave. Deixe tomar suave.

— Quem necessita de suavidade? — Sua voz era áspera, desesperada enquanto as mãos o agarravam pelo cabelo.

Teria rido entre dentes se pudesse ter agüentado a respiração. Estava a meio caminho dentro dela quando os músculos de sua vagin* começaram a fazer aquela coisa. Merda. Infernos. Como se supunha que ia manter o controle com mil dedos diminutos trabalhando sobre seu pênis, atraindo-o para dentro dela. Isso era o que parecia. Os músculos trabalhando contra seu membro, acariciando e sugando até que sentia como se sua cabeça fosse explodir pela necessidade de gozar.

— Neném. Estou tentando. — Ele se retirou. Empurrou. Se retirou.

— Não necessito... suavidade. — Seu grito ressoou com a fome. — Necessito tudo isto. Agora. Agora, Lance. — Arqueou-se outra vez contra ele, suas coxas se separando e seu corpo se esticando contra ele.

E como tinha acontecido nas duas vezes anteriores, ele perdeu o controle. Com um desigual gemido, se retirou antes de entrar nela em um duro e comprido empurrão.

Fodê-la era tão incrivelmente quente, tão prazeroso que jurava cada vez que nunca conseguiria sobreviver a isso.

— Me beije, neném. — Suas mãos se deslocaram de seus quadris enquanto a penetrava até o punho.

Afundou os dedos no cabelo dela, apertando nos sedosos fios enquanto seus lábios cobriam os dela. O sabor que ansiava estava ali imediatamente. Madressilva e especiarias. Ambrosia. Beijou o sabor de seus lábios, logo introduziu a língua dela em sua boca e chupou mais.

Deus, ela era doce. Da cabeça à ponta dos pés. Cada suave poro que ela possuía, e era dele. Ela era dele.

Sustentando-a, começou a se mover, seus quadris se moveram, retrocedendo antes de inundar seu pênis dentro das profundidades quentes e apertadas de sua vagin*. A fodeu com desespero, porque era um homem desesperado. A fodeu com imperativa necessidade, porque o fazia se sentir dolorido, o fazia se alargar e fazia que cada impulso possessivo de sua alma estivesse desesperada por ligá-la a ele.

Possuiu com seu corpo, logo possuiu com sua alma. Profundo, se impulsionando, e arpoando dentro dela poderosamente, a satisfação se elevando através dele quando a sentiu se esticar.

— Lá vai, neném — grunhiu contra seus lábios. — Goze para mim, amor. Me deixe sentir esse doce sexo explodindo ao redor de mim.

— Maldito seja. — Seu grito estava cheio de fome. — Mais forte. Te necessito mais forte.

— Mais forte — ele gemeu. — Infernos, neném. Não quero te fazer mal. Não posso te fazer mal.

Era tudo o que podia fazer para frear seus impulsos tanto como podia. Desejava empurrar nela. Mas ainda estava muito fodidamente apertada e seus sensíveis músculos o agarravam com uma força deliciosa. Não podia lhe fazer mal.

— Faça-o. — Arrancou seus lábios dos dele. — Faça-o agora.

Ela colocou seus dentes em seu ombro e o mordeu. Não era uma pequena e delicada mordida. Agudas presas se afundaram em sua carne, enviando uma pontada de calor e dor/prazer explodindo dentro de seu crânio.

A possuiu mais forte. Sustentando-a sob ele, se introduziu nela repetidas vezes, até que ela se arqueou, afastou sua boca da dele e gritou.

Como se aquele som fosse o catalisador que necessitava, Lance sentiu que seu escroto se apertava violentamente antes de gozar dentro dela.

Gozou como nunca em sua vida tinha gozado. Violentos pulsos de sêmen fizeram erupção dentro dela quando se introduziu até o fundo. Seu corpo se sacudiu enquanto o dela se estremecia embaixo dele. Os espasmos convulsivos derramaram por ambos quando as explosões começaram a se aliviar e logo, lentamente se desvaneceram.

Lance jazia contra ela, lutando por respirar durante longos segundos antes de finalmente se derrubar a seu lado e atraí-la contra seu corpo. A violência de sua liberação tinha debilitado a última força restante de seu corpo, e sabia que o sono estava só a uns segundos de distância. Um sono pacífico.

Ouviu a suave chamada dos ventos fora de sua casa, a promessa de amparo enquanto se rendia à necessidade de descansar. No momento, não tinha que se preocupar do amparo de Harmony. A terra protegeria a ambos.

— Dorme agora — sussurrou ele em seu ouvido. — Está segura.

— Boa noite, Lance — sussurrou Harmony, permitindo-o atraí-la mais perto de seu peito enquanto o queixo dele descansava contra sua cabeça.

Aqui. Isto era vida, pensou enquanto seus olhos se fechavam e o sono o alcançava. Aqui mesmo. E a pequena brisa em seu ouvido sussurrou sua afirmação. Isto era vida.

Harmony dormitou durante a noite, seus sentidos sempre alerta, seus sensíveis ouvidos recolhendo cada som fora da casa de Lance, escutando qualquer mudança nos sons da noite.

Quando o perigo se aproximasse, a fauna faria uma pausa. Era parte da natureza. Eles olhariam e escutariam para ver se o perigo era para eles ou para outros. Não havia nenhuma pausa, nenhuma mudança da sinfonia fora das janelas.

Aquela sinfonia lhe permitiu encontrar um descanso parcial. Descansar contra seu peito, abrigada em seus braços enquanto ele dormia profundamente e impotente. O protegeu como ele a tinha protegido. Permitindo-lhe o descanso que necessitava antes que um novo dia começasse.

Talvez os três dias anteriores tivessem sido excepcionalmente duros para ambos. Não podia ser fácil para Lance, tampouco. Sua vida tinha sido perturbada da mesma forma que a dela.

Enquanto dormitava em seus braços, às vezes imaginava que sentia partes de sua alma no calor com o que o corpo dele empapava ao dela. Por que ele permitiria que uma parte tão íntima dele mesmo estivesse dentro de um ser tão escuro como ela, não podia compreender.

Não pensou em dormir, não realmente. Tinha aprendido a sutil arte de dormitar a muito tempo. Mas pela primeira vez, Harmony encontrou a paz. Embalada dentro de seu calor, sua alma descansou.

Manter a distância entre seu coração e Lance não ia ser fácil, reconheceu Harmony, dois dias mais tarde, enquanto conduzia pela cidade no Raider que lhe tinham atribuído. Normalmente guardavam o Raider de reserva, se por acaso um dos outros estivesse fora de serviço por reparações, Lance tinha explicado no dia anterior, quase pedindo perdão pelo lamentável estado do veículo.

Não era o melhor do lote, confessou, e definitivamente não era adequado para patrulhar o deserto, mas uma vez que aprendeu suas peculiaridades, manobrá-lo pela cidade foi fácil.

A temporada turística estava em pleno funcionamento em Broken Butte. O deserto, os canhões e as formações de covas fora da cidade faziam uma atração regular para os viajantes do verão. A cidade em si mesma tinha o sabor do Velho Oeste, das boutiques, cafeterias e lojas especializadas que cobriam a rua principal, aos bares, restaurantes e hotéis que bordeavam os limites da cidade.

Era uma cidade encantadora, admitiu enquanto seguia sua rota com o passar da área industrial que lhe tinham atribuído para patrulhar.

Havia umas poucas casas nos subúrbios da cidade, um camping para caravanas assim como uns poucos complexos de apartamentos, mas tinha ouvido que os outros ajudantes a consideravam como a parte mais tranqüila da cidade.

Era aborrecido como o inferno, mas se contentou com o fato de que enquanto não estivesse na cidade, provavelmente não me chocaria com o H. R. Alonzo. Nem se meteria em mais problemas.

O bom Reverendo Alonzo ia continuar apertando os botões até que alguma Casta empreendedora decidisse que já tinham ouvido bastante de sua propaganda e enfiasse uma bala em seu cérebro.

Ele era o açoite da comunidade das Castas, reunindo aos Supremacistas do Sangue e sociedades de puristas, para protestar por cada progresso que as Castas faziam na sociedade. Atualmente, estava solicitando outra vez uma permissão para protestar pelo rancho de Megan Arness e o refúgio para Castas que ela tinha criado lá em cima.

Megan Arness era outro problema, e Harmony não queria estar em nenhuma parte perto da empata e seu marido Casta. Quase a tinham alcançado na França no ano passado. Nunca estivera segura de por que tinham abandonado a perseguição, mas antes que o fizessem, se perguntou se superá-los não era uma causa impossível.

Megan Arness poderia fazer voar seus segredos mais rápido que qualquer pessoa, se chegasse perto o bastante. Harmony sabia que seus escudos eram fortes, mas também conhecia os rumores do poder daquela mulher para descobrir emoções e segredos. E Harmony tinha muitos segredos para esconder.

E, além disso, estava o fato de que às vezes os turistas só eram estranhos. Tinha parado um ataque no dia anterior, lutara com o pequeno tipo que roubara a carteira de uma jovem mãe tinha sido muito irritante. Ele estivera hiperexcitado pelas drogas e mais forte do que o normal, obrigando-a a lhe golpear a cara contra o pavimento para incapacitá-lo e retê-lo.

Infelizmente, tinha quebrado seu nariz. Não quisera fazê-lo. Demônios, não estava acostumada a usar luvas de seda. O pequeno imbecil deveria ter se sentido afortunado de estar vivo em vez de gritar abuso policial. Que era o que a fizera ser atribuída aos limites externos da cidade.

— Harmony, seu GPS está piscando outra vez. — A voz de Lance chegou pelo canal de comunicação de Raider, sugerindo um fio de irritação. — Esteve brincando com ele?

Ela girou os olhos. O tinha forjado ao começar.

— Não toquei nele, Xerife — arrastou as palavras enquanto alcançava o arranque e dava um toque na tela do GPS. — Parece estar trabalhando bem por aqui.

Comprovou os espelhos antes de ir a um lugar vazio e ajustar o jogo de módulo de rastreador no arranque.

— Não comece a trabalhar nisso. — A irritação de Lance estava chegando forte e clara. — Quando retornar, verifique com Davy na garagem.

— Davy trabalhou nisso na primeira vez — informou-o enquanto tirava o cinto de segurança, antes de se inclinar ao lado para olhar os cabos sob o arranque. — Deveria me deixar levá-lo de volta a casa. Eu poderia trabalhar nisso umas horas.

— Um pensamento aterrador — remarcou ele. — Devolva-o à garagem. E pára de mexer nos cabos.

Ela arrancou a mão do arranque com ar de culpa enquanto fulminava com o olhar ao receptor.

— Se o GPS está quebrado, não poderá me rastrear — espetou ela.

Isto não ia funcionar. Era muito paranóica para aquele cenário. A condição de Jonas para colocá-la na polícia era que estivesse sempre localizável. O bastardo.

— Está se enfraquecendo, não desconectando — assegurou Lance. — Segue adiante e o deixe por hoje; volta para a garagem. Talvez Davy a deixe ajudar a arrumá-lo.

Fez uma careta ante o pensamento, depois se acertou em seu assento e suspirou com frustração. Seu olhar se levantou do retrovisor e se congelou pela surpresa.

Um SUV branco e azul marinho tinha estacionado atrás dela, e a familiar forma sentada no assento do condutor olhava rapidamente ao redor da zona em busca de testemunhas.

Maldição, não necessitava isto.

Ligou o intercomunicador, falando enquanto mantinha os olhos no veículo atrás dela.

— Controle, vou ter que tomar um descanso pessoal antes de voltar. Há uma estação de serviço justo à frente.

— Entendido. — A voz de Lenny Blanchard chegou do intercomunicador. — Informarei ao xerife.

O que significava que tinha só uns preciosos minutos.

Saindo do espaço vazio, se encaminhou para a estação da frente, onde girou e conduziu ao redor à parte traseira do edifício.

Dane.

Harmony estacionou o Raider, observando enquanto ele saía do SUV antes de se apoiar contra ele com uma enganosa preguiça.

— Não tenho tempo para isto. — Parou a uns poucos passos dele, observando-o com cautela.

Seguia tão selvagemente desenhado e intrinsecamente formoso como sempre. O cabelo loiro esbranquiçado emoldurava seu rosto enigmaticamente bronzeado enquanto voltava o olhar para ela, com seus olhos verde esmeralda. Era uns centímetros mais alto que Lance, facilmente um e noventa e oito, com um corpo musculoso poderosamente fibroso que fazia à maioria das mulheres ofegar de luxúria.

— Recebi um relatório de que tinha sido capturada. — Seu olhar se arrastou sobre ela.

E aqui estava a parte que sempre a aturdia mais sobre Dane. Como sabia que tinha sido capturada?

— Sim, bem, deixe-me dizer que estou em liberdade condicional — zombou. — E a reunião com você vai causar problemas. Que demônios faz aqui?

— Estou aqui para te resgatar. — Os dentes brancos cintilaram perigosamente. — Está pronta para partir?

Harmony retrocedeu rapidamente. Era mais que capaz de fazê-la ir; o fizera antes. Ela olhou ao redor da área deserta, em busca de reforços. Dane sempre tinha reforços.

— Não posso partir, Dane. — Finalmente, sacudiu a cabeça com firmeza. — Estou segura de que sabe exatamente por que estou aqui.

Dane sempre parecia saber tudo.

Ele cruzou os braços sobre o peito enquanto a olhava silenciosamente durante longos momentos.

— É obvio que pode. — Seus olhos finalmente se centraram nela, avaliativamente. — Tenho um heli-jato esperando fora da cidade. Podemos estar fora daqui a meia hora.

— Já disse, não posso partir. — Apertou os dentes sobre as palavras enquanto sentia que sua mente se rebelava ante a idéia.

Deus, o que estava errado nela? Supunha-se que o calor do emparelhamento afetava seu corpo, não a fazia estúpida. É obvio que podia partir; só que não queria. Isso era tudo. A liberdade era um poderoso chamariz.

— Só tenho que ficar aqui por seis meses...

— Não estará nem seis semanas antes que seus inimigos a encontrem — grunhiu ele. — A mudança de cor de cabelo é um toque agradável. A maquiagem é agradável. Mas a encontrarão, Harmony. Finalmente.

— Não, se tomar cuidado. — E realmente sabia como tomar cuidado.

Dane grunhiu enquanto a observava fixamente.

— Podemos te levar, Harmony. Em alguns meses, poderemos decifrar como hackear os computadores do Escritório e suprimir seus arquivos...

— Jonas não me deixará ir tão facilmente. É melhor levar este jogo até o fim e acabá-lo.

— Ele se preparou para que falhe, amor...

Como se não fosse bem consciente disso.

— Não tenho tempo para isto. — Ela sacudiu a cabeça rapidamente. — Tenho que voltar para o departamento e arrumar esse estúpido GPS. Não posso correr desta vez, Dane. Se o agüentar, então ele limpará os arquivos.

— Engana a si mesma, Harmony. — Seu sorriso era conhecedor. — Ele te apanhou. Posso te tirar.

Ela deu outro passo para trás. Durante anos ele sempre estivera ali, tirando seu traseiro do fogo. A resgatara, tinha salvado sua vida mais de uma vez, e sempre parecia saber exatamente onde estava, e o que estava fazendo em um momento determinado.

E nunca soubera por que. Nunca tinha se perguntado realmente por que, até há pouco.

De repente, a neblina de hormônios, de fome por Lance e confusão clareou de sua mente. Olhou fixamente ao redor da área deserta, os cabelos de sua nuca se arrepiaram antes que seu olhar voltasse para ele.

— Você sabe que estou sendo vigiada — disse, segura daquele fato.

— É obvio. — Seu sorriso era extremamente confiante. — Mas não neste momento. Continua, menina, volta correndo a seu xerife. Perderei o tempo um momento e cuidarei de suas costas. Justo como faço sempre. — Soou como uma ameaça.

— Eu preferiria que você partisse. — Tinha a sensação de que as coisas iam se tornar um inferno de complicadas.

— Estou seguro de que o faria, neném. — Sorriu outra vez enquanto entrava no SUV. — Estou seguro de que o faria. Infelizmente, acredito que minha curiosidade foi despertada.

Com isto, fechou a porta, ligou o motor e se foi.

Não pela primeira vez na última semana, Harmony blasfemou.

Davy não lhe permitiria tocar no Raider.

Harmony avançava energicamente da garagem do departamento, ao longo da calçada que conduzia ao Departamento do Xerife, enquanto a irritação começava a surgir dentro dela.

Com essa antiquada desculpa de mecânico, era o primeiro candidato para um chute no traseiro, com seus comentários lisonjeadores e seus sorrisos presunçosos. Tinha o pressentimento de que o tipo estava fodendo deliberadamente com o GPS, e se descobrisse que isso era certo, ia limpar essa desculpa de garagem com sua cabeça de rabo-de-cavalo.

Imbecil retardado.

Estava à beira de sua paciência para esse dia e sabia. A chegada de Dane era uma complicação que lhe adoecia confrontar, e as implicações eram preocupantes. Dane podia causar problemas. E não entendia por que ele estava ali.

Girou a esquina e cruzou rapidamente os degraus que conduziam ao edifício de tijolo cru de um andar que abrigava os escritórios de Lance. Subiu os degraus de dois em dois, ignorando as olhadas que recebeu de vários transeuntes. Era o uniforme. Todo negro, com a pistoleira descansando na coxa e a insígnia do Escritório de Assuntos da Casta sobre a manga, garantia chamar a atenção. Atenção que realmente não necessitava.

Caminhou através do vestíbulo, e saudou Lenny Blanchard com a mão quando este lançou um sorriso; logo se dirigiu com determinação para o escritório de Lance.

Agarrou o trinco da porta e a empurrou para entrar.

— Lance, essa pobre desculpa de mecânico que tem vai terminar com meus nervos — espetou, enquanto lhe dirigia um feroz olhar através do escritório. — E da próxima vez que ele me chamar de gatinha, vou arrancar aquele rabo-de-cavalo que tem.

A nova essência a golpeou então. Levou um minuto para se dar conta, porque a essência de Lance parecia invadir tudo ao princípio.

Sua mão caiu sobre a arma enquanto se voltava, enfrentando Jonas enquanto este se apoiava distraidamente contra a parede, os olhos centrados nela, as mãos metidas nos bolsos de suas calças de seda.

— Vejo que sua disposição não mudou — remarcou, enquanto Lance ficava de pé, movendo-se ao redor do escritório e aproximando-se de Harmony.

— Posso retornar mais tarde — lançou um olhar furioso a Lance. Podia tê-la advertido antes que tivesse entrado sem se anunciar.

— Acaba de chegar. — Lance se deteve quando estava a vários passos dela, colocando-se obviamente em um lugar onde pudesse interceder se ela decidisse confrontar Jonas.

— Bom. Quando terminar com ele, me avise. De qualquer forma, preciso de uma xícara de café.

— O café puro piora os sintomas do calor do emparelhamento, Harmony — anunciou Jonas, enquanto ela se dirigia para a porta. — Não gostaria disso, não é?

Desenhando um sorriso no rosto, voltou-se para ele e ofereceu a Lance um olhar ardente.

— Isso significa que vamos sair cedo? — sussurrou para Lance.

Um sorriso torceu os lábios de Lance.

— Possivelmente.

— Hmm, então possivelmente tome várias xícaras de café. Avise-me quando terminar.

Agora entraria em um centro de desintoxicação de cafeína, antes de tocar outra xícara de café. Só estava tentando controlar as necessidades que arranhavam seu interior e faziam estragos sobre seu controle. Não ia piorar isso.

— Harmony, não disse que poderia abandonar a reunião — anunciou Jonas, enquanto ela dava a volta para sair outra vez.

Ela inalou lentamente, negando-se a obedecê-lo enquanto agarrava o trinco da porta e o girava rapidamente.

— Ontem à noite, houve um assassinato em Pinon — disse Jonas brandamente. — Um garçom, suspeito de seqüestrar e violar a várias jovens na área. Fatiaram sua garganta.

Ela voltou-se devagar para ele.

— É por isso que veio aqui? — explodiu Lance antes que ela pudesse dizer algo.

Harmony levantou o olhar para ele, surpreendida. Estava furioso. Seus olhos estavam centrados sobre Jonas, o corpo tenso enquanto envolvia os dedos sobre o pulso dela para atraí-la para ele.

— Tem seu M.O.2 — Jonas deu de ombros, o olhar se aguçando enquanto sustentava o de Lance. — Foi assassinado atrás do balcão depois de fechar, deixaram-no ali, para que seu chefe o encontrasse no dia seguinte. Isso encaixa com seus assassinatos anteriores.

— Presumidos assassinatos — ela recordou docemente. — Você não tem nenhuma prova e eu neguei todos os encargos.

— De fato. — Inclinou a cabeça com brincadeira. — Mas ambos sabemos a verdade. Onde esteve ontem à noite?

— Comigo — sussurrou Lance. — Toda a noite.

— Ele sabe, Lance — sussurrou Harmony, suavemente. — Tem uma sombra atrás de mim, e com certeza também vigiam a casa à noite.

A diversão brilhou nos olhos cinza de Jonas.

— E ambos sabemos quão boa é para escapulir. — Afastou-se da parede, embora mantivesse as mãos nos bolsos.

Quem disse que Jonas não podia ser inteligente quando a necessidade se apresentava?

— Saia de meu escritório, Jonas — grunhiu Lance. — Não tem provas de que Harmony não estivesse comigo ontem à noite, e eu tenho toda a prova que necessito de que ela estava ali. Não tem nenhuma jurisdição sobre ela.

— Você foi à cena do crime? — ela perguntou a Jonas.

Jonas assentiu bruscamente.

— Meu aroma estava lá?

Seus lábios se apertaram. Apanhara-o, e ele sabia. Infelizmente, entretanto, seu aroma não estivera em vários de seus assassinatos no passado, e ele também era consciente disso. Morte tinha sido incrivelmente hábil em ocultar a si mesma.

— Não. Seu aroma não estava lá — admitiu ele, com sua voz obscurecida pela fúria.

— Então não tem nenhum direito de me acusar. — Sorriu triunfante. — Parece que precisa encontrar seu assassino em outra parte.

Então o olhar de Jonas deslizou para Lance, os olhos zombadores, enquanto em seus lábios se desenhava um sorriso sardônico.

— Ela não suja os calcanhares com a merda, não é? — perguntou Jonas com divertida indulgência.

— Ela não é um animal, não espero que faça isso. — Lance manteve seu afeto sobre ela, como se estivesse preocupado de que pegasse a arma pendurada ao lado. Era muito tentador, mas seu autodomínio era realmente melhor que isso.

Jonas grunhiu antes de perguntar:

— Então, o emparelhamento vai bem?

A fúria de Lance entrou em erupção imediatamente. Harmony podia cheirá-la, ardendo como uma chama, com o potencial de se converter em uma conflagração.

— Jonas, seus jogos estão ficando pesados — advertiu Lance tranquilamente.

Jonas franziu os lábios enquanto os observava fixamente, procurando suas fraquezas. Harmony podia sentir como os avaliava, procurando uma fratura para se aproveitar dela.

— Como disse antes, só vim para avaliar a situação. — Depois deu de ombros, como se sua visita fraternal fosse algo comum. — Deixarei que siga com seu trabalho. — Seu olhar se aguçou sobre Harmony. — Se eu fosse você, definitivamente colocaria GPS no Raider. Não gostaríamos de nenhuma complicação por isso.

Inclinou a cabeça com ironia antes de tirar as mãos dos bolsos e caminhar para a porta. Harmony nem sequer se despediu enquanto ele saía da sala, mas manteve um olho posto sobre ele, até que a porta se fechou atrás de suas largas costas.

— Um destes dias, vou tirá-lo a chutes de meu escritório — meditou Lance, enquanto soltava seu braço. — Agora, que problema tem com Davy?

— Temos que ir a Pinon — evadiu com um gesto a pergunta sobre o mecânico. — Preciso ver a cena do crime.

Lance exalou com cansaço.

— Já pensei nisso. Avisarei à Xerife Grace e a informarei que vamos para lá.

— Isto não pode ter sido uma coincidência, Jonas sabe disso — soltou ela finalmente. As implicações do assassinato a tinham golpeado desde o momento em que Jonas os informou sobre ele. — Alguém suspeita quem sou.

— Então, teremos que averiguar de quem se trata — sua voz soava áspera como se a tivesse baixado, a comendo viva com seu faminto e sonolento olhar. — Escreve seu relatório enquanto contato com à Xerife Grace e logo nos dirigiremos a Pinon. Eu gostaria de retornar antes que se faça muito tarde.

A Xerife Grace tinha ao redor de quarenta anos, ambiciosa, com uma atitude férrea e amáveis olhos cor avelã. Pés de galinha enrugavam os cantos de seus olhos, e as linhas de seu sorriso aprofundavam os contornos de seus lábios. Mas era toda responsabilidade quando Harmony e Lance chegaram à parte traseira do pequeno edifício de cimento que alojava o Drink In Up, um pequeno bar localizado no limite do condado.

Ela se aproximou de seu Raider azul escuro, tirando os óculos enquanto se apoiava contra a porta.

— Lance, que bom te ver de novo. — Seu sorriso era amistoso, enquanto se aproximavam.

— Katie, como estão Ben e os crianças? — Lance correspondeu a seu sorriso, sua familiaridade com ela era óbvia.

Harmony permaneceu em silêncio enquanto eles intercambiavam brincadeiras, ocultando a impaciência com uma expressão de formalidade social. Esta era outra característica de seu lado assassino. Morte nunca teria tido a delicadeza de perguntar se os crianças estavam bem.

— Katie, apresento Harmony Lancaster, ela está em uma atribuição temporária do Escritório dos Assuntos de Casta. — Lance finalmente as apresentou. — Harmony, Katie Grace, xerife do Condado Outeiro.

Harmony assentiu com frieza.

— Posso ver a cena do crime agora? — perguntou ela em voz baixa.

Os olhos da xerife Grace, brilharam com diversão.

— Recorda a seu tio Wyatt, Lance — disse com voz lenta. — Todo negócios. É um assunto da Casta?

— É um assunto da Casta — respondeu Harmony por ele. — E Jonas é um gatinho. Só terá que saber dirigi-lo.

A outra mulher pestanejou surpreendida, antes que uma gargalhada saísse de seus lábios.

— Siga então. — Deu de ombros. — A unidade de Investigações já terminou seu trabalho lá. Duvido que tenham deixado muito.

Harmony se separou de Lance e da xerife Grace, seguindo o aroma do sangue ao contêiner que estava atrás da porta.

— Trouxe as fotos da cena do crime? — Sabia que Lance as pedira.

Dobrando os joelhos, inclinou-se sobre a mancha sangrenta no caminho de asfalto, calculando o ângulo e a profundidade da ferida apoiada no que via ali.

— Vamos lá. — Passou-lhe o arquivo com um firme estalo.

Abrindo a pasta, Harmony olhou fixamente o cadáver. Traços vulgares, nariz afilado e sua garganta tinha sido definitivamente cortada. O ângulo estava equivocado para ser um de seus assassinatos. Isso era algo que Jonas deveria ter notado.

— Seu assassino era mais alto que o falecido — murmurou ela. — Que altura tinha a vítima?

— Um metro oitenta e três. — A xerife de Outeiro se ajoelhou a seu lado. — Como pode estar segura disso?

— Pelo ângulo do corte. — Passou a unha por cima da ferida. — Segundo a altura do assassino com relação à vitima, as feridas serão diferentes. A profundidade do corte nos pontos de pressão é significativa. Se o garçom media um metro oitenta e três, então, seu assassino deve ser uns centímetros mais alto. Possivelmente, mede um e noventa, ou um e noventa e três.

— O forense ainda está examinando o corpo, mas o diretor de seu Escritório também o revisou. Ele não mencionou isso — comentou Grace.

— Não sabe de facas tanto como eu. — Harmony devolveu o arquivo. — Poderia supor que a arma utilizada foi uma faca K-bar das Forças Especiais.

De fato, o assassino poderia ser um Casta. Ou um soldado do Conselho. Foram desenvolvidos protocolos de treinamento especiais para as Castas simplesmente para que fossem capazes de identificar seus assassinatos.

Harmony tirou um par de luvas de látex de seu bolso e sacudiu uma antes de colocá-la. Passou os dedos sobre a mancha de sangue antes de levantá-los para seu nariz. Tudo o que encontrou foi o desagradável aroma do sangue velho.

Com uma careta, se levantou de enfocar os olhos sobre a mancha.

— A unidade de criminalística encontrou alguma evidência?

— Nada. Além do sangue e o corpo, não temos nada. — A xerife suspirou. — Esperávamos que uma revisão de uma Casta nos desse alguma pista.

Harmony negou com a cabeça. Quem quer que tivesse cometido o assassinato, tinha sido muito cuidadoso, e especialmente minucioso em utilizar seu M.O.

— É similar a muitas mortes ocorridas nos Estados Unidos nos últimos anos — assinalou Grace. — Suspeitos de abuso sexual, dos quais as forças da lei não tinham sido capazes de encontrar provas que os incriminassem. Poderíamos ter um assassino em série em nossas mãos.

Ou um imitador com uma agenda.

Harmony levantou então os olhos para Lance, observando a inclinação de sua cabeça, concentrando-se. O que estaria pensando? Algumas vezes, poderia ter jurado que ele escutava coisas que ninguém mais podia.

— Isto é diferente — respondeu finalmente. — O ângulo do corte, a profundidade e o M.O. É um imitador.

Os olhos de Grace se entrecerraram, enquanto Lance lançava-lhe um olhar de advertência.

— Como disse, sei bastante de facas. — Harmony deu de ombros. — E estudo os assassinatos realizados com eles. Confie em mim, é diferente. Seu forense poderia comprovar, caso se preocupe em estudar outros assassinatos com mais minúcia. Não sei o que tem você aqui, mas este não foi um crime cometido por um vigilante.

Isso parecia ser mais uma montagem.

Grace exalou com cansaço.

— O forense já começou a revisar os outros assassinatos, a pedido do Diretor Wyatt. Ele que nos sugeriu a possibilidade.

Por que Jonas faria isso?

Harmony manteve a cabeça inclinada, os olhos nas escuras manchas enquanto lutava por dar algum sentido ao comentário da xerife.

— Essas são cópias das fotos da cena do crime, Katie? — Lance perguntou então. — Eu gostaria das guardar se puder; talvez Harmony possa revisá-las depois, e notar algo diferente.

— Sim, são cópias. — Entregou-lhe o arquivo. — Espero que possa encontrar algo. Eu não gostava muito de Bert Feldon, mas até que fosse declarado culpado, tinha o direito de respirar.

Se fosse inocente, teria direito a respirar, pensou Harmony, guardando o pensamento para si mesma. A essas alturas, não havia nada a dizer.

— Encontrou algo em sua casa? — perguntou à xerife, em vez disso.

A xerife Grace negou com a cabeça.

— Estava limpa. — Logo deu uma olhada em seu relógio, respirando com aspereza. — Tenho que ir, mas se necessitarem algo mais só me deixem saber.

— Obrigado de novo, Katie, e dê ao Ben minhas saudações. — Lance cabeceou enquanto ela se despedia com a mão e dava a volta.

— Estou pronta para ir — disse Harmony enquanto a xerife se dirigia a seu veículo. Negou-se a olhar para Lance enquanto caminhava para seu Raider.

— Jonas tentaria te culpar, Harmony? — a pergunta que Lance colocou não a surpreendia.

Abriu a porta do Raider e se acomodou no assento. Passou os dedos com cansaço através do cabelo.

— Infernos, se soubesse que mais faria Jonas... — Suspirou — Mas ele não cometeu esse assassinato. — Poderia, entretanto, tê-lo ordenado.

Harmony permaneceu em silencio durante a volta para Broken Butte, sua cabeça dava voltas, seu olhar se concentrou na paisagem fora do guichê.

Estar apanhada dentro do Raider com Lance era um inferno com a excitação atormentando-a, e isso fazia com que fosse impossível pensar com clareza.

Enquanto Lance estacionava o Raider em frente da casa, Harmony saltou do veículo e caminhou ao redor.

— Eu não cometi esse assassinato — informou, enquanto a raiva começava a arder dentro dela. A raiva e a excitação, a frustração e a irritação... estavam começando a se levantar com a fome que a carcomia.

— Nunca pensei que o fizesse — declarou ele enquanto se movia atrás dela. As chaves da casa tilintavam em sua mão enquanto se dirigiam para a porta principal.

— E quem opina como eu o fizesse? — sussurrou ela, enquanto o olhava. — Acha que é tão bom, para que eu não possa me deslizar da casa sem que se inteire? Confie em mim, Lance, sou o suficientemente boa para fazê-lo.

— Sim. É o suficientemente boa. — Assentiu, sua expressão era séria, embora se não estivesse equivocada, em seus olhos podia ver um brilho de diversão.

— Como poderia perceber? — Ela bufava enquanto caminhavam para o alpendre e Lance abria a porta devagar.

Era muito crédulo para ser um oficial, pensou. Ele devia ter suspeitado imediatamente dela, não defendê-la imediatamente.

Ela entrou cautelosamente na casa, o olhar indo rapidamente à entrada, a cozinha/sala de janta e o nível inferior da sala enquanto Lance caminhava atrás dela.

— Os sistemas de segurança podem ser evadidos, Lance — recordou com severidade.

— Mas os ventos não.

Harmony deu a volta, no momento em que um ancião saía da habitação de Lance, suas pernas arqueadas estavam revestidas com calças de pele de cervo e uma camisa negra do «Metallica» lhe cobria o torso. Longas tranças cinza caíam sobre seu peito, e sua muito enrugada cara estava estirada com um sorriso enquanto Lance afastava a mão de Harmony de sua arma.

— Acalme-se, gatinha selvagem — disse e suspirou. — Apresento meu avô, Joseph Redwolf. Avô, ela é...

— A assassina. — Os olhos negros se enrugaram com um sorriso, enquanto avançava lentamente, a cabeça inclinada, as nodosas mãos colocadas dentro dos amplos bolsos de suas calças. — Ela não parece uma assassina, Neto. Talvez neste caso, os ventos não sussurraram todos os segredos a meus anciões ouvidos. O que você pensa?

— Penso que estou preparado para tomar um gole — disse Lance e suspirou novamente. — Um longo e muito carregado gole. Alguém quer se apontar?

— É uma mulher formosa, Neto. A terra fez uma boa criação para você — comentou Joseph, enquanto Lance se servia seu segundo gole e se perguntava quando infernos ia terminar esse dia.

— Não comece, Avô — grunhiu.

Joseph riu entre dentes, foi um rugido áspero que lhe recordou a idade de seu avô. Voltou-se para o ancião, observando-o atentamente. Joseph não esteve se movendo muito a seu redor ultimamente. Estivera passando mais tempo do que o usual em casa.

— Ah, é bom te ver finalmente estabelecido — assentiu Joseph, firmemente. — A terra sussurra o nome dela junto ao seu, e a música de seu prazer pinta bem. A viagem que empreendam juntos será o único que o desafia.

Lance suspirou ante isso. Seria o que mais se alegraria dos dois, se pudesse encontrar sentido nos sussurros do vento, porque estava seguro como o inferno de que não estava fazendo nenhum avanço.

— Mas essa viagem trará perigo. — Joseph o olhou fixamente— Sussurra morte, mas não de sangue. Há vezes em que uns ventos não são tão generosos como outros.

Essa era uma das razões, pelas quais Lance tinha lutado contra as mensagens que o vento lhe trazia. Nunca havia respostas, só mais pergunta.

— Ainda lutas contra os segredos que lhe trazem, Neto? — Joseph perguntou finalmente, com tristeza.

Lance suspirou cansativamente.

— Estou tentando, Avô. — Voltou seu atento olhar para o ancião. — Mas como você diz algumas vezes, uns ventos não são tão generosos como outros.

Joseph assentiu com a cabeça, devagar.

— Mas pode escutar o que é importante. Sabe que ela é sua mulher, e o perigo é contínuo. Ouça-os, e a acompanhe através disto.

— Ou acompanhe a minha morte — murmurou Lance antes de tomar seu gole.

— Não escutei nenhum lamento de sua morte — Joseph deu de ombros. — Se terminar morto, então será por sua própria ignorância, não pela vontade da terra.

Esse era seu avô, compressivo até o final.

— É bom saber que ainda há algo que está em minhas mãos — grunhiu Lance, frustrado. — Estava começando a me perguntar isso.

Seu avô riu entre dentes por seu comentário.

— Só desejava me deter por aqui, e conhecer sua jovem mulher — disse Joseph. — Entretanto, agora sei por que escutei esses lamentos nos ventos. Ela é uma mulher ferida, não é?

Ferida era uma palavra aprazível em comparação com o que sentia dentro de Harmony. Às vezes podia sentir seus pesadelos, sentir a dor que a embargava, e seu temor de necessitar a alguém.

— Sim. É. — Golpeou o copo contra o balcão antes de fazer uma careta. — Jonas a trouxe aqui, e tenho o pressentimento de que está jogando um jogo muito perigoso com ela.

— Ah sim, Jonas Wyatt. — Joseph suspirou. — É uma pessoa muito difícil, esse jovem leão. Luta contra o que é, e pelo que sua alma deseja. Quando um guerreiro luta com uma parte tão elementar de si mesmo, está obrigado a ferir freqüentemente aos outros. É seu destino aprender suas lições da maneira difícil.

— Isso terminará com meu punho, se ele continuar com isto — sussurrou Lance. — Estou me cansando de seus jogos. Especialmente do jogo que está levando a cabo com Harmony.

— Há muitas forças que tentam afastá-la de você, Neto. Não só Jonas. A pergunta é: permitirá que tomem o que te pertence? — Joseph perguntou então. — A compreensão é uma excelente qualidade em um homem. Mas algumas vezes, um homem deve demonstrar a sua mulher que de fato é o suficientemente forte para se emparelhar com ela. Às vezes, isso ensina à mulher que deve se dar conta quando o perigo se aproxima sussurrando seu nome. Possivelmente deveria pensar nisso.

Lance voltou o olhar para seu avô, amaldiçoando uma vez mais, embora silenciosamente, as adivinhações que Joseph Redwolf era propenso a dizer. Simplesmente não podia vir e lhe dizer algo. Tudo tinha que ser uma lição, ou um enigma que decifrar.

— Jantamos? — sugeriu Lance, como uma maneira de aliviar o ambiente. Como de costume, as respostas viriam a ele, ou a vida lhe chutaria o traseiro com bastante força por não ver o ponto de vista que seu avô estivera tentando lhe ensinar.

— Jantar seria bom, mas prometi a Megan que jantaria com ela e com suas jovens Castas depois de te ver. Está preocupada com você. Permanecer afastada de você neste momento não é fácil para ela, mas agora entendo a razão pela qual não perguntou por isso. As emoções apanhadas no interior de sua jovem Leoa poderiam curvá-la.

— Sim. Fariam. — Infernos, estavam a ponto de curvar a ele, e nem sequer era empático. — Dá minhas saudações a Megan, avô. Diga a ela que a verei logo.

— Farei — assentiu Joseph enquanto se dirigia para a porta principal. — E você mantenha a sua jovem mulher muito perto de si, Lance. Não dê ao perigo que a espreita uma oportunidade de atacar. Não tem amigos de verdade além de você. Ainda.

E com esse enigmático comentário final, Joseph se dirigiu à porta principal e saiu. Lance se serviu outro gole. Ia ser uma tarde muito longa.

Havia momentos em que Harmony benzia seus sentidos animais, e havia outros nos quais os amaldiçoava. Caminhar dentro da casa, e compreender que sentia falta da presença do avô de Lance era uma daquelas vezes nas que amaldiçoava a si mesma.

Havia pessoas que deviam ser evitadas a todo custo, simplesmente porque eram tanto uma parte da natureza, da terra que os rodeava, que a terra lhes falava. Sua parte Leão reconheceu isso em Joseph Redwolf. Era um filho da terra, em completa sincronia com ela e, como tal, era capaz de ver mais à frente, onde outros não podiam. Igual a sua neta, Megan Arness, mas ainda assim, diferente dela.

Harmony não tinha detectado a sutil mudança de poder a seu redor, que normalmente lhe advertia que um psíquico estava presente. Mas também sabia que havia aqueles que viam coisas, sabiam coisas, sem ativar suas defesas. Tinha o pressentimento de que o avô de Lance era uma dessas pessoas. Estava começando a se perguntar se Lance o era também, porque seguia encontrando caminhos sob suas defesas. Um olhar. Uma carícia. Um certo tom de voz.

Tinha o terrível pressentimento de que se ficasse ali muito mais tempo, se afastar depois ia matá-la. Não era seu costume formar laços emocionais ou amistosos. As possibilidades de que seu coração se rompesse somente cresciam. E em menos de uma semana, essas possibilidades estariam seriamente fora de controle.

Quando a noite avançou, Harmony usou a escuridão de seu quarto para pensar. Estirada no chão, se empapando com o suor dos abdominais que tinha realizado, lutou por clarear sua mente. Se concentrar no ardor de seus músculos, em vez de pensar na excitação que ardia através de seu corpo.

Podia pensar em meio dos treinamentos. Quem tinha matado ao garçom? Que inimigo conhecia, que era capaz de tratar de culpá-la em vez de lhe disparar? Ela era acessível aqui. Não havia forma de se esconder da arma de um franco-atirador, o que significava que não era uma operação do Conselho. O Conselho a queria, mas não morta. Não tinha nenhuma utilidade para eles morta. Se era condenada por cometer outro assassinato, então até onde eles sabiam, Jonas não hesitaria em matá-la.

Fazia outros inimigos, é obvio. Um assassino tinha uma tonelada deles. Mas Harmony tinha sido cuidadosa. O personagem de Morte era muito diferente ao que interpretava como Harmony. Harmony podia caminhar pelo centro da rua de uma cidade, comprar nas lojas mais exclusivas e jantar nos melhores restaurantes. Morte tinha que usar a cobertura da noite e se esconder nas sombras.

Limpando o jorro de transpiração em seus olhos, se derrubou no tapete, respirando com dificuldade enquanto lutava por tomar uma pausa antes de começar com outra série de abdominais.

Alonzo estava na cidade. Conhecia morte, mas não conhecia Harmony. Podia saber que havia uma Casta na polícia, mas se tinha conectado às duas, não estaria organizando uma montagem tão elaborada. O bastardo.

Além disso, Alonzo não podia ter nenhuma idéia de que ela conhecia seus segredos, seus laços com o Conselho e a operação na França dez anos atrás.

Nada disto tinha sentido.

Franziu o cenho para o teto, lutando para pensar em algo que não tinha nenhuma base. Sempre cabia a possibilidade de que o assassinato do garçom fosse um acontecimento anômalo, mas Harmony não acreditava nas coincidências. Não existiam para ela.

Nada existia para ela, só Morte.

A dor que apertou seu peito devido a esse pensamento quase a deixou sem fôlego. Tinha vinte e cinco anos. Vinte desses anos, passara matando.

Levantou as mãos do chão e as observou fixamente; inclusive na penumbra da habitação, via o sangue. Muito sangue brotando de suas mãos, manchando sua alma e tudo o que tocava.

A todos os que tocava.

Oh, Deus, o que estava fazendo ali? Um sorriso meio histérico quase atravessou seus lábios. O que a fazia pensar que podia fazer isto? Que poderia ter a liberdade que Jonas lhe dera.

Seis meses. Ele sabia que nunca agüentaria seis meses. Sabia que seu passado a espreitaria, a encontraria, e estava aterrada de que isso fosse exatamente o que tinha passado.

Enquanto jazia ali, o som do trinco da porta girando a fez agarrar a arma que tinha a um lado e se ajoelhar, soltando a trava enquanto a porta se abria.

— Está louco? — gritou com fúria a Lance, enquanto ficava de pé em uma onda de ira. — Não faça isso. Nunca.

Permaneceu emoldurado na porta, uma mão assegurada contra a ombreira enquanto olhava com fixidez o quarto. A luz do vestíbulo o obscurecia, mas sabia que a revelava com claridade. Vestida com uma ajustada camiseta de algodão e bóxers combinando e empapada em suor, nenhuma parte de seu corpo se escondia a seu olhar.

Seus mamilos se apertaram contra o tecido e seu cl*tóris pulsou de antecipação enquanto o olhava fixamente. Descamisado. Deus, não podia colocar uma camisa? A única coisa que a salvou de ofegar de luxúria foi o fato de que ele estava na sombra e não podia ver claramente os detalhes.

Mas podia cheirar. E o aroma dele era sem dúvida quente. Calor de deserto e ventos tormentosos. A combinação fez que as glândulas de sua língua se inchassem mais e que o doce sabor da excitação se derramasse em sua boca.

Genial. Simplesmente genial, pensou. Tinha conseguido manter esse calor do emparelhamento sob controle durante dois dias, só para ser deslumbrada por um peito nu e seu aroma.

— Simplesmente vai ficar aí de pé? — Caminhou para a mesinha de noite, acendendo a luz para ter ao menos a vantagem de vê-lo. À diferença da maioria das Castas, sua visão noturna não era precisamente excepcional.

Talvez devesse ter deixado as luzes apagadas.

Ele se moveu enquanto o olhava, os músculos de seu duro peito ondeavam, seus músculos abdominais apertando a desabotoada cintura de seu jeans apanharam os olhos dela.

— Está empapada de suor — observou ele. — Ficar aqui se exercitando como um demônio é melhor que estar em minha cama?

— Sim! — Não.

A expressão dele se tornou exigente enquanto sacudia um dedo para ela.

— As meninas que mentem estão pedindo um açoite no traseiro — advertiu ele.

Isso não a acendeu. Não o fez.

Cruzou os braços sobre o peito e o olhou fixamente.

— Eu não tentaria fazê-lo, se fosse você — chiou ela.

— O que? Te açoitar? — O sorriso torcido que se desenhou em seus lábios era de pura luxúria. — Te prometo, neném, que o desfrutaria.

Estava a dois segundos de soltar um verdadeiro grunhido. E odiava interpretar o estereótipo da Casta.

— Exatamente, o que você quer? — perguntou a ele, com os dentes apertados.

— Exatamente? — Ele arqueou uma sobrancelha com ironia. — Está segura de que quer que responda a isso?

Jogou uma olhada ao relógio.

— Já passa da meia-noite. Não tem que trabalhar pela manhã?

— E você não? — respondeu ele, sua voz era sedosamente escura, acariciando seus sentidos com quase o mesmo efeito que obtinham suas calosas palmas sobre a pele dela.

Quando entrou no quarto, o ar ao redor dela pulsou com fome.

Deus, o que ia fazer com ele?

— Lance, por favor. — Retrocedeu, encarando-o agora com desespero. — Vá para a cama.

— Venha comigo, Harmony — sussurrou, se aproximando um pouco mais, a cor morena escura de sua pele brilhando. — Me deixe te abraçar de novo enquanto dorme. Eu cuidarei de você, neném.

A tentação fez com que um calafrio percorresse sua pele. A abraçara enquanto dormia na outra noite. Tinha sido incapaz de evitá-lo, não pôde detê-lo. Só quisera dormitar, mas antes que pudesse se deter, tinha caído no abismo que a esperava. E dormira sem sonhos.

Negou com a cabeça, sentindo o toque do cabelo sobre os ombros, acariciando a sensível pele, recordando seu toque.

Ele se aproximava mais a cada segundo que passava, até que ficou a poucos centímetros dela, rodeando-a com seu calor. Nem sequer tinha notado que estava gelada até que seu calor a envolveu.

— Está molhada, neném — sussurrou ele, a mão agarrando sua camisa e levantando-a. Permita-me te ajudar a tirar isto.

A camisa já tinha passado por sua cabeça quando Harmony piscou para ele, confusa. Como tinha feito isso?

— Lance. — Suas mãos estavam apertadas contra o peito nu dele, e logo gemeu, compreendendo que sua derrota estava só a segundos enquanto sentia suas palmas empapadas com o calor do corpo dele.

— Sim, sente isso — cantarolou ele. — Me deixe te esquentar, neném.

Harmony sentia como seus lábios se separavam desamparadamente, seu corpo inteiro se esticando, se preparando para o selvagem calor de seu beijo. Mas em vez disso, simplesmente lhe acariciou os lábios com sua boca.

As mãos dele se deslizaram para sua cintura, as palmas calosas a acariciando com ardente prazer até que se cavaram nos pesados montículos de seus seios. Os polegares acariciaram seus mamilos e ela se sentiu ofegar.

Estava ofegando por seu toque. Agarrou com suas mãos os pulsos dele, enquanto sentia cada terminação nervosa de seu corpo pulsando, esperando.

Estremeceu enquanto polegar e indicador aplicavam uma erótica pressão à endurecida ponta de seu mamilo, enviando uma ardente onda de prazer correndo através de seu estômago. Conteve o fôlego ante essa sensação enquanto lhe enterrava as unhas em seus pulsos.

— Não podemos seguir fazendo isto. — Seu lamento era débil, suplicante. — Não me faça isto, Lance.

— Fazer o que? Te fazer admitir que me necessita? — Moveu os lábios sobre a mandíbula dela, deixando uma esteira de fogo. — Te fazer sentir o que sinto, Harmony? Ardo por ti, neném. Arde você por mim.

Acaso ele não sabia que as chamas devoravam constantemente seu interior, destruindo sua vontade, suas defesas?

— Só sente por mim, Harmony — cantarolou. — Somente um momento mais.

Quando os lábios dele retornaram aos seus, fundiram-se neles, beijando-a com um desejo e ardor que não podia negar. Profundo, bebendo a sorvos beijos que narcotizaram sua mente e fizeram girar seus sentidos.

— Assim, carinho. — Ele estava respirando com dificuldade, com aspereza, quando se afastou para trás, deslizando uma mão sob seu torso, sobre seu estômago enquanto ela se esforçava por abrir os olhos.

Um segundo depois a palma se deslizou entre suas coxas, pressionando o dolorido centro de seu corpo enquanto sentia que um vertiginoso varrido de prazer a rasgava.

Não pôde evitar apertar as coxas, mantendo sua palma nesse lugar. Embalou-se ajustada sobre seu sexo, a base da palma apertando contra seu cl*tóris, o pressionando com devastadores resultados.

Debaixo de suas mãos, a pele dele estava acalorada, debaixo de seus lábios a forte coluna do pescoço a chamava. Sua pele tinha sabor de excitação masculina e calor, se agarrando à língua dela e se mesclando com o hormônio que se derramava das glândulas que tinha debaixo. O intoxicante sabor a tinha rogando por mais, seus dentes arranharam a pele dele enquanto seus sentidos renasciam.

Suas defesas desmoronaram, incapaz de suportar o peso de suas fomes combinadas. A batalha que liberavam a fome e a necessidade surgindo através dela era a única coisa que não podia ser liberada nos braços dele.

— Assim, neném — sussurrou ele contra sua clavícula, baixando a cabeça, se dirigindo indevidamente para as cristas endurecidas de seus mamilos enquanto sua palma lhe inflamava o cl*tóris, pressionando o suave algodão de suas calcinhas e dos bóxer contra ele. Amassou a mão contra ela, arrancando um áspero lamento dos lábios enquanto brilhantes labaredas de prazer a rasgavam.

Estava perdida nele. Um toque e estava se derrubando e nem sequer lhe importava. O passado, o presente, o perigo rodeando-a... tudo ameaçava se dissolver a seu redor, e quando o fizesse, sabia que estaria morta. Ela não podia fazer isto. Não podia permitir que sua fome destruísse a única coisa boa que encontrara alguma vez em sua vida.

Amar a Lance era uma fraqueza. Uma fraqueza que podia fazer que o matassem.

— Não. — Separou-se dele, insegura de onde tinha tirado a força para fazê-lo.

Tropeçando contra a cama, conseguiu se agachar, recolheu sua camisa do chão e a sustentou contra seus seios enquanto lutava por se afastar dele.

Com a longitude do quarto entre eles, voltou-se, olhando fixamente suas costas enquanto ele respirava pesadamente, com a cabeça inclinada, as mãos apoiadas sobre os quadris. Estava lutando para se controlar, podia vê-lo em cada músculo de seu corpo.

Quando voltou-se para ela, estremeceu-se pelo brilho de seus azuis olhos e a selvagem projeção de sua expressão.

— Quanto tempo mais acredita que pode correr, Harmony? — Sua voz era um áspero grunhido. — Poderá seguir fazendo isso durante seis meses, neném?

— Tenho que fazê-lo — soltou ela, odiando a expressão de seu rosto, a fome e a necessidade, a certeza de que ela ficaria. — Acaso não entende, Lance? Não posso fazer isto. Não importa o que a natureza queira, ou o que eu queira. Não posso fazer isto.

Apertou os punhos na prega de sua camisa, lutando por deter a necessidade de voltar para ele, de tocá-lo.

— E por que não pode fazê-lo? — espetou. — Porque é uma dura assassina? Pobre pequena Casta que tem que lutar sozinha. Isso é puro lixo e sabe.

— Não, não é nenhum lixo — replicou ela com fúria. — É a verdade, o que acontece é que está muito fodidamente excitado para vê-lo.

— Oh, tem razão que excitado, neném. Estou tão condenadamente duro, que poderia te foder durante uma semana sem parar. E estarei condenado, se me deixar desta maneira para sempre. É minha fodida companheira. Acredita que pode se afastar disto? Pensa que isto vai se acabar algum dia?

Estremeceu quando ele gritou, o irritado som de sua voz atestando sua crescente frustração e irritação.

— É somente luxúria. — Ela sacudiu a mão no ar, tão desesperada para acreditar como se dizê-lo o fizesse verdadeiro. — Uma reação química. Acabará.

— E você só está enganando a si mesma.

Harmony saltou para evadi-lo quando ele foi rapidamente para ela, a mão dele agarrou seu pulso, puxando a mão para suas coxas.

— Sente isto, Harmony.

Choramingou enquanto apertava os dedos dela em cima de sua dura e longa ereção, sob seu jeans.

— Isto não vai desaparecer. Acordo com isto e vou dormir com isto. E Por Deus, se você tentar me dizer que não está tão molhada como eu duro, foderei você aí onde está só para te demonstrar que está equivocada.

— Isto acabará.

— Não— resmungou ele enquanto se separava dela tão rapidamente como a tinha agarrado.

— Então, eu o farei — sussurrou ela, doída pelas necessidades que a rasgavam. —Não entende, Lance? De tudo o que conheci em minha vida, é realmente o único bom que me tocou. Está me pedindo que assuma o risco de permitir que o que sou, destrua a você. Não posso fazê-lo. Não posso ficar aqui. Nunca poderei ficar. Morte está sendo caçada, Lance, pelos soldados do Conselho e também pelos oficiais da lei. E queira admiti-lo ou não, me encontrarão algum dia.

Ele permaneceu quieto.

— Acreditei que era uma lutadora — disse ele com calma. — A menina que escapou do inferno e eliminou aos monstros que tentavam destruí-la, era uma lutadora. Quando cresceu, se converteu em algo completamente diferente. A menina sabia como viver. O que aconteceu quando ela cresceu, Harmony?

— Aprendeu que só a morte importa — disse ela com tristeza. — Porque é ali onde tudo termina, Lance. Tudo o que toco, termina em morte.

— Como poderia? — sussurrou ele. — Porque segue correndo, Harmony. Talvez se deixasse de correr, só por um momento, poderia encontrar um pouco de coragem para lutar. É preciso mais guelra para permanecer de pé e lutar que para se esconder e assassinar. Prova-o alguma vez, neném, possivelmente poderia encontrar um pouco de coragem com o tempo. — Seu olhar varreu sobre ela de novo. — Ou possivelmente, esse é seu problema. Você não tem que temer ao que não tem que enfrentar. Não é assim?

— Isso não é verdade. — Agitou a cabeça com ferocidade.

Não tinha razão. Não podia ter razão. Ela não estava assustada de nada nem de ninguém. Ela era Morte.

— É verdade, Harmony. Se divirta matando a si mesma com abdominais enquanto trata de negá-lo. Pessoalmente, tinha uma cura muito mais agradável em mente. Mas você somente o fará a sua maneira. Por agora.

— O que quer dizer com isso? — Os olhos dela se enfocaram sobre ele com suspeita, enquanto lutava contra o pressentimento de que a paciência de Lance estava se esgotando rapidamente.

— Exatamente o que disse. Trata de fazer flexões de peito. Parecem ajudar mais. — Seu sorriso era tenso enquanto saía do quarto. Entretanto, a ameaça perdurou atrás dele. Enquanto sua acalorada necessidade a arranhava.

Deitando no chão, começou a fazer flexões de peito.

Na tarde seguinte, Lance substituiu o decrépito Raider pelo seu próprio. Infelizmente, ele ia no mesmo veículo. Para jogar mais sal na ferida, também trocou seu horário.

— Se for ficar levantado toda a condenada noite, então bem posso estar trabalhando — tinha estalado essa manhã, quando informou da mudança.

Quando entrou a chamada de um distúrbio e uma briga em um dos bares mais populares, ela quase esfregou as mãos de alegria. Se sentou na frente, colocando o cinto de segurança, enquanto Lance ia a toda velocidade para o estabelecimento.

Não tivera uma boa briga em meses. Infelizmente, enquanto a adrenalina começava a correr através de suas veias, o calor que se construía em seu corpo se incrementava. A excitação era quase um narcótico em seu sangue enquanto sua pele se sensibilizava e suas terminações nervosas começavam a pulsar.

Estava tirando o cinto de segurança e dando um puxão na porta para abri-la antes que o Raider tivesse se detido completamente. Ignorando Lance enquanto este gritava seu nome, dirigiu-se para o bar e à luta que havia dentro.

— Oh, não o fará. — Agarrou-a pelo braço, segurando-a em um inesperado freio enquanto o contemplava, sobressaltada.

— O que?

— Tome suas declarações! — Apontou imperiosamente para o pequeno grupo de pessoas que havia fora. — Agora.

— Mas a briga...

Oh Deus, realmente precisava gastar energia. Podia sentir a necessidade bloqueando seu estômago, crescendo em suas veias.

— As declarações — grunhiu ele, com essa expressão em seus olhos que a fez vacilar. — Agora.

Ela grunhiu furiosamente, mostrando seus caninos enquanto o som retumbava em sua garganta. Agarrando-a pela mão, ele colocou seu caderno nela.

— Agora. — Esse tom era primário, um completo som alfa que a deixou desconcertada por um momento. — Já.

Tomou as declarações, soltando fumaça pela injustiça disso enquanto ele e os outros agentes começavam a limpar o bar.

— Isso não foi justo — resmungou quando ele saiu do bar uma hora depois, com um corte na têmpora, enquanto arrastava a um ossudo vaqueiro pelo pescoço da camisa para o carro patrulha que o esperava. — Eu poderia ter ajudado.

Ele grunhiu com rudeza.

— Não teria um olho arroxeado se tivesse me deixado ajudar — replicou ela, o punho apertado ao redor de seu quebrado caderno. — Não posso acreditar que fez isto.

Não podia acreditar que tinha obedecido cegamente a ele, como se fosse uma idiota total que não soubesse como lutar. Nunca tinha obedecido a nenhum homem em sua vida. Por que demônios estava começando agora?

— Sua atitude está começando a me irritar severamente, Xerife — informou ela, tentando não analisar muito profundamente o fato de que teoricamente tinha que esconder a cauda entre as pernas e obedecer.

— Pegou essas declarações?

— Cada uma delas — respondeu com falsa doçura, deslumbrando-o enquanto ele encontrava seu olhar sem um sinal de desculpa. — Deveria ter me deixado entrar ali.

— Por quê? — ladrou ele enquanto se voltava e se dirigia para o Raider. — Para que pudesse gastar uma parte dessa energia que brama através de seu corpo? Acredito que não. Entra no Raider.

Abriu-lhe a porta de um puxão enquanto ela passava a seu lado.

— Essa é a coisa mais idiota que escutei saindo de sua boca — resmungou depois que ele empurrou sua porta para fechá-la e deu a volta para ir a seu lado. — Eu não sou um mascote que possa colocar no conto e ordenar "sente-se".

— Isso é para os cães. — Girou a chave de contato antes de colocar o Raider em marcha. — Todo mundo sabe que os gatos não podem ser treinados.

A indignação rugiu dentro dela.

— Eu não sou um gato — sussurrou.

Merda. Odiava esse som.

Também odiou o afetado sorriso que cruzou os lábios dele.

— Acredita que com isto vai conseguir me colocar em sua cama? — voltou-se para ele, sarcástica, com o lábio levantado em um sorriso de desprezo. — Apenas acredito, amante. Terá que me dar um pouquinho mais de excitação que me enviar a tomar essas malditas declarações para conseguir que estale.

Lance simplesmente grunhiu em resposta. E simplesmente o odiava quando ele fazia isso.

Enquanto Harmony abria a boca para responder, uma chamada da central anunciou um problema doméstico. Imediatamente Lance ficou quieto, gelado pela fúria enquanto respondia a chamada.

— O que acontece? — Podia sentir como a fúria o percorria.

— Tommy Mason. — Cuspiu o nome. — A última vez que fomos chamados a essa casa, tinha golpeado a sua esposa até quase matá-la. Ela jurou que não a havia tocado. Ele conseguiu violar cada maldita lei de violência familiar que há nos livros.

Harmony respirou lentamente.

— Acho não sou a mais indicada para atender essa chamada — disse finalmente. — Não sei lidar muito bem estas situações, Lance.

Coisas como esta que a tinham colocado na atual situação. A injustiça dos monstros do mundo saindo literalmente impunes de torturas e assassinatos. Tinha visto os olhos frágeis de suas jovens vitimas, ou os corpos quebrados e inanimados de jovens mulheres. A justiça nem sempre fazia pagar por seus crimes aos animais raivosos.

— Então melhor começar. — Acelerou o Raider quando saiu do estacionamento do bar, ligou as sirenes e se dirigiu para os subúrbios do povoado.

— Xerife, dispararam em nós — Informou a Central enquanto Lance fazia um giro rápido. — Mason disparou na Polícia Estatal quando trataram de entrar. Agora temos uma situação com reféns.

A maldição que Lance murmurou fez que arrepiasse o cabelo da nuca dela, enquanto o Raider riscava uma curva e as brilhantes luzes dos carros da Polícia Estatal se vislumbravam ao longe.

— Fica no Raider — ordenou ele tranqüilamente. — Eu me ocuparei disto.

— É uma merda— avisou ela com frieza.

— Olhe, Harmony, a esposa de Mason tem um criança. Converteu isto em uma situação de reféns, e se estiver bêbado, vai se comportar de forma imprevisível.

— Você tomou a decisão de me trazer aqui. — Se havia uma criança envolvida, não havia nenhuma possibilidade de que ficasse dentro do Raider.

— E estava equivocado — disse ele brandamente, seu olhar se abrandou de repente, parecendo arrependido. — Não deixarei que se arrisque dessa maneira. Fica no Raider.

— Não se preocupe, Xerife, não o envergonharei. — Seu sorriso, esperava, era tranqüilizador. Não podia pressioná-lo quando estava fazendo algo totalmente inesperado. Infernos, quase a fazia se sentir arder sem tocá-la. — Você cuidará de seu traseiro e eu cuidarei do meu.

O Raider se deteve atrás dos carros da Polícia Estatal. Harmony seguiu Lance quando este saiu do veículo, se mantendo agachados enquanto se aproximavam do oficial chefe.

— Começou a disparar logo que tentamos entrar, Lance — sua insígnia o creditava como o Comandante Steven Noonan.

Vários centímetros mais baixo que Lance, estava parado perto da porta aberta de seu carro enquanto olhava fixamente a casa.

— Prendeu-a no quarto da frente. Cada vez que tentamos nos mover, dispara em nós. Ameaça matar a mulher.

— Jaime está lá dentro? — perguntou Lance.

— Não mencionou ao criança, mas os vizinhos dizem que ele está em casa — o comandante fez uma careta. — De qualquer forma, não vimos sinais dele.

Com a atenção de Lance distraída pelo comandante, Harmony deslizou lentamente pela parte traseira do carro, dirigindo-se para a sarjeta escura que corria pela frente da casa. Ao jogar um olhar completo à casa do homem armado, pensou que este não era até onde ela sabia o melhor curso de ação, e seguro como o inferno, que isso não ia ajudar ao criança nem a sua mãe.

Harmony tinha uma idéia muito melhor, e não era o bastante estúpida para pedir permissão.

Agachando-se enquanto chegava à parte traseira do carro, deslizou pelo chão, tentando avançar lentamente para a sarjeta que começava justo do outro lado do carro.

— Pare! — Uma mão forte se fechou ao redor de seu tornozelo.

Rodando sobre suas costas, olhou fixamente a Lance.

— Posso liberá-los sem que ninguém morra. Juro. — Voltou o olhar para Lance com calma. — Por que arriscar vidas? Sabe que posso fazê-lo, Lance.

— E se o criança estiver morto? — grunhiu ele, mantendo sua voz baixa apesar da fúria que pulsava em seu interior. — Então o que fará, Harmony?

Ela sabia o que estava perguntando. Se matasse, Jonas a teria. Sobretudo nesta situação.

Inalou com dificuldade.

— Então, o bastardo viverá. Por agora — sussurrou ela. — Ou que até que seu excelente sistema de justiça diga que ele poderia não ser culpado. Então, teremos que repensar o assunto.

Os olhos de Lance se estreitaram.

— Sou rápida e muito silenciosa. Nunca me verá chegar. É um golpeia-esposas de merda, Lance. Não um Coiote de caçada. Posso me ocupar dele.

Um tiro foi disparado desde interior e o som do lamento da mulher o fez se encolher. Lentamente, soltou seu tornozelo. Colocou a mão dentro da pequena bolsa pendurada de seu cinturão, e tirou um jogo de intercomunicadores pessoais que se encaixavam na orelha, o pequeno microfone se estendendo para se apoiar sobre a bochecha.

— Use isto. — Entregou um a ela enquanto colocava o outro sobre sua orelha. — Se tiver que usar uma bolsa para corpos esta noite, não ficarei muito contente, Harmony — informou calmamente, o som de sua voz atravessando o intercomunicador enquanto ela o colocava e permitia que o fino arame do microfone se curvasse sobre sua bochecha.

— Sem bolsas para corpos — prometeu com um sorriso, antes de lhe soprar um rápido beijo.

Rodando sobre seu estômago, se impulsionou para a sarjeta e começou a escorregar para as sombras mais profundas, vários metros além da casa.

A malha negra de seu uniforme se mesclou com a escuridão, dando a camuflagem adicional que necessitava quando se arrastou fora da sarjeta e entrou nos matos e nas ervas que cresciam na beira da propriedade.

Se mantendo sobre seu estômago nas largas sombras, arrastou-se sobre a áspera grama e o pátio empedrado, mantendo os olhos sobre a janela que lhe dava uma vista de um lado da casa.

— Estou me movendo ao longo da casa — sussurrou no microfone enquanto se movia finalmente contra o exterior do edifício. Se levantando, se esmagou contra o exterior da casa. — Há alguma porta traseira?

— A que conduz para a cozinha — respondeu Lance. — Há um corredor curto que vai para o salão, e além disso, o quarto onde a está retendo.

— Estou nela. Começa o silêncio na rádio — levantou o microfone, deixando somente ativo o receptor, enquanto caminhava para a parte traseira da casa.

Passando pela porta traseira, moveu-se para a janela que ficava no extremo mais afastado da casa. Estava firmemente fechada, mas a pequena fechadura de metal foi girada facilmente quando deslizou sua faca debaixo do marco e começou a empurrá-lo.

Em poucos minutos, estava deslizando pela janela aberta e entrando na casa. Podia escutá-lo agora. Sua voz era mal articulada, enfurecida, enquanto amaldiçoava da sala da frente.

— Harmony, um dos vizinhos que saiu, informou que Mason tem uma faca com ele. Uma navalha automática. — Disse Lance em sua orelha. — É um lutador sujo, tome cuidado.

Então, o criança mau gostava de brincar com facas. Bom, ela também.

Puxou a janela para fechá-la antes de jogar uma cuidadosa olhada ao redor. Tinha entrado no quarto do criança, sua essência estava por toda parte. Havia alguns brinquedos, só uma pequena cama e uma cômoda, algumas camisas pulverizadas. Inspirando ante a desolação que testemunhava como devia ser sua vida, se aproximou para a porta, escutando como Tommy Mason gritava com sua esposa.

— Estúpida. Te adverti o que aconteceria se tentasse sair. Acaso não lhe adverti isso?

Podia escutar à mulher soluçando, mas não podia escutar ao criança.

Encontrou o pequenino no salão, encolhido em um canto, cobrindo as orelhas com as mãos enquanto se balançava de trás para frente. As lágrimas manchavam seu rosto sujo e seus olhos estavam firmemente fechados.

Aproximando-se, simultaneamente colocou a mão sobre os lábios e lhe sussurrou brandamente na orelha:

— Fique tranqüilo, encanto.

Seus olhos brilharam abertos.

— Shhh — sussurrou outra vez, seu toque era terno enquanto percorria rapidamente o corpo frágil e trêmulo. — Está ferido?

Negou com a cabeça, mas seus olhos eram selvagens, frenéticos, enquanto a mãe gritava seu nome do outro quarto.

— Tenho que gritar se entrar alguém — sua voz tremia enquanto lutava para falar. — Vai bater nela de novo. Tenho que gritar.

Pousou os dedos contra seus lábios.

— Confie em mim.

Ele agitou a cabeça desesperadamente, as lágrimas se derramando de seus olhos azuis enquanto seu corpo estremecia com silenciosos soluços.

— Alguma vez viu uma Casta?

Quase se acalmou, com os olhos abertos como pratos. A maioria das crianças estava fascinados pelo assunto das Castas. Eles escreviam cartas ao Santuário, e algumas vezes, Harmony sabia, Tanner Reynolds, o enlace da Casta, tinha encantado às crianças em várias escolas. Eram a versão mais nova de super-heróis nas mentes dos pequenos.

Levantando seu lábio, mostrou-lhe seus caninos, possivelmente um pouco pequenos, mas definitivamente impressionantes. Ele piscou ,surpreso.

— Com certeza se ficar muito, muito quieto, posso me assegurar de que sua mamãe esteja bem. E me assegurarei de que ele nunca retorne. Pode permanecer calado por uns minutos e me dar a oportunidade?

Um silencioso soluço estremeceu seu pequeno corpo. Estava obviamente desnutrido e apavorado.

— Muito bem — cantarolou ela em seu ouvido uma vez mais. — Agora fique muito, muito calado. De acordo?

Assentiu com a cabeça desesperadamente.

Harmony baixou o microfone, ativando o intercomunicador.

— O criança está seguro. À sua esquerda quando entrar, encolhido no canto. Vou até a mãe.

— Acalme-se, Harmony — advertiu Lance, sua voz soava preocupada. — Mantenha o intercomunicador ativo.

Ela o levantou. O micro era uma distração que não necessitava.

Pressionando o dedo sobre os lábios enquanto lançava um último olhar ao criança, retrocedeu para a porta. Esperou até que esteve segura de que o criança não podia vê-la antes de deslizar o K-bar da capa na sua lateral e retornou ao corredor. A porta do quarto estava aberta, o quarto iluminado pelas cintilantes luzes dos carros da polícia no exterior.

— Filhos de uma cadela. Não têm nenhum direito de interferir em meus assuntos. — O som de uma mão golpeando contra carne foi seguido pelo lamento quebrado de uma mulher. — Tudo isto é sua culpa, cadela chorona.

Movendo-se sobre o estômago, Harmony começou a avançar pouco a pouco através da entrada, ficando agachada e silenciosa enquanto Tommy Mason gritava com a esposa. Seus pés tinham passado pela porta quando essa enorme e grande desculpa de homem tirava uma navalha automática de suas calças e a abria.

Agarrou o comprido cabelo de sua esposa com uma mão e levantou a faca com a outra. E Harmony soube que seu momento tinha chegado. Rodando rapidamente, levantou-se, deslizando sua faca através do cabelo que ele tinha agarrado enquanto ela atirava à mulher ao chão.

— Que demônios? — Ele gritou, seu primeiro olhar foi de surpresa, logo enfocou seus olhos com fúria para Harmony. — É uma puta morta.

Harmony suspirou dramaticamente.

— Acho que já escutei isso.

Tinha que sair da casa vivo, recordou ela, enquanto golpeava com a mão o nariz dele, se afastando para trás só o suficiente para atenuar seu golpe. Enquanto ele voava para trás, agarrou-o pelo pulso, arrancando sua faca e a retorceu até que caiu sobre os joelhos. Um joelho sobre a parte baixa de suas costas e ele estava no chão, enquanto ela estalava as algemas sobre os pulsos dele.

— Isto é assim, imbecil — sussurrou em sua orelha. — Está detido.

Depois o agarrou pelo cabelo, puxou sua cabeça para trás e o golpeou contra o chão. Da primeira vez, tentou gemer e se opor furiosamente. Na segunda vez, desabou sob ela, com seu enorme corpo desinflado.

Foi quase muito fácil. A adrenalina que surgia através de seu corpo não tinha conseguido a luta que necessitava. Pulsava e martelava através de suas veias como um fogo gelado que começava a se elevar debaixo de sua pele.

Saltando por cima do homem deitado de costas, sacudiu as mãos e esfregou-as contra suas coxas. Jesus. Que demônios era isso?

— Harmony, maldição, me responda — sussurrou Lance pelo intercomunicador, enquanto compreendia que estivera escutando sua voz durante vários segundos.

Inalou lentamente, seu olhar percorrendo a habitação antes de encontrar a receosa silhueta de uma moça dando tombos através da porta.

— Harmony... Agora, maldição. — Sua voz era áspera e enviou um fio de luxúria através dela.

Baixando o microfone, cantarolou através do intercomunicador:

— Tenho um presente para você, neném. Quer vir recolhê-lo?

Sim, era luxúria.

No momento que sua voz cantarolou no ouvido, Lance sentiu a reação atravessar por todo seu corpo. Seu membro já estava dolorosamente erguido, mas o sexy tom de sua voz o fez se sacudir nos jeans, impossivelmente mais duro e preparado para foder.

Maldita fosse. Tinha escolhido um mau momento para se converter em um gatinho sexual.

— Bem, Steven, podemos nos mover. Ela o pegou.

Foi consciente do rápido e surpreendido olhar de Steven enquanto se encaminhavam à casa, com os paramédicos entrando atrás deles.

Lance os dirigiu ao canto onde a mãe, Liza, estava embalando a seu jovem filho. Estava ensangüentada e golpeada, mas parecia consciente.

Se movendo rapidamente, ele e os dois Policiais Estatais entraram no quarto, as pistolas tiradas, antes de dar uma rápida parada.

Tommy Mason estava vomitando vulgaridades enquanto Harmony, sentada em seus tornozelos, o escutava, a cabeça inclinada e um sorriso zombador em seu rosto enquanto passava lentamente o polegar pela borda da faca.

— Pensa que é tão inteligente — cuspiu Mason. — Monstro. Não é mais que um maldito animal repugnante e obterá o que merece.

Harmony levantou a cabeça para Lance.

— Está cheio de informação — arrastou as palavras. — Todo o tipo de retórica supremacista. Tem gente estupenda em sua formosa cidade, Xerife Jacobs.

Afastou-se quando os oficiais agarraram Mason pelos braços e o elevaram do chão. Harmony deslizou com habilidade a faca em sua capa e o olhou fixamente, à espera.

— Tenho fome — declarou. — Não vi antes um estabelecimento de comida rápida? Pensa que poderíamos nos desviar antes que tenhamos que nos ocupar de toda essa repugnante papelada?

Olhou-a atentamente. Seus olhos estavam estranhamente brilhantes, a voz mais rouca do que o normal.

— Está bem? — Aproximou-se dela, o olhar revisando-a com cuidado. — Conseguiu te ferir?

Ela deu um bufo pouco elegante.

— Por favor. — Rechaçou com um gesto a pergunta. — Era um mero aficionado, as pessoas deveriam aprender a usar as facas antes de tentar jogar com elas. — Esticou a mão atrás dela e tirou a navalha de mole, metida em uma bolsa de provas, de seu cinturão. — Aqui está. Não tem marcada nenhuma de minhas pequenas patas repugnantes.

Ele pegou a bolsa com cuidado, permitindo que seus dedos roçassem os dela, sentindo o pouco natural frio das pontas de seus dedos.

— Vamos deixar que essas estatais se preocupem disto — disse, suspirando. — Steven e seus homens se encarregarão de Mason.

— Vão encarcerá-lo? — Moveu-se diante dele enquanto deixavam o quarto e se dirigiam à porta principal.

— Sim. Terá sorte se vir o exterior de uma cela nos próximos vinte anos. Disparar na Polícia do Estado é um grande delito.

Lance tinha visto o oficial levantando com cuidado uma pistola do chão do quarto, e pondo-a em uma bolsa de provas enquanto seu companheiro lia os direitos de Mason.

— Vão encarcerá-lo por disparar em um policial mas não por golpear até o inferno a sua esposa? — Harmony sacudiu a cabeça enquanto saíam. — O mundo é um doente, doente lugar, Lance.

— Fazemos o melhor possível, Harmony.

— E quando seu melhor esforço não é suficientemente bom? — perguntou enquanto alcançavam o Raider.

Quando ela voltou-se, Lance viu as sombras que enchiam seus assombrosos olhos verdes. Eram puros, brilhantes, sem bolinhas mais escuras. Quase hipnotizadores.

— Quando meu melhor esforço não é o suficientemente bom, sigo lutado — suspirou enquanto se apoiava contra a porta, apanhando-a entre o interior do veículo e ele. — Venho aqui cada vez que os vizinhos chamam. Tento ajudar Liza o melhor que posso. Até que deixe de ter medo e me ajude a pô-lo entre as grades, não há nada que possa fazer.

— E o criança?

— Faço o melhor possível, Harmony. — Sabia o que estava perguntando, a advertência que escondia. — Imponho a Lei, neném. Não a faço.

Ela inalou devagar.

— Não sou adequada para este trabalho. Talvez Lenny queira trocar comigo.

Ambos sabiam que não era possível. Os papéis que tinha assinado tinham estado claramente escritos. Harmony tinha que trabalhar na patrulha, não em um escritório.

— Tem que tirar satisfação do quanto é bom pode conseguir — sussurrou, se estirando para tocar sua pálida bochecha. — Quando vê que uma detenção se converte em uma condenação, quando sabe que fez seu trabalho bem o bastante para deter as fugas do sistema. O bom supera ao mau, Harmony.

— Se sair livre outra vez, matará a ambos — disse. — Ele disse ao filho que gritasse se alguém entrava. E quase gritou. Fará com que o criança o pague. E quando o fizer, o caçarei.

E ali estaria Morte. Ouviu a transformação de sua voz, observou enquanto ela olhava fixamente para trás sem piedade.

— Deixaria que Jonas ganhe tão facilmente? — perguntou. — A quantas outras crianças poderia ajudar vivendo, Harmony?

— O que importará se falhei aos que me deram sua confiança? — perguntou-lhe então. — Não deixe que o bastardo escape da sua lei, Lance, ou encontrará a justiça de Morte.

Então ela se estirou, pondo ambas as mãos contra seu peito enquanto suspirava. E então ele o sentiu. O calor em seu corpo crescendo e se estendendo para ela enquanto o vento sussurrava de dor em seu ouvido.

Alcançando-a, cobriu o dorso de suas mãos com as suas próprias, ficando de pé silenciosamente enquanto ela deixava que sua cabeça se inclinasse para descansar contra o peito dele. Outros olhos o estavam olhando, e Lance sabia. Quando a ambulância se retirou do meio-fio, os outros oficiais voltaram devagar para seus veículos, lhes dando uma olhada cheia de curiosidade. E Mason. Lance podia sentir seu pesado olhar em suas costas, atravessando-o enquanto o ódio o empurrava.

Tommy Mason ia ser um problema. Lance podia senti-lo.

— Sinto muito. — Harmony se endireitou com um abrupto movimento, tirando as mãos de seu peito e endireitando os ombros enquanto o olhava com insolência.

Suas mãos ainda sustentavam as dela. Dando-lhe a volta, baixou o olhar para sua pele avermelhada e soube que o calor do emparelhamento estava cobrando seu pedágio.

Ela havia tocado a outro homem. As forças hormonais de seu interior não diferenciavam entre toques. Estava lhe mostrando e lhe advertindo que não toleraria o toque de nenhum outro macho.

— Não pensei nisto — sussurrou ele enquanto levava suas mãos aos lábios e colocava um beijo no centro.

Ela inalou profundamente quando Lance sentiu a excitação derramando por seu corpo. Demônios, lugar incorreto. Definitivamente, o lugar incorreto para isto.

— Vamos escrever esses informes assim poderemos ir para casa. — Liberou-a devagar. — Podemos visitar Liza e Jaime no hospital se quiser, quando tivermos terminado.

Ela negou firmemente enquanto o esquivava e se deslizava no Raider.

— É melhor que não o façamos — sussurrou finalmente. — Melhor para todos nós.

Enquanto se dirigiam ao departamento, Lance manteve o guichê baixado apenas uns centímetros, permitindo aos ventos se mover pelo veículo, lhe sussurrando ao ouvido. Advertências. Perigo. Dor. E o nome de Tommy Mason.

Deslizou-se no estacionamento do Departamento do Xerife e suspirou cansadamente antes de deixar o veículo, ficando perto de Harmony enquanto subiam os degraus para a entrada.

Dentro, uma multidão formava redemoinhos na área de recepção, o que não era estranho em uma sexta-feira à noite. Os patrulheiros da Polícia Estatal estavam estacionados na frente, o que significava que Steven e seu companheiro, Lyle, estavam registrando Mason.

Seguindo Harmony, se introduziu no alvoroço. Sem nenhuma advertência, sem nenhum sussurro do vento para dirigi-lo, topou cara a cara com o Reverendo H. R. Alonzo.

— Xerife Jacobs, suas ações esta noite confinam no criminoso. — Alonzo permanecia de pé com possivelmente meia dúzia dos membros de sua sociedade o apoiando, enquanto os agentes olhavam com cautela.

Harmony tentou se mover para um lado, rodeando a multidão e evitando a próxima confrontação. Até que um dos homens maior caminhou na frente dela, elevando a mão para agarrá-la pelo braço.

Harmony grunhiu. Um furioso som felino de cólera enquanto mostrava os dentes e escapava.

— Alonzo, que demônios está fazendo aqui? — Lance agarrou o braço de Harmony antes que pudesse agarrar sua faca, e empurrou-a atrás dele.

— Você não pode salvá-la. — A honrada indignação avermelhou a pesada papada do reverendo enquanto seus olhos azuis claro ardiam de fanatismo. — Vimos o que fez àquele pobre homem, a Polícia Estatal o deteve. A brutalidade de seu ataque foi desconjurada.

Lance o olhou fixamente com frieza. Brutalidade, seu traseiro.

— Se tiver que colocar alguma queixa, volte pela manhã — sussurrou. — Até então, saia de meu caminho.

— Acredita que pode transformar estes animais em pessoas temerosas a Deus? — A voz de Alonzo se elevou, a estridente pergunta exposta em um exortante tom que crispou os nervos de Lance.

Atrás dele, podia sentir Harmony olhando, esperando. Então o ar começou a ferver de perigo.

— Alonzo, é muito malditamente tarde para isto — grunhiu Lance enquanto agarrava o braço de Harmony e começava a rodear a multidão. Moveram-se com ele enquanto as vozes começavam a subir de volume.

— Xerife, desde quando cuidamos de animais? — ouviu-se a voz de uma mulher. — É bastante ruim que tenhamos essa sua prima se associando com essas criaturas e danificando nossa cidade.

Pousou o olhar em uma das matronas da cidade, uma afetada e problemática velha intrometida que protestava absolutamente por tudo. Deveria ter sabido que a encontraria aqui.

— Leve-o ao Conselho Municipal, Matilda — sussurrou. — Não aqui.

— Está tão envolvido com a criatura como sua prima com seu mascote! — gritou Alonzo. — Abominações é o que são. É tempo de jogá-los desta cidade temerosa de Deus...

— David, desaloja o lugar! — espetou Lance aos agentes que o olhavam com indecisão, quando começava a abrir caminho empurrando à multidão, rebocando Harmony com ele.

Um segundo mais tarde foi arrebatada. Girando, Lance observou com fúria como um corpulento varão tentava retorcer seu braço, para obrigá-la a se encolher. Os oficiais se precipitaram para enfrentá-lo, mas antes que pudessem empurrar através da multidão, Harmony girou, se retorceu e em um suspiro teve ao homem muito maior caído de costas, com sua arma alojada sob o queixo.

Lance agradeceu a Deus que não fosse sua faca.

— Você acaba de agredir a um representante da lei. — Seu sorriso era satisfeito, apesar da borda de dor que havia em seu olhar. — É um grande prazer pessoal lhe informar que está sob custódia.

— Tire esta gente daqui — uivou Lance a um agente enquanto se irava para a expressão triunfante de Alonzo.

— Um membro de sua sociedade ataca a um de meus oficiais — informou-o, furioso. — Como líder desta pequena reunião, talvez também deveria prendê-lo enquanto estou nisso.

Lance pôde sentir a raiva se incrementando dentro dele enquanto obrigava-se a não dar um murro no satisfeito e pretensioso rosto do reverendo.

— Meu advogado estará aqui pela manhã — assegurou Alonzo enquanto o resto da multidão começava a se mover para a porta. — Não se preocupe, Xerife, me assegurarei de fazer o trabalho de Deus, com ou sem sua ajuda.

— O trabalho de Deus? — Harmony estava respirando com dificuldade quando se levantou, entregando a seu atacante aos agentes enquanto se precipitava para o reverendo. — Me deixe te mostrar...

— Harmony — trovejou Lance, voltando-se rapidamente. — Tem informe.

Ela parou sobre seus pés, vacilando pelo tom de sua voz, depois entrecerrou os olhos e enfocou o olhar em seu ombro.

— Agora — recordou firmemente.

Podia ver a tensão vibrando por seu corpo e soube que a dor começava a se elevar dentro dela. Dois homens em uma noite contra os quais se viu obrigada a se proteger ou a outros.

Seus lábios formaram um curvado sorriso de forma ameaçadora.

— Informe — disse devagar, sem deixar de olhar ao Alonzo. — É obvio, Xerife. Só me deixe terminar isto. Posso brincar mais tarde.

A ameaça murmurada não passou despercebida.

— Só os animais reagem desse modo...

Antes que Lance pudesse se deter, seu punho estava agarrando a rígida malha da camisa que o reverendo estava vestido e o levantou sobre a ponta de seus pés.

— Infernos, saia de meu departamento — grunhiu. — E enquanto estiver falando com seus advogados, diga a eles que esperem também uma chamada do fiscal do condado.

Lance o empurrou para a porta, odiando a ira que se elevou dentro dele. Tinha lutado por manter a calma toda sua vida, lutado por encontrar dentro dele mesmo o equilíbrio que Harmony ainda tinha que aprender. Mas havia gente, como o reverendo Alonzo, que o tiravam do sério.

Alonzo se retirou e arrumou a camisa com aborrecimento enquanto seu bulboso nariz se retorcia de ira.

— Não é o último que saberá de mim, Xerife. É meu dever assegurar que estas criaturas não nos infectem. E cumprirei meu dever. Não importa os obstáculos. Jurei a Deus...

— E estou seguro que ele pensa tanto nisso como o faço eu — grunhiu Lance. — Agora, saia daqui.

Girando, empurrou Lenny para o reverendo.

— Se assegure que encontre a porta. Rápido — ordenou ao agente enquanto se dirigia com passo irado a seu escritório. — E se assegure de que não retorne.

Lance fechou de repente a porta atrás dele, antes de atravessar a sala para onde Harmony estava esfregando as mãos, a expressão frenética.

— Minhas mãos estão congeladas. — Olhou-o angustiada. — Ou queimam. Não posso fazer que pare.

Harmony não sabia se ria ou gritava. O que antes tinha sido simplesmente incômodo, irritante, estava ficando agora estridente. A fria queimadura de suas mãos e ao longo da parte dianteira de seu corpo a abrasava. Sobretudo entre suas coxas, onde tinha sido obrigada a se sentar escarranchada sobre os dois homens.

Quando Lance pegou suas mãos, ela esperou outro daqueles ternos beijos no centro de sua palmas. Antes tinha ajudado. Em troca, empurrou-lhe as mãos sob a aba solta de sua camisa enquanto segurava sua cabeça com a mão livre.

E a beijou.

Devorou-a.

Seus lábios saqueavam os dela com profundos e excitantes beijos, enquanto sua língua escorregava e se deslizava contra a dela. Harmony gemeu com irresistível e faminto alívio enquanto a pesada e crescente sensação das glândulas sob a língua começava a se aliviar. O doce gosto acendeu seus sentidos, sensibilizou sua pele, mas nada poderia tê-la feito necessitar a Lance mais do que o fazia.

A adrenalina bombeou por seu corpo; sua maior fraqueza era essa onda de entusiasmo. Estava desesperada. Faminta.

Com a mão, arrancou os pequenos colchetes da camisa dele, separando as bordas antes de enroscar os braços ao redor de seu pescoço. A seda de seu cabelo era macia contra suas palmas, mas o calor de seu corpo era um fogo no inverno, esquentando todos os lugares frios dentro dela.

E ela necessitava de mais dele. Antes que entendesse exatamente o que fazia, estava tentando subir por seu corpo. Suas coxas o rodearam enquanto pressionava seu dolorido sexo contra a cunha de seu pênis, esfregando-se contra ele, gemendo de delicioso prazer quando as mãos lhe agarraram as nádegas e a sustentaram enquanto se comiam a beijos.

Os beijos eram embriagadores, acesos. Harmony sentia a fria queimadura sob a pele quando se fizeram mais profundos, mais famintos.

— O maldito escritório não é lugar para isto. — Lance afastou os lábios dos dela enquanto se movia, sua voz era rouca e vigorosa.

Harmony ofegou enquanto ele os baixava ao pequeno canapé situado na habitação. Com as pernas ao redor dos quadris dele e seu corpo agora sob o dele, a pressão de seu pênis contra sua sensível carne era mais firme e quente.

— Ah, eu gosto assim. — moveu-se sob ele, os quadris acariciando sobre sua dura ereção, coberta pelos jeans.

— Com certeza sim. — Com uma meia risada, meio grunhido colocou um pequeno sorriso nos lábios dela. — Se formos continuar fodendo em meu escritório, vou acabar despedido.

— Eu o protegerei. — Ofegou quando a cabeça dele baixou, os lábios se movendo por seu pescoço. — Diga que apontei uma arma em sua cabeça... Oh, Deus. Lance... — As mãos deslizaram sob o top dela, embalando seus seios com firmes e exigentes dedos enquanto os dentes lhe raspavam o pescoço.

— Assim? — Mordiscou-lhe o pescoço, logo acalmou a pequena dor/prazer com sua língua.

— Oh, eu gosto disso — gemeu ela, se arqueando mais perto, ofegando quando lhe agarrou os mamilos entre polegares e indicadores e os fez rodar deliciosamente. — Isso eu também gosto.

Ela estava ofegando, bêbada de prazer. Manteve-se afastada dele apesar das demandas de seu corpo, e tinha se dado conta de que isso só fazia que a necessidade crescesse.

— Deus, tem um sabor muito bom. — Ele voltou para seus lábios, cobrindo-os, levando a ambos a uma absurda viagem de prazer enquanto Harmony se retorcia sob ele.

— Lance, preciso de mais. — Pressionava seus quadris mais perto enquanto os lábios dele se moviam por seu pescoço, baixando ao longo de sua clavícula. — Necessito de mais agora.

— Em um minuto. Um sabor de cada vez — grunhiu enquanto ela arqueava as costas, sentindo seus lábios se movendo sobre as curvas superiores de seus seios que a cômoda camisa revelava.

— Mais. Agora...

Ela sacudiu a cabeça, girando a um lado ao mesmo tempo em que seus olhos se abriam pela surpresa. Jonas entrou no escritório, fechando a porta enquanto os olhava zombeteiramente.

— Esta não é minha noite — sussurrou ela quando Lance fez também uma pausa, girando a cabeça. — Acha que poderíamos ignorá-lo?

Aquilo colocou um cenho na cara de Jonas, e uma risada zombadora em Lance.

— Ficará irritado — disse com um suspiro antes de se mover para beijá-la rapidamente nos lábios.

Segurou a cabeça dele, tentando segurá-lo só um segundo mais. O segundo se alargou, o gemido dele nublou seus sentidos, e quase esqueceu que tinham o pior tipo de companhia.

— Bagunceira. — Lance se separou antes que pudesse detê-lo, embora seu sorriso fosse de franca aprovação enquanto a agarrava pelos braços e colocava-a de pé. — Vá escrever esses informe. Encarregarei-me dele.

— De que terá que se encarregar? — arrumou a camisa enquanto olhava a seu irmão.

— Posso ver que não mudou muito — declarou Jonas enquanto sorria com diversão. — E pelo relatório que escutei dos membros da sociedade, não conseguiu fazê-lo.

— Realmente o consegui — ela arrastou as palavras. — Há uma semana atrás, não teria vacilado em puxar o gatilho.

— Os informes, Harmony. — Lance capturou seu olhar, a advertência em seu resolvido olhar enquanto fechava a camisa.

— Bem. Informes. — Ela alisou a camisa outra vez. — Eu juro, nunca tive que escrever um relatório quando matava aos bastardos. Cortava suas gargantas e me afastava. Nenhum trabalho de escritório, nenhuma chateação. A menos que tenha um irmão disposto a te matar. — Sorriu sarcasticamente para Jonas.

Ele inclinou a cabeça em reconhecimento enquanto ela saía do escritório. Grunhindo silenciosamente, se dirigiu ao escritório e se deixou cair no duro assento de madeira antes de procurar os papéis que necessitava. Estúpidos informes. Os assassinos não apresentavam informes. Isto era ridículo.

— Em que posso te ajudar, Jonas? — Lance lhe mostrou uma cadeira antes de se mover a sua mesa e sentar-se.

Seu corpo estava zumbindo cheio de luxúria; a necessidade de tirar a Casta pela porta e terminar o que tinha começado naquele sofá era quase irresistível.

Jonas tomou assento, sua expressão era tão friamente zombadora, como sempre. Havia algo a respeito de Jonas que repelia e atraía às pessoas. Estava ali, nos olhos cor de mercúrio... uma crueldade, um sentimento de resolução, de que um nunca estava completamente seguro de poder confiar nele.

Lance sabia que não podiam confiar nele.

— Está se acoplando bem? — perguntou Jonas se apoiando na cadeira, a expressão curiosa.

— Está fazendo bem. — Assentiu Lance. — Mas tenho o pressentimento de que não é por isso que realmente está aqui a... — Olhou o relógio — A uma da manhã.

— Passava por aqui. — Jonas deu de ombros. — Estive com Megan e Braden esta tarde. Braden me disse que tinha trocado seu horário, assim pensei em me deixar cair por aqui.

Era interessante. Tinha a sensação de que Jonas não sentia curiosidade por nada; sempre tinha uma agenda

— Que merda, Jonas — grunhiu. — Deixe cair sua pequena bomba e se afaste. Não tomará um condenado tempo a Harmony escrever seus informes, e tenho a sensação de que no momento, vocês dois estarão melhores separados.

Os lábios de Jonas se torceram.

— Com toda seriedade, como disse, simplesmente me detive brevemente para saber como estavam passando...

— Ou para ver se já tinha concebido? — Lance se inclinou para frente enquanto baixava a voz. — Braden mencionou uma vez que uma Casta pode cheirar a nova vida. É curioso o bastante para comprovar e ver se conseguiu derrotá-la?

Jonas o contemplou silenciosamente.

Lance sacudiu a cabeça cansadamente enquanto se reclinava, apoiando-se na cadeira.

— Não sou um homem estúpido, Jonas. O que quer dela? Sempre tem uma razão para tudo o que faz. Sabia, quando a trouxe aqui, o que aconteceria. Exatamente como sabia as possibilidades de uma concepção muito cedo, se ela não conseguisse a tempo o suplemento hormonal. Está grávida?

A cara de Jonas carecia de expressão no momento em que Lance terminou.

— O que quer dela, Jonas? — perguntou, com voz relaxada. — Por que a colocou em uma situação em que quase poderia apostar que seria um fracasso, se sua intenção era salvá-la?

Isto o incomodava. Jonas era seu irmão; sua maior preocupação deveria ter sido se assegurar de que ela tivesse êxito, não fazê-lo tão duro para ela como fosse possível.

— Está aprendendo a trabalhar dentro da lei, por acaso? — perguntou Jonas, em vez de responder a pergunta.

— Perfeitamente — sussurrou Lance. — Agora responde a pergunta. O que quer dela?

Jonas o olhou em silêncio.

Lance sacudiu a cabeça.

— Esquece. Finalmente o entenderei. E se averiguar que a está colocando em perigo, o farei pagar isso. Casta ou não. Você pagará, Jonas.

Jonas tinha brincado com Megan e sua lealdade um ano antes, tentando culpar Lance pela fuga no escritório, forçando-a a se lançar em um pesadelo de emoções causada pela morte de duas Castas. As capacidades de Megan para captar suas emoções enquanto eles morriam tinham sido muito importantes na investigação para encontrar a seu assassino. Como tinha tentado manipulá-la não ficou bem com Lance, ou com o então amante de Megan, Braden.

— Posso ver que a comprovação dela é um esforço inútil, então. — Jonas se levantou, sua expressão proibia que seus olhares se enfrentassem. — Mantenha-a sob controle, Lance. Lamentaria ter que aplicar a Lei da Casta, se cruzar a linha outra vez.

Lance se levantou devagar.

— E eu lamentaria ter que te matar se o tentar, Jonas — respondeu friamente, se esticando ante a ameaça implícita na voz do outro homem. — Não cometa nenhum engano, seus jogos o matarão se eles implicarem Harmony. Lei ou não Lei, o que é meu permanece comigo.

Não cometa nenhum engano, seus jogos o matarão se envolverem Harmony. Lei ou não lei, o que é meu permanece comigo.

A conversa de Lance e Jonas não tinha sido tão difícil para que ela não pudesse segui-la enquanto datilografava seu relatório. Entretanto, a advertência final de Lance a tinha surpreendido, e a mantivera no pequeno escritório até que Jonas partiu.

Sua defesa não tivera nenhum sentido para ela. Ele sabia o que ela era. Lera seu histórico. Como podia defendê-la tão facilmente?

— Sabe, realmente assassinei a todas essas pessoas que estão em meu histórico — declarou ela, enquanto entravam na casa várias horas depois.

Apoiada sobre a porta fechada, encarou-o enquanto ele sacudia suas botas, os escuros olhos azuis olhando-a serenamente.

— Eu sei, Harmony. — Assentiu ele enquanto se endireitava, ficando de pé em frente a ela; a falta de desdém ou julgamento em sua expressão a confundiu muito mais.

— Os matei a sangue frio — adicionou. — Os cacei. Rastreei. Senti seu sangue correndo sobre meus dedos. E não me arrependo de nada, Lance.

— Sei que não o faz. — Sua expressão era sombria.

— Como pode aceitar então? — sussurrou. — É um xerife. Cumprir a lei, dita a mesma. Como pode me reclamar tão facilmente?

Não tinha nenhum sentido. Mal podia suportar a si mesma.

— Uma criança não pode se defender — disse ele então. — O que lhe fizeram quando era uma menina foi indesculpável. Como superou isto como adulta é mais que perdoável. Mas sabe tão bem como eu que o tempo para isto chegou ao fim. Em certo modo, Jonas tem razão. Para sobreviver, vai ter que aprender a trabalhar dentro do sistema.

— Um sistema que permite que os monstros andem soltos? — sorriu ela com desprezo, enquanto seu peito se apertava dolorosamente. — Sabe o que fizeram a essas crianças, Lance? Tem alguma idéia...?

— Acredita que pode salvar a todos, Harmony? — Olhou-a implacavelmente. — Cada vida que tomou levou um pedaço de sua alma. Eu te abracei enquanto dormia, depois que Jonas a trouxe para o escritório. Vi as lágrimas que derramou e a dor que sentiu. Acredita que não está matando a si mesma com isso?

Ela retrocedeu. Tinha acreditado que havia uma possibilidade de que tivesse sonhado, já que ele nunca o mencionara.

— Só sou uma pessoa — sussurrou ela. — Uma criação, isso é tudo.

— Não, maldita seja, isso não é tudo o que é, Harmony — grunhiu, as mãos segurando seus braços enquanto lhe dava uma pequena sacudida. — Olhe-se, neném. Não dorme, quase não come. Parece um feixe de nervos e cheia de pura teima. Quanto tempo mais pode fazê-lo? Quanto tempo, antes que acabe com você e se desmorone? Quanto tempo pensa que pode evitar as repercussões? Vão te pegar. Te prender. E morrerá.

Harmony respirou com dificuldade, vendo a dor em seus olhos e a determinação em seu rosto para impedir que isso acontecesse.

— São crianças — clamou antes que pudesse se deter. — Indefesas. Meu Deus, Lance...

— Trabalhe com a lei, Harmony — incitou-a. — É inteligente, e tão intuitiva como o inferno. Use essas habilidades para encontrar provas, para levá-los a justiça. A justiça funciona, neném. Quando usa a lei, tem vantagens.

— Enquanto as crianças seguem morrendo.

— Enquanto estiver viva, colocará a tantos como é possível atrás das grades! — ele gritou. — Por Deus, que bem vai fazer a uma só criança, se estiver morta?

— Salvo a tantos como posso. — Sacudiu a cabeça desesperadamente.

— Merda! — Soltou-a tão rápido como a tinha agarrado. — Sabe que isto não está funcionando, Harmony. Está se destruindo.

— Não sei mais o que fazer — clamou, furiosa. — Não posso suportar, Lance. Não posso ficar parada, vendo a dor nos olhos das crianças que sofreram abusos. Não posso fazer isso, sabendo que fui criada e usada para matar a algumas das pessoas que poderiam tê-los salvado.

Levou a mão à boca, afastando-se dele enquanto a compreensão alagava sua expressão.

— As mortes que levou a cabo quando era uma menina — disse atrás dela. — Está tentando compensá-las, não é assim?

Seu peito estava tão apertado com a dor que mal podia respirar. Um vento frio rasgou seu corpo e ela pôde sentir o gelo congelando sua alma.

— Os assassinatos que cometi quando era menina... cada vítima lutava pelas crianças e seus direitos — sussurrou, agitando a cabeça ante a futilidade de recordá-lo. — Cada um deles. Eram pais exemplares e lutavam pelas crianças que não tinham pais, ou a dignidade de um nome.

— E acredita que assim é como quereriam que pagasse a luta que assumiram? — Colocou os braços ao seu redor, como se conhecesse a escuridão e os lugares frios que a atormentavam. — Se soubesse algo sobre suas vidas, saberia que essa não é a solução.

Harmony lutou para controlar sua respiração e a umidade que alagava seus olhos. Estava cansada, quase ao ponto do colapso e a excitação e emoções que simplesmente não teriam sentido para ela nunca mais.

— Morreram por suas crenças — sussurrou. — Suspeitavam que o Conselho estava nos criando. Filtrou-se a informação dos laboratórios várias vezes e isso lhes chamou muito a atenção. Antes que pudessem salvar a algum de nós, foram assassinados. Eu os matei.

Tentou se afastar para colocar distância entre ela e o homem que a debilitava.

— Foi enganada e utilizada — sussurrou ele em sua orelha. — Sabe que tenho razão. Tanto como sabe que está se matando interiormente pelo sangue que estava derramando antes que Jonas a apanhasse. Se não o tivesse feito, ele jamais teria podido te encontrar.

— Isso não é verdade...

— É verdade, neném. — Reprovou-lhe firmemente. — É por isso que esteve de acordo com o jogo que esteve jogando. Mantendo o que seja que ele quer oculto e tentando reparar essas mortes. Sabe, igual a mim, que já fez mais que suficiente.

Tinha-o feito? Tinha permitido ela, de algum modo, que Jonas a capturasse?

— O que você tem, Harmony, que Jonas quer? O que o tem tão desesperado, que a sacrificaria por isso?

Harmony sabia exatamente atrás do que estava Jonas, aquilo que nunca lhe permitiria obter: a informação que ela tinha roubado dos laboratórios no dia que escapou. A última prova restante de dez anos atrás, de que a primeira Casta Felina, criada fazia um século, ainda vivia.

— Jonas quer vingança. — Era parte da verdade. — Vingança pela morte de sua mãe.

— Jonas é um homem inteligente. — Deixou-a ir lentamente, permitindo-lhe dar a volta e enfrentá-lo uma vez mais. — E o suficientemente inteligente para reconhecer a verdade. Pode ler tão bem como eu e verificar que os informes dos outros laboratórios e cientistas sobre a doutora LaRue são muito concludentes. Agora, uma vez mais, me diga: o que Jonas quer de você?

Ela olhou ao seu redor, à entrada tenuamente iluminada da casa, a sala envolvida em sombras e a cozinha enquanto tragava com dificuldade.

— Não posso lhe dizer isso— sussurrou quase em silêncio.

Ele suspirou profundamente enquanto sacudia a cabeça.

— Estou muito cansado para isso, Harmony. Quando estiver pronta para falar, me deixe sabê-lo. Mas faça um favor a ambos, e faça-o enquanto possa te ajudar.

Nunca tinha confiado em ninguém. Nem sequer Dane, o homem que a tinha salvado inumeráveis vezes e que tinha sido seu primeiro amante, sabia a verdade.

Harmony entrou na ducha, ajustou o chuveiro e apoiou a testa contra a parede, mal percebendo o calor da água enquanto golpeava contra sua pele. Mas sentia suas lágrimas enquanto os silenciosos soluços sacudiam seu corpo com uma intensidade brutal.

Jonas a veria morta antes que tudo tivesse acabado. Não importava em que Lance acreditasse, Jonas a culpava da morte de sua mãe. Madame LaRue tinha sido um monstro. Nos papéis que Harmony tinha escondido, estava a ordem de matar a cada Casta que estivesse no laboratório antes que arriscar seu descobrimento. Essa era a razão pela qual tinha matado Madame, assim como aos cinco cientistas sob suas ordens, para escapar depois.

A prova que ocultou poderia salvá-la, mas o custo era muito alto. Não podia trair a outros para se salvar. Se o fizesse, então não seria melhor que aqueles que a tinham criado.

A injustiça desse fato nunca a tinha golpeado, até agora. Algo sobre seu emparelhamento com Lance a fizera mudar. Ou talvez a tivesse despertado. Não estava segura da razão. Quanto mais tempo passava com ele, mais fraca ficava, mais o necessitava.

Enquanto envolvia os braços ao redor do peito, lutando para deter seus soluços, compreendeu que pela primeira vez em sua vida, encontrara algo do que não podia se afastar, e por isso era muito provável que ambos morressem. E isso a aterrorizou. Lance merecia muito mais; merecia mais que uma mulher cujas mãos estavam manchadas para sempre com o sangue de vitimas inocentes.

— Harmony.

Ofegou quando a voz de Lance flutuou a seu redor, depois seus braços a rodearam. Ela se pressionou contra o peito duro e nu, lutando para se recuperar, para escapar o tempo suficiente para encontrar sua força de novo.

— Está me matando — sussurrou ele em sua orelha. — Escuto seus lamentos inclusive quando não está derramando lágrimas. Mas a dor que provém de suas lágrimas está rompendo meu coração.

Lance olhou fixamente seus sobressaltados olhos enquanto ela levantava a cabeça. Os brilhantes olhos verde néon, alagados de lágrimas, obscurecidos pela dor que a destruía. E que destruía a ele. O ar ao redor dele estava carregado por suas necessidades, tanto físicas como emocionais, afetando-o como nada mais podia.

Abraçando a cabeça entre suas mãos, acariciou-lhe a bochecha com os polegares.

— Não posso me deter. — Ela estremeceu enquanto outro soluçou a rasgava desde seu interior. — Oh Deus, Lance. O que está acontecendo comigo? Nunca choro. Morte não chora.

— Morte morreu há dez anos — sussurrou ele, enquanto baixava os lábios para os dela. — Não sabe isso, neném? Foi-se. Agora só ficou Harmony.

Perguntou-se se ela entendia por que tinha escolhido o nome que tinha. Harmonia. Paz. Uma mescla do que era e o que precisava ser. A parte dela que lutava para encontrar sentido em seu mundo e poder encaixar-se nele.

— Minha doce gatinha — sussurrou, deslizando os lábios sobre os dela, enquanto sustentava seu olhar cheio de lágrimas. — Continua tentando escapar disto e se manter oculta. Talvez esses cientistas tenham criado seu corpo, mas a terra te deu a vida. Uma perfeita e formosa alma criada somente para mim. Exatamente como eu fui criado para você. Somos filhos desta terra, Harmony. Não pode escapar disso, mais do que eu posso fazê-lo. Já não.

Ele sabia que fugir do dom que tinha de ouvir os sussurros do vento não ia funcionar. A vida dela e seu futuro dependeriam de sua habilidade para protegê-la. Não tão fisicamente, como o amparo de seu coração e sua alma. Havia muitas coisas chegando a sua mente, muitas coincidências se somando e sabia que nos próximos dias significariam sua vida, ou sua morte.

O vento sussurrava perigo para ela. Escutou seu nome nos sussurros, o lamento de sua destruição, e sentiu a carícia do perigo na nuca. E o conhecimento de que sua alma tinha sido unida à dele por alguma razão. Ela era sua outra metade. O coração que ele tinha procurado por tantos anos.

— Sou uma abominação — sussurrou ela, chorando. — Uma assassina.

Ele levantou a cabeça, deslizando o polegar sobre seus lábios.

— É minha companheira. Minha alma. Sou um assassino, Harmony? A terra me daria uma assassina como companheira?

Seus lábios tomaram os dela outra vez, sentindo-a abrandar-se contra ele, saboreando o quente e o sedutor sabor de sua necessidade.

Ela deslizou os dedos brandamente dentro de seu cabelo, enredando-os nas mechas até puxar seu couro cabeludo com uma picada ardente.

Lance mordeu seus lábios como represália, só para tomar seu frustrado grunhido na boca enquanto aprofundava o beijo e a apertava contra a parede da ducha. Suas mãos escorregaram nas úmidas mechas de seu cabelo, mantendo-a perto, puxando seu cabelo quando ela puxava o dele. O efeito foi instantâneo.

Um pequeno grunhido deslizou de seus lábios, enquanto ela se arqueava mais perto dele, o nu montículo de sua vagin* contra a coxa enquanto ele a deslizava entre suas pernas.

Ela estava úmida e quente, os sucos de sua excitação ardiam contra a pele dele.

— Doce gatinha — repetiu, se afastando de seu beijo e olhando fixamente seus brilhantes olhos.

— Depressa — sussurrou ela, seus inchados lábios se afastaram enquanto ofegava para respirar. — Preciso de você.

— E eu te necessito. Seu toque. Seu doce calor. Seu sabor. Deixe-me te ter, Harmony. Toda você.

Harmony o olhou, debilitando-se com suas carícias. Não era somente o prazer, era a ternura que havia em seus olhos e em sua expressão. Ela sentiu que suas próprias defesas se desintegravam. Se a possuísse como ele desejava, então ela nunca seria capaz de lhe negar nada outra vez.

— Confie em mim, Harmony. — Seus lábios tocaram os dela de novo, firmes e cálidos, abrindo-os, acariciando-a em seu interior com um gentil toque de sua língua.

— Estou aterrada, Lance. — As palavras se deslizaram espontaneamente de seus lábios. — Se tomar tudo de mim, o que me deixará quando não me desejar mais?

Ele a encarou fixamente, a surpresa refletida em seus escuros olhos.

— Que não te deseje mais, neném? — sussurrou então. — Não sabe que sonhei contigo? Escutei seu nome sussurrado em meu ouvido pelo ar que nos sustenta, e sonhei com seu beijo. Doce Harmony, morreria sem você.

Ele deslizou as mãos por seus braços, agarrando suas mãos e tirando os dedos dela de seu cabelo.

— Poderia usar as algemas de novo — sussurrou perversamente, o ronrono erótico de sua voz enviando calafrios descendo pela espinha dorsal dela. — Poderia te secar suave e muito lentamente e te levar a minha cama, te amarrar, te deixar indefesa contra meu toque.

Fecharam a ducha, e segundos depois estava de pé frente a frente, enquanto ele passava uma grossa e acolchoada toalha sobre seu corpo.

— Não necessito as algemas.

Lance se deteve enquanto se ajoelhava em frente a ela, e um segundo depois lhe passou a toalha sobre uma perna e logo sobre a outra.

— O que necessita? — A voz era rouca enquanto se ajoelhava ante ela, olhando-a. — Me diga o que necessita para entregar a si mesma para mim, Harmony.

Os lábios dela tremeram enquanto sentia como as lágrimas se deslizavam de seus olhos uma vez mais.

— Me abrace — sussurrou. — Por favor, simplesmente me abrace.

O choque de emoções em seu interior a estava destruindo. Os frios lugares de sua alma pareciam congelados, enquanto o calor do corpo de Lance lhe prometia calidez e paz.

Queria tocá-lo, necessitava dele. Enquanto Lance apoiava suas costas em na enorme cama, ficando em cima dela, os lábios dele tomando os seus, Harmony estava indefesa contra a necessidade de sentir sua pele e seu calor. Suas mãos se deslizaram sobre o peito e os ombros dele. Gemeu pelo calor ardente de seu corpo e se retorceu contra ele, desesperada por tê-lo mais perto.

Com cada beijo narcotizante, cada carícia de suas calosas mãos sobre sua pele, Harmony sentia que outra parte de sua alma se rendia ante ele.

— Isso sobe à cabeça mais rápido que o licor — gemeu enquanto deslizava os lábios sobre a mandíbula e logo pelo pescoço. — E mencionei o muito que adoro sentir sua pele?

Harmony estremeceu em resposta enquanto lhe embalava um peito, agarrando um firme mamilo entre seus dedos polegares e indicador enquanto começava a acariciá-lo brandamente.

As chamas correram desde seu mamilo até seu cl*tóris... um forte estalo de calor que apertou seu estômago e ameaçou tirar sua respiração.

— Assim, neném? — Seus lábios pousaram sobre o firme bico. — Me deixe ver o muito que você gosta disto.

Os dedos se moveram enquanto os resvalava pela boca, desenhando o ereto topo, enquanto sua mão se arrastava sobre o estômago dela.

As pernas se abriram para os dedos exploradores enquanto os dedos dela se esticavam no cabelo, segurando os lábios sobre seus seios enquanto se arqueava sob ele. Lutou por respirar, por se agarrar a seus sentidos só um pouco mais desfrutar de cada toque dos dedos, lábios e língua dele contra sua pele.

Estava ganhando a guerra até que os dedos dele abriram as dobras de seu sexo e o polegar raspou o broto palpitante de seu cl*tóris.

— Deus, sim — gemeu, abrindo suas coxas um pouco mais. — Por favor. Por favor...

Enquanto seu polegar a atormentava, os dedos se moveram para baixo, deslizando nos suaves sucos que alagavam sua nua carne, até que se apertaram contra a tenra entrada de sua vagin*.

A sensação explodiu ao seu redor; um prazer muito próximo ao êxtase percorreu todo seu ser. Já não tinha frio, estava ardendo. As chamas se deslizavam de seu sexo até seu cl*tóris, dirigiram-se para o útero e dispersaram por todo seu corpo.

Enquanto os dentes dele atormentavam o mamilo, seus dedos jogavam um torturante jogo de sedução entre suas coxas. Ela estava ofegante, seus quadris se arqueavam enquanto os lamentos se rasgavam desde sua garganta.

Um segundo depois sentiu seus dedos entrando nela. Dois, pressionados juntos, metendo-se nas ofegantes e saturadas profundidades de seu sexo.

Harmony gritou de prazer enquanto dobrava os joelhos e lutava para gozar.

— Ainda não, neném — grunhiu ele, seus lábios se deslocando desde seu peito para lamber um atalho de fogo sobre seu ventre. — Vou provar esse doce e suave sexo. Mencionei quão faminto estive por seu sabor?

— Não posso suportá-lo. — Agitou a cabeça fracamente, lutando para segurá-lo enquanto lhe agarrava as mãos e as pressionava contra a cama.

— Fique aí. — Beliscou seu abdômen. — Me deixe te amar, Harmony. Deixe-me provar cada centímetro deste perfeito corpo.

Harmony observava enquanto Lance se movia entre suas coxas, as mãos lhe separando os joelhos para logo olhá-la aos olhos outra vez. Seus brilhantes olhos azuis escuro resplandeciam de masculina luxúria enquanto se lambia os lábios um segundo antes de baixar a cabeça.

Vibrantes pontadas de agonizante prazer a percorreram enquanto sua língua se convertia em um erótico látego. Fustigando sua carne violentamente sensível, provocou, instigou, lambeu e saboreou cada inchado centímetro de sua boceta.

Seus dedos eram diabólicos. Sondavam dentro das absorventes profundidades de sua vagin*, as pontas se curvavam para alcançar um lugar que lhe fez arquear os quadris sobre a cama e um grito estrangulado se rasgou em sua garganta.

Não fazia nada para ajudá-la. Seguiu atormentando-a e devorando-a em uma festa sensual que logo a teve suplicando e gritando pela liberação.

— Adoro seu sabor — cantarolou ele, enquanto seu dedo apertava firmemente o lugar que parecia estar conectado diretamente com seu cl*tóris. Enviou labaredas de sensações correndo através de seu pequeno broto, enquanto ela ofegava, lutando por respirar no meio do prazer que a atravessava.

— Ainda tem sabor de madressilva — grunhiu ele. — E de rosas selvagens

— Por favor, Deus. Lance, não posso... — Gritou enquanto ele movia seus dedos outra vez, paralisando-a, deslizando-a perto da liberação se afundando nela com uma dura e rápida carícia enquanto sua língua retornava aos cl*tóris.

Vibrantes sensações prévias ao org*smo corriam através de seu sistema nervoso, roubando sua respiração e deixando-a a ponto de cair em um precipício de tão intensas sensações, que se perguntou se sobreviveria.

— É tão doce e apertada — sussurrou ele, antes de lamber uma vez mais ao redor do cl*tóris. — Está apertando meus dedos como um punho. Sinto quão tensa que está, neném. Porque é tudo o que posso fazer para não gozar assim que coloque meu pênis dentro de você.

Seus dedos se retiraram e depois, em um lento e delicioso movimento, deslizou-os novamente em seu interior. Harmony podia sentir a sensível malha se abrindo para ele, o ordenhando enquanto o sensual empalamento a deixava tremendo de necessidade de se liberar.

— Outra vez? — sussurrou ele.

Desta vez, quando seus dedos a penetraram, seus lábios lhe cobriram o cl*tóris e começou a amamentá-lo eroticamente. Poderosos e pesados empurrões de seus dedos em seu interior, um giro de seu pulso, o roçar das calosas pontas de seus dedos contra os terminais nervosos que ardiam sob seu toque, e ela sussurrou.

Gritou seu nome. Escutou a si mesma gritando o nome dele enquanto o org*smo explorava dentro dela com resultados devastadores. As coxas seguravam a cabeça dele enquanto seu sexo agarrava seus dedos, os músculos internos se sacudiam violentamente enquanto a última barreira que protegia sua alma era derrubada.

Vulnerável. Indefesa. Enquanto Lance começava a aliviá-la, os dedos saindo dela, pressionando os lábios brandamente sobre suas coxas e seu estômago, não foi fraqueza o que sentiu.

Pela primeira vez se sentiu completa.

Observou através de seus sonolentos olhos como Lance ficava de joelhos, olhando-a fixamente, com uma dura expressão de fome e necessidade, e percebeu quão indefeso estava contra ela. Ele se tinha aberto a ela desde o começo, e ela nem sequer se deu conta.

— Formosa — sussurrou ele, enquanto posicionava a pulsante e dura ereção entre as dobras de sua boceta— Minha doce e formosa gatinha.

Harmony se arqueou enquanto começava a mover o pênis dentro dela. Cada investida o levava mais profundo nos apertados músculos enquanto suas mãos se deslizavam ao longo das coxas e cintura dela. Finalmente, quando estava enterrado até o punho, se elevou sobre ela e lhe permitiu que envolvesse os braços ao redor dele.

— Estou quente — ofegou ela, compreendendo que o profundo frio que impregnara seus ossos por tanto tempo se foi.

— Muito quente — sussurrou ele na orelha, a voz áspera, quase agonizante enquanto seus quadris começavam a se mover. — Doce neném, tão malditamente quente que vamos incendiar a casa.

Harmony ondulou contra ele quando se deteve então, acomodando-se mais perto de seu corpo enquanto pressionava os lábios contra o pescoço dela. Devagar, o apertado calor de seu sexo se aliviava enquanto os músculos se adaptavam à penetração. Podia senti-lo, cada centímetro de seu pênis pulsando dentro dela, estirando-a até que seus escondidos terminais nervosos estiveram expostos e delirantemente acariciados.

— Nos sinta juntos, Harmony — sussurrou. — Realmente quer escapar disto?

Não lhe deu tempo para responder. Harmony tragou outro estrangulado gemido quando ele começou a se mover. As largas e lentas estocadas de seu pênis a empalavam, a queimavam enquanto começava a se retorcer debaixo dele.

Necessitava mais. Ele ia muito lento, torturando-a com seu ritmo lento e constante que a empurrava mais alto, mas que mantinha o org*smo ardendo justo fora de seu alcance.

— Deus, é tão apertada. Tão malditamente doce — grunhiu em sua orelha. — Me faz voar, Harmony.

A fez gritar. Lutou por conter suas lágrimas enquanto o prazer a fazia girar em espirais. Cada penetração, cada profundo empalamento de seu pênis a estirando e a levando cada vez mais alto, lhe roubando outra parte de sua alma.

Não era só seu toque. Não era só sua aceitação. Era o ar saturado de fome, amadurecido de emoção. Estava sentindo seu calor, a autêntica essência dele envolvendo-a.

— Rouba minha alma — ofegou ela, cravando as unhas nos seus ombros enquanto ele se detinha, levantando a cabeça enquanto a contemplava fixamente.

Seu olhar era sonolento e escuro pelo calor sensual.

— Onde acabo eu e começa você? — Seu próprio lamento sussurrado a assustou; a compreensão de que ele possuía tanto dela a teria apavorado se não se sentisse tão condenadamente bem.

Lance fez uma careta, despindo seus dentes um segundo antes de baixar seus lábios para os dela.

— Estamos juntos, neném. Juntos. Sem nenhum final.

Seus lábios a cobriram e a realidade retrocedeu. Os quadris dele começaram a bombear forte e rápido, o brutal prazer de cada golpe a rasgando em seu interior.

Seus gemidos encheram a noite enquanto lhe sussurrava eróticas e pecadoras palavras contra seus lábios.

— Me foda, neném... Ali, carinho, me aperte justo ali... Maldição, é tão quente. Tão malditamente quente.

Lance segurou seu quadril com uma mão e o cabelo com a outra, enquanto seus lábios abriam os dela, lhe introduzindo a língua profundamente enquanto começava a fodê-la desesperadamente. Se movendo. Acariciando-a. Fazendo-a voar enquanto explorava.

Ela voou com ele. Brilhantes explosões de luz e êxtase a atravessaram quando o sentiu se sacudir em seu interior. Seu sexo o apertou, o mantendo ancorado no mais profundo, convulsionando ao redor da dura longitude do jorro de seu pênis enquanto ela gritava de prazer.

Ali. Êxtase. Ruptura. E fusão. Sentia como uma parte dele a unia, no mais profundo de seu espírito, e nesse momento, soube que não encontraria a liberdade ao abandonar Lance. Abandoná-lo a destruiria.

— Eu queria salvar o Jonas. Ela ia matá-lo.

Sonolenta, imensamente triste, Harmony falava enquanto a luz prévia à alvorada penetrava através da fresta das cortinas escuras do quarto.

Lance a manteve apertada contra seu peito, o queixo descansando sobre sua cabeça, os braços envoltos ao redor dela, lhe pressionando as costas contra o peito e abdômen dele.

— Quem ia matá-lo, Harmony?

— Jonas — sussurrou ela depois de uma longa pausa. — Madame LaRue o pariu. O embalou enquanto era um bebê e também um garotinho. Dava-lhe o melhor que todos os laboratórios podiam proporcionar, mas ele era amável. Escovava meu cabelo quando retornava de uma missão. LaRue sempre ordenava minhas provas enquanto ele não estava. Ela não queria que ele conhecesse a magnitude de sua crueldade. Ele acreditava que outros cientistas a controlavam, que a obrigavam aos atos que cometia em nome da ciência.

Ele escovava seu cabelo. Soava simples, nada mais que um pequeno gesto, mas Lance percebeu a veneração em sua voz quando ela o mencionou.

— Quando Jonas me capturou no mês passado, sua cientista Elyiana teve que tomar sangue e amostras. Odeio isso. Odeio quando as agulhas perfuram minha pele. Ele veio a minha cela um pouco depois. Ainda tinha a escova que usava quando eu estava nos laboratórios. E escovou meu cabelo.

Sua voz estava carregada de emoção, e Lance teve que pestanejar para conter o rastro de umidade enquanto a deixava falar. O tom de sua voz, reflexivo e áspero rasgou sua alma.

— Madame LaRue ia matá-lo. — As mãos dela se esticaram sobre seus braços. — Ordenou a uns poucos de nós que os assassinássemos. As outras Castas que estavam naquele quarto, os únicos que eu matei, estiveram traindo Jonas durante meses enquanto ele planejava uma fuga para todos nós. Inclusive Madame. — Um pequeno tremor correu por seu corpo. — Ele era seu experimento pessoal, e ele nunca pôde vê-lo. Eu também era sua filha, mas só Jonas conheceu a paz dentro desses laboratórios. Só ele conheceu a ternura. E eu quis preservar a bondade que vi nele. A lembrança de uma mãe. Tais lembranças são preciosas, não são?

— Quis protegê-lo — sussurrou ele. — Porque o amava.

Sua respiração se deteve enquanto um soluço silencioso agitava seu corpo.

— Em poucas semanas, seus guardas pessoais, dois Coiotes conhecidos por sua brutalidade me encontraram. Ele os tinha enviado. As últimas palavras deles foram a mensagem que me enviou. Os traidores morrem. As últimas palavras que me disse quando saí correndo da habitação onde tinha assassinado a sua mãe.

Lance engoliu com dificuldade. Que Deus o ajudasse, mas ele não queria nada mais que fazer Jonas em pedaços. O bastardo não tinha nem idéia do que tinha feito à menina que arriscara sua vida por ele.

— Você tem provas do que era ela — disse ele então. — Sabia o que ela fez. Por que não as entrega a ele?

Ela permaneceu em silencio durante longos momentos.

— Havia tão pouco que pudéssemos nos agarrar. — Inalou com dificuldade, sua voz rouca por causa das lágrimas. — Sabiam que fomos criações do homem e não de Deus. Que fomos criados para matar. Mas Jonas tinha uma mãe. Tinha carícias ternas e palavras doces. Ele tinha algo para apagar o ódio, a dor e a brutalidade de nossas vidas. E lhe entregar a informação não mudaria nada.

Tremeu outra vez, a respiração entrecortada enquanto se apertava fortemente contra ele, e ele sentia a ânsia por todas as coisas que ela tinha mencionado. Tinha lutado por proteger a lembrança de Jonas de uma mãe que era um monstro, porque ela ansiara tão desesperadamente essa ilusão para si mesma.

— Não podia lhe permitir assassiná-lo — sussurrou atropeladamente. — Ele escovava meu cabelo... — Dera o único toque de calor e ternura nesse escuro e horrível mundo.

Lance a aproximou mais de seu corpo, envolvendo-a tão forte como foi possível enquanto enterrava a cara em seu cabelo.

— E agora, aqui está você — sussurrou ela chorando. — Honorável. Paciente. O que vou fazer, Lance, se morrer por minha culpa? Se os monstros te encontrarem e destroem a vida que arde tão pura dentro de você?

E que faria ele sem ela?

— Sou um filho da terra — disse brandamente, sentindo-a se imobilizar contra ele. — Os ventos me chamam, o ar que há ao redor me sussurra os segredos de outros em meu ouvido. Me adverte do perigo e me protege quando outros me tivessem visto cair. Isso me levou àquele balcão na noite que a encontrei. Enquanto estava fora, me perguntando que demônios estava fazendo ali, sussurraram seu nome.

Ela voltou-se devagar para ele, contemplando-o com seus torturados olhos verdes pálido, enquanto ele se levantava sobre um cotovelo. Queria rodeá-la. Queria se envolver a seu redor de tal forma que ela nunca estivesse sozinha de novo.

— Você tem algo que Jonas quer — disse ele então. — Escuto esse conhecimento cada vez que vejo Jonas, e cada vez que menciona seu nome. Um segredo, ou segredos, que vão além da mãe que ambos compartilharam.

Lance observou como seu rosto empalidecia e o temor enchia a seus olhos.

— Jonas não quer vingança, Harmony. A única razão pela qual ainda está vivo, é pelo fato de que não há má intenção quando está a seu redor. Mas quer obter isso que esconde dele. E o quer tão desesperadamente que utilizará a você, ou a mim, para consegui-lo.

Ela negou com a cabeça lentamente enquanto ele observava sua expressão. Ia do medo à confusão, os olhos se escurecendo enquanto franzia o cenho para ele.

— Ele não pode saber o que tenho — disse ela. — Ninguém sabia, além dos cientistas desse escritório, e eu os assassinei.

— Sabiam o que, Harmony?

— Que a primeira Casta criada ainda vive. — Sua voz diminuiu gradualmente até não ser mais que um murmúrio afogado.

Segredos desconhecidos. O anterior e o que ainda é. As palavras foram sussurradas em seu ouvido, exaladas através de sua mente.

— Há mais. — Lance passou a mão consoladoramente por seu braço quando ela estremeceu outra vez sob seu corpo. — Mas considerando que se trata de Jonas, só Deus sabe o que quer.

— E se não pudermos nos permitir o luxo de esperar isso, atrás de que vai?

Então Lance sentiu seu medo.

— Alonzo me conheceu como Morte, quando eu era jovem. Se me reconhecer agora, minha cobertura voará. Se isso acontecer, cada Coiote que ainda viva e trabalhe para o Conselho me perseguirá. O preço por minha cabeça é muito alto.

Deus, podia ficar muito pior?

— O que ele estava fazendo ali? Como estava envolvido? — perguntou Lance.

— Não estou segura do papel que jogava. — Suspirou. — Mas ele era muito importante para Madame LaRue, e sei que investia imensas quantidades de dinheiro no projeto das Castas.

— Tem provas de que Alonzo era parte do Conselho? — adoraria ver cair ao bom reverendo.

Ela negou com a cabeça.

— Não tenho essa prova. Mas ele esteve muitas vezes no laboratório e se reuniu com Madame e meu treinador. Se ele me reconhecer, Lance...

— Então teremos que nos assegurar de que Alonzo não a descubra. — Lance pôde sentir o perigo se intensificando ao redor deles, e escutou o sussurro de ajuda em seu ouvido, inclusive enquanto o ar lhe advertia do perigo que Alonzo poderia representar. Ele não sabia quem era Harmony, e isso era tudo o que importava nesses momentos.

Um pequeno sorriso se desenhou nos lábios de Harmony.

— Está escutando aos ventos?

Ele alisou seu cabelo atrás de sua bochecha.

— Finalmente — reconheceu ele, com arrependimento. — Meu avô estaria muito feliz comigo.

— O Conselho procurava mulheres que tivessem dons como o seu — disse ela. — Eram consideradas como as chocadeiras perfeitas para os embriões de Casta implantados. Acreditava-se que as mulheres que levavam as criações adicionavam um elemento à composição final da Casta. O poder Psíquico era um dos elementos que eles acreditavam que se podiam transferir dessa forma.

Embriões e criações. Nunca bebês ou crianças. Que Deus o ajudasse, mas a raiva que ardia em seu interior contra aqueles que tinham marcado a alma dela desde o nascimento, o aterrava.

Soubera que muitas mulheres psíquicas nativas americanas foram raptadas, mantidas em cativeiro até que as crianças que lhes eram implantados nasciam, e logo liberadas. As mulheres que eles utilizaram dessa maneira tinham sido separadas de todo mundo, e Jonas sabia que eles tinham procurado psíquicas desesperadamente.

— Não permitirei que me deixe — disse ele, finalmente.

— Como vou ficar?

Manteve-se quieto, calado, encarando-a enquanto Harmony estendia a mão, passando a ponta dos dedos pela bochecha

— Eu nunca tive ninguém — sussurrou ela. — Eu sabia muito bem. Sabia que eles o usariam para me capturar. Eles o apanharão, o torturarão, e se assegurarão de que eu saiba disso. Eu daria minha vida por você, mas isso só serviria para aliviar a dor que lhe causariam por minha culpa. De todas as maneiras, morreria.

Uma lágrima caiu de seus olhos, criando um rastro prateado por sua bochecha enquanto seus os lábios tremiam.

Lance sentia uma comoção no peito, sentia a emoção que abria um oco dentro dele como um punho cruel, apertando ao redor de seu coração.

— Lutaremos para sobreviver. Para amar. Se for a vontade da terra, Harmony. Fugir não mudará isso. Tampouco nos salvará.

Seu rosto se retorceu de agonia quando se voltou para ele, se aconchegando a seu lado, o corpo tremendo enquanto ele a aproximava uma vez mais.

— Lutou para viver — disse ele brandamente enquanto envolvia seu corpo ao redor dela, sentindo seu calor fluir para ela, sua alma relaxando ao redor da dela. — Lute por nós agora, Harmony. Lutou por sua vida, agora me ajude a lutar por nosso amor.

Seu amor.

Harmony contemplou o quarto, olhando enquanto os pálidos dedos da alvorada jogavam uma olhada dos lados das escuras cortinas. Era isto o que ela estava sentindo? Era isto o que estivera sentindo desde o começo? Era isto pelo qual não podia se afastar dele?

Esta não era sua forma de seguir quando sabia que o perigo superava as possibilidades de fuga. Não era seu costume permitir que ninguém violasse suas defesas íntimas. Mas Lance tinha feito exatamente isso... com o calor de seu corpo que fluía ao dela, o prazer de seu toque, a dolorosa realização que Lance tinha criado para ela.

Um emparelhamento. E ele tinha aceitado esse emparelhamento, aceitando-a como se a conhecesse toda sua vida. Porque os ventos lhe sussurravam.

— O que dizem? — perguntou ela. — Os ventos. O que dizem a respeito de mim?

— Que é selvagem e incorrigível. — Um fio de diversão enchia sua voz.

Os lábios dela se levantaram em um sorriso quando se girou para ele.

— Digo a sério.

— Seriamente. — A mão dele embalou sua bochecha enquanto o polegar lhe separava os lábios. — Ouço o eco de seus gritos ao redor de mim. Ouço um sussurro de força e de necessidade, e pena. Ouço seu coração. Cada vez que se nega a mim, escuto sua alma gritando por mim. O vento não fala em palavras, ou em explicações. Fala na risada, em um grito, um lamento de rechaço ou um sussurro de fortaleza. E ouço tudo isso enquanto o ar flui ao redor de nós, me empurrando para você, não importa quantas vezes me afaste.

Beijou seus lábios brandamente antes de se elevar para olhá-la fixamente uma vez mais.

— Não sei o que fazer. — Seus lábios tremeram enquanto lutava por encontrar um modo de lhe fazer entender o que sentia. Mas não o entendia ela mesma.

— Só seja você. — deitou a seu lado outra vez, empurrando-a contra ele e deixando que seu calor se envolvesse ao redor dela. — Só seja Harmony.

Essa noite a patrulha estava destinada a ser aborrecida. Lance estava entupido no escritório com a papelada e ela estava cobrindo a um dos oficiais que tinha saído por um assunto familiar. A escuridão a rodeava, a encerrando, e a deixou com muito tempo para pensar.

Só seja Harmony. Não pela primeira vez, ela se perguntava quem era Harmony.

Enquanto fazia sua rota pelas tranqüilas ruas da zona principal de Broken Butte, Harmony franziu o cenho pelo pensamento.

Sempre soubera quem era Morte; não havia nenhuma pergunta ali. Morte era vingança. Era a sombra que se deslizava durante a noite e trazia justiça a aqueles aos que a lei tinha falhado de algum jeito.

Era escura, irada, fria e desumana. Não se lamentava e não voltava a pensar. Enquanto parava em um semáforo em vermelho, franziu o cenho para a rua iluminada. Mas quem era Harmony?

Tinha tomado o nome como uma brincadeira. Harmony Lancaster. Harmony, porque era o que deixava na esteira de Morte. Lancaster era o nome da rua onde ela tinha tomado a última vida inocente que tinha permitido que o Conselho lhe endossasse.

Essa noite estava gravada em sua memória, selada com a força de uma marca ardente.

— Me deixe te ajudar. Posso, posso lhe conseguir segurança. — A mulher a tinha segurado com tal compaixão, tal feroz determinação que Harmony quase tinha acreditado que era verdade.

Mas seu Treinador a advertira que a operação era um mestre do engano. Aos quatorze, treinada como Morte, ela somente tinha conhecido a “prova” que lhe deram. E aquela prova marcou a esta mulher como uma vingativa vendedora de crianças. Uma mulher que arrancava crianças inocentes de suas casas e os vendia ao melhor lance.

— Me deixe te ajudar. — Uma trêmula mão que tinha estendido a Morte. — Me deixe conseguir sua segurança.

Morte tinha golpeado. Agarrou a mão da mulher, usando-a como alavanca, e deixou que sua faca respondesse por ela. Tinha seguido as ordens de seu Treinador, mas quando olhou à mulher se enrugar sem vida na terra, soube que havia demarrado sangue inocente.

Harmony sacudiu as lembranças de sua mente antes que pudesse rasgar sua alma como fazia cada vez que permitia que se liberasse. A mulher que tinha matado fora uma agente de investigação da CIA, do grupo na sombra conhecido como o Conselho de Genética. Tinha um marido e uma criança. Tinha sido um dos tipos bons, e Morte tinha tomado sua vida.

Enquanto o semáforo ficava verde, Harmony girou para outra rua bem iluminada, seu olhar procurando as sombras enquanto patrulhava a tranqüilidade. As luzes resplandeciam dentro das casas; alguns residentes ainda sentados em seus alpendres desfrutando do último ar da tarde. O aroma de churrasco se dispersava no ar, e a risada das crianças.

Isto era pelo que Lance lutava. A paz que ressoava aqui, isto que fluía pelas janelas meio baixadas e se envolvia ao redor dela.

Isto era pelo que as pessoas tinham lutado tanto.

Sacudindo a cabeça, se dirigiu ao Comunity Street. O bloco inteiro continha o centro social, as quadras de esportes de jogos, uma quadra de esportes de tênis e uma piscina pública que fechava de noite. As luzes dentro da quadra de esportes de basquete ainda estavam acesas, como o estava a quadra de esportes de tênis, e ambas estavam em uso.

Aproximou o Raider a uma parada enquanto olhava aos jovens jogar, risadas e brincadeiras com insultos fluíam para ela.

— Ouça tio, isso é só um tiro de maricas — um jovem riu enquanto agarrava a bola. — Me deixe te mostrar como se faz.

Ele deixou cair a bola, para deleite de seus amigos e para quem a roubou de suas mãos.

— Tio. Isso está muito mal. — Risadas, felicidade.

Não havia lugar para Morte aqui, mas Harmony podia sentir a paz se envolvendo ao redor dela. Apoiou-se contra o volante, olhando o jogo, um sorriso puxando seus lábios enquanto os moços pousavam e gemiam, grunhindo e lutando em brincadeira como todos os jovens quando desafiavam uns aos outros.

Não havia muita diferença com os jovens cachorrinhos machos nos laboratórios, se deu conta. Houve momentos entre as sessões de treinamento quando lhes permitiam descansar sob o calor do sol enquanto uma gentil brisa brincava ao redor deles. E tinham rido, tinham brincado uns com outros e tinham provado sua força. E às vezes não tinham sido castigados por isso.

Suspirou enquanto descansava o queixo contra as mãos que seguravam o volante. Ela nunca tinha jogado. Nunca tinha rido, nem provou a si mesma desse modo brincalhão.

— Unidade quatro, está tudo bem? — Lenny, o olho de águia vigiando as unidades desdobradas do escritório, chegou do enlace de comunicações no tabuleiro.

— Só olhando um jogo, Lenny — informou ela enquanto se endireitava em seu assento. — Os moços estão na quadra de esportes da comunidade.

— São muito jovens para você, Suplente. — A voz brincalhona de Lance substituiu a de Lenny.

Harmony sorriu, embora se deu conta de que queria rir.

— Isso é afirmativo, Xerife — arrastou as palavras, por uma vez, rechaçando lutar contra o calor que se elevava dentro dela.

Não podia lutar contra ele. Soubera na noite anterior que sua própria batalha pessoal para negar a vinculação entre eles tinha terminado.

— Estou indo embora — informou. — Até agora, tudo está tranqüilo. Alguma vez está não tranqüilo?

— Oh, temos o ocasional fogo, briga a murros e disputa de agressão familiar — assegurou Lance. — Embora guardem a maior parte disso para os fins de semana.

Ela sacudiu a cabeça. Tinha respondido uma chamada por tentativa de roubo que resultou ser um guaxinim, e uma disputa entre o que seria otário e os pais de uma jovem a quem ele estava cortejando. Não que não houvesse problemas em outras áreas, só que não na sua área. Ainda.

— Vou terminar minha ronda e logo me dirijo para lá. Informe. — Fez uma careta à papelada que esperava a sua volta ao escritório. — Talvez devesse tentar como polícia de trânsito amanhã. Com certeza eles não enchem papéis.

— Estaria surpreendida — Lance riu entre dentes. — Olha-o quando entrar. Controle fora.

— Unidade quatro fora. — Levou o Raider de volta à rua e completou sua área antes de girar e se dirigir de volta ao Departamento do Xerife.

Tinha sido uma noite razoavelmente tranqüila, assim não lhe surpreendia ver Dane dar um passo das sombras ao lado do edifício enquanto ela saía do Raider.

Ele se apoiou contra a esquina do edifício, sem se importar quem poderia vê-lo, sua expressão pensativa enquanto a contemplava. Durante um momento, ela considerou ignorá-lo. Deveria ignorá-lo, pensou com frustração; não estava de humor para ele ou Jonas.

Estreitando seus olhos, olhou atentamente ao redor do estacionamento antes de se mover rapidamente para a área mais escura, onde ele a esperava.

— O que está fazendo aqui? — Entrou nas sombras, imobilizando-se imediatamente quando se deu conta de que ele não tinha vindo sozinho.

— É tempo de te levar, Harmony. — Sua voz era sombria, com um tom dominante. — É hora de ir.

Deu um passo atrás quando ele se inclinou para ela.

— E um inferno — murmurou ela, sua mão colocada sobre a culatra de sua arma enquanto mantinha a ele e ao Ryan, seu sócio, à vista. — Não vou a nenhuma parte contigo, Dane, lhe disse isso.

— Inclusive se isso significar sua vida? — cuspiu-lhe. — Me escute Harmony, não quer o que vai ocorrer aqui. E não tenho tempo para te tirar de uma fodida cela de novo. Agora, vamos antes que esse teu Xerife venha te buscar.

— O que está acontecendo, Dane? — ela girou enquanto Ryan se movia como se pensasse em se colocar atrás dela. — Ryan, permanece onde demônios está. Não me faça lutar contigo.

Ambos os homens ficaram quietos. Ryan não era tão alto como Dane, mas era musculoso e rápido. Seu curto e escuro cabelo emoldurava um rosto escurecido pelo sol e seus pálidos olhos azuis a observavam cuidadosamente.

— Nunca antes tinha me questionado — murmurou Dane. — Quando vim te tirar dos problemas, sempre me seguiu.

— Sempre compreendi o problema do qual estava me tirando. Não estou em problemas ainda, Dane. — E ele sempre estivera aí.

— Já vem, Harmony. — Suspirou ele. — Sabe tão bem como eu.

— Então, talvez pudesse me dizer o que procurar — sugeriu ela suavemente. — E enquanto está nisso, por que sempre tem que fazê-lo?

— Fazer o que? — Sua vista se centrou sobre ela pensativamente.

— Por que sempre tem que me tirar dos problemas? Como é que sempre sabe que estou em problemas? Como me rastreia, Dane?

Seus lábios se torceram lentamente.

— Sou intuitivo.

— Está cheio de merda. — Deveria tê-lo pensado antes. — Como sabe?

— Só digamos que tenho certos contatos. — Disse ele finalmente. — Suficientes contatos para saber que atrás desse assassinato uns poucos dias antes, Alonzo tentara unir seu nome ao de Morte.

— Não tem provas.

— Harmony, está arriscando a vida de seu xerife...

— Não posso deixá-lo, Dane — soltou ela. — Não o entenderia.

— Pensa que não sei que está emparelhada com o filho de cadela? — Ele soprou também. — Por Deus, Harmony. Por que não me deixou te tirar quando tentei na primeira vez?

— Era muito tarde. — Sacudiu a cabeça com fúria. — E agora não importa. Não posso escapar mais. Estou cansada de correr.

Encarou-a fixamente, a frustração marcando seu rosto enquanto seus olhares chocavam.

— Não quero te obrigar a partir, Harmony. — Suspirou outra vez. — Mas o farei.

Ela retrocedeu.

— Por quê?

Ele sorriu tensamente.

— Não é suficiente que me preocupe com você? — perguntou-lhe rudemente. — Ver você cometer suicídio é uma dor no traseiro.

— Não é suficiente. — A mão dela se esticou sobre a arma.

— Demônios, vai ser suficiente pensá-lo.

Ela saltou a um lado enquanto ele se movia, colocando ela mesma dentro do bem iluminado estacionamento, enquanto ele permanecia nas sombras.

— Não é o suficiente; se tentar me obrigar será meu inimigo para sempre, Dane. Não o faça. Pelo bem de ambos. — Girando, caminhou para a entrada, o coração golpeando a garganta enquanto Lance saía das grandes portas, com a mão sobre a arma a seu flanco, o corpo tenso e preparado.

Ela pôde cheirar o perigo o rodeando, a determinação enquanto baixava os degraus, segurava seu braço, sem uma palavra e começou a arrastá-la para a entrada.

— Lance...

— Minta para mim e te darei uma surra — soltou ele. — Entre em meu escritório e por Deus, são necessárias as explicações.

Dane sussurrou os dentes ao som da voz do xerife, antes de fazer gestos a Ryan através das sombras do parque anexo.

Apenas tinham se movido da lateral do edifício quando dois oficiais dobraram a esquina, ao tempo que as luzes do teto o iluminavam.

O xerife era um homem cauteloso e um condenado ardiloso. Como poderia ter suspeitado?

Deslizando através das sombras, ele e Ryan retornaram ao obscuro SUV estacionado no bloco oposto.

— Agora, o que? — perguntou Ryan enquanto fechavam as portas atrás deles.

— Demônios. — Dane apertou o volante enquanto a frustração o devorava. — Ela nunca tinha me desobedecido assim.

Em outros tempos, ela teria partido imediatamente.

— O emparelhamento é forte — murmurou Ryan. — Podia cheirá-lo sobre ela, inclusive está mudando seu aroma.

— Isso vai fazer com que a matem. — Arrancou o SUV, colocou a marcha e se dirigiu silenciosamente à rua antes de acender as luzes. — Esse assassinato em Pinon foi somente uma advertência.

— Deveríamos chamar o velho?

Dane grunhiu

— Faça isso, e acabaremos com uma guerra aqui. Tem carinho pela garota, Rye, sabe.

— Chutará seu traseiro se ela sair machucada — apontou Ryan.

Isso era pouco.

— Merda, faremos turnos e manteremos um olho nela — Sacudiu a cabeça resignadamente. — Sabia que não devia levá-la para casa aquela vez. Grande, grande engano.

Infelizmente, tinha sido levá-la a casa ou deixá-la morrer. Deixá-la morrer não tinha sido uma opção.

— Por que simplesmente não lhe pede os expedientes e termina com isto? — sugeriu Ryan. — Diga a verdade.

Dane sacudiu a cabeça.

— Não me dará esses expedientes tão facilmente. Além disso, isso não salvaria sua vida. Também tem informação em sua cabeça. E Jonas sabe. O que Jonas sabe, sabe esse fodido espião no Santuário. O deixarei no hotel e farei a guarda esta noite. Só espero que possamos nos fazer cargo disto rapidamente, de outra forma o Velho poderia simplesmente decidir inspecionar por si mesmo.

Essa situação o estava pondo seriamente nervoso. Se não fosse pelo perigo no qual Harmony estava atualmente, limparia a casa por si mesmo. De qualquer forma, só poderia fazê-lo uma vez que este pequeno trabalho terminasse. Seu pai estava se irritando, e quando o velho estava exaltado, sua mãe não estava longe. E na condição dela, não era bom para ninguém.

Um destes dias, Dane prometeu a si mesmo, Jonas ia ter bastante por que responder.

Que demônios estava se passando?

Harmony permitiu que Lance a mantivesse segura enquanto entravam em seu escritório, voltando-se para encará-lo enquanto a porta se fechava de repente atrás dele.

— Tem informes para terminar. — Sua voz era dura, a ponto de explodir pela ira. — Faça-os para que possamos ir para casa.

— Lance...

— Shh. — O brusco dedo que levantou, o castigo por algo que ela fosse dizer fez com que seus olhos se abrissem de par em par enquanto voltava o olhar atrás, para ele.

— O que...?

— Informes. — O tom dele era sinistro e dominante.

Um cenho apareceu entre suas sobrancelhas. Que a condenassem se permitiria que esta atitude continuasse.

— Discute comigo justo agora, e te prometo que aquela surra com a que estive te ameaçando é o que vai ocorrer. — A cara dele estava de repente na sua, o nariz quase tocando o dela. — Até que este imenso terror se evapore de meu corpo pelo que fodidamente seja que se passasse aí fora, então sugeriria a você que vá nas pontas dos pés.

— Ia te dizer...

— Escutei o suficiente! — Afastou-se dela pisando forte, os ombros rígidos, cada linha de seu corpo irradiando fúria. — Por Deus, Harmony. — Voltou-se para ela enquanto passava os dedos pelo cabelo com frustração. — Só faz os malditos informes.

As palavras saíram a empurrões de entre seus apertados dentes, enquanto a ira crepitava no ar entre eles. O que tinha ouvido? E por que estava tão furioso?

— Sabe, Lance, o assunto alfa é realmente bom — assinalou ela. E o era. Estava ficando molhada, rápido. — Mas para ser totalmente honesta, está reagindo de maneira exagerada. Ia te dizer...

— O que? — Sua voz raspava como veludo escuro. — Que estava em sério risco de ser afastada de mim? — Era óbvio que estava mantendo o controle por um fio. — Que com o que ou quem decidiu tão secretamente se encontrar estava a poucos segundos de te ferir?

Seus olhos se abriram de par em par.

— Dane não me faria mal.

— Dane! — Seus punhos estavam fechados enquanto os apoiava na escrivaninha, olhando fixamente através dele enquanto um fio de ciúmes se deslizava em sua voz. — Me deixe adivinhar. O mesmo homem que te resgatou dez anos atrás? Que tem um olho tão posto em você que te tira de debaixo dos narizes dos Coiotes, com um centímetro de sua vida de sobra?

As sobrancelhas dela se arquearam.

— Sim, esse mesmo - respondeu em tom zombador. — Deveria assinalar também que é o mesmo que salvou minha vida inumeráveis vezes...

— O mesmo que estava a poucos segundos de seqüestrar seu traseiro — disse ele grunhindo.

— Eu não permitiria que ocorresse...

— Desta vez não poderia tê-lo detido. — Sua mandíbula se fechou enquanto ela o olhava se agüentando com força de dizer mais. — Vá fazer os malditos informes, Harmony. Agora. Por favor.

Ela inalou lentamente.

— Sou uma garota maior de idade, Lance — disse lentamente. — Estive cuidando de mim mesma durante muito tempo.

— Sim, o fez. — Ele assentiu bruscamente enquanto se erguia. — E muitas vezes esses bastardos caçadores estiveram condenadamente perto de te assassinar. Até que chegue a saber como lutar com o terror apertando minhas bolas como agora, então te sugeriria que deixe este tema.

Ele era insuportável.

— Bem. — Ela sacudiu a mão com desdém enquanto lhe dava as costas e se encaminhava a seu escritório. — Vou fazer os malditos informes. Mas mais tarde, vou golpear seu traseiro por ser tão teimoso.

Ele era teimoso? Lance contemplou fixamente sua retirada, assombrado. Ela tinha a coragem de chamá-lo teimoso? Essa mulher poderia ter escrito um livro sobre a cabeça dura.

Inspirando com dificuldade, se sentou em sua cadeira, contemplando com incredulidade a porta fechada. Ela não tinha idéia de que tão perto estivera de ser apanhada. Por poucos segundos. Ainda podia recordar o imperioso grito que de repente encheu o ar, deixando seus joelhos débeis enquanto o som do perigo, da ausência de Harmony, começava a gritar através de sua mente.

Se ela resistir, faremos isso... A áspera voz tinha derivado além de seus ouvidos enquanto ele saltava de sua cadeira. Golpeia-a e a teremos no helijato antes que desperte.

Era a primeira vez em sua vida que palavras reais sussurraram além de seus ouvidos enquanto o ar o chamava. Ela não tinha idéia do perigo em que estivera. O homem que a tinha resgatado durante dez anos estava agora tentando capturá-la.

Por quê?

Levantou-se da cadeira e andou de um lado a outro pelo escritório, detendo-se na janela e contemplando o escuro panorama mais à frente do estacionamento.

A lateral do departamento estava agora bem iluminada, algo do que Lance raramente se preocupava a menos que houvesse um ato no próprio estacionamento. As luzes do estacionamento iluminavam a área o suficiente para a segurança, mas ainda havia sombras dentro das quais se esconder. Sombras que de repente pareciam execráveis.

Apoiou os braços no marco da janela e olhou-as fixamente, procurando respostas, movimentos. Deveria tê-la deixado se explicar, mas que o condenassem se pudesse tratar com sua confiança no desconhecido Dane agora mesmo.

Ela era preparada, e era condenadamente forte. Mas aquele bastardo tinha sido seu salvador durante muitos anos. Aquele tipo de relação estabelecia uma confiança que facilmente seria utilizada contra ela.

Jonas. Dane. O assassino em Pinon. Estavam todos conectados em algum lugar. De algum jeito. E Alonzo. Tinha visto o ódio fanático nos olhos do reverendo, e sabia que não tinham visto o último dele.

— Terminei. — Harmony entrou irada no escritório e jogou os informes em sua escrivaninha enquanto ele se voltava para ela.

Lançou um olhar ao relógio. Era o bastante perto da meia-noite para deixá-lo por essa noite. Ele tinha acabado a papelada que o esperava e seu segundo ao mando logo tinha aparecido.

— Jantou? — perguntou ele com um cenho.

Ela não comia suficiente, e isso o preocupava. Como conseguia seguir passando com a quantidade de comida e descanso que obtinha o assombrava infernalmente.

— Sim, comi. — Franziu o cenho com força. — O que tem isso a ver?

— Nada, porque duvido que tenha comido o suficiente para manter vivo a um pássaro. Vamos. Pode comer comigo antes de irmos para casa.

— Não tenho fome.

— Bom, eu sim, e odeio comer sozinho. — Ao menos ela o estava seguindo... o que o surpreendeu.

— Está ficando muito mandão para o meu gosto — informou ela, se colocando a seu lado enquanto se aproximavam das portas do vestíbulo.

— Não sou muito mandão, pergunte a qualquer um — resmungou ele. — Sou tão fácil de levar como eles querem.

— Me alegro de não ter estado comendo quando você fez essa pequena declaração. — Ela soltou uma zombadora tosse. — Teria engasgado.

Lançou-lhe um feroz olhar enquanto se deslocavam através da escuridão, a noite do verão os envolvia, os indícios de chuva aliviavam o calor do verão.

— Vamos...

— Xerife Jacobs?

Lance voltou-se para som da voz da fiscal do condado. Girou para observá-la enquanto ela saía de seu veículo e caminhava para eles.

— Stephanie. — Inclinou a cabeça saudando-a. — Saindo tarde.

— Tive que vir ao escritório tarde. — Seu sorriso era forçado enquanto saudava com a cabeça em direção a Harmony. — O advogado de Alonzo pagou a fiança do agressor da senhorita Lancaster.

— Foi lento — grunhiu Lance. — Esperava que o fizesse antes.

— Também avalizou Tommy Mason. — Deixou cair a bomba com uma careta. — O liberamos de seu confinamento.

— Bem, baixa e olhe, o sistema de justiça dos E.U.A. prevalece uma vez mais. — O sarcástico comentário de Harmony fez que Lance refletisse a careta de Stephanie.

— Só está fora sob fiança — assegurou a Harmony. — O julgamento será outro assunto.

— Boa sorte com isso. — Harmony se apoiou contra a parte dianteira do Raider, olhando a fiscal com ironia. — Pessoalmente, meu dinheiro está com Alonzo. Ele sabe como contratar advogados, senhora Atwater, e se Mason for parte de sua organização, então Alonzo verá como sai livre.

— Nem o sonhe! — Lance então se voltou para ela. — Não aqui, Harmony. Não neste caso. Tommy disparou contra os agentes, e nós temos seu testemunho de que estava mantendo a sua mulher como refém. Não se sairá desta.

— Então desaparecerá na organização de Alonzo e será afortunado se alguma vez o alcançar. — Ela deu de ombros como se não importasse. — Tanto pela promessa que fiz àquele guri, ah? Estou certa que está a salvo de verdade, neste momento. — Lance viu sombras de dor e cólera ardendo em seus olhos quando lhe mostrou aquele brilhante e falso sorriso. — Então, mencionou o jantar? Estou faminta.

Não estava faminta, estava ficando melancólica. Podia vê-lo nela.

— Lance, realmente sinto muito — disse Stephanie brandamente. — A fiança era ridiculamente alta. Não tínhamos idéia de que Alonzo interviria nisto.

Lance suspirou fatigadamente.

— Rezemos para que ele se aferre a sua rotina e passe algumas noites bebendo e se divertindo, antes de retornar a sua casa. Farei com que meus homens o vigiem e já veremos se não pudermos apanhá-lo.

Stephanie assentiu em acordo com sua escura cabeça, seus olhos marrons preocupados enquanto olhava fixamente para Harmony.

— Apanhe-o, Lance, e desta vez não permitiremos que escape.

Harmony suspirou ante sua afirmação.

— Obrigado outra vez, Stephanie.

Ela assentiu com a cabeça de novo antes de dar a volta e retornar ao carro. Lance voltou-se para Harmony, observando seus traços inexpressivos, e seus olhos cheios de fúria enquanto observava a partida da outra mulher.

— Dormiu com ela? — Voltou seu olhar para ele, arqueando a sobrancelha com um gesto de curiosidade.

— Acaso alguma vez te perguntei se deitou com Dane? — grunhiu ele — E o que tem a ver isso com nada?

— E o que se me deitei com Dane? — A pergunta não era agradável. — Não era virgem quando vim a sua cama, Lance.

— Isso não tem nada a ver com o Mason, Harmony — sussurrou ele.

— Mason não tem importância. — Ela levantou o ombro com despreocupação.

— E isso o que significa?

— Exatamente o que disse — disse ela friamente. — E a parte de que posso te dizer que você dormiu com ela, o advirto que poderia me deixar muito ciumenta. Está preparado para ir?

Ela se separou dele, movendo-se com graciosa fluidez ao redor do Raider antes de abrir a porta e entrar. Lance seguiu seu exemplo, sentindo como a tensão aumentava dentro dele enquanto escutava os lastimosos gemidos do vento. Não eram de dor, nem tampouco de medo. Era o som da morte.

O caminho para casa se fez em silêncio. Harmony podia sentir o medo e a raiva crescendo em seu interior. Tinha pedido a Jaime Mason que confiasse nela. Se desobedecesse a seu pai, ela poderia assegurar de que ele partisse para sempre. Só para fazer que Alonzo o liberasse.

Justiça. Inclusive a justiça de Morte fedia. Ela não podia fazer nenhum movimento, nem como funcionária da lei, nem como Morte, até que Tommy Mason arremetesse contra seu filho. Era o único limite que ela nunca tinha cruzado. E agora estava pagando por isso.

Quando entraram na casa, Harmony voltou-se para Lance, observando como ele punha o alarme antes de dar a volta para ela.

— Nos seguiram. — A expressão de seu rosto era selvagem.

— Sim. Eu sei — Harmony soltou as correias de velcro que seguravam a pistoleira em sua coxa antes de tirar o cinturão de seus quadris e se dirigir a seu quarto.

Só deu uns passos para a porta antes que uma algema se fechasse em seu antebraço e fosse empurrada contra a parede.

Surpresa e calor chisparam através dela ante a dominação refletida na escura expressão e que esticava os normalmente sensuais e grossos lábios dele.

— Como me disse antes, é uma garota grande — declarou ele, com voz áspera. — Não faça uma tolice a estas alturas e permita que ele salte sobre você. Ele a levará, Harmony. Não pode seguir confiando nele.

— Está tentando me proteger...

— E uma merda! Só está tentando proteger a si mesmo, por alguma razão — grunhiu ele. — Igual a Jonas, Harmony. Há algo que Dane quer. Essa é a razão pela que salva seu traseiro a cada maldita vez que o Conselho tenta te capturar. Alguma vez se perguntou como sempre sabe onde está, o fato de que seja resgatada? Segundo você, não tem amigos. Por que o fez?

Essa era a pergunta que a incomodava com mais e mais freqüência.

— Sempre há algum trabalho a fazer — replicou ela, escutando a fraca que era sua desculpa. — Algumas vezes, me necessita para algo.

— Um trabalho que não pode fazer por si mesmo? Pode te resgatar dos Coiotes, mas não pode se encarregar do que seja que te envia a fazer?

Harmony negou com a cabeça desesperadamente.

— Não há nada que eu tenha que qualquer não possa saber.

— Realmente acredita que ninguém, além desses cientistas que assassinou nesses laboratórios, conhecia a informação que roubou? — ladrou ele. — O que aconteceu com o resto da informação que tinha? Roubou uma unidade de disco rígido do computador, as cópias dos experimentos e informes, assim como a informação do primeiro Leão. Que outros segredos está escondendo, Harmony?

Olhou para ele, confusa. Ele estava destruindo suas noções preconcebidas, assim como Dane estava destruindo sua confiança nele. Ela sempre tinha dependido de Dane, compreendeu então. Sempre soubera, que de algum modo, de alguma forma, ele a faria retornar.

— Não sei — respondeu ela finalmente. — Os arquivos do disco rígido estão criptografados, e não pude romper seu código de segurança. O único do que estava segura era que nesse disco rígido estavam as cópias da informação do primeiro Leão, a única prova existente de que vivia. Madame LaRue era muito ganhadora, muito segura de si mesmo para ter cometido um engano e deixar a informação fora.

— E agora, você está o protegendo. — Suas mãos se afrouxaram sobre seus braços, mas seu corpo a manteve firmemente em seu lugar. — Esbanja sua condenada vida matando para proteger a outros. Quem a protege, Harmony, que não tem que pagar primeiro um preço?

— Sempre há um preço a pagar. — Ela aceitara isso fazia muito. Inclusive antes de escapar dos laboratórios, antes que tivesse conhecido Dane, ou aprendido os caminhos do mundo em que vivia. — Se o primeiro Leão está vivo, então merece viver em paz. Na segurança que encontrou. — Leão era seu antepassado, sua única conexão a uma linhagem, não podia permitir que fosse destruído, não mais do que podia permitir que Jonas fosse destruído.

— O preço que está disposta a pagar é inaceitável.

Harmony estremeceu ao escutar o tom baixo e áspero de sua voz, e a expressão de pesada e excitada dominação que enchia seu rosto.

— E, Por Deus, não vai pagar só — acrescentou ele, um segundo antes que sua cabeça baixasse.

A resposta dela foi instantânea. Nunca tinha conhecido a fome, nem a necessidade antes de conhecer Lance. Essa fome, essa necessidade, era tão intensa, aterradora e a fez se arquear contra ele enquanto seus lábios se abriam debaixo dos dele.

Não foi um beijo comprido e faminto. Deram-se beijos curtos, desesperados, enquanto ele a soltava para tirar sua camisa, lutando por tirar o objeto por cima da cabeça.

Ela escutou romper o tecido?

Demônios, não se importava. Ele estava não menos desesperado por tê-la nua como ela o estava por tirar a roupa dele.

Não era tola. Sabia quão perto estivera de ser afastada dele. Mas uma coisa sabia disto, com o tempo teria despertado e teria lutado como o inferno para voltar aqui.

Exatamente aqui nos braços de Lance.

— Esta condenada camisa tem que desaparecer. — Ele separou os lábios dos dela, se afastando para trás o suficiente para terminar de lhe rasgar a parte dianteira. Assim, sua camisa foi rasgada.

Afastou o tecido, despindo os inchados seios cobertos pelo sutiã enquanto baixava o olhar com uma expressão sonhadora e erótica.

— Deus santo, amo seus seios. — Suas mãos emolduraram os montículos que subiam e baixavam rapidamente. — E seus doces e belos mamilos.

Seus dedos se deslizaram debaixo do suave sutiã antes de baixá-lo, usando ao polegar para emoldurar sua carne enquanto a descobria.

— Assim. Justo assim — cantarolou.

A cabeça dela caiu para trás, quando seus lábios baixaram subitamente, tomando um duro bico debaixo deles enquanto a levantava em seus braços e começava a se mover.

— Preciso de você— ofegou ela, sentindo as chamas que cresciam em seu útero, se disparando por volta de seu sexo. — Te necessito agora.

— Me terá. Agora.

Antes que pudesse fazer mais que ofegar, ele a colocou de pé, girou-a, e logo a empurrou à cama.

— Se ajoelhe.

Um tremor a sacudiu pela submissão da postura que ela sabia ele desejava dela. Empurrou-lhe os ombros para baixo enquanto uma mão lhe agarrava as calças.

Em poucos segundos, a parte inferior de seu corpo estava nua e ele estava se movendo, ajoelhando-se atrás dela.

Por alguma razão, ela tinha esperado carícias estimulantes. Exceto pelo único encontro no escritório dele, para Lance sempre eram muito importantes as carícias.

Mas desta vez não houve nenhuma estimulação prévia.

Gritou quando sentiu seu pênis penetrar o líquido calor de sua vagin*. Suas costas arqueadas, o comprido lamento de agoniado prazer que saiu dela poderia tê-la surpreendido, se estivesse consciente o bastante para pensar nesse momento.

— Ainda é tão fodidamente apertada que me mata — grunhiu ele, enquanto segurava seus quadris, empurrando, acariciando seu interior, disparando fragmentos de prazer que atormentavam suas terminações nervosas.

Estava tão cheia. Ele estava tão quente, tão duro e lhe tirava a respiração com o prazer que a invadia, e a emoção que se construía em seu interior.

Lance perdeu o controle. Ela não sabia como ele tinha podido mantê-lo tanto tempo. Podia senti-lo. Orgulhar-se disso.

Quando começou a se mover, a pesada longitude de seu pênis a fodendo por dentro com duras estocadas, Harmony não pôde fazer nada salvo se abraçar, lutar por respirar e aceitá-lo.

Estava necessitada sob dele. Perdida em um mundo de súbito e irrevogável prazer, sem começo nem final. Só estava Lance, e o resplandecente calor de seu toque, de sua posse.

— Maldita seja. Vai permitir a eles nos tirar isto Harmony? — Ele empurrou dentro dela, dura e profundamente; cada golpe a deixava sem respiração, roubando alguma parte de sua habilidade de pensar. De raciocinar. — Vai permitir que alguém te tire isto?

O org*smo, quando golpeou, foi inesperado. O braço dele curvado debaixo dela; seus dedos encontraram a dor abrasadora de seu cl*tóris e o acariciou com devastadores resultados.

Ela sabia que tinha gritado seu nome. Sentiu seus músculos se esticando para logo se dissolver enquanto um insuportável prazer a percorria. As estrelas explodiram a seu redor e ela se perdeu no caos. No prazer. Sua cabeça caiu para trás enquanto permitia que seus sentidos absorvessem cada duro empurrão que elevava as sensações de sua liberação.

Estava perdida e sabia. A dominação sexual que tinha espreitado sob a superfície estava liberada. Lance não era do tipo de homem que ficava de braços cruzados, soubera desde o começo. Ele não era dos que ficavam atrás esperando que ocorresse o melhor.

E não se estava ficando atrás agora.

— Não terminamos. — A áspera declaração, solta com uma voz áspera e faminta, fez que seu útero se esticasse e sua respiração se detivesse.

— Espere... — Só um momento. Só o tempo suficiente para aliviar a violenta sensibilidade dos músculos com que ela apertava seu grosso pênis.

— Para que? —apoiou-se sobre ela, segurando-a quieta enquanto suas coxas se flexionavam, fazendo com que a palpitante crista de sua ereção a acariciasse internamente. — Para que vou esperar, Harmony? Para que pense? Para que confie em alguém que nos foderá, nos destruindo?

Os quadris dele empurraram contra seu corpo, entrando cada vez mais em seu interior enquanto sua respiração vibrava em seu peito e os punhos se aferravam aos lençóis que tinha debaixo.

— Para que algum bastardo diga que estaria melhor longe de mim?

— Não! — A angustiada emoção que ela escutou em sua voz lhe rasgou o coração, enquanto sentia os lábios dele em seu pescoço, e sua difícil respiração áspera em seu ouvido.

E também sentiu sua dor. Seu medo. A essência dessas emoções a envolveu, se mesclando com sua determinação e sua força.

— Minha. — Beliscou-lhe a orelha enquanto ela sentia o lento retrocesso de seu pênis, raspando sobre suas ardentes terminações nervosas. — Me escutou, Harmony? É fodidamente minha!

A última parte da declaração veio acompanhada de um duro e rápido empurrão que a fez corcovear sob ele. Oh Deus, era tão bom. Os fustigantes açoites de prazer pareciam explorar desde seu sensibilizado sexo até o resto de seu corpo. Seus mamilos doíam, o cl*tóris começava a pulsar com uma necessidade renovada, e sua carne começava a se sensibilizar até o ponto que podia sentir o ar contra o cl*tóris, se movendo ao redor. Outra carícia. Outro prazer que a tinha suplicando por mais, surdos e pequenos grunhidos felinos saindo de sua garganta.

— Você gosta disto, neném?

— Sim… — choramingar era tudo o que ela podia fazer. — Oh Deus, sim, Lance. Eu adoro. — Afastou-se para trás, sentindo o lento empalamento, o balanço e o movimento dos quadris dele, a pressão de seus sacos contra o inchado cl*tóris enquanto ele empurrava até o punho.

— Vai deixar ele nos tirar isto, Harmony? — Sua voz voltou a ser um sussurro.

— Não. Não. Juro… — Sua cabeça dava voltas enquanto lutava desesperadamente por alcançar o clímax. — Por favor, Lance. Por favor.

— Sempre minha, neném. — Beliscou-lhe a orelha de novo, roubando sua respiração com o ato de dominação animal— Me escutou? É fodidamente minha!

— Sua. — Seu lamento a impressionou. Saiu espontaneamente de seus lábios, sacudindo o ar ao redor dela. — Sua, Lance. Sempre. Tua.

O som que saiu de sua garganta poderia ter sido o grunhido áspero de uma Casta. Mas sua declaração rompeu o último fio que segurava o controle dele.

Os empurrões dentro dela eram rudes e primitivos. Mas isso era o que ela necessitava, compreendeu. Tão duros que sacudiam a cama, impactando em seu interior enquanto ela começava a voar. Como se ele tivesse perfurado seu espírito e o tivesse liberado com o delicioso prazer que atravessava cada terminação nervosa de seu corpo.

Inclusive o ar ao redor deles parecia obedecer à sua vontade. Acariciava-lhe a pele exposta, lambia seus mamilos enquanto lutava por se manter quieta, respirava sobre a pele umedecida de suor até que o prazer chegou a ser muito para resistir.

— Lance… — Seu esmigalhado gemido foi desesperado e surpreso enquanto o êxtase começava a arder ao redor dela.

— Goze para mim, Harmony. Dê-me isso neném. Dê-me tudo isso… — Sua voz era gutural, tão áspera, tão profundamente bestial enquanto seu pênis parecia aumentar dentro dela. — Me dê isso neném. E eu te darei…

Ela não podia gritar. Não podia chorar. Harmony sentia cada músculo, cada osso de seu corpo bloqueado enquanto algo começava a se inchar dentro de seu útero. Isto não era prazer.

Era algo que ia mais à frente do êxtase. Sua visão se obscureceu e ela começou a estremecer, duros e profundos tremores sacudiram seu corpo ao sentir como sua liberação pulsava através dela.

Os músculos de seu sexo apertados, inchados, apanhando-o em seu interior. Escutou seu grunhido agônico, emocionado, então sentiu como sua vagin* se contraía enquanto seu org*smo alcançava sua plenitude, ordenhando a carne dele, o acariciando até que sentiu o duro e quente pulso de seu sêmen dentro dela.

Ele estava grunhindo atrás dela, sussurrando algo enquanto seu corpo se estremecia e se sacudia contra o dela.

Harmony se derrubou debaixo dele, incapaz de agüentar o peso de seus braços. Apertou a bochecha contra as mantas enquanto lutava ante a agônica tensão de sua vagin*. Seus músculos se contraíam involuntariamente com cada furioso jorro de sem*nte que Lance descarregava, e com cada gemido masculino que se estrelava em seu ouvido.

— Neném. — Ele jazia contra suas costas, sua voz soava torturada— Deus santo, Harmony…

Ela se estremeceu com o duro espasmo que a percorreu, ao escutar a voz dele e seu próprio gemido escuro em seu ouvido.

— Acalme-se, carinho. — Suas mãos a acariciaram, meigamente, suavemente.— Tudo está bem, neném. Estou aqui.

Ela estava chorando, sussurrando seu nome, e ele estava beijando as lágrimas de sua bochecha.

— Estou aqui. Sempre estarei aqui. — Uma mão lhe alisou o cabelo para trás enquanto deslizava o outro até seu quadril, até sua coxa. — Sempre, Harmony.

Um último estremecido tremor atormentou seu corpo antes de sentir como o esgotamento a consumia. Um verdadeiro esgotamento. A respiração oscilou dentro de seu peito, e brandamente, meigamente, a escuridão se fechou a seu redor.

Algum tempo depois, quando recuperou o sentido, Lance recolheu suas roupas e andou pelo quarto. Os objetos rasgados foram parar no lixo, as outras à cesta da roupa suja, enquanto recolhia seu celular.

Se movendo para a parte traseira da cozinha, abriu o telefone e discou o número de Braden.

— Raios, está se convertendo em um incômodo — grunhiu Braden, quando lhe respondeu depois do quarto toque, sua voz soando pesada pela excitação.

Lance fez uma careta. Realmente não precisava saber que Megan tinha vida sexual.

— Onde está sua lealdade, Braden?

Houve um longo silencio enquanto esperava a resposta da Casta.

— Maldição. Sabia que isto ia acontecer — ladrou ele, finalmente, na linha. — Sabia. Infernos, Lance, minha lealdade está com minha esposa. Ponto. O que fere Megan, fere a mim, assim suponho que estou com você e com sua fodida luta.

Não soava muito contente, mas Lance conhecia o marido de sua prima. Debaixo do grunhido de seus protestos, havia um fio de excitação. Ele sabia que uma luta estava chegando, e Braden amava uma boa briga.

— Ela concebeu.

O silêncio encheu a linha um longo momento.

— Bem. Demônios. — Braden finalmente soltou a respiração. — Está seguro?

— Os ventos estão. — Podia sentir a resposta do ar que estava ao redor dele, direta a sua alma.

— Isso é suficiente para mim. — Braden suspirou. — E agora, o que?

— Jonas queria que ela ficasse grávida por alguma razão — disse Lance, lentamente. — Ele queria usá-la. Qual acha que será o resultado de sua gravidez?

— Sua morte — grunhiu Braden. — Ela é a última assassina. A gravidez poderia debilitá-la. Fazê-la vulnerável. Fácil de dominar.

— E quando Morte está em problemas, o que ocorre? — quanto mais pensava nisso, mais estava seguro do que aconteceria exatamente.

— Ela é recuperada — respondeu Braden, com um forte tom de suspeita em sua voz. — Sempre, pela mesma equipe de homens. Recuperada e escondida.

— Essa equipe está aqui na cidade. Ontem à noite quase a levaram. Tivemos uma sombra no caminho para casa, e alguém está vigiando a casa agora. Eles estão se preparando para realizar seu próximo movimento.

— E Jonas tirou uma folga repentina — revelou Braden. — Não está disponível no momento, e ninguém sabe onde estão ele e seus três melhores Executores. Merc, Rule e Lawe.

— Eles estão aqui, esperando. Que demônios há por atrás de tudo isto, Braden? Se Jonas quer contatar com os homens que a ajudaram, por que não pede a ela?

— Ela nunca confiaria nele. — O suspiro de Braden foi pesado. — Quando ela assassinou aos cientistas e escapou do laboratório, Jonas realmente acreditava que sua mãe, Madame LaRue, era uma vitima. Que tinha sido forçada a cooperar com os outros cientistas para proteger a ele e Harmony. Ele não tinha nem idéia do tipo de monstro que era. Harmony, sim, sabia. Quando tentou dizer-lhe, ele não fez conta, ficou furioso. Passaram anos depois da morte de Madame, para que Jonas conhecesse o verdadeiro alcance de suas crueldades. Mas então, Harmony tinha aprendido a desconfiar dele. Nunca voltará a confiar em Jonas, e ele sabe.

— Então por que nunca me disse nada? — perguntou Lance. — Se eu tivesse sabido…

— Lance, você não entende às Castas — grunhiu Braden com voz áspera. — A confiança, fora de nossos pequenos orgulhos, não é uma característica que tenhamos. Jonas o conhece, o aprecia; por outro lado, não desejaria que toda esta merda caísse sobre você. Mas não confia em você. Jonas, mais que qualquer de nós, por culpa de sua mãe, conhece o preço da confiança.

Ele passou uma mão pela cara enquanto caminhava para a janela fechada, sentindo como a escuridão o rodeava, a insinuação de uma presença além deles.

O celular era seguro; Lance tinha se assegurado disso. E sabia que Braden também o tinha feito. A casa estava sendo vigiada, mas o que falasse estava seguro.

— O que necessita? — perguntou Braden finalmente. — É uma parte de Megan, uma parte de minha família, Lance. Minha lealdade está com você, igual a minha confiança.

— A segurança dela. — Lance soltou o ar de seus pulmões. — Tenho que me assegurar de que ela esteja protegida, Braden, ou algo, ou alguém, a afastará de mim. Não posso deixar que isso aconteça.

Podia sentir a ira fervendo em seu interior, uma completa fúria dirigida para aqueles que a usariam.

— Estarei aí amanhã a tarde. — Também pôde escutar a determinação de Braden em seu tom de voz. — Megan diz que se assegurará de que ela permaneça segura até então. Não a perca de vista, Lance.

— Isso não tem que me dizer grunhiu Lance— A algemarei se tiver que fazê-lo. Ela não irá a nenhuma parte sem mim.

Harmony não estava segura do que a despertara. Mas pela primeira vez, desde que tinha vindo para a casa de Lance, ele dormia profundamente enquanto ela se levantava, se banhava e se vestia. Estava amanhecendo; luzes rosa, douradas e vermelho aceso iluminavam o céu enquanto se deslizavam sobre o horizonte e a chamavam.

Podia sentir como a atraíam. O enredo de emoções que a invadiam faziam que sua pele picasse e suas pernas desejassem correr. As paredes se fechavam em torno dela, e sentia como se o ar ao redor a estivesse sufocando.

E não podia deixar de pensar em Jaime Mason.

Enquanto se movia silenciosamente através da habitação, vestida com jeans e uma camiseta sem mangas, voltou-se para contemplar Lance na cama. Não queria despertá-lo. Fazia-a desejar tantas coisas, a querer pensar nela mesma em vez de na missão em que se havia enroscado tantos anos atrás. Fazia-a desejar esconder-se naquela enorme cama e esquecer que o mundo fora da casa existia.

Desgraçadamente, existia, e a necessidade de correr, de clarear sua cabeça, estava aumentando. Introduziu o código do sistema de segurança, abriu a janela do quarto em que tinha dormido no princípio e deslizou nas sombras que rodeavam a casa.

Estava bastante segura de que não podia ser vista. Embora a arma que tinha na coxa e a faca embainhada na outra lhe proporcionassem um pouco de confiança de que podia se proteger.

Tendo reativado o sistema de segurança, ao pressionar o dispositivo embutido a um lado do marco interior, Harmony fechou a janela com o suficiente tempo de sobra antes que o sistema o detectasse. Esperou até que a fechadura metálica encaixasse em seu lugar, e então começou a se mover.

Conhecia Dane e Ryan. Estariam observando-a dos pinheiros que estavam sobre a casa, que lhes permitiam ter uma vista clara de toda a terra ao redor. Deslizar além deles, não seria fácil, mas o tinha feito antes e estava segura de que podia fazê-lo de novo.

E podia cheirar à Casta que vigiava a casa. Apesar de sua tentativa de permanecer contra o vento, sua essência flutuava para ela.

Sorrindo triunfalmente, se afastou da área, deslizando finalmente pelas colinas escarpadas e os arroios pouco profundos, até que alcançou os espaços abertos situados mais à frente.

Inalou profundamente, enquanto o sol passava sobre o horizonte, enchendo o vale e o estreito canhão que estava ao longe, com uma multidão de cores.

A terra não era desértica, nem era realmente uma pradaria. Era uma mescla, combinando juntas áreas coloridas com vívidas flores do deserto e frondosas árvores, que criavam um país das maravilhas.

Sorrindo, ajustou seu cinturão de utilidades nos quadris. Uma pequena garrafa de água estava presa em suas costas, e uma mochila do outro lado. As armas descansando comodamente em seu corpo e estava pronta para correr.

Harmony correu até que o sangue estivesse cantando em suas veias e suas pernas passaram de um ardor e fraqueza pelo exercício a um poderoso e seguro andar. O terreno áspero e os barrancos pouco profundos eram um desafio. Esta terra era desconhecida para ela, e atravessá-la correndo, sem dúvida, nunca teria sido considerado o movimento mais inteligente. Não da forma em que Harmony corria. Completamente absorta, o vento açoitando seu corpo, enchendo seus poros, a estimulando.

Podia sentir o beijo do sol. O ar fresco do início da manhã ainda perdurava, mantendo a promessa de calor que enchia a terra. E gostava disso.

Correr era o único prazer que sempre tinha lutado para permitir-se. Estar confinada a fazia se sentir nervosa, doente. Odiava as paredes que a encerravam, e ansiava os espaços muito abertos. E aqui os encontrava. A civilização não tinha chegado o suficientemente longe, para afastar o sentido de solidão, a fusão do espírito e da terra.

Entretanto, finalmente, o exercício começou a cansá-la, e Harmony soube que tinha que se deter e descansar. Não tinha muito mais tempo antes de ter que retornar. Lance estaria furioso quando se desse conta de que se partiu, apesar da nota que lhe deixara. Mas necessitava isto. Precisava se enfocar, clarear sua mente, aceitar o inaceitável.

Não podia matar Mason. Inclusive como Morte, não teria sido aceitável. Morte não golpeava até que o primeiro sangue fosse vertido. Mas Morte nunca se permitiu chegar a se envolver como o tinha feito Harmony.

Ofegando, foi reduzindo sua carreira até que começou a caminhar, se refrescando e deixando que o sangue voltasse a correr normalmente em suas veias. Inalou profundamente, levantando a cara para a brisa refrescante e sentindo o suor que gotejava de seu corpo.

A lembrança de Jonas aumentava em sua mente. Como ia a ela quando chegava de uma missão, como se conhecesse a dor que rasgava seu corpo. Tirava-a da fina cama de armar das celas e a levava ao cômodo quarto privado que tinha sido atribuída a ele. E ali, acalmava-a sobre seus frescos e suaves lençóis. Escovava seu cabelo. Algumas vezes, imaginava que tinha cantarolado canções de berço.

—Malditos! — Grunhiu ante suas lembranças. Esses dias já se foram. A menina que tinha sido. O irmão que ele tinha sido.

— Tal linguagem saindo desses lábios tão bonitos. Falaria diante de uma criança dessa maneira?

Girando e se agachando, a arma livre da pistoleira, voltou o olhar para o ancião que olhava, da sombra de um álamo, vários metros mais longe.

Genial. Estava tão condenadamente arruinada que agora aquele ancião podia se aproximar furtivamente. Logo estreitou os olhos.

— Você é o avô de Lance — declarou, deslizando lentamente a arma em sua pistoleira, enquanto mantinha um olho posto sobre ele. — Por que está aqui?

— Porque você está. — Seu sorriso cintilou com um bordo de encanto masculino, que recordou a Lance.

— Bom. — Deu de ombros, o observando ainda atentamente. — O que acontece agora?

— Possivelmente, chegar a conhecer minha nova neta. — Caminhou para ela lentamente, suas arqueadas pernas o levaram a um afloramento de rochas estabelecidas ao lado de uma colina cheia de ervas.

Agitou sua mão sobre as rochas. Um assobio, um movimento brusco no matagal que o rodeava, e um segundo depois uma furiosa cascavel se deslizou das pedras.

Harmony deu um passo atrás, observando como a serpente se dirigia para uma estreita sarjeta, logo entre as rochas que estavam debaixo de um arroio pouco profundo.

— Bom truque. — Levantou uma sobrancelha como se estivesse impressionada.

Joseph Redwolf grunhiu.

— Isso não é nada. Todas as criaturas da terra têm essas habilidades. Só têm que aprender utilizá-las. Venha, sente-se comigo. — Aplaudiu a larga pedra com seus nodosos dedos.

— Não sei, você me recorda muito a Lance. Isso poderia ser perigoso para meu estado mental. — Cruzou os braços sobre seus seios, observando o sorriso de satisfação que se desenhava na cara desgastada pelo tempo.

— Ah, é um encanto. — Agitou um dedo acusador para ela. — E acha que vai transtornar a cabeça de um homem velho com lisonjas.

— Tenho o pressentimento de que uma lisonja seria a última coisa que transtornaria sua cabeça. — Um relutante sorriso surgiu em seus lábios. — Você sabia que eu estaria aqui?

Aproximou-se e se acomodou na rocha, enquanto tirava a garrafa de água de seu cinturão. Recordou a primeira impressão que teve dele, e soube que era como Lance. Só que mais forte. Este era um homem que escutava a terra tão bem como falava com ela.

— Sabia. Os ventos sussurraram seu nome e me trouxeram para cá. Por isso vim.

Ela abriu a garrafa e a ofereceu. Quando ele a rechaçou, inclinou a garrafa e tomou um comprido e refrescante gole.

— E por que os ventos o trariam para mim?

— Ah, os ventos às vezes guardam alguns segredos. — Suspirou. — Somente sigo seu conselho.

De algum jeito, ela duvidava.

— Ainda está insegura de meu neto? — perguntou então.

Harmony apoiou os cotovelos sobre os joelhos, enquanto contemplava a terra.

— Não estou insegura dele. — Deu de ombros, incômoda. Ela não falava facilmente com outros. Lance era uma exceção. Mas não podia falar com seu avô. Tinha o pressentimento de que não lhe permitiria ignorá-lo de maneira nenhuma.

— Possivelmente, está insegura de si mesma — disse brandamente.

Ela levantou a cabeça, olhando fixamente à distância com um cenho.

— Possivelmente — admitiu finalmente com um sussurrou. — Não importa o quanto desejo o que ele me oferece, Morte ainda está ali.

— E Morte conduz uma grande culpa e muita responsabilidade.

Assentiu com a cabeça ante sua declaração, sem sequer se incomodar em perguntar como conhecia a diferença entre Morte e Harmony.

— Meu neto é um bom homem — disse ele. — O vi crescer, observei como seu sorriso de criança se converteu na diversão de um homem. O vi cair de joelhos, se esforçando em levantar de novo, e observei seu orgulhoso caminhar. É um homem capaz de aceitar e entender mais que a maioria.

— Morte o suja — sussurrou ela. — Ela só traz perigo e sangue. Ele nunca estaria a salvo.

Sua risada não deveria tê-la surpreendido. Voltou o olhar para ele, incrédula, enquanto o via estender uma mão e agitá-la, e a brisa em frente a eles começou a revolver o pó e a sujeira, se fazendo maior, recolhendo cada vez mais e mais até que cresceu a mais de três metros sobre eles e rugiu poderosamente.

Igualmente rápido se acalmou, diminuindo gradualmente até que a escura nuvem se assentou sobre a terra e a sujeira se pulverizou sobre seus pés.

— A terra protege àqueles que procuram seu abraço. — Sua voz aprofundou em advertência. — Meu neto e o que é seu sempre obterão seu amparo. Sem importar em que terra eles caminhem, ou o lugar de onde seus inimigos pensem atacar. Ela sempre o protegerá, e cuidará do que é dele. A terra a entregou a seu abraço, e só a terra pode te afastar dele.

Ela voltou-se, baixando o olhar para ele, enquanto suas palavras penetravam sua mente e sua alma.

— Por que me escolheu? — sussurrou. — Cada parte de mim está manchada com sangue.

Ele soprou.

— Fez um favor à terra, com as vidas que tomaste. Mas o tempo para isso chegou a seu fim. Retorne a meu neto, e quando o fizer, decida de uma vez por todas. É Harmony ou Morte? Ambas não podem seguir juntas e sobreviver. Toma sua decisão agora, mulher, antes que destrua não só a si mesma, mas também ao homem que te daria sua vida.

Tomar sua decisão. Se escolhesse Lance, então Morte se iria para sempre e também sua vingança. E o faria a segurança para as jovens e as crianças que ela protegia. Era uma opção que temia poderia terminar destruindo-a.

Jonas deslizou pela casa silenciosa, seus olhos se estreitaram, seus sentidos ficaram em alerta enquanto procurava os sinais de algo além de Morte.

Seus olhos se enfocaram na figura que estava caída no piso, no meio do chão do quarto. A garganta de Tommy Mason tinha sido cortada. Era uma imitação perfeita da Carícia de Morte, o assassinato atribuído a vigilante em série que tinha atirado seus golpes pelos Estados Unidos e Europa durante os últimos dez anos.

Havia umas ligeiras anomalias no corte. A profundidade, o ângulo do corte, a largura da lâmina utilizada. Mas não eram suficientes para que outros, além de um Casta, pudessem identificá-las. Só alguém muito familiarizado com o treinamento de Morte notaria essas anomalias.

— Onde estão a esposa e a criança? — disse através do intercomunicador silenciosamente.

— Ainda estão trancados no porão. Estão vivos.

Ajoelhou-se ao lado do cadáver, estudando o corpo. Mason não estava morto há muito tempo. Possivelmente uma hora. Jonas jogou uma olhada a seu relógio. Mal eram oito da manhã.

— Não posso cheirar nada estranho em nenhuma outra parte da casa — informou Merc através do intercomunicador. — Nada além de medo e imundície.

Jonas passou a mão pela mandíbula. Alguém estava definitivamente tentando colocar a culpar em Harmony, e esperavam que ele atasse o laço ao redor de seu pescoço.

O espião do Santuário, pensou, enquanto agitava a cabeça. Só um número seleto de pessoas soubera da presença de Morte nas celas que estavam abaixo do edifício de detenção. Ele estava fechando o cerco ao redor dos suspeitos, mas teria preferido fazê-lo de uma forma diferente.

— Alguém informou que ela estava correndo, logo alguém veio e cometeu o assassinato — murmurou através do intercomunicador. — O momento da morte coincidirá com sua ausência da casa de Lance, e por isso a culparão.

— Só um grupo faria algo tão extremo — declarou Rule, enquanto caminhava dentro do quarto. — Alonzo deve saber quem é ela.

Jonas estreitou os lábios. Não era a mesma menina que tinha sido dez anos atrás. Se preencheu, positivamente; seus traços se suavizaram. Mas se alguém que a conhecesse a tivesse procurado, teria reconhecido. Alonzo só podia saber que Harmony estava aqui se o espião do Santuário o tivesse advertido. Filho de cadela. Quando esse bastardo que estava espiando seus segredos se confundiria o suficiente para poder apanhá-lo?

Deve ter matado Alonzo ele mesmo. Se não tivesse obtido tanta popularidade, tanta propaganda durante os últimos anos, então Jonas o teria feito. Infelizmente, sua morte só teria trazido suspeita sobre a comunidade de Castas.

— Cortesia de nosso querido espião do Santuário — murmurou Jonas, enquanto se levantava. — Pelo menos, deixaram vivos à esposa e a criança.

— Morte nunca lhes faria mal. — Rule deu de ombros. — O que vamos fazer agora?

Jonas esfregou a nuca fatigadamente.

— O usaremos.

— Infernos, Jonas. — A voz de Rule estava cheia de incredulidade. — Não pode jogar em cima dela a Lei da Casta por isso. Ela não o fez.

— Maldição, Rule! — sussurrou — Realmente acha que vou ver minha irmã morta pelo crime de outro? Infernos, não me servi da Lei da Casta por seus crimes, por que faria por isso?

— Não foi exatamente fraternal — assinalou Rule. — Por que não lhe pediu, simplesmente, que cooperasse?

— Porque nunca o entregaria, sem importar se confia em mim ou não. Harmony é muito leal. A única oportunidade que tenho de apanhá-lo, é pressioná-la até que um deles cometa um engano.

— Você quer a essa sua sombra desesperadamente — assinalou Rule.

— Não estou suficientemente desesperado para sacrificar à única coisa boa que saiu desses fodidos laboratórios — grunhiu antes de inalar profundamente e recuperar o controle em suas mãos. — Ele é o primeiro Leão. Ele e sua companheira têm o que nós necessitamos. As respostas do processo de envelhecimento. Temos que averiguar que infernos estão perseguindo, antes que a prova chegue aos ouvidos da imprensa. Desejo apanhá-lo desesperadamente, mas não o suficiente para realmente colocar em risco a vida dela com a Lei da Casta. Ele e sua companheira cientista têm as respostas do calor da união e o envelhecimento, e eu quero essas condenadas respostas.

O descobrimento da pequena evidência que tinham conseguido, de que o primeiro Leão estava ainda com vida, quase um século depois de seu nascimento, e ainda em condições físicas ótimas, tinha sido um tiro acidental.

Depois que Harmony tivesse ignorado suas mensagens para se encontrar com ele em anos anteriores, Jonas tinha começado a rastreá-la. Dois anos atrás, quase a tinha alcançado depois que os Coiotes do Conselho a capturassem. Tinha chegado somente horas mais tarde. Harmony já tinha sido resgatada.

Mas seu salvador deixara algo atrás. Um pedaço ensangüentado de uma camisa. Só um Casta levaria a impressão específica de DNA que esse sangue continha. O primeiro Leão. O primeiro Casta nunca criado. Em essência, o pai de todos eles.

Quase um século antes, o primeiro Leão supostamente tinha morrido em um violento acidente de helicóptero, enquanto escapava com sua companheira cientista do laboratório na América do Sul, onde tinha sido criado.

Onde estava a companheira, Jonas não podia sabê-lo. Mas sabia que onde estava Harmony, o Leão não podia estar muito longe. Infelizmente, o espião que operava dentro do Santuário também sabia onde estava Harmony, e agora estava seguro de que Alonzo também sabia.

— Nos larguemos daqui. — Jonas voltou-se, cuidadosamente, se assegurando de não deixar nenhuma evidência de seus passos. — Faz uma chamada anônima ao Departamento do Xerife em uma hora, e informe dos gritos da esposa e da criança. Logo voaremos para lá.

— Lance o matará se tentar levar Harmony — Rule o advertiu, enquanto saíam do quarto.

— Lance lutará por ela. — Jonas fez uma careta. — Mas conhece as apostas. E ela também. Harmony entregará a sua sombra, e ninguém nunca saberá que Harmony esteve aqui. Assegurarei-me disso eu mesmo.

Havia muitas peças que ele iria assegurando para a sobrevivência das Castas, mas não sacrificaria a sua irmã ou à criança que ela conceberia no futuro. Ela era a última grama de ternura que ficava em sua vida. E se asseguraria de que permanecesse assim.

O telefone estava soando quando Harmony se deslizou dentro da casa. Escutou como Lance o respondia. Segundos depois escutou uma feia maldição, um segundo antes que ele gritasse seu nome imperiosamente.

Passou pelo vestíbulo para a porta principal, se apoiando contra o marco casualmente enquanto ele puxava calça de moletom por suas largas e musculosas pernas.

— O que acontece?

Sua cabeça girou com brutalidade, os olhos se fixaram em sua roupa, as armas e seu úmido cabelo.

— Onde esteve?

A furiosa pergunta fez que ela levantasse uma sobrancelha.

— Estive correndo. Por quê?

— Correndo? — sussurrou ele. — Depois de ter sido quase raptada ontem à noite, você somente foi correr?

— Eu não estava em perigo — pronunciou com lentidão. — Qual é o problema?

— A que hora saiu? — A espreitou, caminhando diretamente em frente a ela, antes de estender a mão para baixo e desembainhar sua faca.

— Ao amanhecer.

Harmony observou como revisava sua lâmina, deslizando os dedos por cima dela, provando seu fio antes de levantar o olhar e se aproximar cuidadosamente dela.

Enrijeceu a mandíbula, um músculo saltando sob a pele enquanto a olhava.

— O que está errado, Lance? — Ela se endireitou devagar. Podia ver um fio de suspeita em seu olhar, uma labareda de raiva ardendo atrás.

— Foi à casa de Tommy Mason? — perguntou finalmente, com um tom de voz escuro e perigoso.

— Mason? — Um cenho sulcou sua testa enquanto o olhava. — Para que quereria ir à casa de Mason? Ele ainda não fez nada.

— Não brinque com isto, maldição! — Sua mão se esticou no punho da adaga. — Foi lá?

— Não, Lance, não fui lá. — Negou com a cabeça devagar. — Por quê?

— Arrume-se. Mason foi assassinado. Trancaram a sua esposa e seu filho com chave no porão, e cortaram a garganta dele pouco depois do amanhecer. Temos que ir.

Harmony ficou rígida, surpreendida pela informação.

— E você acha que eu o fiz? — perguntou cuidadosamente. — Disse a você que não estive lá, Lance. Acaso isso não é suficiente?

Se não fosse, que a condenassem se diria a ele com quem estava. Maldição. Ela deveria ter sabido mais que acreditar na confiança plena, pensou dolorosamente. Amor. Merda.

— É suficiente para mim — sussurrou ele, mas ela não podia dizer se realmente o era. — Não o será para Jonas. Agora, arrume-se. — Entregou sua faca enquanto lhe repetia a ordem. — Temos que investigar uma cena do crime.

Ela tomou o K-bar e o embainhou lentamente, seus olhos nunca se separaram dos dele. Isso era suficiente para ele, mas ele realmente não lhe acreditava.

O sorriso que se desenhou em seus lábios não tinha nada a ver com a diversão.

— Sim, seguro, Lance, me arrumarei.— Se afastou dele, levantando o queixo enquanto fazia retroceder a desilusão e a dor. — Inclusive terei pressa.

Lance a observou deixá-lo, seu peito se apertando dolorosamente enquanto procurava as respostas que necessitava no ar a seu redor. Estava estranhamente silencioso. Não havia ecos de lamentos ou de inocência, como se os ventos o tivessem abandonado. Não mentiria, mas isso não deteria Jonas. E agora, quando necessitava os sussurros do ar, eles tinham partido.

Deus, não queria nem imaginá-lo. E não é que ele acreditasse que ela realmente tinha cometido o crime. Uma vez que o negou, ele soube que não o tinha feito. Mas alguém o fez, e eles estavam condenadamente determinados a culpar Harmony disso. Seus dentes se apertaram quando se obrigou a se banhar, em vez de ir atrás de Harmony.

Que demônios deveria fazer agora? Tinha que perguntar, tinha que saber se ela o fizera. E não é que a tivesse culpado, se tivesse feito. A conhecia, conhecia os demônios que a rondavam, e sabia quão duro isto tinha que ser para ela.

Jaime Mason era uma criança muito pequena para sua idade. Sempre estava sujo, e apavorado. Liza, sua mãe, não estava muito melhor. Ambos eram muito jovens para saber como demônios dirigir o terror que Tommy Mason podia lhes inspirar. E isso era algo que ele sabia preocupava a Harmony. Essa fraqueza, esse medo. Saber que os monstros o utilizavam tão facilmente.

Reprimindo sua maldição, correu para a ducha, se obrigando a despertar, a pensar. Isto ia se converter em um pesadelo se ele não era condenadamente cuidadoso. Podia senti-lo. Jonas não seria capaz de evitar usar isto contra ela.

Harmony o estava esperando meia hora depois, quando atravessou o vestíbulo. Apoiada contra a porta da cozinha, seus polegares estavam metidos no amplo cinturão de couro que envolvia seus quadris.

— Vamos — disse ele. — Quero chegar lá antes que a cena esteja muito fria.

Ela o seguiu, silenciosa.

— Viu alguém quando saiu da casa? — perguntou ele, quando as portas do Raider se fecharam.

— Não vi ninguém. Pude cheirar ao homem de Jonas, Lawe, na frente da casa, mas duvido que ele pudesse me ver. Não queria que me seguissem.

— Algumas vezes, é um pouco independente demais — grunhiu ele. — Por que não me despertou?

— Ah, porque sou uma garota adulta. — Agitou a mão brincalhonamente. — E não queria discutir por uma simples corrida.

— Uma simples corrida que poderia ter acabado em seu seqüestro?

— Talvez. Era uma oportunidade, e me arrisquei. Não aceitarei uma jaula. De nenhuma espécie. Nem sequer por você.

As mãos dele apertaram o volante.

— Mesmo se isso significa sua segurança?

— Minha segurança não estava envolvida — disse ela brandamente. — Se assim fosse, teriam te advertido isso. Os ventos te falam. Teria despertado antes que eu saísse da casa.

Ele voltou-se para ela devagar. Ela estava olhando fixamente para frente, seus traços absolutamente relaxados, mas podia sentir a dor irradiando de seu corpo.

— Alguém a viu quando saiu da casa — disse ele em voz baixa. — Usaram sua necessidade de correr para te envolver em um crime, que vai fazer com que Jonas caia sobre seu traseiro. Já não está sozinha, Harmony. Já não é você contra o mundo. Agora somos dois. E possivelmente, é o momento em que deveria começar a considerá-lo.

Ela ia lhe provocar um ataque, se este ia ser seu comportamento habitual. Colocar sua vida deliberadamente em perigo, sabendo o que estava se amontoando contra ela, e entretanto, ela se expor a eles.

Ele não era o suficientemente experiente com as mensagens que o vento lhe trazia; ainda tinha que superar o treinamento de seu avô, que o ajudaria a atrair o vento para ele. Até que soubesse que podia protegê-la, sabia que os ventos o chamariam se ela era afastada dele, com o tempo suficiente para salvá-la, por isso não podia se tranqüilizar.

Enquanto girava o Raider para o caminho principal, jogou uma olhada a seu silencioso perfil. Ela estava tão fodidamente acostumada a estar sozinha, a não responder ante ninguém. Isto seria muito duro para ela, e uma vez que soubesse que tinha concebido, seria inclusive muito pior para eles dois.

Refreando a necessidade de retornar a casa e de tranqüilizá-la, Lance apertou o pé no acelerador em seu lugar, e correu para a casa de Mason. A evidência contra ela poderia ser usada com muita facilidade. E Lance conhecia Jonas; ele a usaria. O que fosse que queria de Harmony, isto facilitaria seus planos.

A ferida era compatível com a do garçom. Harmony se agachou e inclinou a cabeça, olhando onde o corte começava. Da esquerda para a direita, começando justo debaixo da orelha esquerda e terminando em um ângulo ascendente debaixo da orelha direita. O assassino era forte, o suficientemente forte para sustentar Tommy Mason pela cabeça, enquanto fazia o corte.

Pelo ângulo, ela podia dizer que a cabeça de Mason tinha sido inclinada para trás contra algo.

Harmony apoiou os antebraços contra os joelhos e enfocou os olhos enquanto rastreava a ferida. Estava muito limpamente feita, era precisa. A lâmina era definitivamente um K-bar, mas não tinha sido modificada especialmente. Sua folha tinha um fio que mesmo os membros das Forças Especiais não conseguiam obter.

Alguém não tinha feito bem sua tarefa. Mas não a surpreendeu que estivesse sendo culpada. Alguém sabia que ela estava ali, o que significava que Jonas não encontrara a seu pequeno espião do Santuário.

— Sabe, essa posição está equivocada em muitos níveis, Harmony.

Harmony levantou o olhar para Lance, enquanto ele entrava no quarto, observando-a enquanto ela estava sentada escarranchada sobre o corpo de Mason.

— A iluminação é melhor — murmurou ela. — Alguém não está tendo o devido cuidado com sua lâmina. Venha aqui.

Ele caminhou sobre o corpo.

Harmony utilizou o lápis que tinha pedido emprestado a um de seus assistentes antes, e apontou de perto a rasgadura dentada, do outro lado do perfeito corte.

— Há uma falha em sua lâmina. Uma muito boa. Se a tivesse notado antes...

— Notei... — A voz dele interrompeu suas palavras.

Encarou-o com uma expressão inquiridora, se encontrando com seu atento olhar. Ela assentiu com a cabeça lentamente. Havia algum microfone oculto no quarto? Olhou fixamente os móveis ao redor da retirada habitação. Havia uma cama dupla; os lençóis estavam sujos, os edredons quebrados. Em um canto havia uma cômoda pequena, à exceção disso, o quarto estava vazio.

— David disse que a estatura exata de Tommy Mason era... — Ela comprovou seu caderno. — Um metro e oitenta centímetros. Seu assassino, um metro e noventa e três. Apoiado no ângulo da ferida do garçom, assim como nesta, não há mais que dois centímetros mais ou menos de diferença.

Olhou atentamente para Tommy Mason uma vez mais.

— Não feriu defensivas em suas mãos, assim que ele não teve tempo para lutar. O ataque veio das costas, definitivamente. O ângulo é diferente se atacar de frente. E seu corpo tem um fraco aroma terroso. Não é natural esse aroma especial. Penso que seu assassino passou algum tempo deitado sobre a terra úmida antes de entrar.

— Liza disse que Tommy os empurrou dentro do porão, porque tinha que se encontrar com alguém. Alguém que ele não queria que eles vissem. Entretanto, também disse que estava acostumado a fazer isso.

— Sem testemunhas. — Ela assentiu. — Isso salvou sua vida.

Ficou de pé lentamente.

— O assassino é uma Casta? — perguntou Lance enquanto ela começava a caminhar.

— Duvido. As Castas não podem cobrir seu aroma natural se tocarem algo. Quem quer que o tenha matado, segurou-o muito perto dele durante vários segundos. O aroma ainda estaria em sua roupa.

— Tenho um relatório de uma Casta que pode esconder esse aroma. — Ele colocou a idéia cuidadosamente. — Quando o necessita.

Harmony deu de ombros.

— Há uns poucos casos nos que o aroma pôde ser dissimulado temporalmente pela Casta. Mas não como isto. — Agitou a mão sobre o corpo. — Para esconder todos os rastros da Casta, teria que atacar de frente. Este foi um ataque furtivo. E ele sustentou a sua vitima um ou dois segundos, saboreando a morte.

Lance baixou o olhar ao corpo.

— O sangue está na parte dianteira de sua roupa — disse. — Se o assassino o tivesse deixado cair imediatamente, teria deslocado de uma forma diferente.

— Sim. — Colocou o lápis que o oficial tinha entregado atrás de sua orelha, antes de sacudir as mãos e jogar uma olhada novamente ao redor da habitação. — Quem quer que fosse, teve muito cuidado. — Apontou a janela aberta. — Todas as janelas foram abertas, justo o suficiente para permitir que o ar circule bem, pulverizando os aromas. Ele se assegurou de que não poderia ser detectado por mim.

Havia formas de se esconder de outra Casta, truques que ela tinha aprendido durante os anos que tinha batalhado para estar ao menos um passo adiante dos Coiotes.

— Temos um rastro abaixo da janela pela qual passou na outra noite, mas nada mais. Ele é cuidadoso, Harmony. Muito condenadamente cuidadoso.

A janela poderia ser uma coincidência, mas infernos, ela não acreditava nas coincidências. Alguém, além de seus amistosos vizinhos do Escritório da Casta de Leão, a estava vigiando.

— Ele sabia que eu estava fora da casa esta manhã — meditou, mantendo a voz baixa enquanto Lance se aproximava. — Quantos desses imbecis estão me vigiando? É estranho que não tenham tropeçado uns com os outros. Não há maneira de que o assassino tenha estado vigiando e, além disso, preparando uma reunião. Não haveria tempo. Teria necessitado um companheiro.

— Sem dúvida. Liza disse que Tommy não esperava essa reunião — disse Lance, antes de perguntar: — Terminou aqui?

Ela soltou um silencioso suspiro.

— Não posso encontrar nada, Lance. Quem quer que tenha feito isto, está sendo até agora condenadamente cuidadoso. Conhece os truques.

E algo sobre isso se sacudia em sua memória. Era como um sutil comichão entre seus ombros. Um conhecimento, uma familiaridade da qual não estava segura.

Ela tinha uma memória perfeita; sua memória era uma ferramenta para si mesma. Não era memória fotográfica, mas Harmony não esquecia os detalhes. Até agora.

— Vamos ao escritório e arquivemos o relatório. David está a cargo da investigação, e até que aparece algo mais você não patrulhará.

— Mas Jonas...

— Que se foda Jonas — grunhiu Lance enquanto deixavam a casa, a mão apoiada contra a parte baixa de suas costas, enquanto seu enorme corpo parecia cobri-la. — Eu arrumarei isso com ele.

— Escutei que é um lutador trapaceiro; não acredito que desfrutasse muito dessa experiência. — Girou as mãos, revisou as unhas, e logo o precedeu até o Raider.

— Um lutador trapaceiro — repetiu ele devagar. — Deus, não necessito esse pensamento em minha cabeça. — Pareceu se estremecer enquanto ela abria a porta do veículo e saltava dentro.

Quando Harmony tentou fechar a porta, Lance se colocou entre ela e o assento, inclinando-se para poder olhá-la fixamente. Ela encontrou seu olhar, se perguntando se a raiva que cozia a fogo lento em seu interior se expressava em seus olhos.

Talvez ela não devesse estar zangada. Se ele queria aceitar Morte e Harmony juntas, quem era ela para se queixar?

— Tire isso antes que vamos ao escritório — pediu, sua voz se aprofundando com esse tom alfa que parecia encaixar ao mesmo tempo em seu cérebro e em seu sexo.

— Tirar o que? — Harmony o fulminou com o olhar. — Não sei do que está falando.

— É por isso que está a ponto de grunhir para mim? — ladrou ele. — Não se incomode em mentir, Harmony.

— Por quê? Por que o vento vai dizer a verdade?

— Oh neném, eu não necessito que o condenado vento me sussurre isto em particular. — Colocou seu rosto mais perto do dela, a raiva estava a ponto de explodir em seu olhar. — Posso olhar seu rosto e dizer quando está mentindo.

Ela apertou os lábios em um gesto de obstinação. Pela forma em que ele tinha atuado esta manhã, era muito difícil de acreditar.

— Agora seria um bom momento para começar a falar — sussurrou ele. — Porque esse olhar está me provocando uma ereção, e me põe o bastante decidido para considerar te foder até que me responda.

Ela quase gemeu pela idéia desse prazer. Entre um fôlego e outro seu corpo se esquentou, e a ardorosa excitação começou a martelar por seu sangue. Rezando para que ele não pudesse ver a resposta em seu rosto, continuou olhando-o fixamente em silêncio. Felizmente, foi capaz de conter seu grunhido.

Não esqueceria que não lhe tinha acreditado quando negou ter matado Mason. Vira a suspeita em seus olhos, e a escutou em sua resposta. Não importava o que lhe dissesse agora, dessa vez não lhe tinha acreditado.

«É suficiente para mim». Como se não fosse suficiente evidencia para ninguém mais.

— Harmony... — Soltou seu nome em um tom de advertência.

— Não será melhor que vamos ao escritório? — perguntou ela, mantendo sua voz fria. — Como você mesmo disse, Jonas chegará logo e tenho que escrever um relatório.

A frustração invadiu sua expressão enquanto sua mão apertava o marco da porta. Um músculo saltou no queixo antes que desse um passo atrás e fechasse a porta de repente, depois, deu a volta ao redor do Raider. Macho arrogante. Ela nunca mentia... bom, exceto ao Jonas, possivelmente. E algumas vezes ao Dane.

Franziu os lábios. De acordo, não evitava mentir se lhe servia em seus propósitos. Mas não a Lance, e não sobre isto. Pela primeira vez em sua vida alguém quisera ter algo com ela, em vez de querer algo dela. Não podia trair isso, sem importar o que ele pensasse.

Maldição, estava ficando louca por algo que nem sequer devia lhe preocupar. Depois de tudo, ele estava unido a ela, não era? Não era como se ele pudesse se emparelhar com alguém mais, não é certo? Se as pessoas seguiam o exemplo da natureza, os leões só se emparelhavam uma só vez.

Possivelmente era algo que deveria averiguar. Braden saberia; poderia perguntar a ele sobre isso.

— Harmony, essa expressão de seu rosto...

— Alguma vez já fez em um estacionamento? — Estava começando a arder da excitação. Não era a excitação do calor da união, e sim uma necessidade imensamente diferente. Era algo mais natural, mais livre. Não podia negar-lhe se o desejava. O problema era que não queria fazê-lo.

— Estacionamento? — A expressão dele raiava na confusão.

— Sim. Tomar a uma mulher no deserto e estacionando, e fazendo-o no Raider?

Ele passou a mão pela cara.

— Está zangada comigo porque não te fiz num estacionamento? — perguntou ele cuidadosamente.

— Não. Estou zangada por algo muito mais importante.

Ela evadiu a pergunta com um gesto da mão.

— Tenho curiosidade sobre o estacionamento.

— Curiosa em que forma? — perguntou ele, enquanto levava o Raider para o caminho principal.

— Bom, eu nunca fiz em um estacionamento. — Voltou-se para ele, cruzando as pernas enquanto estirava o braço entre os assentos e punha a mão na sua nuca. Suas unhas arranharam sobre a pele dura e curtida pelo clima.

Ele se estremeceu.

Harmony lambeu os lábios como resposta.

— Um destes dias, — suspirou ele — juro que vou te surrar.

Ela deixou que seus dedos passassem através da capa mais baixa de seu comprido cabelo.

— Eu gostaria disso?

— Por que está zangada comigo, Harmony? — Jogou-lhe uma olhada, a doçura dos olhos dele e o rubor da excitação em seu rosto debilitando-a. — Você não tem curiosidade sobre o estacionamento ou a surra. Ainda. Está sofrendo. Como te fiz mal?

O conhecimento de que ele se precaveu tão facilmente de sua artimanha para distraí-lo com sua sexualidade, fez que seu peito se apertasse de emoção.

— Você não acreditou em mim — sussurrou ela, inalando profundamente enquanto lutava com a dor. — Eu necessitava que acreditasse em mim.

— Harmony...

— Xerife Jacobs, temos um problema aqui. — A voz de Lenny chegou através da rádio enquanto Lance dizia seu nome. — O senhor Wyatt acaba de aterrissar com três de seus executores, exigindo ver a Oficial Lancaster, e Alonzo tem uma multidão congregada na entrada. Será melhor que chegue aqui rápido.

Lance curvou o lábio com fúria, enquanto ativava a rádio que tinha sobre o volante.

— Estamos nos dirigindo para lá. Chegaremos pela parte traseira e usaremos essa entrada. Escolte às crianças do Conselho a meu escritório e comprova se o grupo de Alonzo tem permissão para protestar. Se não o tiverem, prenda-os.

— Prendê-los? — Lenny parecia não ter escutado bem.

— Prenda a cada um desses condenados — ladrou Lance. — Me ocuparei deles quando chegar. Jacobs fora.

— Deixa que comece a diversão— murmurou Harmony, voltando a cara para a parte dianteira do veículo, enquanto Lance lhe disparava um olhar sombrio.

— Filho de Cadela! — amaldiçoou entre dentes. — Sabia que não devia ter respondido o telefone esta manhã.

A entrada traseira para o departamento do xerife se abriu no momento em que Lance detinha o Raider em uma brusca parada no oco do estacionamento, a não mais de três metros da porta.

Manifestantes e jornalistas estavam se apinhando na lateral do edifício enquanto Harmony o seguia e entrava rapidamente no edifício.

— Têm permissão, Xerife. — Lenny estava suando enquanto a frustração cobria seu rosto redondo. — De algum modo, conseguiram que a prefeita o assinasse.

— Merda — grunhiu Lance enquanto colocava a mão nas costas de Harmony e a conduzia a seu escritório— Wyatt e sua estão turma aqui?

— Em seu escritório. Com sua advogada. — Assentiu Lenny.

Harmony se esticou, a mão caindo à arma. O fato de que Jonas houvesse trazido sua advogada não queria dizer nada bom. Jess Warden era uma barracuda; Harmony tinha visto isso quando Jonas a reteve nas celas do Santuário. Ela conhecia a Lei Casta como a palma de sua mão e tinha chegado a conhecer muito bem como trabalhar com ela.

— Vamos nos tirar esta merda de cima — sussurrou Lance enquanto se aproximavam da porta.

No último segundo, empurrou-a atrás dele e abriu a porta de par em par.

Jonas os estava esperando. Merc, Rule e Lawe levavam suas armas curtas automáticas com despreocupada disposição. Estavam vestidos com os uniformes negros de missões forçadas, suas expressões duras e sem emoção. A mão de Harmony se esticou sobre a arma enquanto entrava na sala atrás de Lance.

Isto era tudo. Jonas encontrara o que necessitava. Não importaria que soubesse que não tinha cometido aqueles assassinatos. Ele podia usá-los. O que seria suficiente.

— Necessito suas armas Harmony. — A voz de Jonas era uma surda advertência enquanto Lance fechava a porta atrás deles. — A necessitamos no Santuário para interrogá-la sobre a morte de Tommy Mason.

— Jonas, você não quer fazer isto — Lance o advertiu enquanto Harmony sentia a tensão crescer na sala. — Sabe que não vou te deixar levá-la.

Harmony bufou.

— O assunto de alfa é realmente precioso — disse alargando as palavras. — E este beco está tão carregado de testosterona. Estou perto de ter uma sobrecarga. Podemos deixá-lo para depois, por favor?

Afrouxou seu corpo, relaxando conscientemente seus músculos enquanto considerava suas opções. A porta estava perto; conseguir a liberdade não seria um trabalho difícil. Correr seria um pouco mais complicado.

A advogada, Jess Warden, era possivelmente a única a prestar atenção a suas palavras. Os lábios de Jess se inclinaram em divertido acordo enquanto se apoiava distraidamente contra a parte dianteira da escrivaninha de Lance.

— Harmony, recorda quando a adverti que Jonas queria algo? — Lance recordou brandamente.

— Sim? E? — É obvio que ele queria algo. Todos queriam algo dela.

— Pergunte a ele o que quer.

Ela o observou enquanto Jonas arqueava uma sobrancelha e seu olhar refletia admiração.

— Seu xerife é rápido — murmurou enquanto respirava profundamente. — Em mais de uma forma.

— Jonas! — A voz de Lance era um autoritário látego. — Não queime suas pontes aqui, homem.

Os lábios de Jonas se torceram em zombadora diversão.

— Bem, vejamos se podemos fazer isto fácil. — deu de ombros com despreocupação. — Quero a sua sombra. Seguirá o plano da missão que preparamos juntos, e nos ajudará a capturar à equipe que repetidamente a resgata. Quero a ambos.

Dane? Ele queria Dane e Ryan? Não a informação que ela tinha roubado dos laboratórios? Encarou-o, confusa.

— Por quê?

— Isso não te concerne, Harmony — disse ele. — Me dê o que quero, e suas pequenas indiscrições aqui serão ignoradas. Receberá um status seguro, e liberdade. Liberdade para permanecer com Lance.

— E se não o fizer?

— Se não o fizer, a levarei comigo, e a Lei das Castas será aplicada. É uma assassina procurada, não só pelo Departamento, mas também pelas forças regulares da lei. Como Morte, sua cabeça tem um abundante preço em vários países. Dê-me o que quero, e me assegurarei pessoalmente de que todos acreditem que Morte está morta. Harmony pode viver sua vida em paz.

— Isso não vai acontecer, Jonas. — A voz de Lance a surpreendeu. E quão facilmente sua mão baixou à arma de seu flanco. — Harmony tem que aprovar sua parte do acordo. E eu pessoalmente o testemunharei.

— Pode salvar Morte tão facilmente? — perguntou Jonas, sua voz suave, quase gentil. — É uma assassina procurada.

Harmony mediu suas possibilidades de chegar à porta. Dane e Ryan a encontrariam; tudo o que ela tinha que fazer era escapar dali. Sentiu a agonia no mais profundo ante o pensamento de abandonar Lance. O calor e o prazer de seu toque.

— A Lei da Casta o fará por mim. — Ela se acalmou com a voz de Lance. — A Lei da Casta se cancela quando uma criança está envolvida. No momento que ela concebesse, estaria exonerada até e a menos que mate de novo. E concebeu. Não pode levá-la Jonas.

Harmony quase sorriu. Lance sabia sem dúvida que isto não funcionaria. Jonas saberia.

Em vez disso, Jonas assentiu com a cabeça.

— Farejei no momento que cruzou a porta. Mas reflete sobre isto, Lance. Estará segura com você?

— Não estou grávida. — O resto da conversa se dissolveu enquanto suas palavras se reduziam a aquela singela peça de informação. — Isso não é possível.

Seu olhar varreu a habitação captando a compaixão, simpatia e conhecimento nas expressões que a olhavam.

— Isso não é possível — repetiu.

— Harmony, você está grávida — declarou Jonas docemente. — Você e eu sabemos que uma vez sua sombra se inteire disto, a apanhará, porque sua meta mais importante é te proteger. E essa criança a debilitará.

— Ninguém me capturará a menos que eu queira ser capturada — vaiou ela. — Você arrumou isto, porque tola como era, ainda o chamava de irmão. — O conhecimento daquilo chorou através de sua alma. — Não poderia machucar seus homens, não poderia conseguir a liberdade sem matá-los, assim os mandou me agarrar.

Ela não podia respirar. Colocar ar em seus pulmões doía; as implicações do que estavam dizendo a estavam destruindo. Como podia não ter se dado conta de que estava grávida? Era seu corpo, sua criança. Certamente saberia.

Por um momento, a expressão de Jonas pareceu suave.

— As fêmeas Casta raramente podem cheirar sua própria concepção. Mas está aí, Harmony. Eu posso cheirá-la, e os ventos o sussurraram a Lance. Não pode fugir disto. Está aqui. E está grávida. O homem que a protege não permitirá que você fique. Ajude-me a capturá-lo antes que a leve longe de Lance de todas as formas.

— Basta, Jonas — Lance o advertiu, a voz áspera.

— Não pode me agarrar porque não o permitirei. — Estava grávida. A criança de Lance descansava dentro dela. Podia se sentir fraquejar, as opções nas quais tinha acreditado estavam desaparecendo sob o conhecimento.

— Agora é vulnerável, Harmony. E sabe que ele a apanhará. Você é importante para ele, pela informação que roubou daqueles laboratórios. Não permitirá que ninguém mais possua essa informação. Não há possibilidade de que você compartilhe o que tinha. Emparelhada e grávida está vulnerável e, portanto, uma ameaça. Ele não pode permitir isso. Não pode permitir que você entregue essa evidência a ninguém mais.

— Como sabe?

— Por que ele é o primeiro Leão. O primeiro criado, Harmony. Sua marca genética é o anteprojeto de cada Casta que chegou atrás dele. E Madame LaRue possuía a última evidência de sua existência nos papéis e arquivos que você roubou. Você é sua fraqueza.

A surpresa a sacudiu. Surpresa de que soubesse a informação que continham os arquivos... mas o primeiro Leão não podia ser Dane.

Sacudiu a cabeça lentamente.

— Ele é muito jovem. Não tem o aroma de uma casta...

— Não tem aroma nenhum, absolutamente. Esqueceu, ele se emparelhou com uma das principais peritas do Conselho Genético naquele tempo. Encontrou uma forma de ocultar seu aroma, então a comunidade de Castas pode usar também esse conhecimento.

— É muito jovem.

— O envelhecimento se detém entre uma Casta e seu casal, uma vez que apresenta o calor de emparelhamento — respondeu ele. — Não temos idéia de quanto podem viver os emparelhados. Necessitamos desse conhecimento.

— Então por que ele não deu a informação? — grunhiu ela. — Se isto fosse verdade, então haveria me dito isso. Teria me pedido o que tinha, e eu o teria devolvido facilmente. Isto não tem sentido, Jonas. Está mentindo.

— Não sei por que não tentou proteger a informação ele mesmo — disse ele. — E por isso a trouxe aqui, sabendo que poderia se emparelhar com Lance, sabendo que conceberia e que a necessidade de proteger a seu casal e a seu bebê desbancaria sua amizade com este homem. Harmony, me escute. — Sua voz enrouqueceu enquanto a contemplava, seus olhos cor mercúrio mais suaves que antes. — É minha irmã. Sei o que LaRue era. Mas sabia que nunca em acreditaria mim, nunca confiaria em mim tão facilmente. Temos que ter as respostas que o primeiro Leão e seu casal retiveram sobre o emparelhamento.

— Darei-lhe uma mensagem... — alegou ela.

— Acha que não tentei isso? — perguntou Jonas. — Pensa que não tentei tudo antes de te envolver desta maneira?

Ela se aproximou da porta, consciente de que Lance a defenderia apesar da inesperada disposição dos executores de Jonas.

— Não tente correr, Harmony. Tenho homens fora do departamento. Não me faça te fazer isto.

— É um filho da puta! — A voz de Lance ressoou com violência. — Pensa que vou deixar que se saia com isto? De verdade pensa que te permitirei usá-la assim?

— Não pode pará-lo — sussurrou ela. — Olhe-o, sabe que não pode pará-lo.

— E um inferno que não posso. — Apertou seu pulso antes que ela pudesse correr, antes que pudesse ganhar os preciosos centímetros até a porta.

— Harmony. — A voz de Jonas se adoçou ainda mais, lhe recordando a do irmão que uma vez tinha escovado seu cabelo, do jovem que lutou por encontrar uma escapatória para aqueles que ele liderava. — Fizemos todas as tentativas para convencer ao primeiro Leão que contate conosco. Para que nos ajude. Estamos a poucos meses, possivelmente um ano, de que o mundo se inteire da verdade sobre o calor de emparelhamento. Você é preparada, amor. Sabe o que ocorrerá quando essa notícia explodir. Calor sexual compulsivo, vinculação forçada. Seremos exterminados.

Amor. Aquela voz. O fio de dolorosa cordialidade em seu tom. As lágrimas encheram seus olhos enquanto piscava furiosamente e engolia a apertada bola de emoção entupida em sua garganta.

Sacudiu a cabeça, sentindo a escuridão que beirava sua mente, o sentimento de traição que a rasgava.

— Me usou — sussurrou ela penosamente, encarando-o fixamente enquanto adagas de conhecimento a arrasavam. — Não estava tentando me ajudar. Estava me usando.

— Estava tentando fazer as duas coisas, maldição! — Ele gesticulava. — Iria ser capturada ou assassinada. Não podia continuar da forma em que estava.

— Como soube que eu era seu casal? — perguntou Lance, a voz afiada.

— Não importa como soube — sussurrou Jonas. — Não importa nada mais, exceto o que enfrentamos agora mesmo. Ela está grávida. É seu bebê o que leva, Lance. Uma criança da terra. Deixará que seja afastada de você? Por mim ou pelo homem que a protege?

— Se ele pudesse te ajudar, teria feito — gritou Harmony.

Ela conhecia Dane. Era desumano, sim. Podia ser teimoso, e com freqüência, muito duro. Mas nunca rechaçaria a sua própria gente de tal maneira se fosse uma Casta.

— O próprio fato de que esteja vivo responderia muitas de nossas perguntas, Harmony — grunhiu Jonas. — Ele não é seu salvador. A protege por uma razão.

— Ele estava lá quando você não estava — espetou-o, tentando empurrar Lance enquanto a segurava. — Você enviou a seus fodidos Coiotes atrás de mim enquanto estava ainda nos laboratórios. Disse-lhes como me capturar. Me queria morta!

— Nunca a quis morta. A queria segura.

— Fodido mentiroso! — O grito que saiu de sua garganta rasgou seu peito.

— Suficiente! — Lance se meteu entre eles. — Segue com o programa, Harmony.

— Que programa? — disse ela com desprezo enquanto se voltava a observar Jonas uma vez mais. — Ele tem seu programa todo planejado, Lance. O seu, o meu e o de nosso filho. Que interessante conto obterei de quando lhe revelar que sua segurança foi adquirida com o sangue da única puta pessoa disposta a arriscar sua vida por me salvar, além de você.

— Se ele se preocupar tanto por você, poderia ajudar a sua gente, tanto como a ele — grunhiu Jonas.

— Eu não te cuspiria se estivesse ardendo — vaiou ela. — Não me surpreende que recuse responder ao que é indubitavelmente uma de suas infames ordens.

Lance teria rido da expressão de Jonas se a situação não fosse tão desesperada. Harmony estava a ponto de correr. Ele podia sentir no ar que o rodeava, escutando o grito de liberdade que ressoava em sua cabeça.

— Suficiente! — Sua voz se elevou enquanto Jonas abria seus lábios para falar. — Ele é um fodido idiota e todos nós sabemos, Harmony. Mas não podemos matá-lo. Tratamos com ele.

— Me assegurarei de te enviar meus agradecimentos mais tarde — murmurou Jonas.

— Vá a merda — cuspiu Lance, envolvendo seus dedos ao redor do pulso de Harmony para mantê-la em seu lugar. A mão da arma. Os dedos dela estavam se crispando muito perto de sua arma.

Merc, Lawe e Rule estavam vigiando de perto. Lance sabia que toda sua atenção estava em Harmony e na tentativa que eles acreditavam que faria de correr.

— Te darei os arquivos que tenho sobre ele — disse Harmony, negociando então e surpreendendo a Lance. — Posso trazê-los rapidamente. Você os terá.

— Não têm o que necessitamos Harmony. — Ele negou com a cabeça firmemente. — Necessitamos ao Leão. E o necessitamos agora.

Jonas a estava forçando e Lance sabia. Estava tentando fazê-la fugir. A queria fugindo. Era uma das razões pelas quais Lance tinha permanecido, em grande medida, tranqüilo neste ponto. Havia informação no que não se estava dizendo, nas emoções que cochichavam através do ar.

— Sente-se. — Empurrou Harmony a sua cadeira enquanto o contemplava, surpreendida.

Inclinando-se perto, ele olhou fixamente seus estranhamente coloridos e furiosos olhos.

— Silêncio — disse em voz baixa, imperiosamente. — Agora.

Apertou os lábios enquanto o fogo acendia seu olhar.

— Eu não...

— Agora! — Algo se quebrou dentro dele. Estaria maldito se lhe permitisse colocar em perigo sua vida. Não agora. Não quando ela estava tão perto da liberdade

Ela se jogou para trás na cadeira com brutalidade, contemplando-o com cautela.

— Obrigado. — Roçou sua bochecha brandamente, deslizando as pontas dos dedos para sua mandíbula antes de se endireitar e se voltar para Jonas.

O outro homem observou o intercâmbio com cautela.

— Está tentando queimar esta ponte? — Lance colocou as mãos sobre a escrivaninha. — Escutei que Megan tinha chegado a ser muito amiga da esposa de seu orgulhoso líder. Ela tampouco é sua melhor admiradora.

Jonas cruzou os braços sobre o peito.

— Sou consciente disso.

— Realmente quer se inimizar com toda minha família, Jonas? — perguntou-lhe cuidadosamente. — Considerou isto quando estava fazendo seu pequeno projeto de ciências behaviorista, se Harmony e eu combinássemos como companheiros? Que não só conseguiria meu ódio, mas também o de minha família?

Os olhos prateados de Jonas se estreitaram, brilhando em sua escura cara.

— Farei tudo o que seja necessário para salvar às Castas, Lance — grunhiu ele. — Lutarei com quem e com o que seja que tenha que fazê-lo. Ela não confiaria em mim, o que é evidente. E até que o emparelhamento e a concepção ocorreram, não podia confiar em você. Agora isto concerne a Harmony e a você. Ajuda-me a capturar o Leão, ou se arrisque a que o mundo descubra o calor do emparelhamento, e possivelmente destrua a sua esposa, seu filho e sua prima Megan no processo?

— E se ela não o faz, não levantará sua mão para ajudá-la? — cravou Lance.

Jonas contemplou Harmony durante uns longos e silenciosos momentos.

— Eu morreria por minha irmã. Mas uma vez que a verdade sobre o calor de emparelhamento chegue a se conhecer, se não estivermos preparados para isto, se não tivermos as respostas que precisamos dar ao publico, então não serei capaz de salvar a ninguém. Nem a mim mesmo, nem a minha gente ou minha irmã.

Dane mastigou a ponta de seu cigarro enquanto olhava H.R. Alonzo se movendo entre os manifestantes em frente ao departamento do Xerife. Era realmente difícil imaginar o homem como um tio longínquo. As pesadas bochechas, a curta estatura e os pequenos e brilhantes olhos não deixavam muito no nome de Vanderale. Ele não era um Vanderale, ele era o filho de uma filha Vanderale, e estava claro que a genética não tivera um êxito afortunado. Muito mau, em realidade. Um verdadeiro Vanderale, inclusive mercenário de coração e muito determinado a seguir seu caminho, teria uma pequena medida de decência. Era óbvio que a genética que Henry Richard Alonzo tinha recebido estava saltando a aquele componente.

Ele era um tio, entretanto. Era o neto do homem cujo esperma tinha criado o primeiro Leão. Elijah Vanderale Demarcy e sua esposa tinham tido uma filha, depois Elijah havia voltado sua atenção ao Conselho Genético e desenvolvido sua visão de um filho perfeito. Depois de tudo, sua esposa tinha se recusado dar a luz mais filhos, e como o ancião Vanderale Demarcy havia dito a Leão, um filho significava tudo. Elijah estivera decidido a ser o pai de um filho, a diferença de qualquer outro. Não importava o que isso requeresse.

Sua arrogância e sentido de superioridade nunca tinham sido questionados. Sua determinação a ter um filho mais forte, mais inteligente e excepcional que qualquer outro podia tê-lo definido como um louco.

A sem*nte de Elijah, ainda geneticamente alterada como tinha sido, tinha iniciado o processo. Logo, começara a criar um império para seu filho. Vanderale Enterprises. Um conglomerado de corporações dirigido por um suposto familiar longínquo. Sua visão tinha sido extraordinariamente perspicaz sobre o futuro. Eletrônica, armas e veículos especializados.

Dane sacudiu a cabeça ante a visão do ancião. Tinha morrido não muito depois da fuga de Leão dos laboratórios, mas tinha morrido sabendo que dera a seu filho a liberdade, e que sempre conheceria a segurança.

Aquilo tinha ocorrido mais de sessenta anos atrás. Vanderale Enterprises era uma prospera força mundial agora, embora o homem atrás dela sempre tivesse tomado cuidado de permanecer oculto.

Infelizmente, de algum modo Alonzo se inteirara da contribuição do ancião Elijah ao Conselho Genético, e sua afinidade com as Castas. Pobres cavalheiros, estavam um pouco desgostados por isso.

— Leão está ansioso — murmurou Ryan enquanto entrava no reservado do café ao outro lado— Quer uma atualização dela. Agora.

Genial. O velho queria uma atualização. Aquilo em geral queria dizer que estava rugindo de um extremo do estado ao outro e ameaçando se dirigir a Broken Butte ele mesmo.

Isto era por sua culpa, admitiu Dane. Na primeira vez que tinha encontrado Harmony, ferida, quase destroçada e fora de si pela febre, a tinha levado a sua mãe. Diabos, ela não era médica. Sua mãe tinha sido uma vez a mais destacada autoridade em genética e enfermidades das Castas. Ela tinha sido a resposta perfeita.

Exceto que, enquanto Harmony jazia em uma febril bruma e chorava como a menina que era, tinha sido Leão quem se sentou com ela. Quem chorou com ela. Agora, o ancião pensava nela como dele. E ninguém ameaçava o que pertencia a Leão Vanderale. Se tal pessoa vivia, era somente para que pudesse lamentá-lo.

Contemplou Ryan silenciosamente, entrecerrando os olhos resmungonamente enquanto lia a culpabilidade na cara de seu amigo. A diversão se escondia nos escuros olhos de Rye enquanto ele empurrava o escuro cabelo atrás desde sua testa.

Ryan era considerado bastante atraente pelas mulheres. Seus traços estavam bem esculpidos e um pouco toscos. Seus lábios eram um pouco cheios, seus olhos azuis mais freqüentemente cheios de risada. E tinha um horrível amor do formoso casal de Leão, a mãe de Dane.

A mãe de Dane tinha chamado mais cedo, e antes que confrontar seu interrogatório, dera o telefone a Ryan para que oferecesse explicações. Má escolha. Ryan estava tão encantado com a mulher que fazia todo o possível para não gaguejar quando lhe falava. Ele havia contando seus planos cavalheirescamente, brandamente, à companheira do primeiro Leão.

Dane girou a cabeça e observou pela janela aos manifestantes em frente do Departamento do xerife. Leão nunca consentiria separar Harmony de seu casal. Era uma boa idéia, e algo factível, mas Dane conhecia seu pai. O velho teria uma hemorragia.

O Velho. Ele quase soprou com essa idéia. Aos noventa, Leão ainda estava em seu melhor momento como sua esposa. E essa era a medula deste pequeno pesadelo.

— Jonas fez sua jogada — murmurou Dane. — Agora tentará negociar com ela. Bem poderia aceitar a informação que tem, se lhe negar o que realmente quer.

Ele a teria obrigado a lhe dar anos atrás, pensou Dane. Mas protegê-lo, o conhecimento do que ocorreria ao primeiro Leão se o Conselho o encontrasse, dera a Harmony força para viver. Sua sobrevivência dependia de sua crença em que era a única que sabia da existência de Leão. Dane confiava nela... ainda mais, a conhecia, e ninguém salvo seu casal a conhecia. Tinha lutado como um gato selvagem para ocultar e preservar o que tinha roubado daqueles laboratórios. Tinha lutado por viver, e ele quisera ajudá-la. Tinha necessitado que Harmony vivesse.

— Ele te quer — recordou Ryan.

Ahh, sim. O relatório de Elyana de que Jonas estava atrás da sombra que estivera salvando a vida de Harmony. O velho moço estava mordendo mais do que podia engolir aqui. Se por sorte Jonas conseguisse capturar Dane, não poderia tê-lo durante muito tempo. Se o Leão era possessivo com Harmony, então seus sentimentos eram realmente obsessivos no que concernia a seu único filho.

Não que Dane pensasse permitir que o capturassem.

— Vai acusá-la pelos assassinatos. A ameaçará com a Lei de Castas e a tirará a qualquer momento. Leão vai ter um ataque —recordou Ryan

Dane negou com a cabeça.

— Terá um aneurisma, não um ataque.

Os lábios de Ryan se torceram.

Como companheiro, Ryan DeSalvo era o melhor que uma Casta podia pedir. Especialmente uma Casta híbrida. Admitir que estava sobre os cinqüenta teria surpreendido a muita gente. Ryan o tinha tomado com calma.

— Qual é o plano? — perguntou Ryan enquanto Dane observava aos manifestantes distraidamente.

— Devemos ter um plano? — se reclinou em sua cadeira e colocou o fumegante cigarro entre seus dentes enquanto sorria prazerosamente. — Deixe-os voar desta vez, amigo. Estou interessado em ver quão longe Jonas levará este pequeno plano dele. Deixe-me ver o que fará.

Ryan o contemplou com a mandíbula caída pela surpresa.

— Está brincando.

Dane sorriu zombeteiramente.

— Não muito. Acredito que é hora de descobrir o que fará meu pequeno meio-irmão, não acha? A sem*nte que o Conselho conservou do velho, criou ao Jonas. Vejamos se tem a mesma inflexível determinação.

Felizmente, Harmony era produto de outra linha patriarcal das Castas. De outra forma, os sentimentos que ele tinha por ela teriam sido eliminados anos antes. Leão não era muito pormenorizado sobre romper certas normas. Esta era uma delas. Se Dane fodia a uma fêmea Casta, então condenadamente melhor que estivesse cem por cem seguro de qual era sua linha patriarcal. O que significava que sua mãe fizesse uma rigorosa tiragem genética. Não era exatamente uma boa vida sexual para um homem quando sua mãe estava vetando a sua possível amante

Tinha sido bastante mau quando Leão descobriu que Dane tinha levado Harmony para sua cama. O velho tinha bramado durante meses, furioso de que Dane se atreveu a tomá-la sem se emparelhar.

— E a informação que ela tem?

— Infelizmente, temos que assegurar os arquivos que ela roubou. Não podemos lhe permitir que os guarde mais tempo. — Dane tirou o cigarro dos lábios e soprou um jorro de fumaça fora enquanto seu olhar vagava para a pequena garçonete que trabalhava do outro lado da sala. Era uma coisinha deliciosa, e ele tinha a necessidade de desafogar a tensão que crescia em seu interior.

Enquanto lhe jogava uma olhada, piscou o olho lentamente e contemplou seu bonito e pequeno rubor.

— E como pensa fazer isso? — perguntou Ryan com suspeita.

— Não sei. — Deu de ombros. — Harmony o fará. Nós somente a seguiremos e a aliviaremos de sua generosidade. E é obvio, Jonas a seguirá para protegê-la, e possivelmente me deter. Quão último faremos será defraudá-lo.

— Deus, perdeu a cabeça. — Rye se recostou lentamente em sua cadeira. — O velho vai voar uma junta se souber disto, Dane. Não gosta desses jogos que segue jogando com o Conselho e Jonas.

— Quem diz que temos que dizer a ele. — Dane sorriu enquanto voltava a colocar o fino cigarro entre os dentes. — Ryan, vou ter que te manter afastado de minha mãe. Esse amor que tem com ela vai ser sua morte, além do fato de que está muito impaciente por soltar todos nossos segredos.

Ryan sorriu amplamente.

— Ela é uma mulher muito formosa, Dane.

— É minha mãe. — O olhar de advertência não ajudou muito.

Um suspiro, cheio de pesar, saiu de Ryan.

— Há dias em que me pergunto sobre isso...

Estava grávida. Harmony estava segura de que estar grávida não era algo que uma assassina pudesse brincar. Era algo que francamente a aterrorizava. E não estivera aterrorizada há muito tempo.

Quando Jonas e sua equipe, advogada incluída, abandonaram o escritório se afastando em seu surpreendente e pequeno helicóptero negro, Harmony cruzou a sala até o canapé e se sentou, cansada.

Estranhamente, não sentia nada diferente. Não deveria se sentir grávida ou algo? Não deveria o mundo parecer diferente ou seu corpo se sentir diferente?

Quando Lance retornou a seu escritório e se sentou na cadeira, Harmony apoiou a cabeça contra as almofadas e refletiu. Não gostava de refletir. Não gostava de estar entre a espada e a parede, mas era onde estava. Graças a Jonas.

Irmão. Apertou os dentes pensando no parentesco. Então se apoiando na parte lógica de seu cérebro concordou com ele. Faria o mesmo. Proteger às Castas era um trabalho precário no momento, e se este calor de emparelhamento/envelhecimento de merda tirava o chapéu, então todos estavam fodidos. Infernos, isto era para alucinar, quando não estava absorta em uma enorme chamada hormonal de se aproximar e marcar a Lance. Não é que realmente se permitiu pensar sobre isso nesse ponto. Embora maldição, realmente já deveria ter pensado sobre isto.

Estava tão fodida. E não necessariamente em uma boa forma.

Estava grávida. Tinha outra vida que proteger. Uma criança. A criança de Lance. Como ia proteger a si mesma, a criança e Lance? Enquanto Morte estivesse viva, o perigo sempre a perseguiria.

E ainda assim, não podia trair Dane. Não importava a razão pela que poderia ou não ter estado ali para resgatá-la através dos últimos dez anos. O fato era que o fizera. Tinha cuidado dela, atendido as feridas potencialmente fatais e lhe dera um lugar para se esconder quando precisava se curar.

Preocupou-se por ela. Qualquer fosse sua motivação, algo que quisesse dela, cuidou-a. Podia agora estar mais zangada que um demônio com ele, mas sabia muito bem.

Deus, as coisas poderiam piorar mais? Alonzo protestava portas fora, Jonas estava determinado a capturar ao único amigo que já tivera, e estava emparelhada com um homem determinado a não deixá-la partir. E não havia duvida em sua mente de que Lance a amarraria e trancaria sob chave em alguma de suas malditas celas se isso era o que tocava para mantê-la segura.

Grávida.

Colocou com cuidado a mão sobre seu abdômen, franzindo o cenho enquanto tratava de encontrar algum sentido para isto. Evidentemente a terapia hormonal não valia a pena. Não tinha detido o calor, e menos ainda a concepção. Tudo o que tinha feito era impedi-la de correr. E ela teria fugido, não teria?

Bem, então não tinha fugido. Tinha vontade de dar um chute em algo. Desde a primeira noite que se encontrou com Lance, tinha ficado apanhada e sabia. Maldito fosse o calor de emparelhamento, o homem sabia como tocar, como abraçar, e como tornar viciada uma mulher sem acrescentar os estúpidos hormônios dela.

Tinha que haver uma forma de sair. Um modo de dar ao Jonas o que queria sem trair Dane, e um modo de assegurar que Dane se mantivesse seguro. Não era possível que fosse o primeiro Leão, não importava o que Jonas exigisse.

A maior parte dos arquivos eletrônicos estava codificada, mas a informação do primeiro Leão tinha sido impressa. Páginas e páginas de relatórios genéticos e resenhas de treinamento. A menos que houvesse mais naqueles discos rígidos, dentro dos arquivos que nunca foi capaz de hackear.

Não era exatamente um Hacker. A eletrônica, a menos que dirigisse um sistema de segurança ou uma arma, não era seu forte. Os computadores eram uma dor de cabeça, e os portáteis só a deixavam louca. Os celulares eram para as pessoas com vontade de morrer. Podiam ser hackeados, localizados e intervindos, como freqüentemente tratava de dizer ao Dane. Portanto, nunca teve um telefone celular para chamá-lo. E agora realmente precisava falar com ele. Porque queria saber que demônios estava planejando. Talvez pudesse se deslizar no escritório e fazer uma chamada rápida...

— Não em sua vida.

Harmony levantou a cabeça e olhou a seu companheiro. Aquele tom alfa a deixava realmente quente, mas realmente, não era momento para isso.

— Estúpido vento — meio grunhiu. — Isto é tão mal, Lance. É pior que adivinhar os pensamentos.

— Se acostume.

Ela baixou as sobrancelhas ante o resmungão que tinha tomado o lugar de seu normalmente indulgente amante. Ele se sentou, com os antebraços sobre a escrivaninha enquanto repassava um arquivo. Um arquivo grosso. Os olhos dela se entrecerraram quando ele girou uma página e ela captou um nome. Era seu arquivo?

— O que está fazendo?

— Tentando entender como nos tirar a presa do bastardo de seu irmão — resmungou.

Harmony deu de ombros.

— Dane. Mas ele não é o primeiro Leão.

— De verdade? — grunhiu Lance, fulminando-a com o olhar. — Como sabe?

Harmony girou os olhos enquanto ficava de pé.

— Por uma coisa, Dane não está emparelhado. O primeiro Leão está emparelhado.

— E como sabe?

Colocou as mãos nos bolsos traseiros de seu jeans enquanto considerava suas opções de enfrentar aquela pergunta.

— Harmony? — Outra esse vez condenado tom alfa.

— Bem, segundo o que me disse, uma vez que se está emparelhado, não faz com ninguém mais. Certo?

— Sim. — Grunhiu a palavra.

— Bem. — Moveu os ombros, de repente incômodos. — Se Dane for o primeiro Leão, então rompeu essa pequena regra.

— Não é possível — resmungou. — Braden diz que os machos não podem estar interessados em outras mulheres. Agora me explique como Dane rompeu essa pequena regra.

Ela franziu os lábios.

— Bem. Por que... — esclareceu a garganta. Isto era condenadamente incômodo. — Dormi com ele.

— Maldição! Eu sabia! — Grunhiu enquanto fechava de repente o arquivo. — E por que não soltou antes essa pequena de informação? Quando isso teria acalmado ao Jonas?

— Porque, talvez, não fosse de sua incumbência — grunhiu ela revelando suas presas. Bem, agora estava começando a encher o saco.

— E pensa que não teria ajudado que ele soubesse que Dane não é o primeiro Leão?

— Bem, não estou segura. — Franziu o cenho. — O que acontece se um companheiro morre? Embora realmente não acredite que esteja emparelhado. — Estava tagarelando. Harmony Lancaster, aliás Morte, estava se convertendo em uma imbecil. Manteve a boca fechada. — Olhe, Jonas não vai se retirar — informou-o enquanto lhe franzia o cenho. — Uma vez que ele coloca algo nessa cabeça dele, não se detém. Acontecia nos laboratórios, e não mudou após.

— E chamando a seu precioso Dane, como ajudará?

Harmony lambeu seus lábios.

— Bem. Eu poderia lhe dizer o que acontece.

— E como nos ajudaria? — Sua voz voltou-se áspera, mais zangada.

— Poderia nos esconder, a ambos. Só até que entendêssemos este...

Lance deixou cair sua cabeça.

— Faria-o, Lance — sussurrou. — Só até que o bebê... — tragou a corrente de lágrimas. — Até que seja seguro.

Sentia suas mãos tremerem, a emoção afundando-a. Ah Deus, não podia agüentar isto. Ele levantou a cabeça uns segundos depois. A fúria que ela esperava estava ausente, mas sua expressão não era exatamente alentadora.

— Lance, me escute. Ele sabe como fazê-lo. Escondeu-me muitas vezes...

— Se corrermos agora, nunca deixaremos de correr, Harmony. — Sua voz era mais suave, mas não menos autoritária. — Não quero isto para nós ou nosso filho.

Harmony encurvou seus ombros enquanto se voltava, se afastando. Que outra resposta havia?

— Necessitamos os arquivos que roubou — anunciou então.

Harmony deu a volta.

— Como os arquivos ajudarão? Com o espião no Santuário, não podemos fazer nada com eles. Não há nenhum modo de que Leão esteja a salvo, se sua existência for revelada.

— Jonas tinha razão, Harmony — advertiu ele. — A existência do calor de emparelhamento é uma bomba de tempo, só esperando para explodir. Quando o fizer, as Castas nunca estarão seguras.

— Então, o que sugere? — Agitou a mão de forma zombadora. — Só levá-lo diretamente ante o Conselho enquanto podemos. Porque os Coiotes rondarão a Fortaleza das Castas por ele. Não há forma de mantê-lo a salvo, se a notícia chegar ao Santuário.

— Conseguimos a informação e seguimos dali — disse. — Com um pouco de sorte, algo sobre o calor de emparelhamento estará no conteúdo do disco ou discos que encontrou.

Sua voz vibrou com o conhecimento. Deus, isto do vento realmente a deixaria louca.

Ela passou as mãos sobre a cara, pressionando os pulsos sobre seus olhos enquanto lutava não só com sua necessidade de proteger e encontrar ao primeiro Leão, mas também proteger sua própria realidade.

— Se ele for tão bom escondendo às pessoas, então possivelmente também Dane esteja escondendo a Leão — sugeriu Lance então. — Poderíamos repassar a informação nós mesmos...

— A maior parte está codificada. — Negou com a cabeça. — Não posso romper o código. — Deixou cair suas mãos e o olhou fixamente com desespero.

Lance sorriu enquanto se levantava da escrivaninha.

— Tenho um primo político que teve êxito decodificando os arquivos do Conselho — disse. — Pode confiar em Braden, Harmony. Podemos confiar nele. Guardaremos o que queira manter escondido e negociaremos com Jonas o resto. Isto nos dará o tempo que necessitamos para encontrar a seu Leão.

— Estamos jogando com a identidade do primeiro Leão — sussurrou ela. — E sua segurança.

— Se ainda está vivo, então tem bastante experiência em se proteger. Vamos ver o que tem, logo decidiremos. Primeiro repassamos nossas opções, logo avançamos dali.

— Escapar de Dane e Jonas não será fácil — murmurou preocupada. — Para não mencionar a nosso amigável vizinho assassino imitador. Poderiam estar esperando isto. Ainda penso que deveríamos dizer ao Dane.

Lance a olhou em silêncio, com um olhar pensativo.

— Oh, eles definitivamente o farão. — Finalmente se afastou da escrivaninha e caminhou com passo majestoso para ela. — Mas temos um ás na manga, neném. Temos os ventos. E levo a máxima autoridade que este surpreendente assassino, que sabe como evitar pequenas e incômodas caudas. Entre os dois, penso que os teremos superado. Quanto a revelar algo ao Dane, considerou que talvez não saiba sobre o Leão? Se não souber, então não quererá lhe revelar a informação. E nunca partirá sem uma explicação.

— Estarão esperando que vá pela informação. É o que vão esperar, Lance. — Mantinha-se afastada da área onde tinha escondido a carteira de couro com a informação que tinha roubado. Guardou o disco rígido um tempo, até que desistiu de averiguar como abrir os arquivos criptografados. O tinha embalado protetoramente o incluindo no resto do contrabando. Tinha sido anos atrás.

— Harmony, não temos opção. — Sua voz, assim como sua expressão, se endureceu. — Não vou deixar que Jonas a incomode assim. E que me condenem se for deixar que esse filho da puta de Dane tente seqüestrar a você e a meu filho. Isto acaba aqui!

Harmony quase tremeu pelo tom de sua voz. Estava úmida. Podia sentir seus sucos se reunindo, esquentando suas coxas, preparando-a. Quem diria que poderia ser tão feminina? Ela com certeza não. Não o tinha sido antes de Lance.

Respirando profundamente, se conteve de saltar sobre os ossos dele. Não podia sequer culpá-lo pelo calor do emparelhamento. O calor que fluía dela agora era diferente, mas era também quente. Mais brilhante. E mais destrutivo para sua alma do que o calor do emparelhamento já tinha sido antes.

Havia uma parte dela seletivamente programada para a submissão? Ou era algo natural? Era amor?

— Harmony. — Sua voz foi um grunhido de advertência quando se deu conta que ainda o olhava com o cenho franzido.

— Bem. Conseguiremos a informação. — Colocou as mãos nos bolsos antes de se afastar dele e atravessar o quarto para se apoiar na janela.

A persiana tinha sido entreaberta, bloqueando a vista do pátio exterior. Não importava; não teria visto o dia refletido de todas as formas.

Era muito estranho. Que demônios supunha que faria? Um companheiro era uma coisa. Podia se acostumar ao assunto do emparelhamento. Estava dirigindo-o, não era?

Sua mão posou novamente em seu estômago.

— Estou assustada — sussurrou enquanto levantava a mão e olhava para Lance.

Uma amarga diversão a atravessou.

— Acredito que nunca antes estive tão assustada, Lance.

Tinham disparado nela quando saiu dos laboratórios, e nem uma vez tinha conhecido o medo. Tinha ido contra violadores em série, assassinos, delinqüentes e Coiotes, e nunca tinha pestanejado ao confrontar o perigo. Mas a idéia de um criança era aterrador.

Conteve as lágrimas enquanto vislumbrava a expressão dele. A ira aparecia em seu olhar, mas ultrapassando-a estavam a preocupação e uma escura determinação.

Lance caminhou rapidamente atravessando o quarto e a arqueou contra seu corpo, lhe embalando a cabeça contra seu peito enquanto seus braços a estreitavam. Deus como sobreviveria sem ela? Desde a primeira olhada ela começou a deslizar em seu coração tomando conta de sua alma. Respirava vida em seu mundo, e não tinha intenções de permitir que ninguém a levasse. Nem Jonas, nem o desconhecido Dane e seguro como o inferno que não o Conselho de Genética.

Ele sentiu os braços dela em suas costas e um estremecimento lhe percorreu o corpo enquanto pressionava a cara contra o cabelo dela.

— Nosso filho vai estar bem — sussurrou. — O ensinaremos como jogar beisebol e como caçar. Aprenderemos a assar bolachas de chocolate para ele, e como fazê-lo rir. E o protegeremos, Harmony. Prometo-lhe isso.

Tremeu contra ele, tentando afastar a cabeça enquanto ele se inclinava para olhá-la.

— Confie em mim — murmurou.

A cara dela levantada, seus olhos, aqueles formosos olhos verde pálido de gato, alagados em lágrimas enquanto o olhava.

— Ser uma mulher é um saco — murmurou. — Nunca tive problemas até você.

Franziu o cenho pela confusão. De que demônios estava falando?

— Que problema?

— Necessitar a alguém mais — balbuciou. — Te necessitar mais do que necessito liberdade ou preciso correr. Te necessitar mais do que necessito pelo que lutei por tanto tempo.

Afastou-lhe o cabelo da cara, sentiu seu peito se comprimir enquanto lhe rompia o coração outra vez. O que outras mulheres davam por feito — o amor de um homem, necessitá-lo, estar perto dele— sua mulher o via com um toque de assombro.

— Eu sempre a necessitei — disse ele, brandamente. — Sonhei com você. Ouvido seus gritos me sussurrando e sentido uma insinuação de seu toque na brisa me acariciando. Sempre soube, neném

Uma lágrima escorregou do olho dela.

— Sei tomar a vida, Lance. Não sei como criar vida.

Ia arrancar seu coração do peito. Lance baixou a mão a seu abdômen, sentindo o calor de sua pele, o tremor em resposta a seu toque.

— Já criou vida — sussurrou enquanto baixava os lábios para ela. — Doce e formosa vida, neném.

Seus lábios se abriram para ele enquanto um pequeno gemido escapava de seus lábios. Um som cheio de vulnerável necessidade e doloroso desejo. Um desejo que sabia que sentia exclusivamente por ele. Esta era sua mulher, sua companheira. E Por Deus, a manteria segura.

Mas tinha que prová-la agora. Seus lábios abertos para ele, tomando seu beijo enquanto a sentia se derreter contra ele. Se derreter nele.

Estava perdida no toque de Lance. Suas mãos apertadas contra o peito dele, uma vez mais atraindo seu calor, sentindo a acalorada paixão de seu corpo e mais. Podia sentir sua atitude protetora, a dominante inclinação a protegê-la, aliviá-la enquanto seus braços a rodeavam e o prazer começava a se elevar dentro dela.

Uma de suas grandes e calosas palmas se deslizou por seu cabelo, puxando os fios enquanto arcos quentes de sensação elétrica começavam a bater por suas terminações nervosas.

Oh, gostava disso. Isto era prazer. Era mais prazer que qualquer pessoa deveria temer, um prazer que sabia que nunca mais seria capaz de viver sem ele.

— Quero te levar para casa — sussurrou ele contra seus lábios outra vez. — Quero estar dentro de você, Harmony. Quero te sentir quente e molhada, me apertando enquanto grita debaixo de mim.

Harmony sentiu seu sexo se apertar em resposta.

— Poderíamos fechar com chave a porta do escritório. — Tentou capturar uma vez mais seus lábios, se inundar no prazer e nas emoções que só sentia com Lance.

Ele riu entre dentes enquanto se afastava.

— Não mais sexo de escritório — resmungou. — Não serei capaz de caminhar quando tivermos terminado, muito menos conduzir se esse malvado e pequeno sexo seu me agarra de novo, como o fez ontem à noite. Deixou-me como um destroçado despojo de homem, neném.

Passou as mãos sobre o peito dele, logo pelos poderosos músculos de seus braços.

— Não parece um despojo — sussurrou. — Parece duro e preparado para mim. Mas se insistir, conduzirei por você.

Ela quase riu ante a breve indecisão em seu rosto por um fugaz segundo. Logo sua expressão esboçou um sorriso enquanto lentamente negava com a cabeça.

— Vamos para casa. — Fez com a cabeça uma rápida e forte sacudida enquanto retrocedia. — Dave está capacitado para me substituir temporalmente. Terminei a papelada enquanto você estava grunhindo ao teto.

— Eu não estava grunhindo. — Franziu-lhe o cenho ferozmente.

— Sinto muito, neném, estava grunhindo. — Assinalou-a com o dedo enquanto se movia para sua escrivaninha. — Os mais lindos e pequenos sons que já escutei em minha vida, mas definitivamente eram pequenos grunhidos.

Não recordava nenhum pequeno grunhido.

— Está ouvindo coisas. — Apoiou as mãos sobre os quadris, o cenho franzido, lhe dirigindo um olhar feroz enquanto ele recolhia um montão de papéis da escrivaninha e se encaminhava para ela.

— Sonho, gatinha. — Aplaudiu-lhe o traseiro enquanto a passava. — Vamos a casa. Temos planos a fazer.

Henry Richard Alonzo observava da segurança de uma cristaleira como o Raider arrancava do estacionamento traseiro do Departamento do Xerife, e se dirigia rua acima. Ambos iam dentro. O xerife e sua fêmea rameira Casta. A cadela alardeava de seu status de Casta com aquele uniforme que em general vestia e com seu desprezo para o mundo. Era uma assassina, como todas as fêmeas de sua espécie o eram; ele somente tinha que demonstrá-lo.

Tinha esperado que os dois assassinatos que tinha autorizado lançariam muitas suspeitas sobre ela para fixá-la como objetivo segundo suas próprias leis. Ela era bastante jovem; bastante parecida com a Casta suspeita de vários assassinatos de vigilantes. Havia inclusive recebido informes de seu espião dentro do santuário que Morte estivera ali, sob a supervisão de Jonas.

Se fosse Morte, não teria tido que mandar a seu homem para cometer os assassinatos. Ela teria matado rapidamente e sem piedade.

Esfregou sua mandíbula e chiou os dentes enquanto o Raider desaparecia de sua vista. Aquele estúpido xerife estava arruinando tudo. Sem dúvida estava dormindo com ela. Os homens não podiam resistir à sexualidade das fêmeas Felinas.

— Reverendo. — Acker McQuire se aproximou devagar para ele, seu alto e gorducho corpo passando pela porta principal da cristaleira. — E agora, senhor?

Alto. Loiro. Um assassino tão desumano como o chamado Morte. Tinha sido um Treinador nos laboratórios; inclusive tinha passado vários meses no laboratório francês, embora tinha sido depois da fuga de Morte.

— Os vigiamos — resmungou. — Jonas traz algo entre as mãos.

— Houve um relatório do Santuário. Ela poderia ser Morte. O helicóptero foi rastreado desde o Santuário até Carlsbad na noite que ela o deixou. No dia seguinte, Harmony Lancaster apareceu aqui e na base de dados da Casta.

Ela poderia ser Morte?

Henry Richard colocou suas mãos nos bolsos de suas frouxas calças e contemplou a direção que tinha tomado o Raider. Ela era da idade e constituição corretas. E havia uma semelhança com as fotos que tinha conseguido, embora fosse tão leve que não podia acreditar que fosse Morte.

Mas era possível.

— Há alguma informação sobre como Jonas a capturou, ou por que lhe permitiu viver?

Inclusive as Castas tinham posto preço à cabeça de Morte.

— Só que tem algo que quer. — Acker negou com a cabeça, os fios de cabelo branco quase loiro se elevaram com a brisa.

— Então deve ser ela — refletiu. — Ele quereria a informação que roubou quando escapou.

Jonas Wyatt não era o único que queria essa informação. Seus homens tinham conseguido rastreá-la até certa área, mas não mais adiante. A informação roubada dos laboratórios no dia que tinha matado aos cientistas que trabalhavam ali, tinha sido tão sensível, tão importante, que tinham gasto milhões tentando localizá-la.

— Poderíamos apanhá-la.

Henry negou com a cabeça lentamente.

— A seguimos. Jonas passará por cima os assassinatos que ele acredita que ela cometeu em troca da informação que tem. Isso poderia explicar por que partiu sem ela.

— Reproduzi seus assassinatos exatamente. — A segurança de Aker não importava. Tudo o que importava eram os resultados.

Henry assentiu outra vez.

— Sim. Isso explicaria tudo. Definitivamente suspeitam dos assassinatos, então ela pode ser Morte. Vigiem-na. Se forem para fora da cidade, então saberemos que temos a Morte.

A satisfação ardeu nele. Estava tão perto de destruir às Castas. Podia senti-lo. Se em efeito fosse Morte, e Acker tinha cometido os delitos de maneira bastante similar a seu M.O ., então criar uma armadilha séria mais que fácil. E satisfatório. Mostraria a ela quão imprevisíveis eram as Castas, que próximos aos animais desumanos que tinham sido criados para ser.

Não deixaria que lhe roubassem esta possibilidade. Bastante tinham roubado pela perfídia de seu avô ao ajudar à criação destes monstros, estas abominações contra o Deus Todo Poderoso.

Como desejava que seu avô vivesse ainda. Henry Vanderal Demarcy tinha sido um tolo.

A filha, a mãe do H.R, não tinha sido bastante para seu pai. Vanderal Demarcy quisera um filho, em vez do neto que nasceu mais tarde. Ele tinha criado a seu filho. Permitiu que sua sem*nte fosse corrompida pelo código das Castas, assim pôde trair à filha que lhe tinha sido dada.

Henry Richard Vanderale Demarcy. O bastardo. Era o avô do H.R. H.R. inclusive tinha sido chamado assim por ele, embora rechaçava usar o nome Henry Richard, ou qualquer parte dele. Não queria nada de seu parente patriarcal. Se ainda estivesse vivo, H.R. teria matado a seu avô ele mesmo. Tinha ajudado a criar esses monstros para poder ter a seu filho perfeito, tinha roubado a maior parte da enorme fortuna para dar a aquele filho. Fazendo isto, tinha abandonado à avó do H.R. com apenas o dinheiro suficiente para se agarrar no estado que tinha sido deixada. E seus parentes Vanderale na Sudáfrica não tinham tido nenhum interesse em ajudá-la naquele momento.

As Indústrias Vanderale eram agora um dos maiores conglomerados do mundo, e até eles, os bastardos que eram, apoiavam às Castas. Embora não teria esperado menos. Claramente, a genética dos Vanderale tinha um rastro de loucura.

Ele não os perdoaria mais do que tinha perdoado a seu avô.

H.R. mostrou os dentes com fúria. O Primeiro Leão. O primeiro a ser criado, o primeiro a escapar. E ao escapar, tinha obtido a fortuna que o avô de H.R. tinha roubado em segredo sob o nariz de sua esposa, logo se desvaneceu sem deixar nenhum rastro.

O bastardo. A família de H.R tinha sofrido. Tinham lutado e caído depois de sua morte, até que a mãe do H.R se casou na poderosa Família Alonzo.

Seu avô os tinha traído por seu filho animal.

Henry jurou outra vez, como fez durante décadas, que cada Casta pagaria. Que ele procuraria pessoalmente que fossem apagados da face da terra. Eram abominações. Criaturas. Não tinham nenhum direito à vida, e se asseguraria que voltassem para o inferno no qual tinham sido engendrados. Poderiam se unir ao Henry Vanderale Demarcy dentro dos fogos do julgamento eterno. E ele seria o que os enviaria ali.

Perversa e erótica sensualidade envolveu os sentidos de Lance enquanto se apoiava contra a parede, no interior de sua casa, e baixava o olhar com prazer.

Harmony não era uma mulher para ser rejeitada quando decidia que queria algo. Tinha afrouxado seus jeans antes de chegar em casa, suas malévolas unhas torturando seu pênis enquanto lutava para respirar.

Só pôde obter que entrassem na casa, que a porta se fechasse com uma pancada atrás deles, e ela ficou de joelhos. Agora estava de joelhos, e ele estava a ponto de derrubar-se.

Não podia afastar seus olhos dela. A visão de seu rosto, os olhos fechados, a expressão sensual e ruborizada enquanto enchia a boca com seu pênis.

Hábil e ardente, a língua lambia a avultada crista antes de sugá-la ruidosamente em sua garganta para voltá-lo louco com os pequenos e retumbantes grunhidos que vibravam contra ele.

Apertando as mãos em seu cabelo, apoiou as costas contra a parede e lutou para se controlar. Não tinha controle... demônios, necessitava força para se manter em pé. A pequena lasciva estava sugando um a um cada úmido centímetro enquanto ele ofegava de prazer.

— Definitivamente, vou ter que te surrar. — Assim que pudesse recuperar a respiração. — Deus, neném... sim. Sua boca é fodidamente boa.

Era muito mais que boa. Era o segundo lugar mais maravilhoso da terra. O primeiro estava molhado e quente, e o esperava em meio a suas deliciosas coxas.

Outro duro e retumbante ronrono vibrou na garganta dela. Jurou que sentia como absorvia suas bolas. Massageando seu cabelo, apertou os dentes e lutou por ultrapassar as aturdidas sensações que ameaçavam transbordar. Demônios, não queria gozar ainda. Não ainda. Não quando se sentia tão condenadamente bem, quando a paixão e a excitação que transformavam a cara de Harmony o mantinham enfeitiçado.

— Merda! — Seus lábios se separaram dos dentes, enquanto ela abria os olhos lentamente, a grossa cabeça saindo livre de seus lábios de maneira que sua língua pudesse lambê-lo.

Lambeu-a como se sustentasse seu gosto favorito, curvando sua pequena e quente língua sob a torcida crista antes de cobri-la uma vez mais com sua boca.

— Bruxa — ofegou. — Essa pequena boca quente vai fazer com que te surre.

Agora podia ver seu traseiro nu voltado para ele, ruborizado por sua mão, enquanto as suaves e sedosas dobras que havia debaixo brilhavam com sua nata.

Ela ronronou ardentemente.

— Você gosta do que estou pensando? — Ele lutou para respirar enquanto a mão dela acariciava a longitude da carne que sua boca não podia consumir. Debaixo, sua outra mão lhe embalava e massageava seu saco, suas unhas raspando a pele com tal prazer destrutivo que ele juraria que ia gozar a qualquer segundo.

Roubou sua prudência. Estava enredada tão firmemente ao redor de sua alma que cada toque, cada olhar dela era o céu. Entretanto isto superava o prazer.

O suor desceu por sua testa, seu peito, onde sua camisa desabotoada se aferrava a sua pele. Um gemido quebrado se rasgou desde seus lábios enquanto a boca dela o apertava para liberá-lo. Sua língua simplesmente estava o matando.

— Não vou ser capaz de esperar, neném. — Afastou o suor de seus olhos, suas mãos se esticando no cabelo dela enquanto tratava de separá-la dele.

Seus dentes o rasparam, advertindo-o. Isso poderia tê-lo ferido. Não gostava de seus dentes contra seu pênis. Mas o fio nu arranhou contra ele, lhe enviando um estalo súbito de luz que explodiu em sua visão com prazer. Ao mesmo tempo, suas carícias se aprofundaram, a sucção de sua boca se intensificou e ele esteve perdido. Lance escutou seu próprio grito rouco de torturado prazer, enquanto fazia erupção em sua boca. Seu pênis se estremeceu, pulsou, e logo sua sem*nte se derramou sobre sua ofegante língua com duros e pesados jorros. Cada erupção fazia que o corpo dele se sacudisse enquanto ela continuava amamentando-o brandamente. A respiração assobiou desde seu peito, os joelhos quase lhe dobraram e ele se inclinou para frente para se opor a sua fraqueza.

— Deus, sim... — gemeu. — Doce céu. Doce neném.

Estava atormentado pelo êxtase e indefeso no apertão enquanto lhe enchia a boca com um último e desesperado jorro de sêmen.

Então ela se afastou para trás, a percepção de seus lábios se deslizando sobre seu pênis enviando duros tremores de prazer correndo através de suas terminações nervosas, enquanto rapidamente a punha de pé de um puxão.

Não ia fazer sexo na cama. Simplesmente não era possível. Elevando-a em seus braços, ignorou sua frenética objeção quando se dirigiu para a sala. Não havia tempo para despi-la. Se não conseguisse enfiar-se dentro dela, ia ficar louco de necessidade.

Caminhando ante a profunda poltrona cheia de almofadões, que simplesmente resultou ser o primeiro artigo de mobiliário ao qual chegou, Lance a colocou rapidamente de pé.

— Vire-se. — Girou-a enquanto suas mãos foram para o botão e o zíper das calças dela.

— Há um sofá...

— Que se foda.

— No chão. — Estava respirando com tanta dificuldade como ele, as mãos rebuscavam nas calças dele enquanto ele a liberava das suas.

— Se agache.

As calças dela se deslizaram por seu traseiro. Os suaves pálidos e dourados globos o fizeram parar enquanto empurrava suas omoplatas, arqueando-a até fazê-la descansar contra o almofadão do respaldo.

— Oh infernos, sim — sussurrou enquanto uma mão se deslizava sobre a suave pele acetinada. — Formoso. É tão fodidamente formoso, neném.

— Tem fixação com meu traseiro, Lance. — Suas palavras eram quase um gemido, enquanto sua outra mão se unia na exploração das cremosas bochechas.

— Oh, neném, não tem nem idéia. E este formoso traseiro tem que ser a melhor obra de arte que vi em minha vida.

Não havia nenhuma mancha que danificasse o suave brilho dourado de sua pele. Seu traseiro era o suficientemente cheio para que um homem se agarrasse, e o suficientemente curvado para fazer com que observá-la caminhar fosse um passatempo em si mesmo. Amava vê-la caminhar.

— Lance. — Estremeceu enquanto os dedos dele escorregavam sobre os tentadores montículos, até que suas pontas encontraram o suave e delicioso calor úmido.

— Está molhada, Harmony. — Aproximou-se mais, aferrando o eixo de seu pênis e deslizando-o através de sua sedosa umidade.

— Deixa de me provocar...

— Mas ao te provocar faço que fique mais molhada. — Deslizou a cabeça de seu pênis através de suas doces dobras até ricochetear em seu inchado cl*tóris.

Harmony estremeceu.

— Tão quente e molhada. — Não podia evitar elogiá-la. Demônios, estava condenado a quase babar por ela, e ainda, sua só percepção era suficiente para mantê-lo fascinado.

— Lance. Necessito de você. — A voz dela pulsava; a dolorosa excitação e a necessidade converteram seu tom normalmente vibrante em um ronco áspero.

E o necessitava.

Lance levantou a cabeça às cegas, enquanto seu pênis encontrava a doce e apertada entrada de sua vagin*. Seus músculos o apertaram, sugando-o devagar enquanto se elevava sobre ela. Assegurou as mãos no respaldo da poltrona enquanto roçava sua orelha com os lábios.

— Eu te amo — sussurrou brandamente.

O grito de Harmony o surpreendeu. Enquanto lhe sussurrava essas últimas palavras, empurrou em seu interior, duro e forte, pressionando através da malha sensível e dos absorventes músculos e enviando fogo ao redor de seu corpo.

As costas dela se arquearam enquanto tentava ficar direita, só para se encontrar imobilizada pelas duras mãos que a cobriam e o pesado peito contra suas costas.

— Está tão apertada, neném — ronronou em sua orelha, flexionando os quadris, acariciando-a intimamente enquanto ela tentava respirar. Ela precisava respirar. Mas cada vez que tentava, ele se movia de novo, lhe enviando um tortuoso prazer que rasgava seus sentidos.

Enquanto ela inclinava a cabeça, surdos lamentos saíam de sua garganta, e os lábios dele acariciavam a mandíbula, os dentes a arranhavam, e enviavam uma fervente fricção chispando ao longo de seus terminais nervosos.

— Te necessito... — Ela mal podia falar enquanto tratava de mover os quadris, lutando por se mover sobre a férrea longitude que a atravessava.

Deus, seu pênis era tão grosso que ardia enquanto separava seus músculos internos.

— Já me tem, neném. — Beliscou-lhe o queixo antes de deslizar seus lábios a sua orelha. — Cada parte de mim.

Então, começou a se mover, com estocadas que não eram de maneira nenhuma ternas nem gentis. A fome os atravessou, aumentando da excitação ao desespero.

Ela nunca havia sentido a intensidade que sentia com Lance, a necessidade de mais... mais prazer, mais daquelas emoções que formavam redemoinhos em seu peito e apertavam sua garganta. Nunca tinha compreendido antes deste homem que necessitava algo mais que vingança.

O que sentia agora, a fazia compreender que mais a frente seria incapaz de viver sem isso. A conexão, a vinculação com outra pessoa. O calor que invadia a sua alma com cada uma de suas carícias.

— Assim, neném...

Choramingou quando suas investidas começaram a aumentar, apertando os dedos na malha da poltrona. Uma mão abandonou as suas para segurar seu quadril, mantendo-a quieta enquanto seu pênis escavava em seu interior com duras e ardentes investidas.

As formigantes e atormentadoras sensações correndo desde sua vagin* através do resto de seu corpo a faziam suplicar a liberação. Estava tão perto. Podia senti-la ardendo em seu útero, em seu cl*tóris, e, ainda assim, ele o continha, reduzindo suas investidas, logo aumentando o ritmo, só para diminuí-lo uma vez mais.

Ela estava grunhindo. Forçados e pequenos sons selvagens de prazer saíam de sua garganta enquanto suas costas se arqueavam e lutava por se esticar ao redor dele, sustentar seu agudo pênis em seu lugar cada vez que se retirava.

— Garota má. — O afiado e ardente tapinha em seu traseiro a fez se imobilizar, fazendo uma pausa ante a sensação adicional. Era doloroso ou agradável?

Empurrou novamente contra ele.

— Assim, neném? — Sua mão aterrissou de novo, na bochecha oposta de seu traseiro. — Que formoso traseirinho ruborizado.

A palmada seguinte foi mais forte, as sensações ardendo profundamente em seu interior enquanto uma explosão de cor rompia atrás de seus olhos fechados. Esticou-se de novo a seu redor, ofegando ante o extremo das sensações que a percorriam.

— Disse que ia te surrar, neném.

Outra palmada, outro forte empurrão. Retirada, bofetada e empurrão. Seus sentidos batendo, suas terminações nervosas gritando de necessidade enquanto sentia o fogo crescendo em seu útero. Estava tão perto. Oh Deus, tão perto.

Então ele segurou seus quadris com ambas as mãos e começou a empurrar furiosamente em seu interior. A dura longitude de seu pênis separava e pressionava seus músculos, acariciando-a, inflamando suas terminações nervosas enquanto um comprido e surdo lamento saía de sua garganta.

Seu org*smo não somente explorou através dela. O sentiu se condensando, cada célula e músculo de seu corpo se reunindo, alcançando, logo ardendo através dela com entristecedores resultados. O lamento de Lance foi um som distante em seu ouvido. A sensação de seu corpo cobrindo-a, sustentando-a, defendendo-a, enquanto os terríveis tremores a percorriam, de supremo ao incontido prazer.

— Doce neném — ele sussurrou no seu ouvido, enquanto lutava para sustentá-lo em seu interior, sua vagin* ondulando ao longo do pênis enquanto ele se derramava em seu interior por última vez.

Harmony era uma fraca e necessitada desordem quando Lance se moveu, deslizando fora dela e ajustando as calças antes de levantá-la em seus braços. A cabeça dela caiu sobre seu ombro, os olhos fechados enquanto lutava para lutar com suas emoções.

Decidiu que odiava as emoções.

Ele caminhou para a ducha, despiu rapidamente a ambos e a empurrou sob o calor da água. Ela observou enquanto a banhava, as mãos gentis, sua expressão uma mescla de arrependida luxúria e ligeira diversão enquanto lhe franzia o cenho.

Ele não disse nada, e ela não tinha energia para dar suficiente sentido ao que sentia, o que podia sentir crescendo em sua alma, para discuti-lo. Assim, em vez disso, preferiu observá-lo, maravilhando-se do homem que se ajoelhava tão facilmente diante dela para terminar de lavá-la antes de voltá-la para o jorro da ducha e começasse com as costas.

— Aqui, tudo limpo — sussurrou, voltando rapidamente à ducha para lavar seu cabelo, antes de pegar uma esponja de banho e limpar-se energicamente. Era muito duro com seu próprio corpo.

A esponja estendeu um caminho de borbulhas, primeiro sobre seu rosto, logo sobre o pescoço, os ombros e o poderoso peito. Movendo-a mais abaixo, limpou rapidamente o pênis ainda meio ereto e a pesada bolsa que havia debaixo antes de lavar as pernas. Era rápido, eficiente e não perdia tempo. Aplicava a mesma força para lavar seu corpo que para viver sua vida. Exceto para ela.

Harmony o olhava do lado oposto da ducha enquanto se enxaguava, compreendendo que com ela, Lance rompia suas próprias regras de algum jeito.

Regras não escritas. Entendia-o. Era um homem que tomava a vida como vinha e arrumava o que podia arrumar. O fazia sem desperdícios. Não era um homem que adotasse uma postura afetada ou se desculpasse quando falhava. Via os diferentes pontos de vista, e fazia o que lhe correspondia e mais, se a ocasião se apresentava, para fazer do mundo um lugar melhor.

— Você merece algo melhor — disse tristemente, enquanto ele fechava a ducha e agarrava duas toalhas grossas e acolchoadas.

— Melhor que o que? — Começou a secá-la. Lentos e suaves movimentos como se desfrutasse tocando-a.

— Melhor que uma assassina com um horrível passado e um caráter inclusive mais perigoso. — Contemplou-o enquanto jogava a toalha dela a um lado e começava a se secar.

Não falou. A princípio, ela acreditou que pensava ignorar sua declaração. Entretanto, uma vez que se secou e jogou a toalha a um lado, dirigiu-lhe um longo e calculado olhar.

— Morreria por você, Harmony. — Disse as palavras simplesmente, facilmente. — Te amo. E nunca disse isso a outra mulher que não fosse de minha própria família, em toda minha vida. Tudo o que sou te pertence. Passado violento e tudo. E nenhum homem poderia pedir mais do que é. — Suas mãos lhe embalaram o rosto enquanto ela sentia as lágrimas brotar de seus olhos. — Formosa, forte. Capaz. Tenho mais do que sempre mereci, em você. E não o esqueça. — Seus olhos brilharam perversamente. — Ou vou ter que te surrar de novo. Agora, se prepare. Temos que fazer planos.

Deu um tapa em seu traseiro, um afetuoso aviso da surra que receberia. Desgraçadamente, tinha gostado dessa surra muito mais do que deveria.

— Onde está escondida a informação? — Uma hora depois, Lance tirava da mesa os pratos do jantar e preenchia suas xícaras de café antes de retornar.

Harmony apoiou as costas em sua cadeira e o olhou. Podia sentir a mudança nele. Isto era o que fazia de Lance uma força tão poderosa no condado. Resolvia problemas, e estava preparado para resolver este. Agora.

Ela respirou com dificuldade, se inclinando para frente enquanto agarrava a xícara de café entre suas mãos.

— No Boulder, Avermelhado — disse em voz baixa. — Os tenho ocultos nas montanhas.

— Por que não os escondeu em uma caixa de segurança, ou uma área de armazenamento?

Ela sacudiu a cabeça.

— Câmaras de vídeo. Não há forma de se esconder completamente delas, e alguns dos Treinadores que o Conselho possui poderiam me ter apanhado facilmente, sem importar meu disfarce quando era mais jovem.

Ele assentiu ante isso.

— Tem uma cabana...?

— Não é assim tão simples, Lance. — Desejava que o fosse. — A caminhada é muito longa. Está oculto em um lugar onde sabia que estariam protegidos de algo. Consegui-los não vai ser fácil.

— Não vou sair daqui às cegas — replicou ele. — Não há grampos em casa, e ninguém escutando lá fora. Estamos seguros aqui, Harmony. Agora, onde estão?

Os lábios dela se retorceram. A dura força masculina que estava latente sob o tolerante xerife estava agora em plena força. Reclinou as costas na cadeira e o olhou atentamente.

— Está em uma pequena cova ocupada quase todo o ano por um puma ou outro. Embora durante os últimos anos, o mesmo felino esteve perto. A carteira em si está selada dentro de uma caixa protetora forrada e com um ferrolho cifrado. Qualquer tentativa de movê-lo ou rompê-lo sem o código destruirá o interior.

Ele levantou uma sobrancelha enquanto ela se ruborizava pela aprovação que via em seu olhar.

— Inteligente — murmurou.

— Acredito que sim.

— Vai ter que dar a informação ao Gabinete das Castas...

Ela sacudiu a cabeça com fúria.

— Há um espião no Santuário. Leão seria assassinado ou capturado antes que os Executores pudessem sequer averiguar onde está escondido. Essa solução não é prática.

Ele se sentou novamente em sua cadeira, passando as mãos pelo cabelo enquanto contemplava o teto fixamente por um longo momento.

— O que acha sobre o Braden? Ele sabe que há um espião. Ele e Megan poderiam se encarregar disto.

— Poderiam colocar em perigo seu trabalho com as Castas que já ampararam sob sua asa. — Sacudiu a cabeça ante isso também. — Não estou segura, Lance.

— É nossa única opção — disse secamente. — Ele conhecerá alguém com quem contatar fora do Santuário se não tiver outro caminho. As Castas são uma unidade coesiva, mas como todas as demais, certos ramos trabalham sob o radar das outras. É nossa única resposta, porque depois disto, você não participará mais no jogo.

Aí estava novamente esse tom dominante. Enviou calafrios por sua espinha dorsal inclusive enquanto lhe lançava um duro olhar.

— Não pode tirar o assassino da Casta — sussurrou brandamente.

— Não, mas posso tirar minha Casta fora da arena. — Inclinou-se para frente, seu olhar se endurecendo enquanto a contemplava. — E nunca duvide, neném, de que vai ficar fora isto.

E por que suas palavras enviaram uma pequena e estranha emoção por seu corpo?

— Podemos discutir isto mais tarde — disse ela, em vez de discutir por algo tão vão. Infernos, queria sair, compreendeu. Desejava dormir nos braços de Lance cada noite e sentir a seu filho crescer em seu interior.

— Não estamos longe de Boulder — murmurou ele então. — Mas há muitos condenados olhos nos vigiando. Chamarei Braden e farei com que reúna tudo o que necessitamos e nos encontraremos esta noite do outro lado do palácio de justiça. Há um túnel subterrâneo que leva ali dos dias em que as celas subterrâneas se usavam com regularidade. Podemos nos deslizar até o palácio de justiça e escapulir dali.

Isso poderia funcionar. Harmony se endireitou na cadeira enquanto deixava que o plano circulasse por sua mente.

— Poderíamos chegar ao Boulder na alvorada. — Assentiu. — Pegaremos uma cela até que escureça. É a única maneira de nos deslizar inadvertidamente nas montanhas se é que estão nos seguindo.

— Não seremos perseguidos. Mas iremos na escuridão, de todas as maneiras, só para nos assegurar. Faça-me uma lista do que necessita e farei que Braden se ocupe de tudo.

Ela levantou as sobrancelhas.

— Quer dizer que posso contribuir? — perguntou docemente.

Lance grunhiu, seu olhar esquentando-se ante seu sarcasmo.

— Se pudesse te trancar com chave e te manter segura, o faria — grunhiu, embora ela tivesse a sensação de que ambos sabiam bem. — Você me assusta à morte, Harmony, mas este é seu mundo. Você reconhece uma condenada pista mais de perto que eu. Desta vez, eu a seguirei.

Ela ia entrar em choque. Observou-o com ceticismo, sabendo que seguir não era uma palavra com a que este homem jogasse normalmente.

— Não te disse que eu gostaria de fazê-lo — grunhiu ele. — Te disse que o faria. Há uma diferença infernal. E a surrarei por isso mais tarde, também.

Maldição, lá estava aquele ronrono outra vez. Pestanejou ante o pequeno grunhido que saía de seu peito.

— Merda de palmada. — Seus olhos eram como chamas azuis escuras enquanto a olhava fixamente. — Segue com isso e a atarei na cama até que tudo isto tenha terminado. Esse som me põe mais duro que o inferno.

— O calor da união já está cessando — apontou ela.

— Diga isso a meu pênis. — Levantou-se da cadeira, e efetivamente, a protuberância estava ali em suas calças. Grossa. Pesada. A boca dela babou. — E deixa de me olhar assim. Reúna sua lista e nos partiremos.

Um mandão, isso é o que era. Harmony o olhou quando se afastou da mesa, todo negócios apesar da dureza que se apertava debaixo de seu jeans. Mas também estava desejoso de trabalhar com ela. Gostava disso. Ela não tinha esperado, mas gostava. Seus olhos o seguiram, se atrasando em suas duras costas enquanto ele se separava dela, sentindo uma profunda ternura em seu peito.

Amava-o.

O fato a golpeou como se um quatro por quatro tivesse impactado contra sua cabeça. Por um momento, inclusive jurou ver estrelas.

Amava-o.

Isso era possivelmente o que mais a debilitava, e, ainda assim, era a emoção mais forte que já tinha conhecido em sua vida. Isto era pelo que não tinha sido capaz de deixá-lo. Inclusive sabendo o perigo que ela representava para sua vida e a dor de coração que temia estava próxima a sentir, não tinha sido capaz de deixá-lo porque se apaixonou desde a primeira noite.

Quando a havia tocado como se ela fosse algo formoso, algo frágil para ser querido; quando lhe tinha sussurrado suas perversas demandas no ouvido e a tinha feito sentir como a mulher que nunca tinha sido, se apaixonou por ele.

— Harmony, esse olhar em seu rosto vai me fazer te foder, e já estamos desperdiçando a luz do dia aqui. Faça a lista, e partamos. Quero me ocupar disto

— Uma rapidinha...

— Já teve sua rapidinha— grunhiu, a escura demanda de sua voz fez que todo seu interior se derretesse. — Te desejo toda a noite. Infernos. Desejo te foder para sempre. Agora nos ocupemos disto.

O rifle de franco-atirador a surpreendeu.

Harmony sabia que Lance tinha pertencido à equipe SWAT de Chicago; inclusive tinha sido consciente que era um bom atirador. Contudo quando o viu tirar o rifle especialmente desenhado de franco-atirador de sua maleta e começar a juntar suas partes, só pôde olhá-lo.

Dirigia a arma como se fosse uma extensão dele mesmo... com confiança, seguro de cada movimento enquanto limpava as diferentes partes, logo as punha em seu lugar.

Com cada parte que adicionava, verificava na arma qualquer imperfeição, qualquer ponto fraco.

Estudou sua expressão enquanto ele trabalhava na pequena mesa do quarto de hotel que finalmente tinham escolhido. Seu rosto era resolvida, serena e relaxada. Nenhum cenho danificava sua testa forte e nenhuma expressão de irritação esticava sua boca.

Enquanto ela limpava e inspecionava suas próprias armas na cama extra da sala, se deu conta de que possivelmente havia partes de Lance que não conhecia tão bem como deveria. Partes dele que talvez tivesse medo de conhecer.

Era um homem de muitas capas, de muitas profundidades e de uma paciência infinita. Nunca tinha conhecido a um macho tão paciente e, entretanto, com tal sentido de sua própria força como Lance continha. A diferença dos machos das Castas, Lance não utilizava sua dominação ou seu poder. O usava quando tinha que fazê-lo, quando se fazia patente que sua fria lógica ou paciência não obtinham os resultados que estava procurando. Mas não sentia a necessidade de imprimir essa dominação sobre ninguém.

A diferença do Jonas, Lance não jogava jogos, não manipulava nem ameaçava. Como o vento, o que não podia atravessar, rodeava ou esmiuçava. Mas esta era a primeira vez que ela tinha visto o guerreiro do qual só tivera uns pequenos brilhos antes. Em seu rosto, na preparada disposição de seus músculos e no frio e objetivo olhar de seus olhos azuis enquanto revisava a arma, viu um homem que não tinha reparos em tomar esse passo final para fazer o que sentia que era necessário.

Isso enviou um estranho zumbido de excitação através de seu corpo. A certeza de que talvez de muitas formas fosse mais forte do que ela; era mais forte que ela, mais forte que as Castas que tinha conhecido. Era um homem que entendia e acreditava nas leis da terra. Na justiça. Mas também era um homem que entendia que inclusive aquelas leis tinham um limite.

Esta noite, suas leis e sua justiça não existiriam. E ela o lamentou. Arrastá-lo a seu mundo não era o que quisera fazer.

Apartando seus olhos dele, baixou a cabeça e se concentrou em limpar sua arma, em se preparar para a noite em que despertariam mais tarde. Agora mal havia uma fresta de luz de dia; o passeio desde Broken Butte ao East Park tinha sido feito na frente do programa. É obvio, o fato de que o vento parecesse empurrar ao veículo tinha ajudado. Lance tinha quebrado os limites de velocidade e conduzido com uma tranqüila eficiência que, admitia, deixara-a nervosa.

Ele tinha falado muito pouco. Seu olhar tinha sido feroz, sua expressão inflexível. Tinham tomado o café da manhã antes de se revistar, e no minuto em que a porta se fechou atrás deles, tinha recolhido a maleta metálica que levava junto a sua bolsa de viagem e tinha começado a ensamblar o rifle.

Harmony tinha seguido seu exemplo, começando seus próprios rituais pré-bélicos. Mas agora era diferente. Quando procurou dentro de si mesmo sua couraça de gelo, a sombra chamada Morte, deu-se conta de que já não estava ali. Em lugar do sentimento de vingança rasgando dentro dela, só pôde sentir arrependimento.

As emoções cresceram, se sacudiram, bateram dentro de seu peito até que se assombrou do fato de poder respirar através delas. Como se algo dentro dela tivesse trocado com sua união, algo intrínseco, uma parte importante dela que uma vez a tinha feito capaz de matar tão facilmente. Sentia-se... perdida.

Sacudiu a cabeça inconscientemente, franzindo o cenho enquanto tratava de lhe dar algum sentido a suas emoções. Sempre teve o potencial para amar dentro dela? Nunca o havia sentido antes, nunca tinha conhecido a necessidade de amar, até Lance.

Deixando a munição a um lado, ficou a mão sobre o abdômen, esfregando imperceptivelmente a área com os dedos. Um bebê. O que se supunha que deveria fazer com um bebê?

Mas seus braços desejaram sustentá-lo, e quando fechou os olhos, viu diminutos traços emoldurados pelo espesso cabelo negro de Lance, vendo o mundo através de seus olhos azul meia-noite. Um filho, possivelmente um que pudesse saber sorrir.

Um tremor frio percorreu seu corpo enquanto os olhos se abriam de repente e saltava da cama. Não foi uma imagem inocente o que viu, e sim os laboratórios, os bebês cujos lamentos quebrados ressoavam através das paredes de fria pedra enquanto se lamentavam para chamar a atenção. Seus dilaceradores lamentos enquanto pediam calor.

Pequenos rostos avermelhados de raiva, olhos que olhavam fixamente ao mundo com fúria ferida enquanto só os lamentos de outros respondiam suas súplicas.

— Normalmente fica nervosa antes de trabalhar? — A voz de Lance a penetrou no meio da horripilante lembrança enquanto girava para enfrentá-lo. — Devemos ir.

O medo e a irritação se ataram em seu interior enquanto ela se encaminhava para as cortinas fechadas, esfregando as mãos pelos calafrios que tinham subido por seus braços.

— E aonde vamos? — O olhar de Harmony pousou sobre ele, enquanto cuidadosamente separava as partes da arma e as colocava na espuma que forrava a caixa de metal. — Minha primeira idéia era melhor. — Respirou profundamente. — Dane nos esconderá até que a criança nasça. Estaremos seguros. O bebê estará seguro.

Lance fechou a caixa antes de tirá-la da mesa para colocá-la no chão. Olhando-a atentamente, se apoiou contra o respaldo da cadeira, apoiando os braços nos lados, olhou-a com austera determinação.

— Se começarmos a fugir agora, nunca nos deteremos. E nosso filho tampouco. — A voz de Lance foi firme, definitiva.

Este era um aspecto de Lance que a fez se deter, reconheceu,. A dominação era como um fogo dentro de seus olhos azuis e nos cinzelados planos de seu rosto. Uma parte dela respondeu à força pura que vislumbrou nele. A fez querer se submeter, a fez querer lhe dar algo que exigisse dela. Mas agora estava pedindo sua alma.

— Não posso te deixar fazer isto. — Ela levantou o queixo, se encontrando com seu olhar de frente. — Há muito em jogo e muitos perigos que poderiam nos ter seguido até aqui.

— É obvio que nos seguiram. — Seu sorriso era firme, controlado. — Os perdemos no Boulder, mas estou seguro de que nos alcançarão logo.

O sobressalto vibrou através de seu corpo.

— Sabia que estavam nos seguindo? — sussurrou.

Tinha suspeitado quando ele conduziu através do Boulder em vez de ir pela rota mais direta ao redor da cidade, mas não estivera segura. Seu próprio radar, o picor em sua nuca, não estivera presente, por isso não estivera segura.

Lance deu de ombros.

— Pensei que tinha visto o helicóptero à distância através do espelho retrovisor, mas não estava seguro. Poderia ter sido um avião, infernos, ou poderia ter sido uma sombra. Mas nos seguiram.

Então ela se abraçou, respirando profundamente. Deus, odiava todas essas emoções se agitando caoticamente em seu interior. Era como se uma vez que tinha começado a senti-las, não se detiveram. Não afrouxariam nem lhe dariam paz.

— Essa é razão suficiente para contatar Dane. — Respirou profundamente. — Ele saberá onde nos esconder...

— Não necessito um de seus ex-amantes para proteger a minha mulher ou a meu filho — declarou severamente. — Não siga com isso, Harmony, porque vai perder.

— Significa que devemos deixar tudo assim? — Ficou paralisada, em branco, assombrada. — Não aceitará sua ajuda porque dormi com ele?

— Sou perfeitamente capaz de proteger a minha mulher e meu filho — informou, com voz profunda. Manteve-se paciente, embora seu olhar se endurecesse. — Recuperaremos a informação que tem e a entregaremos para Braden. Logo, saberemos como nos ocupar de Jonas.

Homens! Olhou fixamente a Lance, um pouco confundida.

— Lance, não duvido que possa nos proteger. O ponto é que se encontrarmos um lugar seguro para ter o bebê, então poderemos lutar contra o resto mais tarde.

— Se fugir ou se esconder pode garantir sua vida e a de nosso filho, então sou perfeitamente capaz de nos ocultar. Filho de uma cadela, Harmony! Entendo sua história com esse bastardo, mas faremos isto a minha maneira, não à sua.

— Não estou duvidando de você...

— Bem, me perdoe se o senti assim — cuspiu ele.

— Está regateando com a vida de outras pessoas — sussurrou desesperadamente. — Não podemos fazer isto, Lance.

— Negociaria até com o diabo por sua maldita segurança. — Um fio de impaciência coloriu sua voz. — Se o primeiro Leão existir, então sua localização não vai estar nesses expedientes. Se o Conselho alguma vez tivesse um indício de onde está, dariam o golpe. Uns poucos cientistas do Conselho famintos de poder não ficariam sentados sobre essa informação até usá-la.

Ficou ali tão calmo, dominante, determinado a que tudo fosse se fazer a sua maneira e tempo. Por um momento, Harmony quase cedeu. Quase esteve de acordo.

Então as faces daqueles bebês dos laboratórios brilharam de novo em sua mente. Gritando por atenção, por calor. Nunca tinham conhecido o calor, nunca tinham sentido o amor ou a ternura de uma carícia. Esse era o destino que esperava a seu filho se o Conselho a apanhava... isso, ou morrer.

Endireitando os ombros, permitiu que seu próprio olhar determinado encontrasse o dele.

— Então irei sozinha. Sei como contatar Dane...

Não esperava sua resposta, embora devesse tê-lo feito. A paciência dele se evaporou enquanto ela abria os olhos de par em par. Um rastro de medo flutuou através dela um segundo antes que ele a alcançasse, as mãos dele segurando firmemente seus antebraços.

— Maldito inferno! — Seus traços estavam retorcidos de fúria, os olhos acesos. — Tente, Harmony, só faça uma maldita tentativa e, te juro Por Deus, te porei às algemas tão rápido que farei que sua cabeça dê voltas.

Seus lábios se separaram enquanto o olhava fixamente, sobressaltada pelo ardente calor que fluía das mãos dele até seus antebraços.

— Deixe-me ir. — Sacudiu-se, tentando se afastar dele.

— Pensa que vou te permitir seguir fugindo? — Seu olhar a atravessou. — Ou que sou incapaz de te proteger e a nosso filho?

— Isso não é o que quis dizer. — Agitou a cabeça desesperadamente. — Não entende...

— Entendo que Jonas, Dane e esses malditos expedientes a perseguiram durante dez anos, e isso acabou aqui.

Baixou a cabeça, despindo seus dentes em um primitivo grunhido.

— Se acaba aqui. Justo aqui, Por Deus.

— Inclusive se isso significar o fim de nossas vidas? — Clamou ela, lutando por conter seus medos e suas lágrimas. — Nos seguiram, Lance. Nem sequer podemos estar seguros de quem nos segue, ou de quem está nos esperando. Não me peça que arrisque esta oportunidade. Por favor.

Ele deixou cair uma mão sobre o abdômen dela, cobrindo-o com a palma, seus olhos luziam tão escuros que pareciam quase negros.

— Se isso significasse sua vida, eu saberia. — Sussurrou ele. — O sentiria e os ventos me gritariam esse conhecimento. Esta é a única maneira.

— Não. — Tentou se afastar de novo.

— Sim.

Não deu a ela tempo para discutir. Quando abriu os lábios para amaldiçoá-lo, os dele estavam ali, cobrindo-a enquanto seus braços atiravam a puxavam contra seu peito.

Excitação deveria ter sido a última coisa que passasse por sua mente, a última coisa a que ela respondesse. Estavam em meio de uma zona de guerra e estava a ponto de ficar pior, ela podia senti-lo. Mas esses lábios sobre os dela eram um sensual e erótico ato de dominação. Não pediu permissão para seu beijo, nem sequer tentou. Exigiu. Controlou-a. E finalmente, Harmony se encontrou submetida aos perversos e eróticos beliscões em seus lábios com seus dentes afiado,s e o grunhido faminto que vinha de sua própria garganta.

Aquela dominação foi sua destruição. As Castas fêmeas poderiam ter sido programadas para se submeter aos machos, mas até Lance, esses códigos genéticos nunca tinham feito impressão nela. Com Lance, não podia se negar a nada. Não podia negar sua necessidade, ou sua fome, mais do que podia negar os medos que, no momento, se dissolviam sob a paixão dele.

As mãos dele se arrastaram sob seus braços, as largas e calosas mãos que acariciaram sua pele com sensual aspereza e afastaram o frio do pressentimento com perversas e acalorados chicotadas de prazer.

Estava perdida nele. Tão impossível como deveria ter sido, tão furiosa como estava com ele, ainda conseguia consumi-la, construir a fome que cozia a fogo lento dentro dela até uma completa e furiosa labareda.

Rasgou-lhe a roupa, nada tão importante agora como sentir sua pele contra a sua, o calor de seu corpo acariciando-a.

Sua camisa caiu sob as mãos dele, igual a seu jeans, afastados segundos depois. Gemendo, ofegando por respirar, mediram e rasgaram roupas, meias três-quartos e sapatos, até que Lance derrubou-a sobre a cama, seu corpo grande e duro sobre ela enquanto seus lábios rasgavam os dela.

— Minha! — Reafirmou seu direito enquanto separava suas coxas, o pênis pressionando nas deslizantes e acaloradas profundidades de sua vagin*. — Me diga isso, maldita seja! Diga-me que é minha.

— Sua. — Mal podia respirar, mas não pôde deter a palavra que se deslizou de seus lábios enquanto o olhava, sobressaltada pela intensidade de seus olhos.

Ardiam em seu escuro rosto, profundas chamas azuis de determinação, dominação e poderosa força masculina, brilhando com uma luz de outro mundo.

— Ninguém a afastará de mim — sussurrou, lhe enredando uma mão no cabelo enquanto seu pênis se introduzia dentro dela, feroz, quente, a estirando até seus limites enquanto se arqueava por seus impulsos.

Teria fechado os olhos, mas não pôde esquivar seu olhar. Manteve-a apanhada, olhando-a fixamente nos olhos, abrindo uma brecha em sua alma inclusive enquanto sua ereção abria uma brecha nas doloridas profundidades de seu sexo.

Teria se fechado para ele se pudesse. A distração do prazer que a invadiu rompeu sua concentração, fraturou sua habilidade para manter essa intima parte dela afastada.

— Não... — Suplicou-lhe que a liberasse, não com seu corpo, a não ser com esse elo íntimo que já podia sentir se forjando dentro de sua alma.

Elevou-se sobre ela, a amplitude de seus ombros brilhando úmidos de suor. Podia sentir o poder fluindo através dele, a força que era tão parte dele girando ao redor dela, abrigando-a. Protegendo-a.

— Não permitirei que fuja. — Sua voz pulsou com uma furiosa determinação. — Não vou perder você. Nem isto.

Então se moveu, jogando seus quadris para trás, acariciando seus expostos terminais nervosos, enviando seus sentidos rodando de prazer, enquanto ela se arqueava para sustentá-lo dentro de si.

— Pode fugir disto, Harmony? — Seus quadris se retorceram enquanto a penetrava de novo, um feroz e duro empurrão, que o enviou afundando em suas profundidades enquanto ela ofegava pelo calor que explorava através dela. — Me diga, neném. Diga-me se pode se afastar disto.

Se só fosse prazer, ela poderia ter se afastado. Mas era mais. Enquanto ele a fodia com duras e deslizantes estocadas, também se metia em sua alma. Seu calor passava desde seu corpo ao dela, afugentando a fria determinação que tinha lutado por reconstruir dentro de seu coração.

Uma mão agarrou seu cabelo, o massageando, puxando as mechas, e adicionando outro nível de sensação. A outra mão embalou seu seio, levantando-o, até que a boca cobriu o mamilo, a língua lambendo-o com ardoroso prazer.

Atravessou cada defesa que pôde reunir, e a deixou caída a seus pés, enquanto suas mãos apertavam o cabelo dele e o mantinham em seu peito.

Os quadris dele bombeavam contra os seus, agitando-a, empurrando-a, acariciando-a em seu interior enquanto sua pélvis roçava contra seu inchado cl*tóris. A sensual penetração e deslizamento, retirada e entrada, estavam voltando-a louca. O prazer cresceu, capa a capa, até que não existiu nada em seu interior exceto a necessidade, a fome lhe arranhando o útero e a alma.

— Sente! — Levantou a cabeça para olhá-la fixamente, com uma expressão crispada enquanto a vertiginosa espiral de prazer começava a se construir. — Não fugirá. Me ouviu?

Ela agitou a cabeça, lutando por respirar, por pensar.

— Diga, Harmony. — Sua voz era um dominante e imponente barítono que ondulou através de seus sentidos.

Ele queria sua rendição. Ela agitou a cabeça, lutando contra isto, lutando contra a necessidade de lhe dar.

— Diga, maldita seja! — Uma mão agarrou seu quadril para sustentá-la, enquanto se enterrava de repente dentro dela, suas pernas abrindo mais e apartando as coxas enquanto ele se deslocava e a tocava no mais profundo.

— Não faça isto. — Despindo seus dentes, Harmony lutou por se controlar. — Não.

— Diga. É minha, maldição. Fodidamente minha. Me seguirá. Diga.

Segurou seus pulsos com a mão enquanto lhe enterrava as unhas nos ombros, e de repente, imobilizou suas mãos à cama. Seu castigo veio muito devagar, torturando-a ao retirar o pênis de seu íntimo afeto. Uma sensual e acalorada carícia de sua poderosa carne sobre seus desesperados terminais nervosos.

Transferindo seus pulsos a uma mão, segurou-a firmemente na cama enquanto lhe agarrava o quadril uma vez mais e a mantinha debaixo dele. Controlou-a com a força de seu corpo, exatamente como também estava lutando por controlá-la com sua vontade.

— Não quero — gemeu ela, lutando contra o medo, a fome e a primitiva necessidade de fazer o que ele exigia.

— Você o fará, Harmony.

Antes que pudesse lutar, ele se moveu, se deslizando fora dela antes de pô-la sobre seu estômago e apanhá-la contra a cama.

— Maldito seja, Lance. — Lutou enquanto ele levantava seus quadris, empurrando um travesseiro debaixo dela antes de penetrar de novo seu dolorido sexo.

— Fique quieta. — Sua mão golpeou a um lado do traseiro, com um tapinha de advertência. — Me diga o que quero, neném, e te darei o que quer.

— Não posso fazer isto. — Seus dedos apertaram as almofadas. — Não farei...

— Fará, Harmony. Diga as palavras. Diga-me que me seguirá. Não a deixarei fugir.

Apertando a testa contra as mantas, ela sacudiu a cabeça com fúria.

— Oh, acredito que sim o fará, carinho. — O suave cantarolar de sua advertência deveria tê-la preparado, mas não o fez.

Ela se sacudiu quando sentiu que se apoiava para trás, sentiu seu pênis pulsar dentro dela com uma dura pulsação antes que suas mãos separassem as suaves bochechas do traseiro.

— Está tão molhada. — Seus dedos se moveram aonde seu sexo se estirava ao redor dele. — Tão doce e suave, por toda parte. — Deslizou o abundante líquido de onde gotejava de sua vagin* para trás, e mais atrás.

— Oh, Deus. — Seus olhos se arregalaram enquanto contemplava o quarto com aturdida surpresa.

Seu dedo pressionou contra a pequena entrada oculta de seu traseiro. O polegar massageou e empurrou. Não foi tanto o toque como a impressão de dominante controle, de sua própria submissão, que atravessava sua mente em um frenesi de confusão.

Então o sentiu se inclinar, o braço alcançando a mesinha de noite onde descansava sua bolsa de utilidades. Quando se moveu, seu pênis a acariciou, levando seu fôlego, mal lhe deixando oxigênio para gemer enquanto o olhava tirar o pequeno tubo de lubrificação que levava.

Então, Harmony estremeceu debaixo dele.

— Quieta, carinho. — Ele acariciou seu traseiro, enquanto se endireitava de novo atrás dela, lhe causando com o movimento uma sacudida de prazer.

— Lance...

— Está tudo bem, neném. — Sentiu a refrescante lubrificação contra a entrada traseira. — Tudo está bem.

— Oh Deus... Maldito seja, Lance.

Seu dedo escorregou dentro de sua entrada traseira, enviando emocionantes chamas pelos terminais nervosos nunca antes acariciados desta forma.

— Alguma vez tinha feito isto antes, neném? — Seu dedo se deslizava dentro e fora com vários empurrões. — O que sente com isto?

Um segundo dedo se uniu ao primeiro, estirando-a enquanto tremores de êxtase percorriam seu corpo e a transpiração começava a umedecer sua pele.

— Sabe, gatinha... — sua voz era um suave cantarolar. — Minha pequena gatinha forte. Não fez isto porque se recusa a se submeter a qualquer homem. A dominação de qualquer um sobre você. Não te correspondia, Harmony. Deixe-me ver se te pertence agora. — Outro dedo a atravessou.

Ela estava chorando, gemidos e pequenos sons de prazer e dor que atiçavam a fome mais alta, e a deixaram aturdida pela necessidade de gozar.

— Me dê o que quero, Harmony. — Sua voz era forçada, enquanto seus dedos a penetravam com o mesmo ritmo lento que estava marcando com seu pênis. A dupla penetração estava entorpecendo sua mente, arrastando suas sensibilidades sob a esteira do prazer.

— Lance...

— Isso não é o que quero escutar. — Não estava fazendo caso a suas lastimosas súplicas. — Me diga, Harmony. Diga-me a quem você pertence. A quem seguirá.

A feroz necessidade, a raivosa luxúria ressoava em sua voz com a exigência de rendição. De rendição total.

Ela agitou a cabeça de novo, incapaz de expressar a recusa quando tudo em seu interior gritava que devia ceder ante ele.

— Não. Lance, por favor... — Encontrou a força para sussurrar, para rogar enquanto sentia a grossa longitude de sua ereção deixando-a vazia, insatisfeita.

— Relaxe, carinho.

A respiração lhe enganchou na garganta enquanto a cabeça de seu pênis pressionava contra seu ânus.

— Lance? — A emoção feminina de temor sensual que fazia eco em sua voz, poderia assustá-la depois, mas por agora, o medo ao desconhecido a manteve espectadora.

As emoções ressoaram dentro dela, a pressão de seu pênis contra a entrada extremamente firme lhe enviando mais que a sensação de proibido correndo por seu corpo. Esta foi a última dominação, a impressão de sensual e perverso controle, que apanhou sua mente enquanto ele começava a estirá-la.

Não podia tomá-lo. Nunca tinha sido capaz de suportar nem sequer uma carícia.

— Confie em mim — sussurrou ele então. — Olhe como confia em mim, neném. — Sua voz foi um grunhido gutural quando ela tentou gritar contra a dura invasão.

Estava tomando-a, devagar; centímetro atrás de centímetro, seu corpo o estava aceitando, a penetração anal sacudindo sua mente enquanto o corpo relaxava, inclusive contra sua vontade, e ela sentia como sua longitude a invadia com um lento e moderado empurrão.

— Minha. — A voz dele era agora mais primitiva, palpitando com sua demanda.

Elevou-se sobre ela, seu corpo cobrindo-a enquanto começava a se mover, empurrando em seu interior com um ritmo diabólico enquanto uma mão se movia à parte dianteira de seus quadris e os dedos lhe atravessavam a vagin*.

— Agora diga-me isso!

— Sim. — Com seu grito rouco ela perdeu a última de suas inibições, o escudo final de suas defesas se derrubou. — Sua, sou sua.

Soluços de necessidade deslizaram de seus lábios enquanto as lágrimas deslizavam de seus olhos. O prazer a estava ultrapassando; a força e propósito do homem que a enchia, estimulando-a, roubando sua mente e sua alma, balançando-a com um surpreendente sentido de pertença.

— Me seguirá? — Estava ofegando em seu ouvido, seu corpo empurrando contra o dela, seus dedos e seu pênis penetrando-a com uma implacável determinação de segurar cada parte dela.

— Te seguirei... — estremeceu quando algo dentro dela clamou pela liberação. — Te seguirei... — E ela soube que não tinha outra opção, nunca teria.

Enquanto a submissão final, o voto final de dar a alguém mais o controle infiltravam-se em sua mente, sentiu que seu corpo se dissolvia.

O org*smo que explodiu dentro dela foi um cataclismo candente que queimou sua alma. O passado foi apagado sob o prazer; o futuro não continha nada mais que Lance... seu toque, seus profundos gemidos, os dentes em seu ombro enquanto a mordia com surpreendente força segundos antes de sentir sua explosão.

O furioso estalo de sêmen enchendo seu traseiro enquanto os dedos enchiam seu trêmulo sexo foi muito. Outra deslumbrante liberação a atravessou, se arrastando sobre suas terminações nervosas, levando-a até o mais alto e deixando sua confiança em que Lance a sustentaria.

Confiança. Enquanto os tremores finais ondulavam através de seu corpo e se derrubava sob ele, o cansaço levando-a sob sua aveludada escuridão, esse pensamento revoou por sua mente. Sim, confiava em Lance, mas... confiava em si mesma?

Harmony tinha vivido nessas montanhas durante alguns meses ao longo dos últimos dez anos. Tinha acampado ali, as usava como base e obrigou-se a conhecer os elementos da terra que possuíam. Conhecia cada árvore, cada afloramento de pedra e os moradores do bosque que se moviam dentro de um ritmo de tempo inalterável.

Os mochos que os olhavam não ululavam de curiosidade a seu passo, o camaleão que os olhou desde debaixo de uma rocha não lançou uma advertência e o guaxinim que procurava comida sob um tronco caído nem sequer se fixou neles.

Lance compartilhava seu aroma, portanto foi aceito, e Harmony era um deles... uma depredadora sem piedade, uma parte da terra onde tinham nascido, o aroma da montanha se filtrava dentro dela.

Se agachando perto de uma velha árvore caída, Harmony utilizou os óculos especiais de visão noturna que Lance havia trazido com ele para inspecionar o bosque. Sua visão noturna não era tão boa como deveria ter sido, mas sua audição sempre o tinha compensado.

Não escutou nada incomum enquanto se aproximavam da cova do puma, não pôde cheirar nada estranho, mas seu pescoço picava.

— Sente-o? — O som de sua pergunta não chegou mais longe que ao alto homem ajoelhado a seu lado.

— Está segura. — A confiança em sua voz fez pouco para aliviar os medos que a invadiam.

Ela teria retrocedido vários quilômetros antes que ele a empurrasse mais longe. Ele era desumano: a dominação que só tinha vislumbrado em Broken Butte, estava se mostrando agora por completo. Deveria ter feito chiar seu sentido de independência, sua própria força; em vez disso, reforçou-a. Se ela só pudesse se livrar desse ardor em seu pescoço. Esse primitivo conhecimento era algo incômodo, algo que não concordava com toda essa aventura. E não podia sacudir a sensação de que Lance estava lhe ocultando algo. O homem que tinha lhe assegurado em Broken Butte que este era seu mundo, e que ele podia segui-la, tinha mudado as regras.

Não exatamente, em certo modo, não a estava seguindo. Ele estava. Algo. Estava lhe cobrindo as costas, a deixando levá-los até o mais profundo do bosque apesar de que cada instinto dentro dela insistia para que retrocedesse.

Examinando a área uma vez mais, não pôde detectar mais sinais de vida que os da natureza. Respirando profundamente, se elevou, se endireitando enquanto começava a se internar profundamente na ladeira coberta de rochas, encaminhando-se para a pouco profunda cova onde a caixa com a informação e os expedientes tinham sido escondidos.

A noite se mesclava entre as sombras de verdes, vermelhos e violetas mecânicos dos óculos de visão noturna enquanto observavam a paisagem e a fauna associada a ela. A noite nunca permanecia imóvel. Agachado nas sombras, um lobo os observava enquanto passavam, com seus ambarinos olhos entrecerrados de suspeita, embora lhes permitissem passar facilmente.

Harmony era consciente de Lance as suas costas, o poderoso rifle automático que tinha carregado e preparado. Ele tinha tirado a trava quando começaram a se mover de novo, esperando, como ela sabia, que não escutasse o quase silencioso deslizamento de metal contra metal. Mas o fez.

Não estava tão cômodo com isto como tinha assegurado. Ele podia sentir as vibrações de perigo, e estava segura de que a suave brisa que os acariciava a seu passo estava lhe trazendo muito mais informação da que tinha compartilhado com ela.

Uma hora e meia depois, detiveram-se ao longo da áspera terra, esquivando um escorregadio camundongo antes de passar os pequenos e dispersos cantos e matos que escondiam a entrada da cova.

Ela levantou a mão para anunciar a intenção de se deter antes de passar pelo pequeno claro. Olhando fixamente, examinou as árvores, os pinheiros montanheses, álamos e abetos brancos que cresciam a elevada altura.

— Acaba, Harmony. — A voz de Lance era um murmúrio baixo e crédulo. — Te cobrirei daqui.

Ela se mordeu o lábio pela indecisão.

— Está seguro?

— Os ventos estão seguros, neném. — Ele respirou brandamente atrás dela. — Esta é sua liberdade. Agora, vá.

Vá. A palavra final foi uma ordem, a força atrás dela impulsionando-a a atuar. Se agachando, fez seu caminho ao redor do perímetro, as omoplatas rígidas pela tensão enquanto se mantinha nas sombras. Não é que as sombras servissem muito se os Coiotes a observavam, ou inclusive humanos com óculos similares aos seus. A noite não era de comprimento tão segura como tinha sido uma vez para as criaturas que viviam nela.

Dobrando-se para baixo, entrou na cova devagar, ronronando brandamente quando escutou o som de uma mãe puma como um vaio de advertência. Atravessou a cova, suavizando seu olhar para a leoa com as costas arrepiadas. Dois cachorrinhos a contemplaram inquisitivamente, enquanto os ambarinos olhos da mãe se estreitavam e aspirava a essência de Harmony lentamente.

Um retumbante grunhido de boas-vindas saiu da garganta do enorme felino. A essência de Harmony era uma parte da cova, e este felino era o mesmo que tinha permanecido na área durante os últimos cinco anos. Tinha criado a seus cachorrinhos e caçado ali.

— Sim, somos velhas amigas, não é? — Murmurou Harmony, as palavras quase perdidas sob os pequenos grunhidos ronronantes que utilizava para falar com o puma. — Vim pelo que é meu. Isso é tudo.

Ficando de joelhos com o fim de tranqüilizar à mãe, Harmony se arrastou para a fenda que se abria dentro de uma profunda sombra a um lado. A caixa ainda estava ali, fresca ao toque e coberta pelo pó de anos.

Quando a tirou e se preparou para voltar, se encontrou enfrentada com dois cachorrinhos brincalhões, suas pequenas patas lhe golpeando a orelha enquanto brincalhões grunhidos saíam de suas gargantas.

A mãe se levantou, mas olhava de longe com paciente cautela, a vários metros de distância. Timidamente, Harmony estendeu a mão, os dedos fazendo cócegas na barriga do pequeno macho, enquanto este lhe apanhava o pulso enluvado.

Um sorriso se deslizou por seus lábios enquanto a irmã grunhia e derrubava a seu irmão pelo ciúme. Com ambos os bebês distraídos mutuamente, Harmony começou sua retirada. Seus olhos conectaram com a mãe enquanto a cabeça da leoa dava puxões, seus olhos foram à entrada e se estreitavam.

— Eu sei — Harmony sussurrou dolorosamente. — Estão esperando por mim, não é?

As lágrimas alagaram seus olhos quando apertou protetoramente seu abdômen com sua mão livre e o puma a olhou fixamente.

— Fique aqui. Não importa o que aconteça — sussurrou ela. — Mantenha aos bebês seguros. Por mim.

Estremeceu quando o primeiro disparo ressoou, voltou a cabeça para a entrada enquanto o medo surgia através de seu coração. Lance estava ali fora sozinho.

Voltando-se, Harmony correu rapidamente para a entrada, tirando a arma da pistoleira enquanto usava a correia de couro da caixa de metal para fixá-la a suas costas e liberar as mãos.

— Lance. — Ela rodou da entrada, sentindo sujeira e restos de rocha salpicar a seu redor enquanto encontrava a segurança de um penhasco mais longe.

Os filhos de uma cadela conseguiram dar um jeito de chegar contra o vento, o que explicava porque não os tinha cheirado, porque só os havia sentido. Deus, deveria ter considerado seus próprios instintos em lugar dos de Lance.

— Não se levante. Estão à doze horas — ladrou ele pelo enlace que tinha posto a um lado de sua orelha. — Temos ao menos meia dúzia vindo por nós.

Ele tinha se movido. Já não estava a suas costas, e sim diante dela. Escorrendo-se entre penhascos e troncos caídos, Harmony disparou para os brilhos de fogo na noite que indicava as posições de seus atacantes.

Devia haver mais de meia dúzia. Amadureceu a noite com seu tiroteio, sabendo que sua melhor oportunidade era descer da montanha e sair desse inferno. Ficar e lutar não ia funcionar. Eles estavam bem equipados e possivelmente melhor armados.

Escutou um enfurecido grito canino enquanto seus lábios se torciam de satisfação e se voltava para reflexo de um disparo a sua direita. A noite tinha baixado com violência.

— Temos que descer da montanha — sussurrou ela pelo enlace. — Este não é um lugar seguro para fazer uma parada. Temos mais cobertura no povo e menos possibilidades de ser apanhados.

— Saia daqui — Lance lhe respondeu em réplica. — Irei atrás de você.

Então o escutou em sua voz, cheirou-o no ar. Estava mentindo. Simplesmente não estava sendo evasivo, o que era mais difícil de detectar. Não ia segui-la.

— O que fez? — gritou no enlace, o terror correndo através de seu sangue. — Vai embora, eu o cobrirei desses seis. Não me encha com isto, Lance.

Então escutou sua maldição.

— Harmony. Vá. — A dura demanda invadiu sua voz. Como se estivesse resignado. Não ia sair do bosque vivo.

Harmony sentiu o terror correndo sobre sua pele, debilitando-a, quase bloqueando seus pulmões pela necessidade de gritar. Estavam rodeados, os disparos eram automáticos, e ela sabia que as oportunidades que tinham de escapar estavam diminuindo.

Estreitando os olhos, inspecionou as labaredas do tiroteio através dos óculos que estava usando, disparando em resposta, golpeando tudo o que não se movia suficientemente rápido, só para ter outro objetivo ao que golpear. Deveria ter sabido que era uma armadilha. Maldição, nunca deveria ter ignorado seus próprios instintos.

— Não vou sem você, Lance. Se mova. Saiamos daqui agora.

— Disse que se fosse. — Sua voz era firme e exigente em seu ouvido. Podia quase sentir sua força, seu calor. Não poderia viver se não voltasse a senti-la de novo.

— Não temos muito tempo. — Ela escutou as lágrimas em sua própria voz, a súplica quebrada que nunca tinha expressado antes. — Tira seu traseiro daqui. Te cobrirei...

— Te amo Harmony.

— Não! Maldito bastardo, não me faça isto!

Harmony se sentia como se estivesse se movendo em câmara lenta. Havia muitos atacantes ao redor deles, estavam rodeando-os, ganhando terreno apesar de todos os disparos que fazia e todos os objetivos que acertava. Se não saíssem agora dali, então iriam morrer.

Lance estava disparando a seus próprios alvos, mas seguia quieto, deixando sua única linha de escapamento aberta.

— Lance, ambos podemos sair disto — gritou ela no enlace. — Não irei sozinha.

— Vá. Agora. — Sua voz era um pouco feroz e imponente. — Leve seu traseiro de volta ao East Park. Dane a encontrará...

— Não. — Foi obrigada a retroceder, procurando um breve descanso enquanto recarregava rapidamente e começava a disparar de novo.

Ele estava muito longe dela. Tinha que chegar a ele. Deus, ele não podia lhe fazer isto. Não podia deixá-la sozinha, não agora. Não podia viver sozinha agora.

Os calafrios percorreram sua pele enquanto calibrava a distância entre eles. Agora havia menos atacantes. Tinham uma pequena oportunidade. Poderiam sair juntos.

Era uma distância longa. O espaço entre eles somava ao redor de sete metros. Havia uma pequena cobertura, mas suficiente. Possivelmente justo suficiente.

— Vá, neném. Saia deste inferno. — A voz de Lance era firme e paciente. — Tirarei seu traseiro disto.

— Se prepare, vou para você...

— Não!

— Maldito seja. Vivemos juntos ou morremos juntos. Escolhe sua opção.

Lance inalou asperamente. Soubera que aconteceria dessa maneira. Soubera o que ia se passar. Tinha escutado sua própria morte no vento, escutou seu preço por se render, sua exigência de pagamento. Sentiria saudades de Harmony. Inclusive morto, sentiria saudades.

Levantou a cabeça, seus olhos se entrecerrando atrás dos óculos de visão noturna enquanto antecipava o que estava por vir. Não tinha questionado o conhecimento quando chegou a ele durante a longa viagem a Avermelhado. Não o tinha discutido ou tentado encontrar uma maneira de trocá-lo. Nada se obtinha sem um preço. A vida e a felicidade de sua mulher e seu filho tinham mais valor para ele que sua própria vida.

Cobrindo Harmony, saiu do amparo dos penhascos atrás dos que se situou, dando aos atiradores o alvo que tanto procuravam. O preço da liberdade dela era seu sangue. Ela estaria segura. Os ventos fizeram essa promessa, e seu sangue a selaria.

Seu prezado Dane a esconderia e também ao filho que Lance tinha criado com ela. Estariam protegidos, e isso era tudo o que na verdade importava. Ele poderia não entender o preço que os ventos tinham exigido pela liberdade dela, por sua vida, mas ele não o negaria.

Podia escutar ao vento uivando através da ladeira da montanha, a exigência de seu sangue como o pranto de uma banshee que não podia ignorar. E naquele momento, viu por que. Enquanto ela se movia para salvá-lo, um alto soldado de cabelo loiro saiu das sombras, um maníaco sorriso retorcendo seus lábios. O bastardo se deslizou de sua cobertura, apontando para ela com a arma, sua expressão retorcida em um grunhido de fúria enquanto lhe disparava.

Lance se atirou em frente de Harmony, precavendo do momento em que a bala saiu do canhão para golpear sua carne. Melhor em seu peito que no dela. Melhor seu coração que aquele que nunca tinha conhecido a liberdade e o amor. Os ventos tinham sussurrado a promessa por seu sacrifício. O sorriso de seu filho e a liberdade de sua mulher. Ambos sobreviveriam.

Harmony sentiu o impacto do corpo de Lance contra o seu quando caíram. Sabia. Seus olhos foram até o peito dele enquanto seu uivo invadia o ar. Um enfurecido alarido felino que soou como o grito de um puma.

— Filho da puta! — Sua arma apareceu, seu dedo apertando o gatilho enquanto o projétil se enterrava no tipo. — Fodido doente bastardo!

Ela viu como seus olhos se alargaram da surpresa, como se acreditasse que não podia morrer. Como se tivesse o direito de viver, de destruir o que lhe pertencia.

Conhecia-o, um dos bastardos fanáticos que se uniram a Alonzo. Alonzo também pagaria. Com a ajuda de seu Deus, se Lance morresse sobre ela, então todos eles pagariam.

Puxou sua arma enquanto ficava de joelhos, antes de atirar aquela carteira que continha a informação que ela tinha pensado que era tão importante preservar. Não tinha nem idéia de onde caiu; e não se importou uma merda.

Suas mãos cobriram o peito de Lance; não lhe importava quem disparasse agora. Não importava. A morte era preferível a horrível e dolorosa agonia que atravessava sua mente agora.

Nenhuma dor podia se aproximar disto. Nenhum horror nunca poderia se comparar a olhar os olhos escuros de Lance enquanto tirava seus óculos do rosto, e via o conhecimento em seus olhos.

— Não... — Seu gemido se uniu ao distante lamento do vento, o som de explosões ao redor dela, um forte zumbido vibrando no ar.

Nada disso importava.

— Shhh. — A expressão de Lance se retorceu da dor enquanto ela tentava deter o sangue fluindo de seu peito. Sentia-a sobre seus dedos, uma sedosa e ardente cascata de vida que enchia suas mãos.

— Não. Não. Não. Oh Deus. Não me deixe. Não me deixe. — Estava chorando. Podia sentir as lágrimas derramando sobre suas bochechas enquanto olhava como uma só gota se deslizava dos olhos de Lance.

— Assim tinha que ser — sussurrou ele preguiçosamente. — Eu sabia que ia ser assim.

Os gritos ecoaram ao redor deles. Fogo de armas. O som de um motor. Ela não sabia o que estava acontecendo, não lhe importava.

— Não me deixe. — Tentou sossegar a idéia de estar sem ele agora. De estar sozinha. — Por favor, Deus. Lance. Por favor.

A cara dele se retorceu de dor enquanto ela sentia um nó no estômago com o frio e horrível convencimento de que isto tinha sido sua culpa.

Tinha- matado, apesar de tudo.

— Eu te seguirei — clamou ela. — Exatamente como te jurei, eu te seguirei.

— Não... Viva livre... — Sua expressão se retorceu de dor.

— Eu te seguirei! — gritou ela. — Me fez querer. Me fez sentir, maldito seja. Não sobreviverei sem você. Não posso sobreviver sem você.

Quando se moveu para tocar seu rosto, mãos fortes sacudiram seus ombros, tentando afastar afastá-la dele. Enfurecida, selvagem, contra-atacou, vendo as sombras fundir-se a seu redor. A morte estava levando-o, separando-o de seu lado ao rasgar a alma dele de seu corpo. Era o pagamento dela. A recompensa por tomar vidas inocentes quando era uma menina. A vida estava levando algo seu agora.

— Me leve — gritou ela, lutando com a mão como uma garra que a estava sacudindo, lutando por rebater seus golpes. — Me leve. Me mate. Não leve a ele. Por favor... por favor...

Mal notou o brusco golpe em seu rosto, mas a voz que gritava no ouvido sim a notou.

— Harmony, maldita seja, nos deixe ajudá-lo.

Jonas!

As sombras clarearam, e de repente o brilho das luzes do helicóptero golpeou sua atormentada expressão.

— Está preparado. Vamos.

Ela girou a cabeça ao redor. Rule, Merc e Lawe permaneciam protetoramente ao redor de Elyiana e as duas Castas que levantavam a maca sobre a que tinham prendido Lance.

Sacudiu-se da sujeição de Jonas.

— Mova-se! — Agarrando seu braço novamente, ele a levou ao helicóptero. — Temos mais desses bastardos que os atacaram vindo para a montanha.

Ela se sacudiu, permanecendo atrás deles enquanto os outros se adiantavam, um sexto sentido os advertindo de algo. Dane saiu de outra sombra, seu rosto manchado com terra e imundície, sua expressão furiosa. Preocupada.

Lance estava sendo separado dela por isso. Por causa de um passado que não morreria, e um futuro que nunca tinha significado nada para ela. Porque era fraca, porque tinha se preocupado mais pelos outros do que se preocupou pela segurança dele. Enquanto olhava, Dane se moveu através das sombras antes de se deter e recuperar a carteira que ela tinha jogado a um lado.

Mantendo o passo com Jonas, voltou-lhe as costas, permitiu que a última atadura de seu passado se liberasse. Jonas queria Dane, e tinha que saber que Dane estava ali. Mas ele estava salvando Lance. Lance era tudo o que lhe importava.

— Vamos. Vamos. — Jonas fez de tudo menos lançá-la ao helicóptero enquanto ela retrocedia, tropeçando, lutando para alcançar Lance.

— Sustente-o, Harmony — ladrou Elyiana, agarrando suas mãos e colocando-as sobre a cabeça dele enquanto a olhava fixamente aos olhos. — Não o deixe ir. Fale com ele. Está mal. Realmente mal. Lute agora por ele, Harmony.

Os olhos dele estavam abertos, mas aturdido, assustado. Harmony sustentou sua cabeça e enquanto chorava, sussurrou-lhe a única coisa que sabia que importava.

— Eu te amo. Por favor, Lance, não me deixe. Não quer que o siga, na realidade não quer. Por favor, por favor, não me deixe.

Ele tinha que viver. Tinha que viver por ela, por seu filho, porque Harmony sabia que sem ele, não havia vida, nem amor, não havia liberdade.

O vôo até Boulder tomou somente minutos. Harmony embalou a cabeça de Lance enquanto Elyiana trabalhava sobre a ferida que tinha no peito, tentando deter o fluxo de sangue, cuspindo informes através do enlace de seu ouvido, aos cirurgiões do hospital que os esperavam.

— Te amo. Não me deixe... — Harmony sussurrava as palavras uma e outra vez enquanto retinha seu olhar com o dela.

Alisou seu cabelo, sentindo ainda o poder em seu incrível corpo, a força do homem que era. Deus por que ele tinha feito algo tão desenquadrado?

— Estamos aterrissando, Ely — sussurrou Jonas enquanto o helicóptero começava a descer. — Os cirurgiões estão esperando para te assistir, e têm um sala de cirurgia preparada. Preparados para mover o traseiro.

— Não me deixe — sussurrou de novo, estremecendo-se, sentindo o horror da noite como ressoava através de suas veias. — Não me deixe, Lance.

Ele a olhou, seus olhos clarearam por um segundo, só um segundo:

— Te amo... Harmony.

Suas lágrimas se deslizaram mais rápido pelas palavras dele. Ela não podia acreditar de verdade, não completamente. Tanto sangue tinha manchado sua alma que não tinha acreditado que ele pudesse realmente amá-la. Que ela pudesse amar.

— Se movam. — As comporta se abriram enquanto umas mãos alcançavam a maca e ela era separada de seu lado uma vez mais.

— Vamos. — Jonas estava ali, ajudando-a a descer do helicóptero enquanto tropeçava de novo, lutando por se manter com Lance, e ainda assim incapaz de obtê-lo.

— Estão levando-o diretamente para a cirurgia — grunhiu Jonas em seu ouvido. — Os melhores cirurgiões da cidade foram chamados no minuto que aterrissamos no bosque. Temos três dos melhores cirurgiões de trauma do país aqui, junto a Ely.

Seu braço estava ao redor dos ombros dela, a outra mão lhe sustentando o braço enquanto virtualmente a carregava à entrada da pista de helicópteros.

Ela estava estremecendo. Harmony podia sentir os tremores que a percorriam, podia escutar os confusos grunhidos do fundo de sua garganta, e não podia detê-los.

— Ele não podia correr — sussurrou. — Supliquei que corresse...

— Deve ter caído em uma armadilha — sussurrou ele. — Havia homens vindo da montanha atrás de você. Alonzo estava mais que preparado para isso, Harmony. Realmente acha que ninguém sabia o que tinha roubado desses laboratórios? Por que acha que esses fodidos soldados do Conselho e Coiotes estavam sempre atrás de você?

Lance teria sabido que havia mais homens vindo da montanha. Os ventos poderiam tê-lo advertido. Por que tinha feito isto? Não tinha nenhum sentido. Poderiam ter escapado, enviando Dane ou inclusive, Deus o proíba, Jonas atrás da informação se a tivesse advertido o que os esperava. Havia muitas outras maneiras de ir, em vez dessa.

— Disse-lhe que não fosse. — Tremeu enquanto subiam ao elevador. — Eu queria chamar o Dane. Ele deveria ter chamado ao Dane.

— Sim, correr teria sido uma boa idéia — grunhiu ele furioso. — Maldita seja, tentei salvar sua fodida pele e segue fugindo.

— Me salvar? — Separou-se dele de uma sacudida. — Chama me salvar a negociar com a vida de um amigo?

— Ele é o primeiro fodido Leão, teimosa mulher. — Seus caninos brilharam aos lados de sua boca. — Tenho que encontrá-lo, não tenho outra opção. E se fosse tão fodidamente prática, nunca teria negociado comigo.

Ela estremeceu como se ele a tivesse golpeado.

— Te dei minha vida — soluçou ela então. Que importava o orgulho a estas alturas? Nada disso lhe importava. — Roubei essa informação, e matei a esses cientistas e Castas para salvar sua vida.

Antes que se desse conta do que estava fazendo, levantou a palma, estampando-a contra seu impressionado e perplexo rosto.

— Ela ordenou sua morte — gritou ela. — Ordenou e eles foram cumprir sua exigência. Mentiram-lhe. Traíram-lhe. Os matei para te salvar, bastardo.

Jonas estremeceu.

— Teriam encontrado uma maneira de me advertir.

A risada dela foi cruel e forte. Deus, como o odiava nesse momento. Odiava cada momento que tinha fugido, cada balaço que tinha recebido e cada fria noite que tinha passado, sozinha, porque tinha amado a seu irmão.

— As Castas que conspiravam para escapar com você informaram a ela de seus planos para escapar — grunhiu ela. — A intrépida idéia que tramou de usá-los para reter os cientistas como reféns enquanto conectava a comunicação com uma linha exterior e falar com o mundo sobre nós. Usaram-no. Igual a Madame LaRue.

Os olhos dele se entrecerraram, sua expressão ficou pétrea.

— Te salvei. — Os lábios dela se retorceram zombeteiramente. — E nunca se importou não foi, Jonas? Nunca o suspeitou.

— Importou-me uma vez que soube a verdade — disse ele, com voz quebrada enquanto seus mercuriantes olhos se obscureciam. — Tudo o que precisava era a verdade, Harmony, e você a tinha escondida. Por que, irmãzinha, não veio para mim depois dos resgates em vez de fugir de mim?

Seus lábios se retorceram dolorosamente.

— Porque deveria ter acreditado em mim. O que devia fazer para convencer a alguém que sempre necessita provas? Quando começa a confiança, Jonas?

As portas do elevador se abriram enquanto a cabeça de Harmony começava martelar com os anos que se alargavam atrás dela. Para que quisera salvá-lo?

Se afastando de seu toque, ela saiu do elevador, limpando as lágrimas que manchavam seu rosto, sem dedicar um pensamento ao sangue que danificava suas mãos e agora manchava sua pálida expressão. Moveu-se rigidamente, sua concentração na sala de operações que estava justo mais à frente do quarto de espera onde Jonas a levava.

Podia escutar a voz de Ely, o murmúrio da equipe de cirurgiões e enfermeiras, o assobio do suporte de vida. O que se dizia a seu redor não importava. Abraçou-se e se apoiou contra a parede externa da sala de operações e lutou por sustentar o único elo que a mantinha unida a Lance.

Ele era sua alma. Como não se deu conta que ele tinha chegado a ser sua alma em tão pouco tempo? Que todas as barreiras que tinha acreditado manter em seu lugar tinham se dissolvido sob seu toque? Como as tinha perdido?

Baixou a cabeça, sentindo a perda da dura e fria couraça de resolução que uma vez tinha usado para se agarrar cada dia. Não havia sonhos antes de Lance. Nem esperanças nem medos. Tinha sido uma luta diária para sobreviver, fazer o que tinha se proposto fazer tanto tempo atrás. Tinha salvado Jonas, e estivera esperando seu momento.

Agora o que?

Harmony compreendeu que não tinha planos depois disso. Durante dez anos tinha sobrevivido para essa última meta, tinha lutado implacavelmente por ela. Sozinha.

Noites passadas assassinando, dias passados tentando dormir apesar dos pesadelos que a obcecavam, e apesar de tudo isso, não tinha planos depois que a meta final fosse alcançada. Teria morrido. Finalmente. Não teria tomado muito tempo a seus inimigos redobrar seus esforços para capturá-la. Finalmente, teriam conseguido matá-la.

E possivelmente isso teria sido o melhor. Se tivesse morrido antes, Lance nunca teria sentido a necessidade de se sacrificar.

O que tinha feito? Mudos soluços agitaram seu corpo enquanto lutava por se resguardar da dor.

— Não vamos conseguir.

Harmony sentiu como seu coração se detinha quando escutou Ely falando na sala de operações.

— A ferida é muito grave...

— A hemorragia está piorando...

— Seu ritmo cardíaco está falhando...

— Não podemos reparar o dano o suficientemente rápido...

— O ritmo cardíaco é crítico...

O assobio ensurdecedor do monitor cardíaco começou a marcar linha plana enquanto Harmony agonizava, e um grito selvagem se rasgava desde sua garganta.

Lance sentia os ventos. Sussurravam sobre seu corpo enquanto permanecia sob o quente sol do deserto, com os braços estendidos, a cabeça levantada para a gentil carícia. Isso recordou a Harmony. Sua essência estava no ar, madressilva e rosas; quase podia provar o suave e delicado presente de seu beijo.

Estava morrendo. Podia sentir o frio correndo por seu corpo, competindo com o calor do sol, e a pena que o alagava era como uma dor ardente.

Então escutou a risada de seu filho e a voz terna de Harmony chamando-o. Não havia temor em seu tom; havia uma divertida indulgência, um reconfortante e maternal som que sempre tinha adorado escutar de sua própria mãe.

Harmony estava a salvo. Não podia haver pesar na segurança dela; seu pesar era porque seus braços já não estavam ali para sustentá-la. Nunca desfrutaria de seu sorriso, nunca embalaria a seu filho contra seu peito. Nunca conheceria a felicidade de sua mulher.

— O preço foi pago. O sangue foi vertido. Sua vida pela dela — uma voz sussurrou então gentil, tranqüilizadora. — Seu retorno depende somente de sua própria vontade.

Abriu os olhos. Os ventos voavam ante ele, reluzentes, iridescentes, reluzindo sob os brilhantes raios do sol. Sua força estava quase o deslumbrando, o enchendo de calor e sussurradas promessas que o sacudiam até o centro de seu ser.

— É o suficientemente forte para retornar, filho do vento? — sussurrou a voz. — O suficientemente forte para reter tudo pelo que morreria? Chegou a seu fim. Uma vida por outra, sangue por sangue.

— Posso retornar?

— Uma vida pela outra. Sangue por sangue. O pacto foi completado. Sua volta só depende de seu desejo de ser.

Então escutou o grito, selvagem e agonizante, um som cheio de tanta miséria, tão desolado e sonora dor que no princípio se perguntou se era o seu próprio.

Então, através das trêmulas ondas de calor e ar, viu-a. Estava lutando contra alguém. Jonas. Estava segurando-a no chão enquanto Megan e Braden tentavam ajudar a segurá-la imóvel. Suas mãos estavam arranhando uma porta, a cabeça inclinada para trás, sangue, sujeira e lágrimas manchando seu rosto enquanto ela gritava seu nome.

— Harmony. — Sussurrou seu nome, estendendo a mão para ela. Suas mãos se afundaram nas brilhantes ondas de vida, alcançando-a, sem pensar sequer no brutal tremor de seu corpo.

Então a escuridão invadiu sua visão e seu próprio lamento ecoou dentro de sua mente enquanto lutava por encontrá-la uma vez mais. Tinha que encontrar Harmony.

— Descanse, filho do vento — sussurrou a voz enquanto seu corpo se voltava de chumbo, sua alma suspirando pelo som da voz de Harmony. — Descansa por agora...

Não importava que a empática a sustentasse em seus braços, ou que Braden e Jonas estivessem discutindo em voz baixa em um canto. Através de seus empanados olhos, Harmony olhava o relógio da parede da sala de espera e contava o tempo, segundo por segundo.

Podia escutar o surdo assobio do monitor cardíaco na sala de operações, a prova de que Lance tinha retornado, e até agora, ainda estava vivo. Os sons das vozes dos cirurgiões vagavam por toda parte. Ela não queria saber o que diziam; não poderia viver com o conhecimento do que passava em seu interior.

Quantas vezes ela tinha matado com um único disparo ao coração? A faca era seu método preferido para matar, mas não era o único.

Era consciente da mão de Megan acariciando brandamente seu cabelo,o enquanto Harmony mantinha a cabeça em seu regaço. A outra mulher a tratava como uma menina, e no momento, Harmony não tinha vontade para resistir. Os pais de Lance estavam a caminho de Boulder, via o helijato das Castas. Chegariam logo. E se supunha que ela estava ali. Supunha-se que os enfrentaria, a mulher que quase tinha matado a seu filho.

Tinham dito a ela que primos, tios e tias estavam correndo para o hospital. Harmony não tinha idéia de como ia enfrentar a todos.

— Eles a amarão. — Custou-lhe um momento que a suave voz de Megan a penetrasse. — Lance te ama. Leva a seu bebê, e ele escolheu arriscar sua vida por você. Não o obrigou a fazê-lo, Harmony. Fez o que sabia que tinha que fazer.

— Não tinha que fazê-lo — sussurrou ela. — Deveria me deixar morrer.

— E a teria seguido — suspirou Megan. — Pelo menos desta maneira, ele está lutando para sobreviver. Se o fizer ou não, não obstante é parte de nossa família. Igual a seu filho.

Se Lance não vivesse, ela o seguiria. Megan e Braden criariam ao bebê com todo o amor que Harmony não tinha idéia de como dar. Ela seguiria a Lance. Tal como tinha jurado que faria.

— Harmony... — Protestou Megan. — Isso não era o que Lance queria.

Harmony sabia que a empática estava lendo suas emoções, talvez até mesmo seus pensamentos. Isso não importava mais.

— Eu disse a ele — sussurrou ela. — O adverti, era sua escolha. A vida ou a morte. O seguirei aonde quer que vá.

Não podia viver sem ele, e ela sabia. Era consciente de Braden e Jonas observando-a com preocupação, do silêncio que enchia a sala de espera.

— Ele morreu para que você vivesse. — A voz de Megan estava cheia de lágrimas. — Deixará que se sacrifique por nada?

Não por nada. A criança que tinham criado tinha que viver, sabia. Mas Harmony sabia que não poderia seguir sozinha. O fantasma de tudo o que pôde ter tido a obcecaria para sempre.

— Seu filho viverá. — Lágrimas que Harmony não sabia que ainda podia derramar saíram de seus olhos. — Não posso lutar mais, Megan. — Tragou com esforço. — Não ficam forças para lutar.

Embora Megan discutisse com ela, sabia que não podia mudar a forma de pensar de Harmony. Não era mais do que ela faria se algo acontecesse com Braden. Ele era seu mundo. Sua luz. Era todas as suas esperanças e seus sonhos, e seu maior desejo. Não havia nenhuma diferença para Lance e Harmony.

Afastou-se do casal, não pelos medos que Lance sentia por ela, mas sim porque Megan havia sentido as batalhas de Harmony, e soube que não havia forma de mascarar sua dor e sua compaixão. Harmony não tinha necessitado isso. Não então. Necessitava-o agora.

Megan elevou os olhos para Jonas, consciente de suas próprias lágrimas. O sólido centro de determinação da jovem que sustentava era inquebrável. Não estavam falando de pesar ou dor. Esta era a mulher que tinha lutado, se sacrificado e tinha vivido com pesadelos cada dia de sua vida. Megan sabia que se perdessem Lance, perderiam também Harmony.

As emoções de Jonas, embora bem resguardadas, eram bastante fáceis de ler para ela. O coração dele estava se rompendo. Justo ali, dentro da parede de pedra de seu peito, mais à frente do zombador sarcasmo e dos jogos de manipulação, ele estava se rasgando.

Megan tinha mantido silêncio sobre Jonas. Raramente estivera de acordo com ele, e lhe permitiu manter sua fachada de Casta furiosa, vingativa e virtuosa. Não valia a pena sequer lhe permitir saber que ela podia ver mais profundo que isso, que ela via seus pesadelos. Que via sua dor.

— Então, lute por Lance. — Voltou sua atenção para Harmony enquanto sentia a frágil e débil força das emoções de Lance girando ao redor dela.

Ele estava vivo. Tão furiosamente vivo e determinado a proteger Harmony, inclusive agora. Megan podia senti-lo. Havia sentido a dor de sua companheira, sua agonia e nem sequer a ponto de morrer, possivelmente nem sequer a morte, impediriam ao espírito de Lance procurá-la, tentar confortá-la. Era o primeiro sinal que Megan tinha visto de que não o tinham perdido. Até agora, não estivera segura de que ele viveria.

O alívio a invadiu. Estivera esperando por ele. Conhecia seu primo.

— Harmony, me deixe te conectar com Lance. — A moça se retorceu para se levantar. — Só fique quieta. Há uma só maneira de fazê-lo, e poderia não funcionar. Pode ajudá-lo a lutar. Ajude-o a lutar, Harmony.

Ele estava tão fraco. Nunca havia sentido sua força vital tão apagada, e a aterrava. Quando colocou as mãos sobre a cabeça de Harmony, se permitiu se estender para ele. Chamou-o por seu nome, encontrando os inquisitivos brincos de calor psíquico, e deixou que Harmony fizesse o resto.

Estava surpreendida pelo súbito derramamento de calor do corpo de Harmony, através dela, e para a inquisitiva mente de Lance. Como se Harmony tivesse estado esperando-o, se preparando para ele.

Megan não tinha idéia de como a mulher tinha a vontade para enviar essa energia através de um canal tão frágil. Mas juraria, enquanto fechava os olhos e mantinha a ponte da realidade e a espiritualidade, que os sentiu se abraçar.

Estava adormecida? Tinha perdido a vontade inclusive de se manter consciente? Harmony sentia Lance alcançando-a, seus braços sustentando-a, e embora lhe desse o calor que sempre tentava infundir nela, lhe dava o seu próprio em troca.

A alegria explodiu dentro dela quando sentiu o desentranhamento da alma dele. Como se os restos andrajosos dos demônios de seu passado e os pesadelos fossem consumidos, e em seu lugar, algo novo estivesse nascendo. Podia sentir Lance. Estava vivo. Estava ali, segurando-a, apertando os lábios sobre sua testa, sua voz lhe murmurava, confortando-a. Perdoando-a.

Lance ia viver.

Harmony deslizou da sala de espera da UTI na tarde seguinte, se movendo através da multidão formada pela família de Lance e das Castas que permaneciam vigiando, e deslizando furtivamente para as escadas que conduziam ao primeiro andar.

O vira enquanto estava de pé na janela de Lance, observando-o, a expressão escurecida, e sabia que se não fosse até ele, então ele viria.

Sabia exatamente onde encontrar Dane. Estava vagabundeando em um banco no pequeno e frondoso parque próximo ao hospital, um cigarro entre os dentes, a expressão resignada enquanto ela se aproximava.

Estava desarmada. Se tivesse que lutar, não acreditava que pudesse encontrar energia.

— Onde está Ryan? — Sentou-se no banco junto a ele, inalando o forte e picante aroma do magro puro.

— Chamando mamãe — grunhiu Dane. — Continuo dizendo que esse amor que tem dela vai fazer que o matem. Papai o fará desejar nunca ter dito sequer a primeira palavra de flerte.

Harmony inalou devagar. Tinha escutado durante anos Dane arreganhar Ryan sobre essa relação de flerte com a mãe de Dane.

— É um Casta, Dane?

Levantou o charuto de seus lábios, fazendo voar um jorro de fumaça enquanto entrecerrava os olhos antes de voltar a cabeça para ela.

— Quanto tempo faz que me conhece, Harm? — perguntou em vez de responder, e utilizou o apelido que lhe dera fazia tanto tempo.

— Suficiente tempo para saber quando está evitando uma pergunta. — Ela suspirou, passando os dedos através do cabelo enquanto fechava a jaqueta que um dos primos de Lance lhe dera antes. — Não tem caninos, nem aroma. Nem sequer suspeitei.

— Se fosse um Casta, teria tomado cuidado de não te deixar suspeitar nada. — Seu sorriso era uma zombadora sombra, uma sombra entristecida.

— Por quê?

Ele suspirou pesadamente.

— Às vezes, as respostas são mais complicadas que as perguntas. Basta dizer que sempre fui seu amigo. E que sempre o serei.

Sua voz era firme, assegurando que não tinha intenção de responder a pergunta.

— Então por que me ajudou? — perguntou ela em seu lugar. — Poderia ter tido essa informação a qualquer momento. Provavelmente sempre soube onde estava. A que jogava?

Ele se inclinou para frente, tirando a cinza de seu charuto enquanto apoiava os cotovelos nos joelhos antes de responder.

— Necessitava uma razão para viver. Só te ajudei a encontrá-la. — Finalmente deu de ombros. — Agora tem o que sempre necessitou, Harmony. Tomarei a informação e me assegurarei de que nunca possa ser usada para ferir ninguém mais.

Ela inclinou a cabeça e o contemplou silenciosamente.

— Mas por quê? E me responda desta vez, maldição. — Estava cansada de jogos, cansada dessas respostas expressas em perguntas e de homens tentando manipular sua vida. — Só me diga por que.

— Porque eu te amo, Harm.

O que a fez calar. Encarou-o fixamente, com incredulidade, com os olhos totalmente abertos a sua profunda expressão.

— Olhe-se. — Ele sacudiu a cabeça com cansada diversão. — Nunca soube. Mas... — deu de ombros outra vez. — Nunca quis que soubesse. Se tivesse que ser, teria sido. Necessitava uma razão para viver, e eu não pude ser sua razão, então a ajudei com a que escolheu nesse momento. É simples assim.

Ela tragou com dificuldade, insegura de que dizer, de como se sentir sobre este homem que tinha sido tão grande parte de sua vida.

— Como conseguia me rastrear?

Seus lábios se curvaram ante a evasão dela a sua declaração.

— Quer que te mostre isso? — Levantou a mão, movendo-a sob seu cabelo até que os dedos dele pousaram sob a linha de seu cabelo e pressionaram contra um pequeno e previamente indolor vulto sob sua pele.

Ela pestanejou para ele, a mão voando atrás enquanto sentia a área ela mesma. Não era maior que a cabeça de um alfinete, mas definitivamente estava ali.

— É um localizador GPS com uma sensibilidade acrescentada para monitorar seus sinais vitais. Os batimentos de seu coração, as sensações de dor, algo. — Ele deu de ombros. — Sempre sabia em poucos momentos quando estava em problemas e onde estava. E sempre ia por você.

— Por quê? — A confusão, o ceticismo e um sentimento de irritação frustrada a invadiram. — Por que fez isto, Dane?

— Por que me importava, amor — Sussurrou seu acento espessando. — Me importava, mais do que imaginava. É indispensável para nós, não pelo que é, ou o que pensava que estava escondendo, mas sim pelo coração e a alma da jovem guerreira que foi. Por isso nos importava.

— Não... — Ela sacudiu a cabeça com fúria.

— Precisava acreditar que estava sozinha, assim a deixamos acreditar que o estava. Necessitava que ninguém conhecesse suas fraquezas, e que ninguém te debilitasse, assim a deixei acreditar que estava te resgatando em troca de um trabalho que só você podia fazer. — Seu sorriso era zombador. — Sempre soube perfeitamente, Harm. Se não o tivesse feito, teria entregado ao Jonas o que queria. Poderia ter me traído.

— Como soube? — tocou-se o dispositivo oculto.

— Não, não posso monitorar sua voz ou suas ações. — Sua careta era um pouco divertida. — Tenho outras fontes, carinho, dentro do Santuário. Sabia que era o que Jonas queria. Estava bastante intrigado sobre até onde chegaria. Embora sempre soube que podia confiar em você.

Ela enterrou os dedos na jaqueta, e o olhou miseravelmente.

— Soube desde o começo. — Sacudiu a cabeça ante essa revelação. — Por que não me disse isso?

Seus largos ombros se encolheram novamente.

— Qual é o problema? Estava confusa o suficiente. Se emparelhando, se apaixonando, enfrentando o perigo que trouxe para seu homem. Queria você feliz, Harmony. — Seu sorriso era arrependido. — Teria preferido que se apaixonasse por mim. Mas sua felicidade era o que realmente importava.

Ela tinha amigos. Um homem que se preocupava com ela; não podia aceitar seu amor nesse momento. Ele e Ryan tinham arriscado suas vidas mais vezes das que ela podia contar com suas duas mãos, por ela. E nunca o tinha compreendido, inclusive pior, nunca quisera o que eles tinham para lhe oferecer.

— Sinto muito. — Encontrou totalmente seu olhar, o pesar a enchendo. — Merecia algo melhor, inclusive para um amigo.

— Não, carinho, você merece mais. — Ele negou com a cabeça ante sua declaração. — Estava como uma leoa ferida, lutando por sobreviver. A ajudei só onde pude. Não fiz mais.

— Está equivocado — sussurrou. — Foi muito mais.

Ela se levantou, sabendo que não tinha mais tempo. Assim que Jonas se desse conta de que tinha desaparecido, procuraria Dane de novo.

— Jonas acredita que é o primeiro Leão e está determinado a te capturar — disse ela então. — Se cuide dele, Dane. Inclusive nos laboratórios, Jonas era alarmantemente hábil em obter o que queria. Só está ficando mais forte e mais determinado.

Dane sorriu por isso.

— Não sou o primeiro Leão, Harm. Mas se alguma vez me encontrar com ele, me assegurarei de lhe dar sua mensagem.

Endireitou-se, olhando-a fixamente, seus olhos esmeralda brilhando inclusive na escuridão.

— É uma Casta — sussurrou ela então. — Penso que sempre tin...

Colocou-lhe um dedo nos lábios.

— Vá em paz, pequena leoa. E se me necessitar... — Deslizou a mão sobre o pequeno localizador escondido sob seu cabelo. — Sempre estarei perto.

O olhou enquanto ele dava a volta e se aproximava dos veículos estacionados na beira da grama.

— De minhas saudações ao Jonas — voltou a lhe dizer enquanto desaparecia nas sombras. — E diga que nos encontraremos de novo.

Soava como uma advertência.

Então Harmony se apressou a voltar para o quarto de hospital de Lance, passando pela enfermeira de volta e se deslizando no quarto para se esconder nas sombras como tinha feito a noite anterior. Se eles a apanhavam, ela sempre escapava. E sempre retornava.

As cortinas ainda estavam fechadas parcialmente nas amplas janelas que davam ao posto de enfermeiras, deixando cair na cadeira próxima à cama.

Harmony deixou que as pontas de seus dedos o tocassem, consciente dos tubos e cabos que conectavam seu corpo às máquinas próximas à cama. Necessitava esse contato. Precisava sentir seu calor, compartilhá-lo com o seu.

Colocou a cabeça na beira do colchão e suspirou profundamente. Não podia acreditar que estivesse vivo. Que estivesse respirando, que os cirurgiões estivessem seguros de que se recuperaria, com poucas complicações. Este milagre ainda conseguia debilitar seus joelhos, e levava lágrimas a seus olhos.

— Harmony... — O frágil fio de som fez que seus olhos se abrissem de repente enquanto levantava a cabeça e o olhava.

Seus olhos estavam abertos, a cor azul escura clara e lúcida enquanto a olhava.

— Lance. Oh Deus... Lance. — Ela levantou a mão, tocou-lhe a testa, a bochecha, os lábios. — Tem sede? Dói...?

— Shhh... — Esse fio de som. Um terno cantarolar que a aliviava como nada mais podia fazer.

— Vai estar bem... Os doutores...

— Shhh — sussurrou ele de novo.

Ela franziu o cenho para ele.

— Te amo — sussurrou ele, sua voz era um pouco imprecisa e débil.

Sua mão se moveu então, os dedos se elevando para estendê-los para ela, para tocar seu abdômen. O calor a atravessou e se estendeu por todo seu corpo.

— É um menino.

A respiração dela se entupiu por suas palavras.

— Te amo, Lance Jacobs — sussurrou ela então. — E no minuto em que estiver bem, vou chutar seu traseiro pelo que fez.

— Shhh... me beije, neném. Deixe-me te sentir. Deixe-me saber que estou vivo...

Inclinou-se e deixou que seus lábios tocassem os dele. Tão breve como foi, uma carícia tentativa, foi uma afirmação de vida.

— Te amo... — sussurrou ela, seus lábios roçando os dele, o olhar entrelaçado com a sua— Sempre.

E ele sorriu.

— Sempre.

Três meses depois.

Washington, D.C.

Jonas retorceu seus quadris, chocando-os contra sua companheira, sentindo o quente e firme agarre por seu sexo ao redor de sua dolorida ereção; o suave e líquido calor que o rodeava, e calculando a ascensão dela até o org*smo.

As mãos dela se deslizaram sobre suas costas, pequenas e afiadas unhas perfurando sua pele, enquanto seu comprido e loiro cabelo se envolvia ao redor deles como úmidas mechas de seda.

Apoiando seus joelhos sobre a cama entre as coxas abertas dela, ele bombeou em seu interior, estreitando os olhos enquanto observava seu rosto cheio de prazer, e ele conteve sua própria liberação. Primeiro as damas. Não era tanto um lema como parte de seu treinamento sexual. Os cientistas se perguntaram se o prazer e a liberação sexual podiam superar à codificação genética que acautelava a concepção das Casta fêmea. Não ocorreu, mas como Jonas tinha destacado tão rapidamente em brindar esse prazer chegou a ser o garanhão residente do laboratório.

Foi usado para seduzir a esposas, filhas e profissionais conservadoras associadas alvos que o Conselho procurava. Mulheres que falavam com seus amantes, especialmente mulheres que experimentavam o rubor de sua primeira experiência com um homem que conhecia todos os intrincados atalhos para a culminação, tal como Jonas fazia.

Enquanto empurrava dentro da pequena e tentadora advogada, encontrando todas as delicadas e pequenas áreas nervosas dentro de seu suave sexo, suas mãos a acariciavam e mimavam. Seus lábios se deslizaram sobre a doce e úmida pele, beliscando, lambendo e beijando a sensível pele.

Seu prazer vinha dela, tão estranho como deveria ter sido. Aqui, a única dor era a agonia da necessidade, de fome que começava a encher o ar com os crescentes gemidos dela. As mãos agarrando os bíceps dele, os quadris levantados contra ele, empurrando seu pênis dentro dela enquanto ele sentia as ondulações que precediam a sua liberação ondulando sobre seu pênis.

Os ofegos dela estavam subindo de volume enquanto ele sentia ondulantes cheiros de sensações começando a pulsar em seu escroto. Poderia ter-se deslocado trinta minutos antes. Mas em vez disso, tinha seguido se movendo, se deslizando dentro das ricas e quentes profundidades de seu sexo enquanto ela estremecia embaixo dele.

Ela estava louca de prazer. Seus olhos estavam frágeis, o corpo avermelhado e empapado de suor. Sua cabeça se sacudiu sobre os lençóis um segundo antes de conter a respiração, o corpo estremecendo desamparadamente embaixo dele enquanto seu sexo sugava a seu pênis, antes de se esticar um pouco mais e deixar ir o doce e úmido ardor de sua liberação.

Jonas se rendeu então a seu próprio prazer, uma mão lhe segurando o quadril enquanto começava a penetrá-la furiosamente, fodendo-a com febris arremessos até que a liberação golpeou através dele.

Manteve-se dentro dela, seu sêmen fervendo no apertado canal enquanto apertava os dentes e bombeava contra ela, decidido a espremer cada grama de prazer do interlúdio.

Era estranho que ele sentisse algo mais que a compulsiva necessidade de manter a segurança das Castas. Pelo menos aqui, podia se inundar no calor, permitir que o tocasse, embora só fosse por um breve tempo.

Quando os pulsos finais da liberação ondularam através de seu pênis, soube que ainda não era suficiente. A inquietação que rondava suas horas de trabalho estava começando também a flutuar em suas horas de prazer. Um vago descontente que nunca antes havia sentido enquanto copulava. E estava começando a encher seu saco.

Inalando profundamente enquanto os últimos tremores da liberação vibravam através de seus músculos, Jonas se separou do abraço de Jess, se deslizando das sedosas profundidades de seu sexo enquanto passava uma mão sobre a arrepiada longitude de seu cabelo. Necessitava um corte de cabelo.

Ele foi consciente dos olhos dela se abrindo enquanto ele saía da cama e se dirigia ao banheiro para se lavar. Restaria uns poucos momentos mais antes que fosse atrás dele.

— Sabe, um dia destes, vai encontrar a uma mulher com a que não poderá se levantar e se afastar — murmurou ela longos minutos depois, enquanto ele saía do banho, refrescado por uma rápida ducha.

Ele grunhiu ante sua observação enquanto começava a se vestir. Tinha trabalho a fazer, e brincar de amantes não estava em sua agenda. Tinha que encontrar uma espiã, e estava seguro que estava a só um passo de apanhá-la.

Apoiando os travesseiros atrás de suas costas, Jess o contemplou desde seus inteligentes olhos cinza, um sorriso divertido em seus lábios inchados pelos beijos.

— Precisamos mover o caso pendente da Casta encontrada golpeada até a morte na semana passada — comentou Jess, enquanto ele colocava as meias antes de recolher suas calças. — Quero a esses supremacistas sob a Lei da Casta menos que nas mãos da lei internacional. Estou segura que o Gabinete Ministerial pode encontrar uma maneira de fazê-los lamentar os enganos de sua forma de proceder.

— Não estou de acordo. — A atravessou com um sombrio olhar— Deixa que o sistema de justiça os apanhe e despreze o caso contra eles. A imprensa desfrutará muito com isso. Um vídeo da Casta tentando não ferir seus captores, a não ser somente escapar, e sendo golpeada quase até a morte por seus esforços. Trará simpatia e compaixão assim como ultraje. Mata-os, e as Castas serão vistas como não melhores que aqueles que as atacam.

Um cenho revoou pela cara dela.

— Temos direito à justiça — disse ela secamente— Esse mesmo grupo violou e assassinou aquela jovem fêmea Casta no mês passado e sabe. Não podemos permitir que isto continue.

— Uma vez que fiquem livres, me ocuparei deles. — Colocou a camisa de seda sobre os ombros e a abotoou antes de colocá-la dentro de suas calças. — Essas pessoas desaparecem todo o tempo. Por agora, é melhor deixar que os humanos acreditem que são patrulhados por eles mesmos.

Ajudou que um dos lugares-tenentes de Alonzo fosse encontrado morto na cena do ataque perpetrado contra Harmony e Lance. Carregar a culpa do quase assassinato do xerife sobre o grupo de supremacistas tinha feito muito por fraturar boa parte de seu poder.

E com um cuidadoso manejo da situação, Jonas também tinha estabelecido os fundamentos para o falecimento do assassino conhecido como Morte. Colocara-o diretamente aos pés do lugar-tenente supremacista que Harmony tinha assassinado.

Para Jonas, isso era justiça. Harmony estava segura agora em Broken Butte com seu companheiro, e aqueles que suspeitavam que ela fosse Morte não poderiam dizer nada para traí-la.

— Esses seus jogos vão fazer que alguém seja assassinado — disse Jess finalmente e suspirou quando ele terminou de se vestir.

O sorriso dele era firme e frio.

— Provavelmente — admitiu— O sangue dos supremacistas e a desses condenados grupos puristas se me ocupar deles. O mundo seria um lugar melhor sem eles.

— E é o que eles dizem das Castas. — Ela agitou a cabeça enquanto se levantava da cama— Me assegurarei de que o caso seja processado, mas terá a doze jurados que bem poderiam liberá-los. — Isso não era desconhecido. Declarar culpados aos supremacistas não era tarefa fácil.

— Fazê-los desaparecer será simples. — O fato de que ficassem em liberdade não o incomodava tanto como o temor de que não fossem ajuizados.

Se tivessem êxito em superar os cargos depois das claras provas de que tinham cometido o crime, então ele saberia em que direção precisava ir, em termos de despertar a consciência aos prejuízos que ameaçavam às Castas. Algo com que trabalhar, especialmente emoção.

Até então, precisava refinar seu plano para fazer sair ao primeiro Leão. Se as Castas tinham sorte, ele poderia conseguir outro ano antes que o mundo soubesse do calor da união. Com um pouco de sorte, daria o tempo suficiente aos cientistas que trabalhavam no fenômeno para aprender os segredos do envelhecimento retardado.

Calam Lyons, o líder da manada, tinha agora quarenta anos; segundo suas provas e sua aparência física, poderia ter envelhecido um ano desde sua união, embora Jonas o duvidava. Kane Tyler, o humano emparelhado com Sherra, a irmã adotiva felina de Calam, não tinha envelhecido tampouco. Nem o faziam as mulheres. A especulação já estava crescendo e mantê-los fora do olho público era quase impossível. A situação estava voltando-se explosiva, especialmente com a espiã trabalhando no Santuário.

Mas sempre haveria espiões. A traição era algo comum para Jonas. O que não queria dizer que tivesse que deixar viver aos espiões, uma vez que conhecia suas identidades.

— Está divagando de novo, Jonas. — A voz crispada de Jess o fez lançar uma olhada atrás, enquanto colocava os suaves sapatos de couro e se sentava para atá-los. Ele preferia usar botas, mas tinha aprendido algo na arena da guerra: a aparência significava tudo.

— Tenho trabalho a fazer, Jess. — A hora do recreio terminou. — Se ocupe de seu trabalho e eu me ocuparei do meu.

Sua risada era suave e surpreendentemente cálida. Era difícil que ele pudesse encher o saco dela, embora às vezes o tentasse.

— Te ver emparelhado vai ser muito divertido — disse ela arrastando as palavras, enquanto o olhar dele saltava para ela, os olhos entrecerrados.

— Eu não estou emparelhado — recordou ele cuidadosamente.

— Ainda não. — A aberta diversão de seu rosto era condenadamente ofensiva. — Mas quando o fizer, vai ser muito divertido, Jonas. Espero estar ali para vê-lo.

Imagine. E quem disse que as fêmeas eram as delicadas? Não tinham nem idéia do que estavam dizendo.

— Tenho trabalho que fazer. — levantou-se e se dirigiu por volta da porta da sala. — Te verei no escritório pela manhã. Recorda que devemos voar ao Santuário.

As condenadas Indústrias de Vanderale estavam insistindo no trato pelas armas e os veículos que as Castas necessitavam. Estavam enviando a um de seus representantes para discutir suas preocupações com o Gabinete Ministerial. Exatamente o que lhe faltava, outra maldita responsabilidade entrando no Santuário.

A mulher que tinham enviado nem sequer era uma pessoa importante dentro das extensas empresas que Vanderale possuía. Era uma condenada burocrata arrivista. Uma conservadora e pequena dissimulada que o fazia estremecer ao pensar nos recursos que provavelmente lhes seriam cortados. Não era que o Santuário não pudesse sobreviver sem eles, mas demônios, isso faria que perdessem o apoio da comunidade internacional.

Também precisava se encontrar com Ely e ver se alguma das leituras que vinham do enxerto do couro cabeludo de Harmony significava algo. A mensagem criptografada que tinham recebido três meses atrás com a freqüência do localizador GPS que ela levava tinha salvado sua vida e a de Lance. Ely lhe informou suas suspeitas depois de um mês: que a informação do enxerto parecia conter mais informação que só sua localização.

Quando repassou a lista de tarefas ante ele para a próxima semana, as priorizou e arquivou e saiu da casa de Jess. Era consciente da equipe de Castas guarda-costas que o encontraram no exterior e da limusine que o esperava. Seus olhos examinaram a área, seus sentidos recolhendo automaticamente as vidas e os aromas da noite, a ausência de perigo.

O que era bastante estranho.

Quando se sentou na limusine, abriu a maleta que o esperava e tirou o primeiro arquivo. Era o momento de voltar a trabalhar. Estava se aproximando de seu espião, e logo estaria ainda mais perto do primeiro Leão. Não ia se render.

Lora Leigh

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